Em
Defesa
da Reencarnação
Reformador (FEB) Outubro 1947
Si par malheur elle
n’avait pas été instituée par Dieu,
si elle était exclue de Ia réalité des choses,
l'homme,
pour seulement l'avoir
rêvée,
se serait montré pIus
grand et meilleur que Dieu! -
Charles Lancelin ("La Réincarnation").
Durante
os anos de 1915 a 1918, nos horrores da primeira guerra mundial, em Paris, um sábio de primeira grandeza, o Dr. Gustavo Geley,
trabalhava assiduamente na preparação de um livro monumental que deveria dar
mais altos ideais ao homem, e, em 1919; a editora "Librairie Félix
Alcan" lançava essa obra excelente à luz da publicidade com o título “De
l'Inconscient au Conscient".
Partindo
da filosofia pessimista de Schopenhauer, mas juntando-lhe os conhecimentos mais recentes da fisiologia e da psicologia, o
pensador francês elaborou um curso de filosofia científica, baseada nos conhecimentos novos, e extremamente
otimista. Refutou todos os erros da filosofia materialista e demonstrou que ela
é anticientífica, porque não abrange todos os fatos observados em nossos dias.
Esse livro é, portanto, uma revolução no mundo científico que tem tentado
esquecê-lo, fazendo-lhe a guerra do silêncio; mas ele não morrerá e
recentemente foi pela primeira vez impresso em nosso Novo Mundo pela Editorial
"Constância", de Buenos Aires, o que lhe vai dar novo impulso entre
os estudiosos progressistas.
No
livro todo não existe a palavra Espiritismo, no entanto é uma obra que confirma
todos os ensinos do Espiritismo e dá nova força à Doutrina revelada pelos
Espíritos. Baseando-se na observação dos fatos na psicologia
normal e na psicologia anormal, o Autor vai concluir inexoravelmente pela existência de
um dínamo-psiquismo preexistente e sobrevivente ao corpo, dínamo-psiquismo que
é o "eu", o ser essencial e imortal. Assim chega à palingenesia ou
doutrina reencarnacionista como perfeitamente demonstrada à luz dos fatos e não
pela revelação nem pelo raciocínio. Defende brilhantemente a velha verdade
conhecida em todos os tempos pelos mais profundos pensadores e, depois de
demonstrar a necessidade da reencarnação para explicar os fenômenos da vida,
cita o parágrafo lapidar de Charles Lancelin que disse: “Se por desgraça ela (a reencarnação) não houvesse sido instituída por
Deus, se houvera sido excluída da realidade das coisas, só por havê-la
idealizado, o homem ter-se-ia mostrado maior e melhor do que Deus!"
Realmente
assim é. Um Deus que não dispusesse das encarnações sucessivas para praticar
integralmente a Sua justiça, seria imperfeitíssimo e só podemos conceber Deus
absolutamente perfeito em todos os Seus atributos.
A
chocante desigualdade de índole dos indivíduos, manifestando-se desde o berço
até o túmulo: uns, sensíveis, amorosos, piedosos,
inteligentes, intuitivos, com virtudes inatas, verdadeiros predestinados à vida
superior do espírito, à sabedoria e à santidade e isso contrariamente ao meio e
à ascendência, como um Francisco de Assis; outros, com as mais terríveis
tendências, igualmente inatas: cruéis, insensíveis, brutais, desprovidos de
inteligência, sem raciocínio, ferozes e rudes, predestinados ao crime, ao
cárcere, à morte violenta. As diferenças de meios: uns nascem em cidades cultas,
filhos de pais piedosos, dispõem de mestres e escolas, dentro do Cristianismo,
recebendo exemplos santificantes no lar, na escola, na sociedade, com tudo
predisposto para cultivarem virtudes e saber e tornarem-se melhores durante a
vida; outros, ao contrário, nascem nas tribos bárbaras dos desertos, entre
seres violentos e maus, entregues aos instintos animais, aprendendo desde a
infância a praticar a violência, sem meios de instruírem-se, sem religião nem
filosofia que os oriente na vida. Mesmo dentro da civilização cristã, há
convicções inteiramente opostas: pode nascer-se num lar materialista, onde não
existe a crença em Deus e onde a virtude basta ser de aparência; onde a
propriedade só tem limites na legalidade material, mas é sempre considerada
legítima desde que preenchida a formalidade legal externa para que a polícia a
garanta, ou, em outras palavras, onde o furto é somente aquilo que a polícia
veja e possa impedir; mas pode nascer-se na casa ao lado, onde a religião é uma
realidade e a mais delicada consciência regula todos os atos da vida, onde mais
belos exemplos são recebidos desde o berço.
