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domingo, 3 de fevereiro de 2013

76. 'Doutrina e Prática do Espiritismo'




76

            Agora que já podemos, aproximadamente, fazer ideia das prováveis condições de vida, pelo menos, nas vizinhas terras do céu que nos rodeiam. mais facilmente compreenderemos a migração que dos espíritos entre elas se efetua, uns subindo, por exemplo, da Terra a Marte, para ai prosseguir em mais favoráveis condições a sua evolução, baixando outros de um mundo relativamente superior ao imediatamente inferior na hierarquia planetária, já seja a titulo de expiação, em consequência de se haverem, por seu endurecimento e obstinação retardatária, tornado incompatíveis com o meio de que são excluídos e cujos benefícios perderam o direito de gozar, já seja, como no caso de missões pessoais com o fim de transmitirem a humanidades menos adiantadas o fruto de seus labores e conhecimentos, adormecida apenas sob o véu da carne a reminiscência de sua afortunada estância.

            Para os decaídos não deixará também de haver progresso, por isso que, em contato com as agressivas condições do meio, humano e físico, a que são transferidos, ao mesmo tempo que as suas rebeldias se quebrantam  e atrozes e prolongados sofrimentos terminarão por lhes incutir a submissão e a humildade, irão repartindo com os seus novos companheiros de exílio o patrimônio adquirido e que com a transmigração não se perdera.

            Assim se afirma entre as esferas planetárias, por intermédio das humanidades ou sucessivos grupos das humanidades que as povoam, essa lei admirável de solidariedade que as vincula e faz que os progressos numa realizados não fiquem circunscritos, mas de umas a outras se vão lenta e gradualmente propagando, até que na face de cada um e de todos esses mundos se tenha realizado o que Jesus chamava "o reino de Deus," isto é, que todas as humanidades, convertidas à sua lei, pratiquem entre si a justiça, a paz e a fraternidade.

            Para que esse ideal divino, que tão longínquo se afigura, ao menos, para os habitantes da nossa pobre Terra, se converta em realidade, sucessivas épocas terão que decorrer sem dúvida; mas, como dizíamos páginas atrás, se ele tarda a se implantar no seio de toda a humanidade, como uma conquista coletiva, gerações de espíritos o tem através dos tempos alcançado. Para esses, que culminaram no apogeu do progresso que lhes poderiam facultar as possibilidades da nossa esfera inferior, os mundos adiantados continuam a ser um campo de pacífico labor, em que, isentos das repulsas e padecimentos aqui peculiares, as suas virtudes e saber serão postos ao serviço de outros irmãos mais dóceis e diligentes do que nós.

            Não quer isso dizer que de todo se desinteressem pela sorte dos rebeldes que aqui deixaram e que com as suas mesmas rebeldias os ajudaram a se exercitar na paciência, dando ocasião de lhes retribuir o mal com o bem e assim firmar-se em sólidas virtudes. Como o altruísmo é a lei dos espíritos superiores e não ,buscam eles jamais a sua comodidade, senão o bem do próximo, não hesitam esses fieis discípulos do Cristo, obedientes aos mandatos do Mestre, que os tem por auxiliares e executores de seus desígnios, em regressar uma e outra vez à Terra, no desempenho de missões atinentes ao progresso humano.

            Peregrinando de esfera em esfera, sempre na difusão da verdade e na prática da caridade em suas mais genuínas expressões, vão esses espíritos se aprimorando cada vez mais nos dons divinos e, ao mesmo tempo que nos indicam a trajetória que todos os decaídos havemos de irrevogavelmente percorrer, - pois que é essa a inflexível lei de evolução - chegam a alcançar as fronteiras do que costumamos chamar o estado angélico, isto é, o grau de espírito puro, pelas religiões denominado "anjo."

            Passará então o espírito por uma transformação que, apagando na sua consciência todos os vestígios da personalidade humana com que permanecera mais ou menos identificado, guardando assim a reminiscência das remotas quedas, com todo o seu cortejo de misérias, torpezas e debilidades, o incorpore definitivamente e para sempre naquele estado angélico? - Temerária seria toda indagação conjectural em tal sentido.

            O que, de todo modo, é certo é que, prosseguindo indefinidamente a sua evolução, um momento chega para o espírito em que, encerrados os ciclos sucessivos de suas planetárias peregrinações e abandonados mesmo aqueles mundos etéreos ou fluídicos, a que já nos referimos, integra-se ele na plenitude da natureza divina e, como o Cristo, não sendo mais que um com o Pai eterno, confundido na luz da mesma eterna gloria, participará na execução de suas obras, assim na formação e governo dos mundos, como na direção tutelar das humanidades que os povoam.

            Instrumentos que desse modo são das volições divinas, tem por supremo destino os espíritos, tanto os que, desde o começo de sua evolução, se, conservaram dóceis, obedientes e infalidos, como os que depois da "queda," e por mais baixo que tenham sucessivamente decaído, se reabilitaram por existências e obras meritórias, em si mesmos realizando a parábola do Filho Pródigo, têm por destino - dizíamos - ser colaboradores de Deus na execução do plano evolutivo, nela tomando uma parte cada vez mais ativa, consciente e amplificada, à medida que se vão aperfeiçoando, esclarecendo e elevando na escala hierárquica dos seres. 

             Essa colaboração tanto se pode efetuar no plano físico dos mundos, sob a libré da carne - e é o caso dos grandes missionários, ou ainda, de um modo mais geral, o de todos os homens de boa vontade, votados ao progresso de seus semelhantes - como no plano espiritual. Mas é sobretudo nesse plano, isentos das limitações mais ou menos constritoras das existências planetárias, que podem os espíritos exercer mais consciente e eficaz intervenção na marcha dos sucessos e em todas as manifestações da atividade humana, operando por sugestão mental, assistindo, inspirando, mesmo diríamos dirigindo os estadistas, os pensadores, os filósofos, os artistas, os religionários sinceros e desinteressados de todos os matizes, numa palavra, todos os que na vida alimentam nobres aspirações e colimam um ideal superior, constituindo as avançadas falanges da civilização.

