O Espiritismo
ampara e orienta sempre
O
Espiritismo desempenha importantíssimo papel na vida humana, pela facilidade
que oferece à intercomunicação do mundo invisível com o mundo físico. Sua
Doutrina, simples, confortadora e compreensível, esclarece, orienta, educa e
ampara a criatura humana através das complexidades terrenas. Estabelece
ambiente propício ao intercâmbio de ideias entre os dois mundos, favorecendo o
trabalho mútuo, regulando e dando aos homens a ajuda ostensiva dos Espíritos,
ao mesmo tempo que a estes faculta a contribuição dos trabalhadores terrícolas.
Não
é assim que procedem alguns credos superados pelos preconceitos que criaram, ao
se escravizarem dogmaticamente ou descontrolados por ambições mundanas e
políticas. O Catolicismo, por exemplo, proíbe a comunicação do mundo físico com
o mundo espiritual, proibição estulta e inútil. Um católico que perde qualquer
pessoa da família ou de suas relações mais afetivas, está impedido de senti-la
perto de si. Para o Catolicismo, morreu, acabou. Não se fala mais nisso, salvo
em missas ao preço da tabela. É desdobrar sobre aquele que desencarnou o manto
do esquecimento, que significa ingratidão e desamor, e pensar em outra coisa. No Espiritismo,
não. Nós não cultivamos morbidamente os mortos, porque os sabemos tão vivos quanto
nós, embora não revestidos do corpo carnal. Nós cultivamos o Espírito e por
isso compreendemos que o ambiente espírita favorece a manutenção do sentimento
de amor que não é rompido pela morte. O Espírito a ela sobrevive e busca as
reuniões espíritas na esperança de suavizar as saudades daqueles a quem amaram
na Terra. Portanto, o Espiritismo não sufoca esse sentimento afetivo, tão útil
à evolução moral da criatura humana: conserva-o, consolando simultaneamente os
Espíritos, esclarecendo-os e ajudando-os a compreender o novo estado a que
chegaram em obediência a inelutáveis leis de Deus.
O
Catolicismo procede de modo inverso, pondo uma barreira de intransigência entre
os dois mundos, evitando de todas as maneiras que o Espírito possa consolar-se
da separação verificada com a perda do corpo somático e proibindo, à criatura
ferida pela dor de ver partir para o Além um parente ou um amigo, que busque o
lenitivo que o Espiritismo oferece e dá. O mais que o Catolicismo apresenta é
uma promessa sombria de purgatório e inferno, porque o prêmio da vida
contemplativa no céu, essa ideia absurda que a teologia cristã herdou do
paganismo, só existe para um número muito reduzido de crentes.
Se
outras diferenças fundamentais não houvesse, demonstrando a superioridade
doutrinária do Espiritismo sobre o Catolicismo, esse fato - o da
intercomunicação de encarnados e desencarnados - serviria de exemplo do quanto
a nossa Religião atende mais ao sentimento afetivo da criatura humana,
aproximando o que a morte distanciou, permitindo entendimentos e contatos que
atenuam o sofrimento da separação provocada pela morte. Graças ao Espiritismo,
essa morte não é absoluta, porque podem os chamados mortos comunicar-se com os
vivos. Geralmente, depois de desencarnar, o Espírito anseia por voltar à companhia de parentes e amigos,
frequentando os lugares a que se habituara quando encarnado. Em vez de o
Espiritismo persegui-lo, desprezá-lo, escorraçando-o friamente, recebe-o com
bondade, esclarecendo-o, buscando confortá-lo e reduzir suas aflições, assim
como assiste e ampara os encarnados, consolando-os em virtude da ausência
física dos entes amados que transpuseram a imaginária fronteira do Além. O
Catolicismo, que persegue o Espiritismo e os espíritas, não respeita os
sagrados sentimentos da criatura humana, impondo-lhes atitudes que não condizem
com a caridade cristã, e rechaça os desencarnados, em vez de ampará-los, quando
mais sofrem as consequências da separação material. O Espiritismo dá conforto e
favorece a reaproximação consoladora, ao mesmo tempo que, por sua Doutrina,
opera a elucidação gradual das duas partes, sobre a natureza da vida física, a
razão da morte, a vida depois do abandono do corpo carnal. Os que foram e os que
ficam aprendem a razão de todas essas coisas e passam a encará-las -com uma
serenidade exemplar, adotando a atitude mais razoável em cada caso.
O
Espiritismo não força, persuade pela razão dos próprios fatos e pelo poder da
sua Doutrina de paz, amor e caridade. Não estimula a credulidade fácil, pois
não deseja que ninguém abdique a liberdade de raciocinar e julgar por si mesmo
o que vê, sente, observa e analisa. O Espiritismo não quer autômatos nem
fanáticos, que creiam sem compreender no que creem. Esta é outra diferença
profunda que há entre o Espiritismo e o Catolicismo.
Léon
Denis, em "No Invisível", um de seus magníficos livros, chama-nos a
atenção para este pormenor importante: "As revelações de além-túmulo são concordes em um ponto capital: depois
da morte, como no vasto encadeamento de nossas existências, tudo é regulado por
uma lei suprema." E acrescenta: "Com o Espiritismo, coração e razão, tudo tem sua parte. O círculo dos
afetos se dilata. Sentimo-nos melhor amparados na prova, porque aqueles que em
vida nos amavam, nos amam ainda além do túmulo e nos ajudam a carregar o fardo
das misérias terrestres. Não estamos deles separados senão em aparência. Na
realidade, os humanos e os invisíveis caminham muitas vezes lado a lado,
através das alegrias e das lágrimas, dos êxitos e reveses. O amor das almas que
nos são diletas nos envolve, nos consola e reanima. Cessaram de nos acabrunhar os
terrores da morte." (Capítulo XI - Aplicação moral e frutos
do Espiritismo, ob. cit.)
Boanerges
das Rocha (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Nov 1958
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