A Carne e o Sangue
do Cordeiro de Deus
Reformador (FEB) Novembro 1947
“Em verdade, em verdade vos digo:
Se não comerdes a carne do Filho do homem
e não beberdes o seu sangue, não tendes a vida em vós.
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue,
permanece em mim e eu nele.”
Os dizeres acima, dirigidos aos judeus, causaram grande escândalo. E, ainda hoje, muita gente esposa o presente conceito dos discípulos do Senhor: Duro é este discurso, quem poderá entendê-lo?
No entanto, considerando que as palavras do Mestre são espírito e vida, verificamos que as assertivas em apreço são verdadeiras e cheias de sabedoria.
O espírito depende de alimento como o corpo. Daí a afirmativa de Jesus: Eu sou o pão vivo que desci do céu. E, realmente, ele encarna a escola, a moral e a ética que constituem, em seu conjunto, o nutrimento da alma. A palavra, escrita ou falada, encerra a idéia, estando para esta, como a matéria está para o espírito. Assim, como o pão material produz o sangue, base da vida corpórea, as idéias que são o pão da alma, geram a energia que orienta e conduz o homem nesta ou naquela direção, determinando, consequentemente, a sua norma de conduta.
Que as idéias traçam e executam os programas da vida humana é fato que se não põe em dúvida nem se discute. São as forças imponderáveis do pensamento, as idéias em latência, que consumam os acontecimentos, dos mais simples e rotineiros até àqueles que revolucionam os povos e abalam os fundamentos das nossas sociedades.
Cada ideologia, aceita e assimilada, imprime determinada orientação em seus adeptos. Haja vista o que fizeram os totalitários nos setores onde pontificaram.
O Nazi-facismo empeçonhou a Europa, envolvendo o planeta na mais bárbara e devastadora das guerras registradas nas páginas da história humana. As doutrinas extremistas - políticas ou religiosas - apaixonam as massas, fanatizam e tumultuam, constituindo sérias ameaças à estabilidade social.
Da escolha da alimentação depende a saúde e a longevidade dos animais, inclusive o homem. Da mesma forma, da escolha do pão espiritual depende a saúde psíquica, o equilíbrio mental, o bom senso, a compreensão e a conduta reta.
Existem tóxicos tanto para o corpo como para a alma. Se escolhemos cuidadosamente os alimentos para aquele, com mais razão devemos escolher para esta, considerando que a matéria organizada é de duração efêmera, e a alma é imortal.
Ora, assim sendo, concluímos que as asserções do Mestre, apresentando-se como o alimento celeste cuja ingestão e assimilação formará nosso caráter, estruturando nossa personalidade de modo que possamos, um dia, refletir a imagem d’aquele a cuja semelhança fomos criados, encerram, como dissemos, grande sabedoria.
O mal nutrimento do corpo responde pelos acidentes e distúrbios que a Medicina denomina - doença. A má nutrição do Espírito explica, a seu turno, a origem das desordens e das loucuras que consubstanciam a confusão e o caos em que ora a Humanidade se debate. Só há um remédio para esse mal de tamanha gravidade: comer a carne e beber o sangue do Cordeiro de Deus. Não basta comer-lhe a carne, isto é, enfronhar-se na letra de sua doutrina. É imprescindível beber-lhe o sangue, ou seja, saturar-se, incorporando em si próprio, mediante a experiência que procede da prática, a vida que o verbo encerra. Assim, comendo a sua carne e bebendo o seu sangue, ela estará em nós, e nós estaremos nele, identificados no mesmo ideal, irmanados no mesmo espírito.
“Eu sou o pão da vida. Quem come deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei para a vida do mundo, é a minha carne.”
A vida é amor. Quem participa conscientemente da vida eterna, conquista, desde já, a imortalidade, de vez que, encarnado, passa a perceber as evidências e as realidades espirituais.
O amor, fluido universal que tudo vivifica, é o poder criador e plasmador de todas as infinitas formas através das quais a vida se manifesta e se ostenta. O Verbo humanado, modelo de perfeição na escala evolutiva, irradia, sobre aqueles que com ele se sintonizam, os fluidos vitais de que se compõe a sua mesma natureza, tornando-se, por isso, “o pão que dá vida ao mundo”. Assimilar, pois, os eflúvios vivificantes que emanam do Filho de Deus é alimentar-se dele, é comer a sua carne, é beber o seu sangue.
“Eu sou a videira, vós sois as varas, e meu Pai, o viticultor... Com a vara não pode dar fruto de si mesma, se não permanecer na vida, assim, nem vós o podeis dar se não permanecerdes em mim.”
Quanto mais íntimas e estreitas forem as nossas relações com o Mestre, tanto mais e melhor conseguiremos haurir do seu coração, escrínio insondável da graça, aquele amor que é a vida do Espírito como o sangue é a vida do animal e a seiva é a vida da planta.
Tanto com o pão do corpo como com o da alma, ocorre o fenômeno de transubstanciação em sangue, e o segundo, em força renovadora, impelindo-nos para a frente e para o alto, no cumprimento do seguinte imperativo: Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito...
Somente a Eucaristia divina, que consiste na transfusão do sangue do Cristo na Humanidade, poderá encontrar o caminho da verdadeira vida, solucionando os problemas do seu destino.
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