            Não são, contudo - cumpre assinalar - essas figuras de relevo no seio da humanidade, as únicas beneficiadas pela assistência dos elevados seres invisíveis, pois que, sobre toda a criação se estendendo a solicitude providencial do seu Autor e sendo os espíritos os agentes de seus desígnios misericordiosos, nem uma criatura há neste mundo privada de uma vigilância e proteção oculta como aquela. Tal é, com efeito, a missão dos anjos da guarda, ou espíritos-guias e protetores, incumbidos de, por suas amorosas inspirações, encaminhar os homens na senda do aperfeiçoamento, sobre eles exercendo uma influência que se torna mais eficaz à medida que, por suas tendências para o bem, se vão eles tornando cada vez mais dóceis a tais inspirações.

            Múltiplas são assim as tarefas distribuídas aos espíritos que se integraram na consciência do seu papel na criação universal.              

            Hierarquizados  por ordem de aperfeiçoamento adquirido, tais invisíveis servidores do progresso, posto que atuem, respectivamente, nas esferas de suas aptidões peculiares, obedecem à suprema direção de um chefe, que é para cada mundo, ou sistema de mundos, o Messias, o Verbo, ou Logos planetário, expressão, como anteriormente o assinalamos, não somente do Poder criador manifestado, mas do seu pensamento e atributos, de que é o veículo, ou intermediário.

            Missão de uma complexidade e magnitude que escapa a nossa apreensão, esse governo e direção dos mundos é, segundo a palavra da Revelação, privativamente confiado a espíritos que, permanecendo sempre infalidos desde o início de sua evolução espiritual até ao estado angélico, e não cessando daí em diante de progredir em ciência universal, se tornaram dignos de assumir tamanha investidura. São os Cristos de Deus, e Jesus, que já havia, consoante o seu próprio e fidedigno testemunho, sido integrado na indissolúvel comunhão e na glória do eterno Pai, "antes que houvesse mundo," é assim o guia, o diretor e protetor, mais que do nosso planeta e de sua humanidade, do sistema cósmico de que fazemos parte.

            Vamos, com esta afirmação, talvez mais longe do que o autorizam os ensinamentos da Revelação. Mas, se de um lado considerar-se que, minúscula fração embora do universo infinito, o nosso sistema planetário constitui um todo subordinado a um mesmo centro de gravitação, donde se pode logicamente inferir a unidade de uma mesma direção espiritual, tendo sido os mundos que o compõem, senão criados simultaneamente, como o pretende a teoria de Emilio Belot, que já ficou exposta, pelo menos a intervalos que em nada modificam aquela unidade de plano e, por conseguinte, de inteligência diretora, e se, por outro lado, se atender a certas alusões veladas de Jesus, como esta, por exemplo: "tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco, e importa que eu as traga, e elas ouvirão a minha voz, e haverá um rebanho e um pastor," palavras que devem certamente abranger extensão muito maior que uma simples referência, fora do povo hebreu, às demais raças humanas, talvez já não pareça exagerado o nosso pensamento.

            Como quer que seja, guia tutelar do sistema, como se nos afigura, ou simplesmente do nosso planeta e de sua humanidade, incumbido de a encaminhar aos sumos graus de perfeição, a que é chamada, Jesus nos aparece, nos testemunhos de sua vida incomparável, como o dileto Filho de Deus, em quem - como o disse um inspirado autor - "todas as perfeições se encontram reunidas." Nele também se objetiva - e cabe aqui recordar ainda a parábola do Filho Prodigo, a que no capitulo anterior nos referimos - aquela figura do filho obediente que, sempre fiel aos mandamentos recebidos, jamais se ausentara da casa paterna, isto é, nunca fora por deslize algum constrangido a abandonar as regiões celestes e padecer o encarceramento expiatório na matéria.

            Daí, dessa ininterrupta continuidade de progresso e do conjunto de perfeições de que, como nenhum homem antes nem depois dele, deu incessantes testemunhos, a autoridade da sua palavra. Essa palavra que é "espírito e vida, e os seus exemplos constituem - não o disse ele? - "a luz do Mundo." os que a seguem “não andam em trevas;" os que ambicionam, mais que tudo, os ensinamentos da verdade; não tem, pois, senão que abrir as páginas do seu Evangelho, para serem verdadeiramente iluminados e livres de toda cegueira do coração."

            Pois bem, como se ao homem não bastassem o testemunho de sua consciência, os ditames da razão e o espetáculo, sob seus olhos incessantemente posto, das magnificências do universo, Jesus porfia, em todo o curso de sua missão messiânica e como o supremo objetivo que intencionalmente lhe assinava, em fazer conhecer aos homens Aquele de quem, filho submisso e obediente, afirmava ser o enviado, sem cuja assistência e intervenção, ele tão puro, tão poderoso e tão bom, era incapaz de realizar a menor coisa, pois abertamente o declarou: "Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma," ,e noutro lugar completa o pensamento: "mas o Pai, que está em mim, esse é o que faz as obras." (João, V, 30 e XIV, 10) .

            Quem é esse Pai, seu e nosso, de cujos misericordiosos atributos com tão irresistível e persuasiva eloquência nos falou Jesus?

            Depois da extensa romaria que temos feito nos domínios da indagação da vida, de nossa verdadeira natureza, de nosso destino e papel na criação, importa agora conhece-lo.
           




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