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“O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...”
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris
Passou, felizmente! o tempo em que o
Santo Padre Inocêncio XI - 1676 a 1689 - podia reduzir à fome o douto Baluze,
para impedir que ele desse a lume os verdadeiros textos dos Concílios e dos
Pais, modificados em Roma, a bem da autocracia pontifical. Já não podeis senão
adornar com o título de "modernista" e privar amavelmente das suas
funções eclesiásticas o padre que teve a audácia de verificar por si mesmo o
ensino dos teólogos romanos e que, em consciência; se julga obrigado a
proclamar o resultado de suas verificações, resultado que induziria, não, de
certo, à supressão, mas a uma modificação séria da Igreja ensinadora, de acordo
com as exigências da ciência verdadeira e do verdadeiro Cristianismo.
Porque,
aí é que está toda questão e não algures. E não podereis fugir-lhe!
As
disputas teológicas, até ao século XVIII, se dispersavam sobre dogmas
especiais, pouco acessíveis ao comum dos espíritos e cuja discussão oferecia
aos intelectuais o único campo possível de exercício, na ausência total das
preocupações práticas que desde há duzentos anos multiplicam as pesquisas de toda
espécie e Desenvolvem todos os dias as ciências positivas. As questões
abstratas, ao contrário, são completamente desprezadas nas nossas escolas
superiores, onde tinham outrora o primeiro lugar. A Filosofia, a própria
Psicologia, são quase estranhas aos nossos sábios, exclusivamente apaixonados
pela Física, pela Química, pelas Matemáticas, a Mecânica, a Erudição, a
Economia política e social. A Teologia, sobretudo, se tornou de todo
indiferente ao reduzido número de intelectuais que ainda se conservam fiéis às práticas religiosas.
O campo está, pois, completamente livre ao Clero, para propagar os ensinos e as
práticas que entender convenientes à sustentação da sua autoridade, sem outra
justificativa além desta autoridade Mesma: "a Igreja é infalível; todo católico tem que se submeter à Igreja, sem
nenhum exame."
Pela
onipotência, pela infalibilidade centralizadas no soberano Pontífice, desde o
Concílio do Vaticano em 1870, toda a questão da fé, para os católicos romanos,
se concretizou nesta questão: que é a Igreja?
"A
Igreja é o que é e tal sempre foi: uma monarquia absoluta, em que todos os
direitos pertencem ao Sumo Pontífice. Os súditos, esses têm o dever absoluto de
crer o que se lhes ensina e de fazer o que se lhes ordena em nome do Sumo
Pontífice!” afirmam e impõem aos seus fiéis todos os bispos, todos os
sacerdotes e os teólogos da Igreja Católica Romana. "Conquanto nem todos os representantes da Igreja, confessamo-lo, sejam
absolutamente perfeitos, esta constituição da Igreja atual é absolutamente
perfeita e quem quer que, em nome da Ciência, se permita contestar as nossas
afirmações é um revoltado, que lamentamos não poder queimar, como outrora queimamos Savonarola, e que vos
ordenamos eviteis, proibindo-vos em absoluto que o escuteis ou leais."
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