domingo, 29 de maio de 2011

As 3 Marias


As Três Marias
 original de  Álvaro Sodré
publicado no  Reformador (FEB) em  06.1953

           
Uma vez, pela calada duma noite, 
sobre o escuro de sépia de uma nuvem disforme, 
três pequeninas estrelas se encontraram.
E as três estrelinhas, no silêncio da noite, ficaram a conversar:
“- Eu fui rainha, disse a primeira.
Possuí todas as riquezas da Terra.
Fui a soberana dum trono glorioso. 
Não consegui dominar um homem,
mas dominei um povo inteiro. 
É na Terra, sobre o meu túmulo, 
no interior da mais linda catedral, 
há uma ânfora que encerra os pergaminhos
com todas as honrarias que recebi na vida”.
E falou a segunda estrela:
“- Eu fui santa. 
Passei a vida em penitência e orações. 
Não amei nem fui amada. 
Guarda o meu túmulo o altar de uma capela.”
E disse a terceira:
“- Fui talvez a mais humilde.
 Fui mulher e fui mãe. 
E, na cova rasa de minha sepultura, 
há apenas uma cruz e uma Saudade.”
Desde essa noite, 
as três estrelas não se separaram mais. 
São as três Marias.

            ************

Vós outras que ides pelo mundo
vivendo a ventura da felicidade 
ou nos tropeços pelos infortúnios, 
erguei os olhos para os céus, 
para aquelas estrelas:
a que foi mulher e foi mãe é a menor, 
mas é a mais bela, 
e o seu brilho tem mais vida, 
a sua vida tem mais glória, 
a sua glória mais esplendor!...

            

Um comentário:

  1. "Fui talvez a mais humilde"

    Quem é humilde não diz que é.

    E a humildade não é medida pela maternidade.

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