XVII
‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
“Segui a caridade e procurai com zelo
os dons espirituais,
mas principalmente o de profetizar.
Porque o que fala língua estranha
não fala aos homens,
senão a Deus; porque ninguém o
entende,
e em espírito fala de mistérios.
Mas, o que profetiza fala aos homens
para edificação, exortação e consolação.
O que fala língua estranha edifica a
si mesmo,
mas o que profetiza edifica a
igreja.
E eu quero que todos vós faleis
línguas estranhas,
mas, muito mais, que profetizeis, porque o que
profetiza
é maior do que o que fala línguas estranhas,
a não ser que também interprete para
que
a igreja receba edificação.”
(1ª Epístola aos Coríntios, 14:1 a
5)
Paulo de Tarso, o apóstolo dos
gentios, o divulgador do Cristianismo, o mais douto e operoso dos discípulos de
Jesus, em várias passagens de suas epístolas refere-se aos dons espirituais, a
respeito dos quais não deseja que sejamos ignorantes, como frisa no capítulo
doze dessa 1ª Epístola aos Coríntios, voltando aqui, neste capítulo catorze, a
referir-se a esses mesmos dons, notadamente ao de falar línguas estranhas, ao
de profetizar e ao de interpretar,
sendo que este ele também o destaca, pois que serve “para a edificação da
Igreja”.
Portanto, lendo as epístolas de
Paulo, temos de convencer-nos de que, entre os primeiros cristãos, os dons
espirituais eram cultivados, e que só por motivos supervenientes deixaram de o
ser, descurando-se depois os seguidores do Evangelho, durante séculos, do amanho
desses dons ou dessas virtudes, que os espíritas agora procuram fazer ressurgir
no seio da cristandade. Restauramos assim os fenômenos que eram comuns entre “a gente do caminho”, renovamos a prática
das profecias, o dom “de discernir os
espíritos” (I Cor., 12:10), a faculdade de interpretar os textos
evangélicos, e exercitamos ainda outras mediunidades ou outros dons
espirituais, que de certo eram também praticados pelos primeiros cristãos, que
bem os conheciam, como se conclui, logicamente, dessa lição de Paulo.
É por isto que o Espiritismo, além
de ser o Consolador prometido por Jesus (João, 14:26 e 16:12 a 14), é ainda o
restaurador do verdadeiro Cristianismo, pois que o praticamos tal
como
os primitivos cristãos, dando assinalado valor aos dons espirituais, que
procuramos cultivar, confiados no Cristo e “para a edificação de sua Igreja”.
Compreendemos que a Igreja do Senhor
Jesus é composta de todos os cristãos, de qualquer seita ou de qualquer plano
da vida, e sabemos também que não monopolizamos o Cordeiro de Deus, o qual
pertence a toda a cristandade, ou melhor, é de todos aqueles que se amam e que
cumprem os seus mandamentos:
“Um
novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós,
que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (João, 13:34 e 35)
“Se
me amardes, guardareis os meus mandamentos.” (João, 14:15)
Portanto, não temos a ideia estreita
de jungir Jesus a qualquer seita, porque ele a todas transcende, mas procuramos
respeitar os seus ensinamentos, adorando a Deus “em espírito e verdade” (João, 4:23) e objetivando um Cristianismo
puro, onde há o cultivo do amor e dos dons espirituais, como era praticado
pelos primeiros cristãos, de conformidade com as recomendações de Paulo, seu
apóstolo e nosso apóstolo, seu servidor e nosso guia.
“Segui
a caridade, diz o orientador dos gentios, e procurai com zelo os dons
espirituais, mas principalmente o de profetizar.”
Tenhamos em vista que a caridade é
virtude excelsa e que, como dizem os Espíritos, “fora da caridade não há
salvação”. Porém, outrossim, procuremos com zelo os dons espirituais, porque eles
são capazes de elevar nossa alma, pondo-a em sintonia com os planos celestiais,
de onde defluem as mais puras emanações da divindade!
Busquemos fazer o bem, mas
exercitemos nossas faculdades superiores em busca do Pai Celestial, cumprindo e
praticando os ensinamentos de nosso Divino Mestre e as recomendações de seus
apóstolos, que são o legítimo roteiro de nosso procedimento cristão e os guias
seguros de nossa mais pura religiosidade.
Cristianismo sem cultivo de caridade
ou de nossos dons espirituais é flor sem perfume, é quadro deslumbrante, mas de
beleza morta, porque não palpita, porque não se exterioriza, porque não
manifesta as coisas de Deus, limitando-se ao culto externo, maquinal e vazio
dos rituais estratificados na forma, ou no mero respeito aos dogmas forjados
nos concílios, porém sem a essência purificadora do amor, sem a sublimidade desse
sentimento que eleva o crente às regiões superiores da espiritualidade, onde ele
comunga, verdadeiramente, com o Espírito de Deus!
O Pai Celestial une seus filhos pela
força universal e eterna do amor e manifesta-se aos homens por intermédio dos
dons espirituais destes, que são verdadeiras antenas erguidas aos céus, prontas
a entrarem em sintonia com os eflúvios carinhosos da divindade, cujo reino “vem a nós”, conforme o Senhor Jesus
assegurou, através da oração dominical.
Destarte, como poderemos ser
legítimos cristãos, se negarmos os dons espirituais, cujo cultivo o apóstolo
Paulo tanto recomenda? Como poderemos ser bons cristãos desprezando as coisas
da espiritualidade, negando o Espiritismo?
Não chegamos a ponto de afirmar,
intolerantemente, que fora do Espiritismo não haja salvação. Mas dentro dele,
cultivando a caridade e os dons espirituais, acharemos o caminho reto que nos
conduzirá a Deus, de maneira segura e genuína, sem tergiversações, sem
obliquidades, sem indecisões, mas com firmeza, confiança e fé, porque nele está
o Cristianismo redivivo em toda a sua pureza primitiva, de vez que é o próprio
Consolador que o Cristo Jesus prometeu à Humanidade e que viria dos céus, nos
tempos prescritos, para complemento das revelações de Deus.
E as vozes dos Mensageiros do Senhor
persistem em entrar em sintonia com os novos cristãos, através de seus dons
espirituais, estabelecendo a legítima comunhão com o Divino Mestre, “em
espírito e verdade”, na prática do Cristianismo puro, como era feita nos tempos
apostólicos e como hoje se cumpre, através do Espiritismo-cristão, pelo
exercício das diversas mediunidades.
Consoante disse o apóstolo Paulo,
nesta 1ª Epístola aos Coríntios, “o que
profetiza fala aos homens para edificação, exortação e consolação”.
Entretanto, há cristãos hoje em dia
que, infelizmente, apegados ao seu sectarismo intolerante, negam os dons
espirituais e o seu cultivo, esquecidos dessa e de outras lições de Paulo de
Tarso, que tanto recomenda a prática desses dons, “para a edificação da Igreja”.
Mas,
para esses, ainda presos ao dogma, recordemos tais palavras do apóstolo dos
gentios, que são fonte de ensinamento perene e de água viva, capaz de
dessedentar aquele que queira beber, sem prevenções, o néctar puro que o
apóstolo-mártir nos legou em suas epístolas, e que jorra perenemente, para
nossa salvação e para nossa felicidade.
Procuremos sentir a sublimidade e a
singeleza dessas lições; não as neguemos, jamais; sigamo-las com firmeza e fé.
E compreendamos que o Espiritismo é baseado na Bíblia, na palavra divina que
deflui do maior dos livros, “para
edificação, exortação e consolação” da Humanidade, tão necessitada desse
caminho de luz!
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