Tudo é
fraude?
Zêus Wantuil
Reformador
(FEB) Outubro 1958
Os prestidigitadores
Em
geral, os sacerdotes católicos, quer em livros, quer em palestras ou artigos de
imprensa, jamais deixam de citar o jesuíta C.M. de Heredia, a fim de se
fortalecerem em suas investidas contra o Espiritismo. Mas, afinal, que fez este
famoso padre? Nada mais, nada menos do que reproduzir com o auxílio da arte da
prestidigitação vários fenômenos espíritas, inclusive os de materialização, sem
contudo imitá-los em inúmeros pormenores observados, confirmados e relatados
pelos estudiosos.
Era
o padre Heredia filho de uma família mexicana muito relacionada com os melhores
artistas que passavam pelo México, os quais davam funções no seu próprio lar o
O menino Heredia aprendeu truques e manobras assombrosas, e veio a ser
discípulo do famoso prestidigitador Hermann, iniciando-se nas mais notáveis
exibições da arte dos ilusionistas, a ponto - diz o padre Negromonte - de fazer
"maravilhas de mágicas e truques".
Formado
assim na arte da prestidigitação, o padre Heredia dela se serviu para
"demonstrar" (?) que os fenômenos espíritas são igualmente fraudes,
truques, farsas e nada mais, realizando diante de grandes auditórios, fraudulentamente, algumas das
manifestações mediúnicas.
Entretanto,
bem sabem os Heredias que até mesmo os prestidigitadores de primeira plana não
conseguem reproduzir, dentro de certas condições, os fenômenos que os médiuns
oferecem.
Jacob,
Bellachini, Bosco, Kellar, Jeffrey, Rikba e tantos outros ilusionistas de fama
mundial, mil vezes mais hábeis que o padre Heredia, assistiram a sessões
mediúnicas e comprovaram a realidade dos fenômenos que se lhes apresentaram,
bem como a impossibilidade de muitos deles serem obtidos pela prestidigitação.
Jacob,
do Teatro Robert Houdin, declarou pela imprensa, em 1881:
“Afirmo que os fenômenos mediúnicos são
absolutamente verdadeiros e de ordem intelectual. Os Srs. Robin e Robert
Houdin, ensaiando imitar estes fatos, jamais puderam apresentar ao público
senão infantis e grotescas paródias destes fenômenos; e apenas os cabeçudos e
os iqnorantes podem considerar a coisa de outra forma."
O
célebre prestidigitador inglês Kellar escreveu o que se segue:
"Quanto às manifestações que vi, declaro que
sou incapaz de explicar qual a força inteligente que age, força inteiramente
distante dos truques e das escamoteações. Após haver examinado rigorosamente, e
de todas as maneiras, essas extraordinárias experiências, afirmo que nelas nada
há que se assemelhe a prestidigitação, qualquer que esta seja. Os truques
habituais aos prestidigitadores eram impossíveis no aposento onde estávamos."
Bellachini,
prestidigitador da corte de Berlim, após ter estudado a mediunidade física de
Slade, em sessões à luz do dia e à noite, deixou registado este seu testemunho:
“Nada encontrei, até mesmo nos casos de pouca
monta, que fosse produzido por intermédio da prestidigitação e com aparelhos
mecânicos; e nenhuma explicação dessas experiências, nas circunstâncias e nas
condições em que foram realizadas, pode incluir-se entre as coisas da
prestidigitação; é impossível.”
Ladislas
Rykba, prestidigitador polonês muito conhecido, e que se empenhava em reproduzir
todos os fenômenos conseguidos com a mediunidade de Eusápia Paladino, assistiu,
afinal, a uma sessão com a referida médium italiana. Esta experiência,
realizada em 1893, na cidade de Varsóvia, levou Rykba a publicamente declarar:
“Certifico, pela presente, que tendo
assistido, na casa do Dr. Ochorowicz, a uma sessão com Eusápia Paladino, tudo
submetendo a rigoroso controle, não notei o menor ardil nem qualquer trapaça da
parte da Sra. Paladino. Vi coisas espantosas, as quais me vejo obrigado a considerar
como verdadeiros fenômenos mediúnicos."
O
grande prestidigitador Remy, após 29 anos de estudos, pôde afirmar:
“Parece impossível dizer que tudo, no
espitismo, seja fraudulento ou imaginado.”
Não
desejando alongar esta lista, permita-se nos citar ainda o testemunho do
prestidigitador inglês Jeffrey, membro importante de quatro sociedades de
ilusionistas e de mágicos, duas em Glasgow e duas em Londres. Eis o que ele
escreveu em 1922:
“A
princípio, fui chamado, por sacerdotes e por amigos, a. estudar o espiritismo,
a fim de desvendar onde e como se processava a fraude. Sou feliz em dizer que
todas as investigações nessa época provaram que o espiritismo é real.
“Alguns dos fenômenos mais notáveis de que
fui testemunha em matéria de materialização, vozes, fotografias do Invisível,
me forçam a dizer que é absolutamente impossível ao maior ilusionista,
ventríloquo ou falsificador de qualquer marca, reproduzir essas experiências,
por muito hábeis que sejam em suas artes."
