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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Evangélicos 03 - As Indulgências



1ª - Nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo, quando disse: "Arrependei-vos", quis que toda a vida dos fiéis fosse arrependimento.

2ª - Esta palavra não pode ser entendida como significando a penitência sacramental, isto é, a confissão e a satisfação, que é administrada pelos sacerdotes.

3ª - Nem também significa somente arrependimento interior, e mais, o arrependimento interior é nulo, a não ser que externamente produza variadas mortificações da carne.

4ª -  pena [do pecado], conseqüentemente, continua enquanto continuar o ódio por si mesmo (este é o verdadeiro arrependimento interior), e continua até nossa entrada no reino dos céus.

5ª - O Papa não pretende nem pode remir quaisquer penas além daquelas que ele impôs seja através de sua própria autoridade ou através da dos cânones.

6ª -  O Papa não pode remir qualquer culpa, a não ser declarando, e confirmando que ela foi remida por Deus; ainda que, para estar seguro, ele possa conceder remissão em casos que são reservados ao seu julgamento. Se seu direito de conceder remissão em tais casos for desprezado, o culpado permanecerá inteiramente sem perdão.

7ª - Deus não redime a culpa de qualquer pessoa sem que Ele, ao mesmo tempo, a humilhe em todas as coisas e a traga em sujeição ao Seu substituto, o sacerdote.

8ª -  Os cânones penitenciais são impostos somente aos vivos, e, segundo os mesmos, nada pode ser imposto aos que morrem.

9ª - Portanto, o Santo Espírito no Papa nos é benevolente, porque em seus decretos ele sempre faz exceção ao artigo da morte e da necessidade.

10ª - Maldosas e sem conhecimento de causa são as obras daqueles sacerdotes que reservam aos moribundos as penitências canônicas para o purgatório.

11ª - Essa cizânia de transformar a pena canônica em pena de purgatório evidentemente foi semeada enquanto os bispos dormiam.

12ª - Em tempos passados as penas canônicas foram impostas não depois, mas antes da absolvição, como verificação de verdadeira contrição.

13ª - Os que estão à morte são libertos pela morte de todas as penas; eles já estão mortos para as leis canônicas, e têm o direito de serem dispensados delas.

14ª - A saúde imperfeita [da alma], ou seja, o amor imperfeito, dos que estão à morte traz necessariamente consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.

15ª - Este temor e horror são suficientes por si sós (para não dizer outras coisas) para constituírem-se na pena de purgatório, desde que estão próximos do horror de desespero.

16ª - Inferno, purgatório e céu parecem diferir como o fazem o desespero, o quase desespero e a garantia de segurança.

17ª - e Parece necessário, com as almas no purgatório, que diminua o horror e que cresça o amor.
18ª - Parece não ter sido provado, nem por razão nem por Escritura, que elas estão fora do estado de mérito, ou seja, do crescente amor.

19ª - Também parece não ter sido provado que elas, ou pelo menos que todas elas, estão certas ou asseguradas de sua própria bem-aventurança, ainda que nós possamos estar bem certos disto.

20ª - Portanto, por "plena remissão de todas as penas", o Papa não quer dizer verdadeiramente "de todas", mas somente daquelas impostas por ele próprio.

21ª-  Portanto, erram aqueles pregadores de indulgências, os quais dizem que através das indulgências do Papa um homem é liberto de todas as penas, e salvo;

22ª - Considerando que ele não envia às almas no purgatório nenhuma pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23ª - Se é que é de todo possível conceder a alguém remissão de todas e quaisquer penas, é certo que esta remissão poderia ser dada somente aos mais perfeitos, ou seja, pouquíssimos.

24ª - Isto faz ser necessário, por conseqüência, que a maior parte do povo está sendo enganada pela indiscriminada e retumbante promessa de absolvição da pena.

25ª - O poder que o Papa tem sobre o purgatório, de modo amplo, é exatamente como o poder que qualquer bispo ou cura tem em sua própria diocese ou paróquia, de modo particular.

