sexta-feira, 14 de junho de 2013

12b. 'Revelação dos Papas' - Lutero



12b

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918

-continuação-
Martinho Lutero

          Tudo fiz para combater o despotismo romano e libertar as consciências da tutela dos papas, mas, por outro lado, no campo político transigi, admitindo a tirania do governo com que mantinha relações de amizade e aos quais me achava ligado por interesses de ordem particular e privada, tendo, por isso, para esses chefes de estado todas as atenções e deferências, ao ponto de sacrificar em grande parte a Reforma; assim, prejudiquei grandemente interesses religiosos, fazendo perigar a nova ordem de coisas que, à custa de ingentes esforços eu estabelecera no mundo.

          Por amor à política, em que muita vez me envolvi, abandonei princípios básicos sagrados; tendo essa minha conduta contribuindo para que o movimento reformador degenerasse, perdendo muito do seu primitivo esplendor.

          Advoguei a causa política de alguns estados religiosos, junto aos governos que aceitavam a Reforma. Representei mais de uma vez esses estados nas reuniões e assembleias que tinham por fim decidir da organização político-religiosa dos mesmos estados. Fui mediador, árbitro em várias contendas havidas entre governos; fiz parte, secretamente, das juntas governativas dos pequenos estados, que reorganizaram política e religiosamente estas nações. Fundei igrejas, organizei associações, escolas, centros e colégios onde eram ministradas noções sobre a Reforma.

          Preguei, fiz conferências, escrevi obras, publiquei livros de moral, religião e filosofia.

          Convoquei reuniões de homens eruditos do meu tempo para decidirem questões religiosas teológicas, sociais e políticas. Foi grande e desenvolvida a minha ação na Terra, enorme o meu prestígio no mundo, mas foram também grandes as minhas ambições, o meu orgulho, vaidade e despotismo.

          Para defender a liberdade, sacrifiquei a própria liberdade; para libertar as consciências da tirania romana, fui também tirano; para organizar o que me parecia fora de ordem, perturbei essa mesma ordem; para fundar uma sociedade mais cristã, vivendo de acordo com o Evangelho, prejudiquei esse Evangelho; para destruir o fanatismo, criei outro que ainda está produzindo efeitos danosos; para que não fosse violenta a doutrina de Jesus, violei essa doutrina, consentindo que se criasse outras Igrejas, novas seitas, novos cismas, e daí a desordem espiritual reinante na Terra, a crise moral, a falência do verdadeiro espírito cristão, o ofuscamento do brilho e esplendor do Evangelho, das gloriosas verdades semeadas por Nosso Senhor Jesus Cristo.

          Foram, pois, negativos muitos dos atos que pratiquei com intenção de regenerar, aperfeiçoar os costumes religiosos; inúteis os esforços feitos para restituir à doutrina de Jesus a majestade e brilho que me parecia haver ela perdido naquela época; vãs muitas das tentativas feitas com os mais nobres intuitos reformadores, com a mais tenaz energia reconstrutora do grande edifício da fé, que vinha se esboroando através dos séculos; improfícuas as lutas que sustentei em prol da liberdade moral e religiosa, do livre exame, da independência das consciências cristãs, do espírito religioso do meu tempo.

          Martinho Lutero, homem dotado de espírito enérgico, mas propenso às fraquezas do caráter, no tocante a interesses de ordem material e privada; espírito forte, mas com tendências para as debilidades morais dos orgulhosos e dos fátuos; ânimo varonil, mas tendo decidido pendor para despóticas violações das leis sagradas, a bem dos interesses egoísticos que sempre agasalhou no fundo da sua alma, para as tirânicas oposições ao que parecia contrariar a sua vontade e o seu capricho ─ Martinho Lutero é, perante Deus e a sua própria consciência, criminoso, digno de maldições que devem cair sobre os que neste mundo deixam de cumprir as suas missões, para se entregarem às paixões e sentimentos inferiores, aos quais sacrificam o que é digno de respeito e veneração, o que deve ser mantido ainda mesmo à custa do sangue e da vida daquele a quem Deus confia a nobre e santa missão de apressar o adiantamento do planeta. Martinho Lutero foi mais homem que apóstolo, mais interesseiro que crente, teve mais egoísmo que fé, mais vaidade e orgulho que humildade - a maior e mais santa virtude que deve possuir todo homem que na Terra tem sobre os braços a pesadíssima tarefa de salvar a humanidade.

          Tendes na vossa presença o reformador, o demolidor, o destruidor, o lutador do Evangelho de Jesus; mas aqui está também, perante este grandioso tribunal que Deus mandou organizar, presidido por Jesus Cristo, o maior de todos os pecadores, de todos os orgulhosos, o mais autoritário dos homens que tem a Terra; o mais cruel e desumano sacerdote que, neste planeta, se tem paramentado com os símbolos da religião do crucificado; o mais ambicioso dos espíritos que na Terra tiveram a missão de orientar os seus irmãos; o mais impiedoso de todos os fundadores de doutrinas que o mundo tem conhecido.

          Tendes na vossa presença o espírito de um frade que nunca se humilhou, jamais obedeceu e jamais se subornou a Deus e às leis da sua ordem, que sempre desrespeitou e violou; tendes aqui a alma de Lutero, em que foi castigada a soberba, o orgulho, a vaidade, o amor próprio e o espírito irrequieto, impetuoso, fanático, mas a quem foi dada esta luz que o circunda pelos esforços que fez para salvar a doutrina de Jesus, encaminhando a humanidade para a felicidade eterna; tendes junto de vós, na superfície do vosso planeta, o espírito de Martinho Lutero, que acaba de cumprir as provações que lhe foram impostas em existências sucessivas, nas quais limpou o seu espírito para poder comparecer perante vós cercado da luz que o envolveu, cuja descrição o médium acaba de fazer-vos.

