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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Em defesa da Reencarnação




Em Defesa
 da Reencarnação
Reformador (FEB) Outubro 1947

Si par malheur elle n’avait pas été instituée par Dieu,
 si elle était exclue de Ia réalité des choses, l'homme,
pour seulement l'avoir rêvée,
se serait montré pIus grand et meilleur que Dieu! -
Charles Lancelin ("La Réincarnation").


            Durante os anos de 1915 a 1918, nos horrores da primeira guerra mundial, em Paris, um sábio de primeira grandeza, o Dr. Gustavo Geley, trabalhava assiduamente na preparação de um livro monumental que deveria dar mais altos ideais ao homem, e, em 1919; a editora "Librairie Félix Alcan" lançava essa obra excelente à luz da publicidade com o título “De l'Inconscient au Conscient".

            Partindo da filosofia pessimista de Schopenhauer, mas juntando-lhe os conhecimentos mais recentes da fisiologia e da psicologia, o pensador francês elaborou um curso de filosofia científica, baseada nos conhecimentos novos, e extremamente otimista. Refutou todos os erros da filosofia materialista e demonstrou que ela é anticientífica, porque não abrange todos os fatos observados em nossos dias. Esse livro é, portanto, uma revolução no mundo científico que tem tentado esquecê-lo, fazendo-lhe a guerra do silêncio; mas ele não morrerá e recentemente foi pela primeira vez impresso em nosso Novo Mundo pela Editorial "Constância", de Buenos Aires, o que lhe vai dar novo impulso entre os estudiosos progressistas.

            No livro todo não existe a palavra Espiritismo, no entanto é uma obra que confirma todos os ensinos do Espiritismo e dá nova força à Doutrina revelada pelos Espíritos. Baseando-se na observação dos fatos na psicologia normal e na psicologia anormal, o Autor vai concluir inexoravelmente pela existência de um dínamo-psiquismo preexistente e sobrevivente ao corpo, dínamo-psiquismo que é o "eu", o ser essencial e imortal. Assim chega à palingenesia ou doutrina reencarnacionista como perfeitamente demonstrada à luz dos fatos e não pela revelação nem pelo raciocínio. Defende brilhantemente a velha verdade conhecida em todos os tempos pelos mais profundos pensadores e, depois de demonstrar a necessidade da reencarnação para explicar os fenômenos da vida, cita o parágrafo lapidar de Charles Lancelin que disse: “Se por desgraça ela (a reencarnação) não houvesse sido instituída por Deus, se houvera sido excluída da realidade das coisas, só por havê-la idealizado, o homem ter-se-ia mostrado maior e melhor do que Deus!"

            Realmente assim é. Um Deus que não dispusesse das encarnações sucessivas para praticar integralmente a Sua justiça, seria imperfeitíssimo e só podemos conceber Deus absolutamente perfeito em todos os Seus atributos.

            A chocante desigualdade de índole dos indivíduos, manifestando-se desde o berço até o túmulo: uns, sensíveis, amorosos, piedosos, inteligentes, intuitivos, com virtudes inatas, verdadeiros predestinados à vida superior do espírito, à sabedoria e à santidade e isso contrariamente ao meio e à ascendência, como um Francisco de Assis; outros, com as mais terríveis tendências, igualmente inatas: cruéis, insensíveis, brutais, desprovidos de inteligência, sem raciocínio, ferozes e rudes, predestinados ao crime, ao cárcere, à morte violenta. As diferenças de meios: uns nascem em cidades cultas, filhos de pais piedosos, dispõem de mestres e escolas, dentro do Cristianismo, recebendo exemplos santificantes no lar, na escola, na sociedade, com tudo predisposto para cultivarem virtudes e saber e tornarem-se melhores durante a vida; outros, ao contrário, nascem nas tribos bárbaras dos desertos, entre seres violentos e maus, entregues aos instintos animais, aprendendo desde a infância a praticar a violência, sem meios de instruírem-se, sem religião nem filosofia que os oriente na vida. Mesmo dentro da civilização cristã, há convicções inteiramente opostas: pode nascer-se num lar materialista, onde não existe a crença em Deus e onde a virtude basta ser de aparência; onde a propriedade só tem limites na legalidade material, mas é sempre considerada legítima desde que preenchida a formalidade legal externa para que a polícia a garanta, ou, em outras palavras, onde o furto é somente aquilo que a polícia veja e possa impedir; mas pode nascer-se na casa ao lado, onde a religião é uma realidade e a mais delicada consciência regula todos os atos da vida, onde mais belos exemplos são recebidos desde o berço.            