26ª - O Papa faz muito bem quando, não pelo poder das chaves (as quais ele não possui), mas por meio de intercessão, concede remissão às almas.

27ª -  Pregam a doutrina humana os que dizem que assim que a moeda tilintar na caixa, a alma voará para fora (do purgatório).

28ª - O certo é que quando a moeda tilintar na caixa, o lucro e a avareza poderão crescer, mas o resultado da intercessão da Igreja está somente na vontade de Deus.

29ª - E quem sabe se todas as almas no purgatório desejam ser remidas, como na lenda de São Severino e Pascoal?

30ª - Ninguém está certo de que sua própria contrição é sincera; muito menos que tenha obtido plena remissão.

31ª - Quão rara é a verdadeira penitência, tão rara quanto quem legitimamente adquire indulgências, ou seja, raríssima.

32ª - Serão condenados eternamente, junto com seus mestres, aqueles que crêem que a si mesmos garantiram salvação por causa de suas cartas de perdão (indulgência).

33ª - Deve-se estar em guarda contra aqueles que dizem que as indulgências papais são aquelas inestimáveis dádivas de Deus pelas quais o homem é reconciliado com Ele.

34ª - Porque estas graças de perdão se referem somente às penas de satisfação sacramental, e estas são impostas pelo homem.

35ª - Não pregam doutrina Cristã os que ensinam que àqueles que desejam alcançar a redenção da alma, não é necessário o arrependimento.

36ª -  Qualquer Cristão verdadeiramente arrependido tem direito à plena
 remissão das penas e da culpa que lhe cabem, mesmo sem as cartas de perdão.

37ª - Qualquer verdadeiro Cristão, seja vivo ou morto, tem parte em todas as bênçãos de Cristo e da Igreja; e isto lhe é concedido por Deus, mesmo sem as cartas de perdão.

38ª -  Entretanto, a remissão e a participação do Papa de modo nenhum devem ser desprezadas, pois (como já disse) é uma declaração de remissão divina.

39ª - É muito difícil mesmo para os teólogos mais capazes, exaltar ao povo, ao mesmo tempo, a abundância das indulgências e a [necessidade de] verdadeiro arrependimento.

40ª - O verdadeiro arrependimento busca e ama as penas, mas a abundância de indulgências relaxa as penas e faz [o povo] odiá-las, ou pelo menos, dá ocasião [a isto].

41ª - Deve-se pregar com cuidado sobre as indulgências apostólicas, para que o povo, equivocadamente, não as entenda como sendo preferíveis às outras boas obras do amor.

42ª - Os Cristãos devem ser ensinados que o Papa não tem a intenção de que a compra de indulgências seja comparada, de qualquer forma que seja com as obras de misericórdia.

43ª - Os Cristãos devem ser ensinados que aquele que dá ao pobre ou empresta ao necessitado faz uma melhor obra do que [faria] comprando indulgências.

44ª -  Porque pela obra do amor cresce o amor e o homem se torna melhor, mas pelas indulgências o homem não se torna melhor, somente mais livre da pena.

45ª - Deve-se ensinar aos Cristãos, que aquele que vê alguém em necessidade e o negligencia, e gasta [seu dinheiro em indulgências], não adquire indulgências do Papa, mas a ira de Deus.

46ª - Deve-se ensinar aos Cristãos, que a menos que tenham muito mais do que necessitam, devem separar o que é necessário às suas próprias famílias, e de modo algum desperdiçar dinheiro com indulgências.

47ª - Deve-se ensinar aos Cristãos que a compra de indulgências é uma questão de liberdade e não um mandamento.

48ª - Deve-se ensinar aos Cristãos que o Papa, ao conceder indulgências, necessita e, portanto, deseja as suas devotas orações em seu favor, mais do que o dinheiro que lhe apresentam.

49ª - Deve-se ensinar aos Cristãos que as indulgências do Papa são úteis se eles não depositarem sua confiança nelas; mas [são] completamente nocivas se através delas eles perderem o temor de Deus.

