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domingo, 1 de maio de 2011

A Força da Humildade




A Força da Humildade

          
  por Vinícius
Reformador (FEB)  Julho 1938

            A humildade é cheia de excelência e de uma certa nobreza, que o homem material ignora, que os mundanos de alto e baixo coturnos não podem perceber.

            Por isso mesmo, conceitua o Evangelho: aquele que se humilhar será exaltado.

            O amor, virtude única, da qual as demais são meras cambiantes, é humilde.

            Na dedicação com que a mãe vela pelo filho, predomina um cunho indelével de humildade. Ela desiste de prazeres, priva-se de conforto, abre mão de tudo, quanto possa proporcionar-lhe satisfação aos sentidos, em benefício daquele em quem concentra os seus afetos.

            Dessa submissão de ‘eu’ ao ‘ser’ amado desprende-se a luz suave e doce da humildade como complemento do Amor. Nessa concentração de cuidados e desvelos, nessa consagração de todas as faculdades, visando um só e único objeto, com esquecimento de si própria, está a renúncia verdadeira, que só a humildade, na expansão do seu poder incoercível, pode gerar.

            A humildade é uma força que se disfarça na fraqueza. Só os fortes podem ser humildes. Jesus comprovou, para os que tem olhos de ver, a sua fortaleza varonil através dos mais nobres gestos de humildade, em várias conjunturas que enfrentou durante o seu atribulado contato com a fátua e orgulhosa sociedade humana.

            Dentre os vários episódios que com ele se passaram, citaremos um que, por sua natureza, revela eloqüentemente o alto valor moral que caracteriza o meigo Rabino.

            No decurso do sumaríssimo processo a que o submeteram, era levado, ora à presença de Anás e Caifás, sumos sacerdotes, ora para Pilatos, ora ainda para Herodes. Numa das vezes que o conduziam, certo esbirro deu-lhe uma bofetada. O Cordeiro de Deus, calmo e sereno, volta-se para o seu grosseiro agressor e o adverte do seguinte modo: Se agi mal, dize em que; se, porém, tenho procedido bem, porque me feres?

            Semelhante atitude, diante de tão brutal agressão, atesta a varonilidade do Mestre, num grau elevadíssimo. Sua energia, nesse caso, é sobre-humana. A força despendida em suportar a ofensa é muito maior do que a revelada na represália ou na vingança. Demais, o deixar de reagir, quando não podemos, quando o nosso adversário é mais forte e mais poderoso do que nós, é medida de prudência. Deixar de reagir por motivos subalternos e razões de interesse é covardia e vileza. Abster-se, porém, de reação, dispondo de todos os meios e possibilidades de derrotar e confundir o ofensor, é divino. Só os anjos e os deuses procedem assim.

            E que Jesus podia, se quisesse, aniquilar os seus gratuitos inimigos, verificamos no que se deu com Ele no momento da sua prisão, no Jardim das Oliveiras.

            Judas ia à frente, capitaneando a soldadesca armada de espadas e varapaus. O Filho do Homem, saindo de retiro onde se achava em oração, apresenta-se e interroga a malta alvoroçada: A quem procurais? Respondem os guardas: A Jesus de Nazaré. Retruca o Senhor: Eis-me aqui, sou eu mesmo. Logo em seguida, usando do poder que possuía de deixar e reassumir a forma corpórea, dissipou esta, mostrando-se em todo o magnífico esplendor do seu Espírito refulgente. Diante da luz intensa que então se irradiou daquele que é o caminho, a verdade e a vida, a soldadesca toda, confusa, perturbada e trêmula, cai por terra, inerte, incapaz do mínimo movimento.

            De novo Jesus encobre o seu divino ‘ser’ ocultando aquilo que é nele, como aliás em todos nós, a centelha procedente do Pai, e, só então, os beleguins romanos, voltando a si, lograram aprisioná-Lo.

            Portanto, Jesus, sem tocar em nenhum deles, podia inutilizá-los; mas não o fez, para que se cumprisse a soberana vontade de Deus.

            Tal é a força da humildade, da qual os homens, em sua orgulhosa fraqueza, vivem divorciados, deixando que, a cada passo, se confirme, entre eles, a sabedoria do provérbio: Quer conhecer o vilão, ponha-lhe o bastão na mão.

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