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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Tudo é fraude?




Tudo é fraude?
Zêus Wantuil

Reformador (FEB) Outubro 1958

Os prestidigitadores

            Em geral, os sacerdotes católicos, quer em livros, quer em palestras ou artigos de imprensa, jamais deixam de citar o jesuíta C.M. de Heredia, a fim de se fortalecerem em suas investidas contra o Espiritismo. Mas, afinal, que fez este famoso padre? Nada mais, nada menos do que reproduzir com o auxílio da arte da prestidigitação vários fenômenos espíritas, inclusive os de materialização, sem contudo imitá-los em inúmeros pormenores observados, confirmados e relatados pelos estudiosos.

            Era o padre Heredia filho de uma família mexicana muito relacionada com os melhores artistas que passavam pelo México, os quais davam funções no seu próprio lar o O menino Heredia aprendeu truques e manobras assombrosas, e veio a ser discípulo do famoso prestidigitador Hermann, iniciando-se nas mais notáveis exibições da arte dos ilusionistas, a ponto - diz o padre Negromonte - de fazer "maravilhas de mágicas e truques".

            Formado assim na arte da prestidigitação, o padre Heredia dela se serviu para "demonstrar" (?) que os fenômenos espíritas são igualmente fraudes, truques, farsas e nada mais, realizando diante de grandes auditórios, fraudulentamente, algumas das manifestações mediúnicas.

            Entretanto, bem sabem os Heredias que até mesmo os prestidigitadores de primeira plana não conseguem reproduzir, dentro de certas condições, os fenômenos que os médiuns oferecem.

            Jacob, Bellachini, Bosco, Kellar, Jeffrey, Rikba e tantos outros ilusionistas de fama mundial, mil vezes mais hábeis que o padre Heredia, assistiram a sessões mediúnicas e comprovaram a realidade dos fenômenos que se lhes apresentaram, bem como a impossibilidade de muitos deles serem obtidos pela prestidigitação.

            Jacob, do Teatro Robert Houdin, declarou pela imprensa, em 1881:

            “Afirmo que os fenômenos mediúnicos são absolutamente verdadeiros e de ordem intelectual. Os Srs. Robin e Robert Houdin, ensaiando imitar estes fatos, jamais puderam apresentar ao público senão infantis e grotescas paródias destes fenômenos; e apenas os cabeçudos e os iqnorantes podem considerar a coisa de outra forma."

            O célebre prestidigitador inglês Kellar escreveu o que se segue:

            "Quanto às manifestações que vi, declaro que sou incapaz de explicar qual a força inteligente que age, força inteiramente distante dos truques e das escamoteações. Após haver examinado rigorosamente, e de todas as maneiras, essas extraordinárias experiências, afirmo que nelas nada há que se assemelhe a prestidigitação, qualquer que esta seja. Os truques habituais aos prestidigitadores eram impossíveis no aposento onde estávamos."

            Bellachini, prestidigitador da corte de Berlim, após ter estudado a mediunidade física de Slade, em sessões à luz do dia e à noite, deixou registado este seu testemunho:

            “Nada encontrei, até mesmo nos casos de pouca monta, que fosse produzido por intermédio da prestidigitação e com aparelhos mecânicos; e nenhuma explicação dessas experiências, nas circunstâncias e nas condições em que foram realizadas, pode incluir-se entre as coisas da prestidigitação; é impossível.”

            Ladislas Rykba, prestidigitador polonês muito conhecido, e que se empenhava em reproduzir todos os fenômenos conseguidos com a mediunidade de Eusápia Paladino, assistiu, afinal, a uma sessão com a referida médium italiana. Esta experiência, realizada em 1893, na cidade de Varsóvia, levou Rykba a publicamente declarar:

            “Certifico, pela presente, que tendo assistido, na casa do Dr. Ochorowicz, a uma sessão com Eusápia Paladino, tudo submetendo a rigoroso controle, não notei o menor ardil nem qualquer trapaça da parte da Sra. Paladino. Vi coisas espantosas, as quais me vejo obrigado a considerar como verdadeiros fenômenos mediúnicos."

            O grande prestidigitador Remy, após 29 anos de estudos, pôde afirmar:

                        “Parece impossível dizer que tudo, no espitismo, seja fraudulento ou imaginado.”

            Não desejando alongar esta lista, permita-se nos citar ainda o testemunho do prestidigitador inglês Jeffrey, membro importante de quatro sociedades de ilusionistas e de mágicos, duas em Glasgow e duas em Londres. Eis o que ele escreveu em 1922:

            “A princípio, fui chamado, por sacerdotes e por amigos, a. estudar o espiritismo, a fim de desvendar onde e como se processava a fraude. Sou feliz em dizer que todas as investigações nessa época provaram que o espiritismo é real.
            “Alguns dos fenômenos mais notáveis de que fui testemunha em matéria de materialização, vozes, fotografias do Invisível, me forçam a dizer que é absolutamente impossível ao maior ilusionista, ventríloquo ou falsificador de qualquer marca, reproduzir essas experiências, por muito hábeis que sejam em suas artes."