50ª - Deve-se ensinar aos Cristãos que se o Papa soubesse das extorsões dos pregadores de indulgências, ele preferiria que a Basílica de São Pedro fosse reduzida a cinzas, a ser ela edificada com a pele, a carne e os ossos das suas ovelhas.

51ª - Deve-se ensinar aos Cristãos que seria desejo do Papa, como é seu dever, dar do seu próprio dinheiro a muitos daqueles de quem os mascates das indulgências extorquem o dinheiro, mesmo que para isto a Basílica de São Pedro tivesse que ser vendida.

52ª - Vã é a garantia de salvação através das cartas de perdão, mesmo se o comissário, ou mesmo o próprio Papa empenhassem suas almas por elas.

53ª - Inimigos de Cristo e do Papa são aqueles que propõem que a Palavra de Deus seja de todo silenciada em algumas igrejas, de modo que as indulgências possam ser pregadas.

54ª- Injúria é feita à Palavra de Deus quando, em algum sermão um tempo igual ou maior é gasto com as indulgências que com ela.

55ª - O pensamento do Papa, necessariamente, é que se as indulgências, que são coisas de importância menor, são celebradas com um badalar de sino, com uma procissão e com uma celebração de cerimônia, o Evangelho que é o mais importante, seja pregado com uma centena de badaladas de sinos, e com uma centena de procissões e com uma centena de celebrações de cerimônia.

56ª - Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o Papa concede as indulgências, não são suficientemente mencionados ou conhecidos entre o povo de Cristo.

57ª - Que eles não são temporais é certo e patente, por isso muitos dos vendedores [de indulgências] não os distribuem facilmente, mas somente os ajuntam.

58ª - Nem são eles os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operaram (sem o Papa) a graça sobre o homem interior, e, a cruz, a morte e o inferno [operaram a graça] sobre o homem exterior.

59ª - São Lourenço disse que os tesouros da Igreja sãos os pobres da Igreja, mas ele falou de acordo com o uso da palavra em seu próprio tempo.

60ª - Sem temeridade dizemos que as chaves da Igreja, dadas pelo mérito de Cristo, são estes tesouros.

61ª - Porque claro está que para a remissão das penas e das quedas, o poder do Papa é por si só suficiente.

62ª - O verdadeiro tesouro da Igreja é o Santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.

63ª -  Mas este tesouro é naturalmente o mais odioso, porque faz os primeiros serem os últimos.

64ª - Por outro lado, o tesouro das indulgências é naturalmente mais aceitável, porque faz os últimos serem os primeiros.

65ª - Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes que foram anteriormente usadas para pescar homens de posses.

66ª -  Os tesouros das indulgências são redes com as quais eles agora pescam as posses dos homens.

67ª - As indulgências que os pregadores proclamam como as "grandes graças" são entendidas com sendo realmente isto, na medida em que promovem ganho [de renda].

68ª - Ainda que sejam, na verdade, das graças as menores [quando] comparadas com a graça de Deus e a piedade da Cruz.

69ª - Os Bispos e Curas são obrigados a admitir os comissários de indulgências apostólicas com toda a reverência.

70ª- Mas, ainda mais, são obrigados a observar com todos os olhos e ouvir com todos os ouvidos, a fim de que estes homens não preguem seus próprios sonhos ao invés do que lhes foi comissionado pelo Papa.

71ª - Aquele que falar contra a verdade das indulgências apostólicas, seja anátema (excomungado) e amaldiçoado.

72ª - Mas, bem-aventurado seja aquele que se guarda contra a concupiscência e a licenciosidade dos pregadores de indulgências.

73ª -  O Papa, com justiça, fulmina aqueles que, de alguma forma, defraudam o comércio de indulgências.

74ª - Mas, muito mais deseja ele fulminar aqueles que usam o pretexto das indulgências para defraudar a santa caridade e a verdade.

75ª - Pensar que as indulgências papais são tão eficazes que podem absolver um homem mesmo que tenha cometido um pecado impossível e violentado a Mãe de Deus - é loucura.

