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“O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...”
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris
Nenhum
homem imparcial ousará dizer que pensar no povo seja um mal e, em verdade, o
clero hoje com ele se ocupa, tomado de admirável zelo, por meio de obras
sociais inteiramente novas, que não apenas por meio de novas devoções. O mal,
contra que protesto, lamentando achar-me quase de todo só nesse
protesto, por demais fundamentado, é o de esquecerem que também há intelectuais
no mundo, mesmo no mundo eclesiástico, e que pretender impor aos homens
inteligentes as infantilidades doutrinárias e devocionais, que podem bastar aos ignorantes e fazer honra aos
simplórios, é exigir que a inteligência dos ininteligentes seja a medida da
inteligência cristã e que a ciência dos primários seja a única ciência
ortodoxa.
S.
Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios, afasta, com todas as delicadezas
necessárias, os pseudo inspirados de Deus que falavam línguas incompreensíveis
e que chamavam a isso "falar em espírito". Escreveu ele: "Na
Igreja, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência, a fim de também
instruir os outros, a dizer dez mil nessa espécie de língua" (33).
(33) XIX,19.
Tomemos
para nós, cristãos do vigésimo século, o conselho que ele dá em seguida:
"Irmãos, não sejais crianças, no que concerne ao juízo; sede crianças para
a malícia, sim, mas, pelo que respeita ao juízo, sede homens feitos." E o
juízo consiste em examinar antes de crer, como ele o disse aos Tessalonicenses.
No mundo da inteligência, a inteligência é juiz e a autoridade nada tem que ver
com as questões de Ciência. "Somente Deus é Deus, Jesus Cristo é o messias
de Deus", ensina o Cristianismo e nisso está toda a Religião Cristã. Tudo
o mais é questão de Teologia, logo, pois que a Teologia é uma ciência, questão
de ciência e não de obediência.
"O
Espírito sopra onde quer", disse Jesus a Nicodemos e o próprio Nicodemos
não teria admitido que o Espírito sopre onde queira a cúria romana. Os Nicodemos
de hoje, esses têm a liberdade de crê-lo por conta própria; mas, não nos
imponham, por favor, a sua credulidade. A base, o critério da fé verdadeira é a
razão: "Não creríamos, diz S. Tomás de Aquino, se não víssemos que é
racional crermos". E S. Bernardo, com toda a rudeza, diz que substituir a
razão pelo bel prazer, no governo dos homens, é bestialidade"
(34). Eu, por mim, direi, mais respeitosamente: "É
cesarismo!" Então, concluirá a Igreja Cristã, quando for verdadeiramente
crístã : pois que a razão é o instrumento de Deus e a força o instrumento de
César, demos a César o que vem de César e a Deus o que vem de Deus: Reddite
ergo quae sunt Coesar Coesari et quae sunt Dei Deo. Voltemos à crença
pela luz e deixemos aos cegos a obediência cega.
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