À
vista de tudo isto, podemos dizer com Lombroso (Hypnotisme et Spiritisme,
1909):
"Eu próprio vi fatos reais; daí ser inútil
que Tyndall me venha dizer que há muitos falsos. Sei que se falsifica café com chicória,
glandes, figos secos. Mas, como já bebi do verdadeiro café, não tenho outro
remédio que o de crer firmemente na existência deste. O mesmo posso dizer com
relação aos fantasmas."
O clero em geral
Em
entrevista concedida ao "Diário Carioca” de 25 de Agosto, um adversário do
Espiritismo parece dar a entender a quem o leu que todos os estudiosos
católicos acreditam que nos fenômenos mediúnicos nada mais há senão fraude,
especialmente os fenômenos físicos. O entrevistado quis ultrapassar os seus
mestres, ir além da chinela, pois, segundo os padres Pascoal Lacroix e Bueno de
Sequeira, "apenas Paul Heusé
(jornalista francês) se recusa a admitir fenômenos reais de metapsíquica
objetiva", rejeitando-os a todos, embora aceite os subjetivos.
O
próprio padre Heredia, talvez preparando, para o futuro, a defesa da Igreja,
não se esqueceu de declarar: “Não
pretendo que todos os fenômenos sejam fraudulentos." Outro jesuíta, Lucien Roure, um dos mais
ardorosos negadores do Espiritismo, também adotou o mesmo parecer do seu colega
mexicano, ao dizer:
“Já se disse repetidamente que os fatos
estranhos, desconcertantes, do espiritismo e do psiquismo, sob todas as suas
formas, são em tal número, certificados por testemunhas de tal modo sérias, que,
não admiti-los, seria renunciar a toda a certeza histórica. Atribuir todos esses
fatos a uma colossal mistificação, desprezar todos eles com os vocábulos fraude
ou alucinação, não é um processo que a razão possa aprovar. Tal é, na verdade,
nosso sentimento."
O
padre Mainage, da Ordem dos Irmãos Pregadores, conhecido por seus sermões
contra o Espiritismo, refutados no livro de Henri Regnault - "Les Vivants
et les Morts", escreveu igualmente:
“Confesso, simplesmente, e sem esperar o
veredicto da ciência, confesso acreditar na objetividade dos fenômenos
espíritas. Há mesas que giram e que falam. A escritura mediúnica não é invenção
de imaginações em delírio. Nem todas as aparições são o resultado de
alucinações falsas, nem todas as materializações obtidas pelo Dr. Geley são
puras quimeras."
Alertando
os católicos, o padre jesuíta Herbert Thurston, membro da Sociedade de
Pesquisas Psíquicas de Londres, escreveu:
“A meu ver, a opinião segundo a qual todos os
fenômenos ocultos físicos devam atribuir-se à impostura, não só é inverídica
como também perigosa para a sã apologética. É este o resultado a que nos levou
também a nossa investigação científica."
E
o Monsenhor Dr. Emílio José Salim, da Pontifícia Universidade Católica de S.
Paulo, certamente bem conhecido dos católicos, igualmente
afirmou:
“A realidade objetiva dos fenômenos
espiritistas, em geral, não pode, hoje, ser "razoavelmente contestada. A
despeito das inúmeras e constantes fraudes e mistificações descobertas nas
manipulações até de afamados médiuns e em muitas manifestações pretensamente
espíritas, parece arbitrário e altamente anticientífico atribuir todos os
fenômenos a truques e embustes de espertalhões.”
As materializações
O
entrevistado a que nos referimos, também descrê inteiramente das
materializações (fenômeno físico da mediunidade) e pensa que as moldagens de
parafina, feitas por Espíritos, só foram obtidas por um médium e assim mesmo
fraudulentamente.
É
um direito que lhe assiste, mas cabe-nos fazer certas retificações.
As
mãos (e até rostos e pés) materializadas de Espíritos, com as quais se obtém os
moldes em parafina fundida, as chamadas ‘luvas de parafina’, foram conseguidas
por vários médiuns e em épocas diferentes, inclusive aqui no Brasil. Altas
personalidades do mundo científico de vários países, como os Doutores Venzano,
Von Bergen, Chazarain, Nichols, Grandon, Osty, Morselli, Bottazzi, Crookes,
Geley, Denton, A. de Gramont, Potocki, etc., certificaram-se da inegável
realidade desse fenômeno espírita, em condições experimentais que excluíam toda
a possibilidade de fraude.
Leia
o nosso adversário a obra “L’Ectoplasmie
et la Clairvoyance”, Paris, 1924, da autoria do Dr. Geley, e aí encontrará
o depoimento de ilustres técnicos de moldagem, que afirmaram terem sido as
luvas obtidas de “mãos vivas”, mas de uma maneira impossível por meios normais,
destacando-se eles a extraordinária nitidez dos detalhes anatômicos impressos
na fina camada de parafina.
Leia
igualmente a obra de Gabriel Delanne – “Les
apparitions matérialisées des vivants et des morts” (2 vols), e bem assim a
do Dr. Raoul Montandon – “Formes
Matérialisées”, a fim de não papagaiar o velho e já ridículo refrão de que
tudo é fraude.
Nenhum comentário:
Postar um comentário