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sábado, 2 de fevereiro de 2013

27. 'O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários'


27

 “O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...
           
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris


            Evidentemente, isso não podia durar, era muitíssimo pouco para o orgulho humano. Quando os sucessores dos apóstolos conseguiram, no Império dos Césares, tão grande número de adeptos que a um imperador acudiu a ideia de aliar-se-lhes para dispor de um exército mais numeroso do que o do seu competidor, o processo apostólico foi bem depressa substituído pelo sistema autoritário, que dos instrutores fez mestres. "Preservai-vos de fazer que vos chamem mestres. Vosso único Mestre é o Cristo", dissera Jesus aos seus apóstolos (2). Os funcionários do culto cristão, progressivamente organizados, segundo o modelo do sacerdócio judeu e, em seguida, de acordo com o do funcionalismo imperial, chegaram de pronto a querer ser, no domínio espiritual, o que eram os funcionários imperiais, no domínio político. Pouco a pouco foi crescendo, até tornar-se completo, o esquecimento da diferença absoluta que separa, da livre adesão espiritual, a lei de possessão imperial.

            (2) Mateus, XXIII, 10.

            Como eram súditos do Império e sujeitos aos funcionários e leis do Império os que nasciam no território do Império, o Clero, administrativamente organizado, decretou que os que nascessem no Império seriam súditos da Igreja oficialmente constituída e que os pais eram obrigados, sob penas severas, a submeter, pelo batismo imediato, o espirito inconsciente de seus filhos não só à fraternidade cristã, mas também à autoridade eclesiástica e à teologia oficialmente decretada por aquele oficialismo intelectual, ideia absolutamente genial, como autoritarismo, e que nunca viera aos déspotas, ainda os mais tirânicos. É que os apóstolos póstumos de Jesus se haviam tornado mestres, sem embargo da proibição formal do Mestre único, e se haviam atribuído, sem embargo da ignorância que os caracterizava, a função dos antigos mestres de filosofia, Com a infalibilidade a mais, para resolverem em nome
da sua autoridade, todas as questões metafisicas, políticas ou sociais. Assim sendo, entendiam que a obediência cega era a única lei capaz de unir todos os espíritos na divina luz. 

            Após dezoito séculos desse pseudo Cristianismo, os pseudo cristãos se hão tornado cada vez mais escravos dessa forma tirânica de unidade e de universalismo, mas com o deplorável resultado de se acharem cada vez mais divididos entre si e de cada vez mais se separarem deles e do seu falso cristianismo todos os espíritos animados de outro espírito que não o de escravidão e de outra maneira de ver, que não pondo uma venda sobre os olhos.

            É que, mais do que nunca, quebrando todas as resistências, o corpo eclesiástico logrou ser, ele só, a alma da Igreja. E a docilidade absoluta, imposta, sob ameaça de condenação eterna, a todos os católicos romanos, suprimiu tão completamente toda liberdade e toda possibilidade de protesto, da parte dos fiéis servos da ortodoxia papal, ainda que patriarcas e arcebispos, que o Soberano Pontífice Pio X pode, pela sua Encíclica de 1908 e pelo Moto proprio que a completou, proibir a todos os batizados, seus súditos espirituais, "a leitura de qualquer livro, sobre Filosofia ou História, que não fosse previamente revisto e aprovado pela Inquisição romana". E ainda mais apertada é a proibição, para os jovens aspirantes ao sacerdócio, de seguirem outros cursos, a não ser os das Universidades que Roma tenha instituído ou aprovado. “Com efeito, escreve aos bispos o cardeal secretário, não pode escapar a Vossa Grandeza que a integridade da fé dos jovens estudantes, ainda que sejam clérigos ou padres, está exposta, nas Faculdades civis, a perigos bastante graves... particularmente no que concerne aos cursos de História, de Filosofia e de matérias similares."

            "A integridade da fé", efetivamente, tal como a exige o ensino hoje imposto pelo Soberano Pontífice, consiste em que a Igreja é o Papa e que a única regra, em, todas as coisas, é a autoridade do papa; em que isso é de instituição divina, que sempre foi assim, desde Jesus Cristo, e que a infalibilidade papal é a garantia Infalível de todo ensino eclesiástico. Grave, de certo, seria o perigo, para todo estudante e para todo crente que procurassem informar-se com instrutores desinteressados, para saberem se essa afirmação interesseira é conforme à verdade. Proibição, pois, a todo súdito do papa romano, de conhecer, a respeito do papado romano, o que quer que não esteja controlado pelo papado romano!



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