Quantos
bilhões de homens nasceram, viveram, morreram, nas civilizações pagãs da
antiguidade, quando matar era reputado virtude, heroísmo, valor, mas a brandura
era desprezada como fraqueza! Vestígio dessa mentalidade temos ainda na palavra
virtude que vem de virtus, formada
de vir, varão, e significa força, coragem, masculinidade, em oposição às
qualidades da mulher, então consideradas desprezíveis. E aquelas civilizações
idólatras e impiedosas que duraram milênios antes do Cristo, foram
substituídas, um pouco mais tarde, pelo fanatismo religioso da Idade Média que
julgava ato de profunda piedade cristã queimar vivos os hereges. E agora, nos
anos de 1933 a 1943, toda a juventude alemã era educada para matar, para
destruir as raças inferiores, como a
dos judeus, a dos polacos, a dos russos. Todas as virtudes do Cristianismo lhes
eram apresentadas como crimes contra a nacionalidade.
Toda
essa balbúrdia imensa das nossas ideias morais através dos séculos e dos
milênios, do ponto de vista da existência única, faria de Deus um ser
monstruoso, injusto, que a uns deu todos os meios de salvarem-se e a outros negou
todos esses meios, que condenou previamente à danação eterna milhões de
gerações, todas as grandes civilizações da antiguidade, de antes do Cristo, e
todas as civilizações que até hoje não conheceram o Cristianismo, religião
conhecida somente de uma quarta parte da humanidade contemporânea. Essa concepção
monstruosa de Deus equivalia à negação completa de Deus e conduziu a humanidade ao materialismo sempre
crescente que culminou nas ideias modernas de nazismo e correlatas, na concepção da vida em
sua forma primitiva e animal, rompendo com todas as civilizações religiosas, abolindo
toda a revelação e voltando ao materialismo simples e puro da animalidade
inconsciente e moralmente irresponsável.
Negando
a antiga crença nas reencarnações, as Igrejas judaica, católica romana, grega
ortodoxa e as protestantes assumiram a mais tremenda de todas as
responsabilidades históricas: fizeram a humanidade abandonar o Cristianismo e
voltar ao paganismo materialista; porque a inteligência desenvolvida, nestes
séculos mais recentes, não podendo admitir a existência de um Deus injusto e
monstruoso, preferiu negar totalmente a existência da Deus, da Providência e
entregar-se ao materialismo absoluto. Foram, efetivamente, as classes mais
instruídas, os enciclopedistas do século 18, os filósofos, os cientistas, que
não podendo 'aceitar o ensino' das Igrejas, quanto à existência de Deus e do
mundo espiritual, proclamaram o materialismo. A mais completa negação de Deus
se acha, como súmula da evolução rumo à descrença, na Filosofia
Positiva, de Augusto Comte, no primeiro meado do século 19, pouco antes do nascimento do
Espiritismo que a veio contestar em sua própria essência.
Basta
demonstrar-se a realidade da palingenesia e tudo se esclarece; vemos a mais
perfeita Justiça reinando no Universo e realizando o soberano bem através das
longas séries de encarnações dos mesmos Espíritos. Nenhuma daquelas almas que
viveu nos tempos bárbaros se perdeu, nenhuma que hoje- vive longe da
civilização cristã, ou fora da religião, se perde; todas colhem experiências
preciosas e as acumulam para seu próprio crescimento. Nascem homens com ideias
criminosas inatas, porque são velhos criminosos perseverantes no mal, mas
colhem as dores consequentes do mal e vão-se corrigindo, melhorando, rumando a
pouco e pouco para a harmonia divina. Nascem outros com a sabedoria e a
santidade inatas, porque já as conquistaram através de experiências milenárias
na prática das virtudes superiores. Não receberam mais do que os seus irmãos
infelizes, mas construíram, eles próprios, sua felicidade, que aqueles outros
ainda terão de construir.
Defendendo
bravamente a palingenesia à luz da ciência, como médico ilustre, o Dr. Gustavo
Geley prestou relevante serviço à humanidade. Repetiu em outros termos e para
outra classe social os mesmos ensinos de Allan Kardec que o mundo havia
desprezado, principalmente na Europa. Reafirmou as doutrinas antigas e modernas
que o homem lógico do futuro terá que aceitar.
Os
nossos irmãos argentinos que reimprimiram no Novo Mundo o livro de Geley
fizeram obra de grande futuro e merecem todos os nossos
aplausos. Neste momento da evolução do mundo coube ao Brasil e à Argentina levantarem
bem alto o pendão do progresso reencarnacionista. Está nascendo nestes dois
países a civilização espiritualista do futuro. Estamos como depositários de uma
grande Revelação que terá de transformar o mundo e não podemos meter a luz
debaixo do alqueire. Temos que colocá-la muito alto. O Velho Mundo desprezou a
nova Revelação e descaiu para o materialismo. Temos neste momento a grande
responsabilidade de cultivar e divulgar pelo mundo a Doutrina reencarnacionista
moderna que é a verdade eterna e inalterável. Só ela permitirá aos homens
compreenderem o plano divino da evolução, só ela salvará o mundo dos horrores
das trevas que este vem atravessando.
Os
Espíritos superiores estão cumprindo seu dever desde o meado do século passado.
Há um século que estão baixando à Terra e ensinando a doutrina reencarnacionista.
Ainda agora, na Inglaterra, diversos médiuns estão recebendo ensinos
reencarnacionistas e está surgindo lá uma nova literatura espírita
reencarnacionista. O mundo conhecerá a verdade e a verdade libertará o mundo de
seus próprios erros.
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