            Quantos bilhões de homens nasceram, viveram, morreram, nas civilizações pagãs da antiguidade, quando matar era reputado virtude, heroísmo, valor, mas a brandura era desprezada como fraqueza! Vestígio dessa mentalidade temos ainda na palavra virtude que vem de virtus, formada de vir, varão, e significa força, coragem, masculinidade, em oposição às qualidades da mulher, então consideradas desprezíveis. E aquelas civilizações idólatras e impiedosas que duraram milênios antes do Cristo, foram substituídas, um pouco mais tarde, pelo fanatismo religioso da Idade Média que julgava ato de profunda piedade cristã queimar vivos os hereges. E agora, nos anos de 1933 a 1943, toda a juventude alemã era educada para matar, para destruir as raças inferiores, como a dos judeus, a dos polacos, a dos russos. Todas as virtudes do Cristianismo lhes eram apresentadas como crimes contra a nacionalidade.

            Toda essa balbúrdia imensa das nossas ideias morais através dos séculos e dos milênios, do ponto de vista da existência única, faria de Deus um ser monstruoso, injusto, que a uns deu todos os meios de salvarem-se e a outros negou todos esses meios, que condenou previamente à danação eterna milhões de gerações, todas as grandes civilizações da antiguidade, de antes do Cristo, e todas as civilizações que até hoje não conheceram o Cristianismo, religião conhecida somente de uma quarta parte da humanidade contemporânea. Essa concepção monstruosa de Deus equivalia à negação completa de Deus e conduziu a humanidade ao materialismo sempre crescente que culminou nas ideias modernas de nazismo e correlatas, na concepção da vida em sua forma primitiva e animal, rompendo com todas as civilizações religiosas, abolindo toda a revelação e voltando ao materialismo simples e puro da animalidade inconsciente e moralmente irresponsável.

            Negando a antiga crença nas reencarnações, as Igrejas judaica, católica romana, grega ortodoxa e as protestantes assumiram a mais tremenda de todas as responsabilidades históricas: fizeram a humanidade abandonar o Cristianismo e voltar ao paganismo materialista; porque a inteligência desenvolvida, nestes séculos mais recentes, não podendo admitir a existência de um Deus injusto e monstruoso, preferiu negar totalmente a existência da Deus, da Providência e entregar-se ao materialismo absoluto. Foram, efetivamente, as classes mais instruídas, os enciclopedistas do século 18, os filósofos, os cientistas, que não podendo 'aceitar o ensino' das Igrejas, quanto à existência de Deus e do mundo espiritual, proclamaram o materialismo. A mais completa negação de Deus se acha, como súmula da evolução rumo à descrença, na Filosofia Positiva, de Augusto Comte, no primeiro meado do século 19, pouco antes do nascimento do Espiritismo que a veio contestar em sua própria essência.

            Basta demonstrar-se a realidade da palingenesia e tudo se esclarece; vemos a mais perfeita Justiça reinando no Universo e realizando o soberano bem através das longas séries de encarnações dos mesmos Espíritos. Nenhuma daquelas almas que viveu nos tempos bárbaros se perdeu, nenhuma que hoje- vive longe da civilização cristã, ou fora da religião, se perde; todas colhem experiências preciosas e as acumulam para seu próprio crescimento. Nascem homens com ideias criminosas inatas, porque são velhos criminosos perseverantes no mal, mas colhem as dores consequentes do mal e vão-se corrigindo, melhorando, rumando a pouco e pouco para a harmonia divina. Nascem outros com a sabedoria e a santidade inatas, porque já as conquistaram através de experiências milenárias na prática das virtudes superiores. Não receberam mais do que os seus irmãos infelizes, mas construíram, eles próprios, sua felicidade, que aqueles outros ainda terão de construir.

            Defendendo bravamente a palingenesia à luz da ciência, como médico ilustre, o Dr. Gustavo Geley prestou relevante serviço à humanidade. Repetiu em outros termos e para outra classe social os mesmos ensinos de Allan Kardec que o mundo havia desprezado, principalmente na Europa. Reafirmou as doutrinas antigas e modernas que o homem lógico do futuro terá que aceitar.

            Os nossos irmãos argentinos que reimprimiram no Novo Mundo o livro de Geley fizeram obra de grande futuro e merecem todos os nossos aplausos. Neste momento da evolução do mundo coube ao Brasil e à Argentina levantarem bem alto o pendão do progresso reencarnacionista. Está nascendo nestes dois países a civilização espiritualista do futuro. Estamos como depositários de uma grande Revelação que terá de transformar o mundo e não podemos meter a luz debaixo do alqueire. Temos que colocá-la muito alto. O Velho Mundo desprezou a nova Revelação e descaiu para o materialismo. Temos neste momento a grande responsabilidade de cultivar e divulgar pelo mundo a Doutrina reencarnacionista moderna que é a verdade eterna e inalterável. Só ela permitirá aos homens compreenderem o plano divino da evolução, só ela salvará o mundo dos horrores das trevas que este vem atravessando.

            Os Espíritos superiores estão cumprindo seu dever desde o meado do século passado. Há um século que estão baixando à Terra e ensinando a doutrina reencarnacionista. Ainda agora, na Inglaterra, diversos médiuns estão recebendo ensinos reencarnacionistas e está surgindo lá uma nova literatura espírita reencarnacionista. O mundo conhecerá a verdade e a verdade libertará o mundo de seus próprios erros.


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