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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1942
Fenômenos de Materialização
Aos esposos Prado
Em testemunho
de
Verdade
e reconhecimento
O Autor
(Conferência
realizada na Federação Espírita
Brasileira,
em 21
de Abril de 1921, sobre as observações feitas no
Pará,
em três sessões da Exma. Sra. D. Ana
Prado.)
Meus
irmãos em crença, irmãos meus em humanidade: como crentes por vos confortardes
ou como curiosos sinceros por vos edificardes, a todos indistinta e
fraternalmente eu saúdo e agradeço a comparência a esta assembleia.
Antes
de entrar no assunto que aqui nos congrega, permiti que, à luz da doutrina que
professamos e nos felicita - senão a todos, a muitos dentre nós - façamos
ligeira referência à data de hoje, em que a sociedade civil comemora e inscrita
está nos fastos da pátria história - a conjuração mineira, que teve por epílogo
a execução de Silva Xavier - o "Tiradentes".
Porque
o espiritista, meus senhores e minhas senhoras, não é, como à muita gente ainda
se afigura, um ser indiferente e alheio aos antecedentes e consequente da
sociedade que o cerca, no plano material, e só preocupado com abstrações e
presumidas hipóteses de uma vida futura.
Bem
ao contrário, na comprovação da imortalidade, na certeza dos seus eternos
destinos, ele melhor compreende, nas solidárias etapas, a justeza da lei de
causa e efeito, que prevalece para os indivíduos como para as coletividades.
Assim, pois, o espiritista se interessa, logicamente, pelos acontecimentos do
seu tempo e neles pode e deve intervir de modo benéfico, concorrendo dentro da
lei maior de amor e justiça, de moral e trabalho, para o progresso da família
como da sociedade, da pátria como da humanidade.
E
se a pátria representa um conjunto de espíritos afins, conjugados à prova para
ferir determinadas notas no concerto da evolução planetária, esta sob a égide
da divina providência, é claro que ao espiritista incumbe estudar, meditar e
colaborar a história de sua pátria.
Mas,
senhores, do ponto de vista das teorias materialistas, niilistas, negativistas,
quem foi e que poderia ter sido o chamado proto mártir da Independência? Que
valor se poderia atribuir ao seu ideal?
Uma
máquina, um autômato animado? Um "complexus" de células e tecidos,
química e casual quão efemeramente condensado para viver um minuto, para
lampejar um momento no tumultuoso, inexpressivo cenário do mundo e .. , oh! irrisão
- desaparecer para sempre?
E
o móvel, o ideal desse martírio hoje comemorado e glorificado, que valor pode
ter à face dessas doutrinas que lidam por fazer do homem, da criatura
inteligente uma simples expressão de forças, aliás desconhecidas quão
arbitrárias?
Viver
na saudade, na memória do pósteros...
Parca,
mesquinha, ridícula compensação para quem saiba que a morte é o fim inelutável
de tudo. Glória, renome, ideal, afeições, trabalho, martírio, tudo igual a
nada!
Confessemos,
senhores, que, no mundo em que vivemos, não são, não podem ser essas as
doutrinas que criam santos e sagram heróis.
Não
é com elas e por elas, ao menos com lógica, que a humanidade se tem afirmado
progressiva, no transcurso da sua história.
Demais,
a característica do nosso estágio planetário, mau grado a todas as aparências
de liberdade, é o egoísmo, É por ele - e aqui se exalça a onisciência divina -
que, instrumentos da Providência, não conseguindo iludir os seus
desígnios, antes neles colaborando, engendramos a dor - a dor que engendra o
aperfeiçoamento.
Em
suma: o materialismo só pode ser negativo, estéril, aniquilador de todos os
surtos de sacrifício e bondade, de todos os ideais de progresso, porque o indivíduo
não tem por horizonte mais que os limites de uma cova.
Foi,
certo, esse materialismo que fez a Jean Finot (1) dizer "que de todos os
cimos do pensamento francês se desprendem a tristeza e a desolação.”
(1) ‘Progrés et
Bonheur’.
Nem
outra a filosofia que levava Schopenhauer a traduzir assim a existência: "-trabalhar e sofrer para viver; viver
para trabalhar e sofrer.
Encaremos
agora o problema por outro prisma...
Sabeis,
os que estudais o Espiritismo, que há uma comunicação mediúnica de Napoleão (2) na “Do País da Luz”, vol. 1º, qual o grande guerreiro, por justificar
a sua ação destruidora, diz que baixou como escolhido do Senhor, flagelo da
humanidade recalcitrante e tarda, sim, mas também a concorrer para o seu
progresso, visto como, onde quer que os seus soldados fincassem o coto de sua
lança, aí plantavam, também, uma semente da Liberdade.
(2) ‘No
País da Luz’, vol. 1º.
E,
quando o médium, depois de uma pausa maior lhe pergunta: "Ainda estás aí,
espirito eleito?" Napoleão responde: Eleito, não, escolhido... E
prossegue: Eleito, um só - O Cristo, filho de Deus, a quem a missão foi dada
num sorriso; escolhidos, muitos: Alexandre, Cesar, Aníbal ou eu, a quem as
tarefas foram dadas numa ordem." E rematava: "Compreendes a
diferença?" Compreendemo-la nós pela Revelação Espirita, que
elucida a genealogia espiritual de N. S. Jesus Cristo.
De
resto, já o previstes, Napoleão, general, citou generais missionários, providencialmente
encarnados na Terra; mas, não é só para brandir uma espada, levando massas à
chacina, que baixam os missionários.
Eles
baixam para impulsar todas as atividades regeneradoras, para colaborar em todos
os passos do progresso humano, porque essa é a grande lei da reencarnação, das
vidas sucessivas e, num sentido mais lato, da solidariedade universal.
Vejamos,
pois, os espiritistas, na personalidade histórica de Silva Xavier um espirito
que veio prestar seu concurso oportuno à evolução do nosso povo.
Ter-se-ia
propiciado em resgate de faltas anteriores? Não importa sabe-lo por agora. Ter-se-ia
oferecido voluntariamente por escalar mais altas esferas da espiritualidade? De
qualquer forma, onde quer que paire o seu espírito, pois que o espírito, a
mônada original é eterna e consciente, esta a tese que nos propomos, embora
pobremente, aqui sustentar - onde quer que paire o seu espírito, repetimos,
tenha ele da família espírita aqui reunida um pensamento de paz e fraternidade,
dessa paz e fraternidade, meus senhores, que não cabem dentro das convenções
sociais dos calendários, mas que vibram em acordes divinos e atraem bênçãos de
todo o universo.
Isto
posto, permiti que abordemos o tema da nossa palestra:
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