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sábado, 28 de maio de 2011

02 Deus e Jesus




Jesus



            Circunstâncias. - Após as contínuas vicissitudes experimentadas através dos tempos, a Casa de Israel se mantinha obstinada quanto ao regime de exceção que supunha merecer entre as demais nações da Terra.

            Não obstante os incessantes bafejos da Misericórdia Divina, pela boca das incontáveis profecias, os hebreus auguravam a plenitude celeste através da rígida ritualística terrena e dos preceitos humanos, granjeando, assim, supremacia para eles próprios, de modo a tomarem as rédeas da hegemonia política das mãos arbitrárias dos gentios, conduzindo-as depois, não menos arbitrariamente, eles mesmos...

            Aqueles eram, portanto, sem dúvida, dias de contrastes e paradoxos, sob quaisquer aspectos em que fossem considerados.

            O antigo esplendor se apagara, embora a astúcia de Herodes, que se empenhava, por todos os meios, em manter-se no trono que fora negociado, a pesado tributo, com o Império Romano dominador. Em conseqüência, os valores éticos, desde há muito sem oportunidade de espraiarem o conceito veneratio vitae, das antigas tradições, ora renascido, eram manipulados a bel-prazer das circunstâncias, em que o absolutismo da força trabalhava esmagando as diretrizes do direito.

            O homem, reduzido à expressão mais simples, significava o que valia no jogo arriscado das posições transitórias, cujas peças mudavam de lugar conforme sopravam os ventos que as intrigas prolongadas produziam nos ouvidos dos astutos governantes pigmeus.

            Não apenas em Israel ocorria assim.

           As cidades vencidas eram disputadas por ambiciosos argentários que logo as transformavam em espólios inermes, sob as garras da rapina irreversível, até a consumação pelo desfalecimento total.

            Na Capital do Império, a voz das legiões assustava o Senado e, apesar de as leis elaboradas no período do ‘divino’ César - tão estroina e venal quanto poderoso soldado - permaneceram em vigor, Augusto assumira o poder em circunstâncias mui singulares e complexas...

            Amante da paz, chegara ao trono após lutas cruentas e sanguinárias.

            Esteta e frágil, prometera arrancar ao Egito Antônio e arrastá-lo até as escadarias do Senado, ante o delírio do povo, demonstrando força e audácia, o que não conseguiu em razão do nefário suicídio duplo que aquele e Cleópatra se impuseram, em fuga espetacular à responsabilidade.

            Idealista, esmagara contínuas rebeliões que lavraram por toda parte.

            Acoimado por enfermidades constritoras, estimulou, no entanto, as Artes, a Filosofia, a Literatura, de tal forma que o seu foi o período áureo.

            Apesar disso, padecia no lar terríveis flagícios morais que o martirizavam, tendo lenidas as ulcerações íntimas somente quando se empolgava ante as massas deslumbradas que o ovacionavam, na tribuna de ouro que assomava, nos inesquecíveis espetáculos públicos...

            O mundo era, então, imensurável caldeira de aflições.

            Os nobres ideais das Humanidade de todos os tempos vicejavam efemeramente, para logo sucumbirem.

          O carro da guerra dizimava cidades inteiras e a ferocidade dos homens pouco diferia das expressões selvagens das feras.

          Ao lado do poder externo destrutivo, o culto do prazer atingia expressões dantes não igualadas, nem sequer sonhadas.

            O homem fossilizava-se, mantendo-se nos pauis da sensualidade, a repetir os espetáculos truanescos do passado com as motivações vis do presente.

          A ambição do poder e da glória, da fortuna e do mando engendrava as facilidades para as exteriorizações da sensação nunca amainada.

            Os governos tinham por motivação “dividir para imperar” e “possuir para gozar”.

          Aumentavam, porém, os desaires e frustrações, as penas e injunções da perversidade, porquanto somente as experiências decorrentes do amor e da ordem facultam paz, como propiciam entusiasmo sadio ais que lhes fazem culto de submissão e serviço.

            O homem, todavia, estimulado pelas conquistas ultrajantes em que predominavam as manifestações do instinto, se permitia continuar nas insanas pelejas do ódio, da astúcia, da intriga, embora os malogros nos quais sucumbia.

            De um lado, as inspirações divinas, através das massas, a se manifestarem nos sábios, nos artistas e filósofos, conclamando à beleza, à cultura, à fé. E, simultaneamente, o fogo-fátuo da dominação guerreira, a arder por um dia para logo se consumir em treva densa na qual as sombras do horror chafurdam no desespero inominável.

