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Fenômenos
de Materialização
autor: Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1942
Apenas,
a premência de tempo não lhe ensejou trabalhos de longo fôlego. E embora as
colunas do “Reformador" guardem lições suas, em prosa e verso, suficientes
para constituir mais de um milhar de páginas de erudição doutrinária e modelar
poesia, além de vasta e dispersa colaboração em jornais, Manoel Quintão sempre
fugiu a escrever livros, sustentando que o melhor fruto é proporcionado pela síntese
no ensinamento, pois mais arraigada e eficazmente se guarda na Alma - um
preceito eloquente e verdadeiro, do que - na memória - extenso trecho de rebuscado
estilo a imitar os clássicos.
Mas,
ainda assim, por algumas vezes, abriu exceções, e disso se seguem três
exemplos. O primeiro trabalho é uma tese completa sobre o
exercício da mediunidade, eloquentemente documentado com os mais convincentes traços
da intervenção dos Espíritos, sem margem para explicações mais ou menos
especiosas de telepatias ou criptostesias, nem elucidações pelas patranhas de
uma pseudociência onisciente.
Fechado
com um - Abecedário dos médiuns - que é um dos mais completos códigos para
orientação desses instrumentos do além, o trabalho de Manoel Quintão encerra um
ensinamento e advertência de excepcional importância e gravidade, cujo
desconhecimento ou desprezo tem levado à desgraça - quando não à morte -
pessoas e famílias.
Vale
sublinhar fortemente esse aspecto da lição que ali se condensa.
É
que, depois de recebida a dádiva caridosa, misericordiosa dos Espíritos, o
contemplado não pode, não deve fugir ao testemunho de afirmar a Verdade,
tornando-se infinitamente mais grave a falta - quando o agraciado esconde a ação
dos Espíritos para não perder vantagens ou situações materiais de
proventos e de clientela.
A
lição que nos veio foi esta: Todo aquele que recebeu a visita da Verdade, e
desta lhe ficou o socorro em hora de provação, tem de testificar - à face de
Deus e dos homens - do que recebeu. Se o não fizer o seu duro coração, à
semelhança do metal que necessita adaptar-se ao molde, terá de ser fundido no
cadinho da Dor, ao fogo do sofrimento.
Quando
os Espíritos intervém em favor das criaturas humanas, assumem a
responsabilidade dessas protegidas, e tem de propiciar a elas os elementos
adequados, as oportunidades concomitantes, necessárias ao conhecimento e
remodelação dos impenitentes, - por mais, dolorosos que se tornem esses meios
de ascese à condição de Espíritos libertos dos erros terrestres. Sob os golpes
do malho - aa bigorna inamoldável - é que o ferro se torna dócil e amoldável.
Não
importa que o aproveitador da benevolência dos Espíritos suponha estar quite
pela dádiva que recebeu, e julgue poder ambicionar, conseguir, desfrutar
posições e aferrolhar cabedais, costas voltadas às realidades da vida
espiritual, surdo ao chamamento piedoso e fraterno dos desencarnados... Quanto
mais tempo decorrer, maior lago de lágrimas estará formando para o futuro. Quanto
mais dinheiro acumular nos estabelecimentos bancários, maiores agruras estará
reservando para o porvir do seu próprio Espírito. Bem o disse o Cristo: do cárcere
não sairá o devedor, sem que haja pago o último centil da sua dívida.
Essa
a dolorosa lição da autoridade policial fluminense de que trata um dos pontos
do edificante trabalho.
O
outro é a valiosa narrativa de materializações realizadas em Belém do Pará, com
a médium Ana Prado, a que assistiu e implicitamente controlou. É um documento
de inapreciável mérito, porque constitui depoimento idôneo, de uma consciência
honesta, de uma inteligência acurada e vigilante - contra
a qual fraude alguma prevalece - em assunto doutrinário, testemunho bastante
para inspirar confiança a quantos desejem - por ele e daí em diante - estudar a
verdade desses fatos.