76ª - Dizemos, ao contrário, que as indulgências papais não são capazes de remover nem o menor dos pecados veniais, no que concerne à sua culpa.

77ª - É dito [por alguns] que mesmo São Pedro, se fosse o Papa agora, não poderia conceder maiores graças [que as indulgências]; isto é blasfêmia contra São Pedro e contra o Papa.

78ª -  Dizemos, ao contrário, que mesmo o Papa atual, bem como qualquer outro Papa, tem maiores graças à sua disposição; a saber, o Evangelho, as virtudes, as graças, os dons de cura, etc., como está escrito em I Coríntios XII.

79ª - Dizer que a cruz, erguida no brasão junto com as armas papais, equivale à cruz de Cristo, é blasfêmia.

80ª - Terão que prestar contas, os Bispos, Curas e teólogos que permitem que tais sermões sejam difundidos entre o povo.

81ª - Esta desenfreada pregação de indulgências faz com que não seja fácil, mesmo para homens doutos, resgatar a reverência devida ao Papa por causa das calúnias e mesmo [por causa] dos astutos questionamentos dos leigos.

82ª - A saber: - "Por que o Papa não esvazia o purgatório, por causa do santo amor e da horrenda necessidade das almas que lá estão, se ele poderia redimir um número infinito de almas com o mui funesto dinheiro com o qual constrói uma Basílica? Não são as primeiras razões mais justas; e a última insignificante?"

83ª -  Igualmente: - "Por que continuam as missas por morte e aniversário dos falecidos, e por que ele não restitui ou permite a devolução de ofertas efetuadas em favor deles, já que é errado orar pelos já redimidos?"

84ª -  Igualmente: - "O que é esta nova piedade de Deus e do Papa, que por dinheiro permitem a um homem, que é ímpio e seu inimigo, comprar a saída do purgatório da alma devota de um amigo de Deus, e não antes, por causa da própria necessidade daquela alma amada e devota, a livra por puro amor?"

85ª -  Igualmente: - "Por que estando os cânones penitenciais já há muito, de fato e por desuso, revogados e mortos, estão agora sendo satisfeitos pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem vivos em pleno vigor?"

86ª -  Igualmente: - "Por que o Papa, cuja fortuna é hoje maior que as riquezas dos ricos mais ricos, não constrói esta Basílica de São Pedro com seu próprio dinheiro, ao invés de com o dinheiros dos pobres fiéis?"

87ª - Igualmente: - O que é que o Papa perdoa, e qual participação ele concede àqueles que, por perfeito arrependimento, tem direito à plena remissão e participação?

88ª - Igualmente: - "Que bênção maior [não] poderia ser proporcionada à Igreja, se o Papa fosse fazer mil vezes por dia o que ele agora faz uma só vez, e concedesse a cada fiel estas remissões e participações?"

89ª -  "Já que o Papa, através de suas indulgências, busca a salvação das almas ao invés do dinheiro, por que suspende as indulgências e perdões concedidos anteriormente, se estes têm igual eficácia?"

90ª - Reprimir estes argumentos e escrúpulos dos leigos somente pela força, e não resolvendo-os apresentando razões, é expor a Igreja e o Papa à ridicularização por seus inimigos, e tornar os Cristãos infelizes.

91ª -  Se, portanto, as indulgências são pregadas de acordo com o espírito e a mente do Papa, todas estas dúvidas serão prontamente resolvidas; não, mais ainda, elas nem existirão.

92ª -  Fora, então, com todos aqueles profetas que dizem ao povo de Cristo: "Paz, Paz!" e não há paz!

93ª - Bem-aventurados sejam todos aqueles profetas que dizem ao povo de Cristo: "Cruz, Cruz!", e não há cruz!

94ª - Os Cristãos devem ser exortados a que sejam diligentes em seguir a Cristo, seu Cabeça, através de penitências, de mortes, e do inferno;

95ª - E deste modo estejam certos de que entrarão no céu, antes por meio de muitas tribulações, que por garantia de paz.                                                   


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