A Dor
Emmanuel
por Porto Carreiro Neto
Reformador (FEB) Dezembro 1949
Amigos:
Sem
dores, que seria o Universo? A Criação de Deus é a Beleza sem par, e a dor não
é menos bela, nem destoa da magnificência que nos envolve. Necessário assim
seja, para que o homem aprecie a grandeza do Senhor: há pequeninos e grandes,
mas à vista espantada de uns e de outros impõe-se a majestade da Criação.
A
beleza não é só o que admiramos subjetivamente, mas imprescindível é a sintamos
concretamente, para verificarmos a existência real das coisas. A dor é desses
sentimentos concretos, que nos penetram mais profundamente. O prazer nos tange
de leve, não passando da superfície. Cumpre nos integremos no Todo, modificando
o nosso "eu" que, isolado, modorra e se estiola; necessário despertar
para a luta e para a vida. As delícias nos embalam em enganos e nos desviam do
objetivo grandioso; mas a dor nos molda o íntimo, para mais de perto sentirmos
o exterior, do qual não há que nos afastarmos, fugindo à realidade do mundo de
Deus.
Criemo-nos
à imagem da Divindade, fazendo-nos verdadeiras obras de Suas mãos perfeitas.
Adaptemo-nos ao ambiente, deixando que nossa matéria sofra esse trabalho lento
e seguro, de aprimoramento de qualidades.
É
desse trabalho que nos surge o que chamamos habitualmente a dor; mas dor
bendita essa, e sem a qual estagnaríamos, continuando a
ser o mármore bruto, sem figura onde pudesse descer o hálito vivificante do
Sempiterno Artista dos espíritos que hão de representar as obras-primas da
Criação.
Nisso
consiste a beleza da dor, cuja ação é profunda e eterno seu efeito.
Aflijamo-nos quando não nos venha ela procurar, como a
centelha que incendeia a secular floresta onde se definha a inútil vegetação e adormece a insídia
das serpentes. Tremamos quando nos revoltemos contra seu toque mágico, qual o
do condão duma fada misteriosa que procura transmudar nossa grosseira
vestimenta em clâmide (.....) alva e brilhante de virtudes. Demos as
boas-vindas à seta que nos fere, ao buril que nos desbasta, ao fogo que nos vem
comburir os restos de imperfeições no recôndito de nossas almas.
São
mensageiros do Celeste Pai, que se compadece de nossa estagnação, de nossa
letargia, de nossa deformidade; são os artistas que vêm terminar a Obra do
Criador; são os decoradores do nosso lar; são a luz da residência de Jesus; são
as flores que exornarão a morada de Deus .
E
então, viverá o homem a vida verdadeira, e terá bendito ao Pai.
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