            À vista de tudo isto, podemos dizer com Lombroso (Hypnotisme et Spiritisme, 1909):

            "Eu próprio vi fatos reais; daí ser inútil que Tyndall me venha dizer que há muitos falsos. Sei que se falsifica café com chicória, glandes, figos secos. Mas, como já bebi do verdadeiro café, não tenho outro remédio que o de crer firmemente na existência deste. O mesmo posso dizer com relação aos fantasmas."

O clero em geral

            Em entrevista concedida ao "Diário Carioca” de 25 de Agosto, um adversário do Espiritismo parece dar a entender a quem o leu que todos os estudiosos católicos acreditam que nos fenômenos mediúnicos nada mais há senão fraude, especialmente os fenômenos físicos. O entrevistado quis ultrapassar os seus mestres, ir além da chinela, pois, segundo os padres Pascoal Lacroix e Bueno de Sequeira, "apenas Paul Heusé (jornalista francês) se recusa a admitir fenômenos reais de metapsíquica objetiva", rejeitando-os a todos, embora aceite os subjetivos.

            O próprio padre Heredia, talvez preparando, para o futuro, a defesa da Igreja, não se esqueceu de declarar: “Não pretendo que todos os fenômenos sejam fraudulentos." Outro jesuíta, Lucien Roure, um dos mais ardorosos negadores do Espiritismo, também adotou o mesmo parecer do seu colega mexicano, ao dizer:

            “Já se disse repetidamente que os fatos estranhos, desconcertantes, do espiritismo e do psiquismo, sob todas as suas formas, são em tal número, certificados por testemunhas de tal modo sérias, que, não admiti-los, seria renunciar a toda a certeza histórica. Atribuir todos esses fatos a uma colossal mistificação, desprezar todos eles com os vocábulos fraude ou alucinação, não é um processo que a razão possa aprovar. Tal é, na verdade, nosso sentimento."

            O padre Mainage, da Ordem dos Irmãos Pregadores, conhecido por seus sermões contra o Espiritismo, refutados no livro de Henri Regnault - "Les Vivants et les Morts", escreveu igualmente:

            “Confesso, simplesmente, e sem esperar o veredicto da ciência, confesso acreditar na objetividade dos fenômenos espíritas. Há mesas que giram e que falam. A escritura mediúnica não é invenção de imaginações em delírio. Nem todas as aparições são o resultado de alucinações falsas, nem todas as materializações obtidas pelo Dr. Geley são puras quimeras."     

            Alertando os católicos, o padre jesuíta Herbert Thurston, membro da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres, escreveu:

            “A meu ver, a opinião segundo a qual todos os fenômenos ocultos físicos devam atribuir-se à impostura, não só é inverídica como também perigosa para a sã apologética. É este o resultado a que nos levou também a nossa investigação científica."

            E o Monsenhor Dr. Emílio José Salim, da Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo, certamente bem conhecido dos católicos, igualmente afirmou:

            “A realidade objetiva dos fenômenos espiritistas, em geral, não pode, hoje, ser "razoavelmente contestada. A despeito das inúmeras e constantes fraudes e mistificações descobertas nas manipulações até de afamados médiuns e em muitas manifestações pretensamente espíritas, parece arbitrário e altamente anticientífico atribuir todos os fenômenos a truques e embustes de espertalhões.”

As materializações

            O entrevistado a que nos referimos, também descrê inteiramente das materializações (fenômeno físico da mediunidade) e pensa que as moldagens de parafina, feitas por Espíritos, só foram obtidas por um médium e assim mesmo fraudulentamente.

            É um direito que lhe assiste, mas cabe-nos fazer certas retificações.

            As mãos (e até rostos e pés) materializadas de Espíritos, com as quais se obtém os moldes em parafina fundida, as chamadas ‘luvas de parafina’, foram conseguidas por vários médiuns e em épocas diferentes, inclusive aqui no Brasil. Altas personalidades do mundo científico de vários países, como os Doutores Venzano, Von Bergen, Chazarain, Nichols, Grandon, Osty, Morselli, Bottazzi, Crookes, Geley, Denton, A. de Gramont, Potocki, etc., certificaram-se da inegável realidade desse fenômeno espírita, em condições experimentais que excluíam toda a possibilidade de fraude.

            Leia o nosso adversário a obra “L’Ectoplasmie et la Clairvoyance”, Paris, 1924, da autoria do Dr. Geley, e aí encontrará o depoimento de ilustres técnicos de moldagem, que afirmaram terem sido as luvas obtidas de “mãos vivas”, mas de uma maneira impossível por meios normais, destacando-se eles a extraordinária nitidez dos detalhes anatômicos impressos na fina camada de parafina.

            Leia igualmente a obra de Gabriel Delanne – “Les apparitions matérialisées des vivants et des morts” (2 vols), e bem assim a do Dr. Raoul Montandon – “Formes Matérialisées”, a fim de não papagaiar o velho e já ridículo refrão de que tudo é fraude.


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