As Três Marias
original de Álvaro Sodré
publicado no Reformador (FEB) em 06.1953
Uma vez, pela calada duma noite,
sobre o escuro de sépia de uma nuvem disforme,
três pequeninas estrelas se encontraram.
E as três estrelinhas, no silêncio da noite, ficaram a conversar:
“- Eu fui rainha, disse a primeira.
Possuí todas as riquezas da Terra.
Fui a soberana dum trono glorioso.
Não consegui dominar um homem,
mas dominei um povo inteiro.
É na Terra, sobre o meu túmulo,
no interior da mais linda catedral,
há uma ânfora que encerra os pergaminhos
com todas as honrarias que recebi na vida”.
E falou a segunda estrela:
“- Eu fui santa.
Passei a vida em penitência e orações.
Não amei nem fui amada.
Guarda o meu túmulo o altar de uma capela.”
E disse a terceira:
“- Fui talvez a mais humilde.
Fui mulher e fui mãe.
E, na cova rasa de minha sepultura,
há apenas uma cruz e uma Saudade.”
Desde essa noite,
as três estrelas não se separaram mais.
São as três Marias.
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Vós outras que ides pelo mundo
vivendo a ventura da felicidade
ou nos tropeços pelos infortúnios,
erguei os olhos para os céus,
para aquelas estrelas:
a que foi mulher e foi mãe é a menor,
mas é a mais bela,
e o seu brilho tem mais vida,
a sua vida tem mais glória,
a sua glória mais esplendor!...
"Fui talvez a mais humilde"
ResponderExcluirQuem é humilde não diz que é.
E a humildade não é medida pela maternidade.