a/c O Mandamento do Senhor
Ernani
Cabral
Reformador
(FEB) Fevereiro 1959
Albert Schweitzer - le Grand Docteur - esse novo
apóstolo da caridade, que recentemente recebeu o Prêmio Nobel da Paz e que tão
assinalados serviços tem prestado aos nativos da África, foi inquirido, por um
repórter, sobre qual dos dez mandamentos considerava o mais importante. "Cristo” - disse ele – “só nos legou um Mandamento. E este é o do
Amor."
Quem
quer que estude o Novo Testamento e reflita sobre os ensinamentos deixados por
nosso Divino Mestre, há de tirar a mesma conclusão. Com efeito, está escrito em
Mateus, 22 :34 a 40:
"E os fariseus, ouvindo que ele fizera
emudecer os saduceus, reuniram-se no mesmo lugar: "E um deles, doutor da
lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo: "Mestre, qual é o grande
mandamento na lei?
"E Jesus lhe
disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. "Este é o primeiro e grande
mandamento. "E o segundo, semelhante a este, é: "Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. "Destes dois mandamentos depende toda a lei e os
profetas."
Portanto,
os mandamentos são: amar a Deus sobre todas as coisas, amar a nós mesmos e ao
próximo como a nós mesmos. Tudo se resume em três modalidades do amor, tudo
isso é amor, e dele depende a lei e os profetas, na palavra sábia do Cristo.
Aliás, como disse o apóstolo João, o próprio Deus é amor (I João, 4:8). A
sabedoria mesmo, que é excelente, e que adquirimos através do estudo, da
meditação e das virtudes, é também amor, que manifestamos a nós mesmos,
instruindo-nos para podermos ser úteis às nossas individualidades e aos nossos
semelhantes.
Assim,
os dez mandamentos da lei antiga em um só se resume, pois quem ama o próximo
não mata, não furta, não trai, não adultera, não pratica o mal.
Mas
precisamos treinar o espírito no grande, no admirável amor que devemos a Deus.
Ele nos criou; é, portanto, nosso Pai Celestial; a Ele tudo devemos e Ele quer
sempre a nossa felicidade, embora "escreva certo por linhas tortas",
como diz o brocardo popular. Nós não compreendemos Seus altos desígnios e nossa
ignorância ou fraqueza faz—nos, às vezes, revoltar contra certos
acontecimentos, que são necessários ao cumprimento da Lei, pois estamos
sujeitos às conjunturas da causa e efeito - da ação e reação - que fogem à
medida média de nossa percepção ou de nosso fraco entendimento. Todavia,
podemos estar certos de que tudo o que sucede conosco, absolutamente tudo, seja
uma injustiça, uma ingratidão, uma traição ou uma maldade, tem sua razão de
ser! Exaurindo nosso carma, como a vida no-lo apresenta, ou sujeitando-nos às
provações do mundo, mesmo dolorosas, estamos adquirindo experiências ou
virtudes, que só poderão servir para nosso bem.
"Ninguém
é bom senão um, que é Deus.". (Marcos, 10:18.)
Esta
passagem bíblica foi registada ainda pelos outros evangelistas sinóticos
(Mateus, 19 :17 e Lucas, 18 :19), como para ponderarmos que a bondade de Deus é
inigualável. Mas, se Ele é bom, é justo também. Aliás, é o único Ser que sabe
equilibrar bondade e justiça, com precisão absoluta, porque é perfeito.
Façamos
tudo por amá-Lo sobre todas as coisas! sobre todas nossas preferências,
colocando-O em nossos corações no lugar por excelência, mesmo porque Seu reino
deve estar dentro de nós mesmos (Lucas, 17:21). O Pai Celestial só quer nossa
felicidade, que algum dia obteremos por mérito pessoal, isto é, por nossos
próprios esforços, através das vidas sucessivas (João, 3:3). Se fôssemos
criados perfeitos, não teríamos merecimento no gozo da luz eterna, que algum
dia todos merecerão, dependendo a ascensão do ânimo de cada um, em vencer suas
próprias imperfeições. O ciclo completo da evolução do Espírito, que é criado
simples e ignorante, decorre de sua boa vontade, de compreender e cumprir
voluntariamente a lei divina, até integrar-se nela, por sua conduta e por seus
sentimentos.
O
amor a nós mesmos manifesta-se também de três formas: espiritual, intelectual e
materialmente.
Espiritualmente,
pela transformação moral ou pela aquisição de virtudes. Por consequência, nunca
é demais repetir-se a lição de AIlan Kardec: "Conhece-se o espírita por sua
transformação moral e pelos esforços que faz por domar as suas inclinações más." Porém a pedra de toque do espírita ou cristão
verdadeiro, é a humildade, virtude sublime, que tudo devemos fazer por adquirir.
O
amor a nós mesmos deve levar-nos ainda ao estudo, ao desejo de possuirmos
sabedoria, de desenvolvermos o aspecto mental ou intelectual de nosso Espírito.
Está
escrito em Provérbios, 2: 10: "A sabedoria entrará no teu coração, e o
conhecimento será suave à tua alma." E mais além, em 3: 13:
"Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire
conhecimento." E, finalmente, Salomão insiste (Prov., 5:7): "A
sabedoria é coisa principal; sim, com tudo o que possuis, adquire o conhecimento."
Os
Espíritos do Senhor confirmam a lição.
Ainda
recentemente, em seu interessante livrinho "Pensamento e Vida",
Emmanuel esclarece: "Já se disse que duas asas conduzirão o
espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se Amor, a outra, Sabedoria."
Mas
a sabedoria é o desenvolvimento intelectual do Espírito, obtido através do
estudo, do esforço, da meditação, do amor que manifestamos a nós mesmos.
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