segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

3. 'Fenômenos de Materialização' .


3
Fenômenos de Materialização
por Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942


Fenômenos de Materialização



Aos esposos Prado

Em testemunho de
Verdade e reconhecimento

O Autor


(Conferência realizada na Federação Espírita Brasileira,
em 21 de Abril de 1921, sobre as observações feitas no
Pará, em três sessões da Exma. Sra. D. Ana Prado.)


            Meus irmãos em crença, irmãos meus em humanidade: como crentes por vos confortardes ou como curiosos sinceros por vos edificardes, a todos indistinta e fraternalmente eu saúdo e agradeço a comparência a esta assembleia.

            Antes de entrar no assunto que aqui nos congrega, permiti que, à luz da doutrina que professamos e nos felicita - senão a todos, a muitos dentre nós - façamos ligeira referência à data de hoje, em que a sociedade civil comemora e inscrita está nos fastos da pátria história - a conjuração mineira, que teve por epílogo a execução de Silva Xavier - o "Tiradentes".

            Porque o espiritista, meus senhores e minhas senhoras, não é, como à muita gente ainda se afigura, um ser indiferente e alheio aos antecedentes e consequente da sociedade que o cerca, no plano material, e só preocupado com abstrações e presumidas hipóteses de uma vida futura.

            Bem ao contrário, na comprovação da imortalidade, na certeza dos seus eternos destinos, ele melhor compreende, nas solidárias etapas, a justeza da lei de causa e efeito, que prevalece para os indivíduos como para as coletividades. Assim, pois, o espiritista se interessa, logicamente, pelos acontecimentos do seu tempo e neles pode e deve intervir de modo benéfico, concorrendo dentro da lei maior de amor e justiça, de moral e trabalho, para o progresso da família como da sociedade, da pátria como da humanidade.

            E se a pátria representa um conjunto de espíritos afins, conjugados à prova para ferir determinadas notas no concerto da evolução planetária, esta sob a égide da divina providência, é claro que ao espiritista incumbe estudar, meditar e colaborar a história de sua pátria.

            Mas, senhores, do ponto de vista das teorias materialistas, niilistas, negativistas, quem foi e que poderia ter sido o chamado proto mártir da Independência? Que valor se poderia atribuir ao seu ideal?

            Uma máquina, um autômato animado? Um "complexus" de células e tecidos, química e casual quão efemeramente condensado para viver um minuto, para lampejar um momento no tumultuoso, inexpressivo cenário do mundo e .. , oh! irrisão - desaparecer para sempre?

            E o móvel, o ideal desse martírio hoje comemorado e glorificado, que valor pode ter à face dessas doutrinas que lidam por fazer do homem, da criatura inteligente uma simples expressão de forças, aliás desconhecidas quão arbitrárias?

            Viver na saudade, na memória do pósteros...

            Parca, mesquinha, ridícula compensação para quem saiba que a morte é o fim inelutável de tudo. Glória, renome, ideal, afeições, trabalho, martírio, tudo igual a nada!

            Confessemos, senhores, que, no mundo em que vivemos, não são, não podem ser essas as doutrinas que criam santos e sagram heróis.

            Não é com elas e por elas, ao menos com lógica, que a humanidade se tem afirmado progressiva, no transcurso da sua história.

            Demais, a característica do nosso estágio planetário, mau grado a todas as aparências de liberdade, é o egoísmo, É por ele - e aqui se exalça a onisciência divina - que, instrumentos da Providência, não conseguindo iludir os seus desígnios, antes neles colaborando, engendramos a dor - a dor que engendra o aperfeiçoamento.

            Em suma: o materialismo só pode ser negativo, estéril, aniquilador de todos os surtos de sacrifício e bondade, de todos os ideais de progresso, porque o indivíduo não tem por horizonte mais que os limites de uma cova.

            Foi, certo, esse materialismo que fez a Jean Finot (1) dizer "que de todos os cimos do pensamento francês se desprendem a tristeza e a desolação.”

            (1) ‘Progrés et Bonheur’.

            Nem outra a filosofia que levava Schopenhauer a traduzir assim a existência: "-trabalhar e sofrer para viver; viver para trabalhar e sofrer.

            Encaremos agora o problema por outro prisma...

            Sabeis, os que estudais o Espiritismo, que há uma comunicação mediúnica de Napoleão (2) na “Do País da Luz”, vol. 1º, qual o grande guerreiro, por justificar a sua ação destruidora, diz que baixou como escolhido do Senhor, flagelo da humanidade recalcitrante e tarda, sim, mas também a concorrer para o seu progresso, visto como, onde quer que os seus soldados fincassem o coto de sua lança, aí plantavam, também, uma semente da Liberdade.

            (2) ‘No País da Luz’, vol. 1º.

            E, quando o médium, depois de uma pausa maior lhe pergunta: "Ainda estás aí, espirito eleito?" Napoleão responde: Eleito, não, escolhido... E prossegue: Eleito, um só - O Cristo, filho de Deus, a quem a missão foi dada num sorriso; escolhidos, muitos: Alexandre, Cesar, Aníbal ou eu, a quem as tarefas foram dadas numa ordem." E rematava: "Compreendes a diferença?" Compreendemo-la nós pela Revelação Espirita, que elucida a genealogia espiritual de N. S. Jesus Cristo.

            De resto, já o previstes, Napoleão, general, citou generais missionários, providencialmente encarnados na Terra; mas, não é só para brandir uma espada, levando massas à chacina, que baixam os missionários.

            Eles baixam para impulsar todas as atividades regeneradoras, para colaborar em todos os passos do progresso humano, porque essa é a grande lei da reencarnação, das vidas sucessivas e, num sentido mais lato, da solidariedade universal.

            Vejamos, pois, os espiritistas, na personalidade histórica de Silva Xavier um espirito que veio prestar seu concurso oportuno à evolução do nosso povo.

            Ter-se-ia propiciado em resgate de faltas anteriores? Não importa sabe-lo por agora. Ter-se-ia oferecido voluntariamente por escalar mais altas esferas da espiritualidade? De qualquer forma, onde quer que paire o seu espírito, pois que o espírito, a mônada original é eterna e consciente, esta a tese que nos propomos, embora pobremente, aqui sustentar - onde quer que paire o seu espírito, repetimos, tenha ele da família espírita aqui reunida um pensamento de paz e fraternidade, dessa paz e fraternidade, meus senhores, que não cabem dentro das convenções sociais dos calendários, mas que vibram em acordes divinos e atraem bênçãos de todo o universo.

            Isto posto, permiti que abordemos o tema da nossa palestra:





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