Mas,
ao lado de tão empolgante descrição, há uma página de incalculável beleza e
vibração de sentimento: é aquela em que o Autor descreve o seu apelo ao
Espiritismo, quando a, Medicina o desenganou de viver, dando-lhe -
irrecorrivelmente - um bem curto prazo de resistência física. É um documento e
é uma prova a que nenhuma consciência íntegra poderá deixar de render
homenagem.
O
terceiro e final é uma palestra domingueira, lida na sede da Federação
Espirita, e vale por uma lição erudita, pois dificilmente se conseguirá melhor condensar
em tão poucos períodos um tão largo cabedal de conhecimentos históricos sobre a
verdade da ação das forças universais na imortalidade da vida e do Espírito,
paralelamente a preciosos exemplos das hesitações e erros da Ciência oficial -
a negar, hoje, as verdades de amanhã.
Mas,
no conjunto, extremados os assuntos precípuos de cada um desses trabalhos, ainda
ficará pairando um elemento de invulgar riqueza; um filão onde o ouro fulge
espontaneamente aos olhos de quem sabe ver... É a beleza do estilo, que mal
esconde o literato sob o gabão do doutrinador.
Pode
qualquer um isso constatar: o Autor tem o raro dom de fundir, na sua maneira de
escrever, os três principais elementos do estilo perfeito: sentimento,
erudição, beleza. E também falando, a frase lhe flui natural, polida,
doutrinária, simples no seu encanto de espontaneidade.
Mas,
talvez se interrogue, por que um tão bem aquinhoado ser não tem o nome no
pórtico de alguns livros?
Por
modéstia natural, pelo conhecimento que a experiência da observação lhe deu. Ele diz que o maior tropeço do Espirito, na
delicada senda dos trabalhos doutrinários, é a vaidade, principalmente aquela
que assenta nos lauréis do mundo, cujas raízes se escondem nos aplausos nem
sempre sinceros e não raro exagerados.
Evita
as sagrações literárias, os êxitos de vitrine, as consagrações de fachada...
Espectador
de muitos dramas íntimos, assistente de alguns fracassos mediúnicos, que ruíram
aos estrondos do zabumba de um exibicionismo incompatível com o anonimato
indispensável ao labor espirita; ele sempre se furtou a todas as oportunidades
de risco de se confundir com os espetaculosos "apóstolos"
e "trabalhadores da seara" que só transitam em público batendo
aplausos a si próprios.
Tem,
no entanto, contribuído formidavelmente para muita realização espiritual, para
enorme conforto e consolo de inúmeras almas aflitas, para elucidação de muitos
hesitantes e incipientes adeptos; mas, sempre anônimo, naquele paradigma
evangélico da esmola por uma das mãos, sem que a outra de tal se aperceba,
lição que também serve para a esmola que é dada aos Espíritos necessitados.
Quer
a coluna editorial do "Reformador", sempre douta e fiel na pureza doutrinária, quer a suculenta
e inapreciável seção de CORRESPONDÊNCIA, guardam copiosíssima série de ensinamentos
transmitidos pela sua pena e suficientes para sagrar a reputação do mais
notável dos escritores do Espiritismo.
Promovendo
a publicação em volume autônomo destas três produções, tenho esperança de
vencer a relutância do Autor em rever e consentir que se republique um outro
seu trabalho de elevado quilate - O CRlSTO DE DEUS. E, se ajudado, quiçá algo
mais do muito que o tempo sepultou no esquecimento natural, pela ação do repouso
da memória, depois que se lê um trecho de Revista...
Pedindo
ao leitor perdão por haver penetrado nas páginas deste volume, devo afirmar que
o meu intuito principal foi explicar a demora em aparecer um livro com o nome
de Manoel Quintão por autor, e também dizer da modéstia, sincera e difícil de
exprimir, com que aferrolha o nome, no improcedente temor de
ser confundido nessa notoriedade que, barulhenta e gastronomicamente, é
disputada por muita gente nas revistas e jornais.
Almerindo Castro
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