Exemplos primeiro...
Marcílio Gonzaga
Reformador
(FEB) Abril 1947
No
ensino, a primeira coisa a fazer é exemplificar, depois, então, explicar teoricamente
o exemplo, estabelecendo regras.
Nas
doutrinas, igualmente, é preferível exemplo sem teoria do que teoria sem
exemplo. O Espiritismo parte todo de fatos para teorias, como as ciências
naturais, mas nunca de teorias para fatos.
Em
religião, os mais brilhantes pregadores que não exemplificam seus ensinos nada
conseguem para si mesmos nem para os outros. Conhecemos um velho doutrinador
que morreu decepcionado de notar que o mundo não lhe seguiu os lindos ensinos,
mas ele mesmo seguiu caminhos muito diferentes daqueles por ele lindamente
pautados em discursos e escritos. Mas, examinando bem, foi ele o primeiro a não
seguir seus ensinos. Não soube exemplificá-los na vida e o mundo preferiu
seguir lhe a frieza dos exemplos ao ardor da pregação. É sempre assim com
indivíduos e escolas.
Há
exemplos muito acima da nossa capacidade e que não poderíamos mesmo dar
presentemente, mas há outros ao nosso alcance e este alcance determina nossa
tarefa. Há muitos espíritas que praticam com a máxima abnegação a assistência
aos necessitados. Quer preguem ou não seus princípios, serão acompanhados e
imitados, porque dão exemplos e só estes impressionam e modificam as almas.
Conheço outros que ficam muito abaixo: só sabem exemplificar a divulgação e o
uso do Esperanto, mas também estes fazem escola, são acompanhados e colaboram
na preparação do futuro.
Se
Jesus se houvesse limitado à pregação, provavelmente não existiria Cristianismo,
tudo ficaria esquecido na Judeia pouco depois do seu desaparecimento. Se Paulo
se limitasse a fazer discursos e escrever epístolas, teria desaparecido no
século primeiro. Ambos, porém, exemplificaram brilhantemente a Doutrina que
pregavam e foram seguidos em seus exemplos e a Doutrina se eternizou no
mundo.
Dentro
do nosso movimento espírita há muitos setores de trabalho, mas em todos eles
prevalece a lei do exemplo: quem ensina pelo exemplo, mesmo que não saiba falar
nem escrever, encontra auxiliares e produz alguma coisa em seu setor de trabalho; quem fala muito
bem do amor, escreve lindamente, mas não exemplifica, será seguido somente nesse mesmo exemplo, isto é,
por pessoas teóricas, bem falantes, mas que não produzem frutos de natureza
alguma, só produzem palavras que passam e desaparecem com o tempo.
Basta
examinar o movimento para notar-se que é assim, mas porque é assim? Porque os
homens seguem apenas exemplos e não palavras?
É
porque as palavras sem obras não são sinceras, não encontram apoio dos
Espíritos superiores, são apenas literatura, beletrismo vazio. Mas as obras,
pequenas ou grandes, são sinceras, vêm do Espírito e não somente do cérebro
cultivado.
O
maior trabalhador vivo do Espiritismo no Brasil emprega 90% do seu tempo a
servir aos sofredores, muitas vezes por entre lágrimas, recebendo
ingratidão e injúrias, e somente 10% à pregação. Pois estes 10% produzem mais
do que toda a pregação de todos os outros pregadores juntos: fala diretamente
aos corações, transforma a vida de milhares de pessoas. É a sinceridade
encarnada. Algum dia hão de verificar a nossa ousada afirmação de hoje. É
necessário, primeiramente, que o tempo faça sua obra de apurar o que tem vida e
o que só tem brilho falso.
Portanto,
só depois do exemplo que podemos dar e que cada um de nós poderá decidir qual é
a sua tarefa. Muitas vezes a tarefa é humilde, obscura, muito menor do que a
que aspiramos, mas se só nela podemos exemplificar; só
ela nos pertence e seria perder tempo, prejudicar a Doutrina, o tentarmos coisas de
maior vulto. Felizmente, não existe um só espírita que não possa exemplificar
alguma coisa e assim descobrir sua missão.
Exemplos
primeiro, senão estaremos enganando a nós mesmos e, se possível, os outros. Quase nunca enganamos os outros, porque, como Espíritos,
eles sentem a realidade, onde não a podem entender nem explicar. O sentimento é
sempre muito mais forte do que o pensamento por isso é o sentimento e não a
razão, quase sempre, que determina nossos atos.
Confessar
a verdade é bom, porém exemplificá-la é muito melhor.
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