            O instinto animal lutando por domínio e a inteligência sonhando pela fixação do sentimento e da razão.

            O despotismo da força, no entanto, erigia os monumentos que fascinam e despertam a bajulação, o agrado e o engodo das fantasias fugazes, mas anestesiantes e absorventes.

            Hoje, porém, ainda é quase assim.

            A História se repete invariavelmente, até que os rios de lágrimas lavem todas as purulentas feridas que as paixões produzem, ensejando o nascer da saúde moral.

            As grandes lições do passado não parecem ter ensinado às sucessivas gerações o indispensável à  felicidade e à paz, de modo a que se evitasse contínuas, demora das agonias, que se repetem exaustivas, demolidoras...

            A moderna “revolução industrial” certamente modificou a técnica da economia e estatuiu novos códigos de moral. Simultaneamente, estimulou o relaxamento dos valores éticos e humanos, reduzindo o homem a condição mínima ante as conquistas da máquina.

        Indubitavelmente, as mudanças se fazem necessárias, sem que, contudo, sejam destruídas ou subestimadas as aquisições-alicerces da evolução.

          Talvez vencido pela incoercível angústia  foi que Voltaire declarou ser a História “uma coleção de crimes, loucuras e desgraças”, olvidando as estruturas que arrancaram o homem, a duras penas, da animalidade à civilização.

           E os exemplos de renúncia, de bondade, de abnegação e de sacrifício que salmodiam bênçãos em todos os fastos dos tempos?

            ...Também eram tormentosos aqueles dias.

           Então, no fragor de mil angústias e cruentas lutas, no solstício do inverno do ano 1 a.C., nasceu Jesus.[1]

         A nova era - Incompreendido desde os primeiros instantes, a sua é a vida dos feitos heroicos, da renúncia, do sacrifício e do supremo amor.

          Anunciado pelos anjos e por eles assessorado, inaugurou desde o berço o período da humildade, em que a vitória do direito se faz legítima ante a prepotência da força.

          Elegendo o bucolismo das paisagens verdejantes e a adusta aridez das montanhas, onde o horizonte visual se confunde a distância, entoou o hino mais estóico e nobre que jamais foi modulado na Terra, de tal modo que nenhum clamor conseguiu abafá-lo, ou qualquer tormenta logrou silenciá-lo.

           Escolhendo a meditação, em profundos ensimesmentos, nos quais mergulhava no oceano do Pensamento Divino, alimentava-se mais da oração de que se nutri, toda hora, do que do repasto material.

           Dispondo de todos os recursos imagináveis, preferiu a simplicidade para assinalar a sua presença e atrair os que dele se acercavam, sem que o pudessem jamais esquecer.

            Utilizando-se das expressões comuns, suas palavras adquiriram desconhecida vitalidade.

       Preferindo a solidão, mas podendo arregimentar exércitos de fiéis servidores, apenas chamou doze companheiros de frágil estrutura cultural e moral, na aparência, para o ministério, modificando os conceitos humanos da Terra e reformulando as bases sociais, culturais e artísticas da Humanidade, desde então.

            Jesus, o Divino Sol!

      Sem embargo, dialogou e conviveu com aqueles que se deixaram vencer pelos vis miasmas das iniquidades...

            Não os censurou, nem os execrou.

            Em momento algum os constrangeu ou os magoou.

            Ofereceu-lhes mãos amigas, generoso concurso.

         Fe-los entender e desejar o dealbar de novos dias de sol e paz, que passaram a anelar, lutando com acendrado esforço por consegui-los.

         Sabia que eram os seus, os escolhidos, havia o barro da fragilidade humana; entretanto, não os amou menos.

        Conhecia o travo que deixa nalma as tentações e investiu os que dele se acercavam com recursos poderosos, a fim de pugnarem contra elas, apesar de não ignorar que nem sempre conseguiriam permanecer sob tal guante.

            Viveu cercado pela malícia de muitos e experimentou o acicate dos astuciosos, impertérrito, a serviço do Pai.

            E amou sempre, incessantemente, por ser o amor a fonte inexaurível da vida.

        Diante dos aparentemente grandes da Terra jamais se apequenou e ao lado dos pequenos não os sombreou com a sua grandeza, antes os levantou à categoria de amigos, à nobreza de Irmãos.

       Tinha a certeza da necessidade de ser imolado... A Terra exigia holocaustos, ainda. Doou-se com imperturbável serenidade.     

            Nenhuma queixa.

            Solicitação alguma não fez.