          Martinho Lutero, por não ter bem cumprido a sua missão na Terra, fazendo tudo quanto podia e devia ter feito, foi, após a morte, lançado no meio das trevas que o envolveram a sua consciência, fazendo-o padecer duros tormentos, experimentar cruéis aflições, ante os quadros dos seus erros a se desenrolarem na sua presença, perante a Justiça Eterna, que a cada instante o chamava a contas, despertando-o desse sonho tétrico em que foi mergulhado o seu espírito culpado, apelando para a sua consciência e razão, chamando-o ao arrependimento, que custou a vir, mas que chegou afinal, para lhe dar alívio, por termo ao seu tormento, ao seu desespero e aflição.

          Deus perdoou-me, concedeu-me a graça de reparar os meus crimes em vidas sucessivas.

          Já três existências tive no vosso mundo, depois de haver tentado reformar a moral e os costumes religiosos.

          Aqui tendes esta confissão, que vos trago por amor da verdade e em nome de Jesus. Aqui estou colaborando na “Revelação dos Papas”, para concluir hoje o que há 500 anos comecei, e prestando publicamente esta homenagem à justiça de Deus, à perfeição e sabedoria infinitas da obra do Criador.

          Tenho agora a luz necessária para poder falar aos homens de boa vontade, aos que seguem o rumo que lhes tracei na Terra.

          Somente no Espiritismo podereis encontrar a verdade, só nesta doutrina achareis conforto e luz necessários aos vossos espíritos; unicamente na doutrina dos espíritos obtereis os esclarecimentos indispensáveis a fim de poderdes encaminhar-vos para o bem, para a verdade, para Jesus e para Deus.

          Não tenhais dúvida; tudo quanto preguei nada vale diante do que sei, do que tenho visto e aprendido; nada do que sabeis possui o cunho da verdade absoluta, que só o Espiritismo poderá fornecer-vos. Todas as vossas crenças estão em completo desacordo com a verdade, em antagonismo com o que tenho visto no mundo espiritual.

          Não vos deixeis iludir, nem vos desvieis do caminho traçado pelo Espiritismo abundando a verdade pura pelo erro e pela mentira.

          Deus é quem me envia para dizer-vos tudo isso, Ele vos quer muito, está disposto a ajudar o vosso progresso e, por isso, manda os espíritos esclarecedores ao vosso encontro, para vos explicarem a verdade. Deveis, portanto, ouvir as palavras e os conselhos dos vossos irmãos desencarnados que vem à Terra por amor de vós outros, compadecidos das vossas fraquezas, miséria e atraso, da cegueira que não vos deixa ver o que existe por toda a parte e vos cerca por todos os lados, sem que vos apercebais. Tende fé e piedade, procurai o melhor possível os vossos deveres cristãos, praticando a caridade, o bem, e o amor. Não vos fanatizeis, procurai sempre apoiar a vossa fé na razão e na ciência, nos fatos positivos, reais, nas provas materiais, palpáveis, que o Espiritismo vos fornece todos os dias. Nada mais existe além dessa grande e incomparável verdade espírita - podeis ficar certos.

          Nada mais poderá consolar-vos, dar-vos a paz e a tranquilidade das vossas consciências, a não ser essa doutrina sábia e santa.

          Não acrediteis no que vos contam unicamente com o fito de dominar as vossas consciências; não acrediteis no diabo e no inferno, que são meras ficções, não tem existência real.

          Deus é pai, a personalidade da bondade, da justiça, do amor e a misericórdia infinita.

          Ficai tranquilos, porque todos vós sereis salvo no dia em que vos arrependerdes dos vossos crimes e vos dispuserdes a resgatar as vossas culpas em existências sucessivas.

          Deus está convosco, Jesus é o vosso guia neste momento; é, pois, em nome de ambos que vos fala aquele que na Terra se chamou Martinho Lutero

Até sempre!
Setembro de 1915
        
            Informações complementares
            Nasceu em 1483 e morreu em 1546. Frade agostinho, foi o chefe da reforma religiosa da Alemanha, que se projetou até à época atual.
            Ordenou-se sacerdote em 1507. Doutorou-se em teologia, tendo-se dedicado, especialmente, à exegese bíblica. Depois de acuradas meditações sobre as epístolas de São Paulo, fixou as bases da sua doutrina racionalista.
            As suas teses suscitaram forte entusiasmo entre todos os descontentes com a Igreja Católica e também entre os romanistas. Manteve acirrada campanha contra a infalibilidade dos papas. E numa fogueira, em praça pública, teve a coragem de queimar a bula pontifícia que o excomungava.
            Condenou o celibato eclesiástico; e, em 1525 casou-se com Catalina von Bora, que teve três filhos e duas filhas.
            A sua tradução da Bíblia, feita diretamente do grego, é considerada uma obra clássica.
            Lutero disponha de extraordinária eloquência. Sua vida de uma atividade dinâmica, foi uma batalha constante, destemida e intransigente contra os dogmas do Romanismo. O papa nessa época, Paulo III, tentou aquietá-lo mediante à oferta de honras e vantagens excepcionais no seio da igreja as quais ele recusou altivamente, incapaz de se alugar ou vender para servir aos fariseus de seu tempo.
página 209 do livro ‘Emissários da Luz e da Verdade’
1ª Edição 1959    Ed. Divino Mestre - R  RJ


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