            Traído, perdoou.

            Abandonado, ligou-se ao Pai.

            Conquanto todas as acres aflições experimentadas, retornou ao seio dos amigos atoleimados, ansiosos, saudosos, atestando para eles a excelência da Imortalidade.

            Seus ditos, seus feitos, ora recordados e estudados, dão a eloquente dimensão da Era Nova que veio implantar, cujos alicerces são o hálito do amor e o pão da caridade.

            Libertando as consciências da sombra do egoísmo, conseguiu romper a grilheta dos erros recuados, facultando às criaturas a verdadeira visão do mundo e da vida, o legítimo valor das coisas, dos objetos, das posições.

            Sua mensagem de fraternidade igualou os homens, cujas diferenças estão nas indestrutíveis e inamovíveis conquistas do espírito imortal, em que o maior se faz servo do menor e o que possui se despoja para socorrer aquele que não conseguiu reter.

            Enquanto as crianças, as mulheres, os velhos, os mutilados constituíam carga inútil, pesando na economia social. ele inaugurou os dias da misericórdia e da esperança para todos.

            Honrou a mulher, soerguendo-a da escravidão que padecia sob os abusos da masculinidade, sustentando-a nas suas aparentes limitações e santificando-a, graças à maternidade.

            As crianças foram tomadas como símbolo de pureza.

            A viuvez e a dor, sob qualquer disfarce, receberam o bálsamo do alento, da alegria e da oportunidade.
            Não construiu um reino de mendigos - antigos potentados -; de enfermos - anteriores estroinas da saúde -, de atormentados - passados perseguidores -; de vencidos - que vinham de vitórias mentirosas -; do expurgo social - que antes ultrajava e corrompia - mas plantou as bases da família universal legítima, sem qualquer limite de fronteira, raça ou posição terrena.

            Os pródomos da Era Nova nele começaram... se desenvolverão pelo futuro do tempo melhor.

            Jesus e Espiritismo - Face a decadência do pensamento cristão, mediante as naturais injunções humanas através do tempo, deturpações estas esperadas e compreensíveis, em considerando o estágio evolutivo em que se encontrava o homem, Jesus prometeu o Consolador, que se encarregaria de restabelecer os ensinos na sua pureza primitiva e completar as necessidades intelectuais das criaturas, no período das investigações científicas e culturais.

            Sob sua direção, as “Vozes dos Céu” voltariam à Terra, a fim de consolar os homens e consolidar neles as aspirações libertadoras.

            Sem o perigo de novas injunções negativas, porque o advento do Espírito de Verdade facultaria mais amplas possibilidades de intercâmbio entre as duas esferas da vida, a material e a espiritual, os Espíritos impediriam, no momento propício, as chãs turbações humanas que ameaçassem a sua inteireza doutrinária e moral.

            O Espiritismo, portanto, veio restaurar o Cristianismo e o fato espírita fundamentou a existência de Jesus, repetindo na atualidade as realizações do pretérito, enquanto despiu das fantasias do miraculoso e do sobrenatural os eventos e realizações normais, inusitadas quanto legítimas.

            Ao tempo em que sondas e naves espaciais se adentram pelo sistema solar, tentando-lhe decifrar-lhe alguns enigmas e os observatórios rádio-astronômicos escutam o pulsar das estrelas, buscando a linguagem da vida nelas existente; enquanto instrumentos sensíveis penetram nas partículas infinitesimais, estudando-as e compreendendo a sua constituição, os Espíritos retornam, proclamando a experiência imortalista além da sepultura e a vida inteligente precedente ao berço, em sublime epopeia de inigualável grandeza para o ser humano.

            Nem extinção do ser nem sofrimento perene para o Espírito.

            Vida estuante, sim, meta-felicidade, vida total!

            Confirmando Jesus, Kardec consubstanciou o Paracleto.

            Afirmando Kardec, Jesus, pelos Espíritos, voltou à Terra, a ampliar-lhe infinitamente os horizontes na direção das galáxias.

            Jesus, o excelso Rei Solar!

            Espiritismo, estrela fulgurante e sempre luminescente no mundo!

 Joanna de Ângelis
(Página psicografada  pelo médium Divaldo P. Franco,
em 23-3-1972, em Salvador, Bahia.)



[1]  As opiniões históricas e da tradição variam. Os estudiosos da cronologia calculam que tal ocorrência se deu entre 4 e 8 a.C., o que afinal não é importante, em se considerando que o essencial é que ele veio ter conosco. (Nota da Autora Espiritual.) 


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