A Caridade
é exemplo
de Solidariedade Humana
Boanerges
da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Outubro 1958
A
caridade, quando exercida com elevação moral, nada tem de humilhante. Constitui
um modo de ajudar, de socorrer, de amparar aqueles que se encontram no
infortúnio. Nem sempre a caridade se exprime pelo óbolo. Nem sempre significa
esmola, ainda que a aparência induza a semelhante suposição. Ainda que a Terra
fosse um planeta sem problemas econômicos, isto é, na qual todas as criaturas
humanas pudessem dispor de recursos pecuniários para não passarem qualquer
privação, mesmo assim a caridade teria campo para se exercer. Encontramos em “O
Evangelho segundo o Espiritismo” a mensagem de “Um Espírito Protetor”, que
assim se manifesta: “Amigos, de mil
maneiras se faz a caridade. Podeis fazê-la por pensamentos, por palavras e por
ações. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem se acharem sequer em
condições de ver a luz. Uma prece feita de coração os alivia. Por palavras,
dando aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos, dizendo
aos que o desespero e as privações azedaram o ânimo e levaram a blasfemar do
nome do Altíssimo: “Eu era
como sois; sofria, sentia-me desgraçado, mas acreditei no Espiritismo e, vede,
agora, sou feliz.” Aos velhos que vos
disserem: “É inútil; estou no fim da minha jornada; morrerei como vivi”, dizei:
“Deus usa de justiça igual para com todos nós; lembrai-vos dos obreiros da
última hora.” Às crianças, já viciadas pelas companhias de que se cercaram e
que vão pelo mundo, prestes a sucumbir às más tentações, dizei: “Deus vos vê,
meus caros pequenos”, e não vos canseis de lhes repetir essas brandas palavras.
Elas acabarão por lhes germinar nas inteligências infantis e em vez de
vagabundos, fareis deles homens. Também isso é caridade.” Poderíamos
desdobrar os conceitos relativos à caridade, seus aspectos diversos e seu
grande alcance como obra de fraternidade e solidariedade. Só os países muito
contaminados pelo sentimento materialista, presas do egoísmo e da ambição
perniciosa, é que desprezam a caridade, reputando-a ofensiva à dignidade do
homem. Assim o seria se o esmoler não for animado de sentimento verdadeiramente
cristão e se aquele que recebe o óbolo faz profissão de pedinte quando poderia
perfeitamente lutar pela própria subsistência.
Há
quem diga que fazer caridade é dar esmola. Não é propriamente isso. Fazer
caridade é pôr em ação o sentimento fraterno que há de levar a Humanidade, um
dia, a alcançar toda a significação da recomendação do Mestre: “Amai-vos uns
aos outros.” Se o que dá esmolas o faz por exibicionismo ou por orgulho, a fim
de patentear a sua superioridade econômica, deslustra a essência e o objetivo
moral da caridade. Admitir-se que pertençam a essa categoria todos os que
exercem a caridade, é cometer grave injustiça. Pensar-se também que a esmola
humilha a quem a recebe, é erro. Tudo depende do ânimo de quem a dá e de quem a
recebe. A caridade bem exercida nunca é humilhante. Verifica-se hoje, quando o
materialismo e o egoísmo estendem mais os seus tentáculos, que o exercício da caridade
vai sendo apontado como antigalha. Os que a combatem, muitas vezes, mal
escondem o desprazer que sentem de tirar do bolso uma moeda que não lhes faz
falta à pecúnia acumulada, mas lhes deixa a impressão de um desfalque
obsessivo. Quando cessarem os desequilíbrios sociais, que agravam os
desequilíbrios econômicos, a esmola material poderá extinguir-se. Todavia, a
esmola espiritual jamais desaparecerá da face da Terra, enquanto o nosso
planeta não alcançar a redenção final.
Dizer-se
que o mundo de hoje não é mais o mundo da caridade implica desconhecer a
situação geral em que se debate a Humanidade. O ato de dar um auxílio, seja ele
material ou moral, físico ou espiritual, é um ato de solidariedade humana. Num
mundo de provações, como o em que estamos vivendo, é mister compreender os
imperativos da lei de causa e efeito, da lei do retorno, para se analisar melhor
as razões do sofrimento e da miséria. A Terra é um mundo em franco período de
depuração. É preciso, porém, que todos aqueles que já puderam conhecer os
problemas da vida humana e sua relação com a vida espiritual, através da
Doutrina Espírita, colaborem sistematicamente para que essa obra se acelere. A
miséria é um reflexo da imperfeição humana. À medida que o homem for obtendo
maior esclarecimento espiritual e procedendo de acordo com os preceitos
cristãos propagados pelo Espiritismo, mais eficiente será o combate à miséria.
A
religião que mais profundamente compreendeu o alcance social e moral da
caridade foi o Espiritismo, ao interpretar em seu legítimo sentido a palavra do
Cristo. Em vez de proclamar que “fora da Igreja não há salvação”, o Espiritismo
adverte que “Fora da caridade não há salvação”, porque caridade é expressão de
amor ao próximo, é definição do “Amai-vos uns aos outros”. No ambiente
espírita, a caridade tem força legítima, porque os seguidores da nossa Doutrina
não compreendem se deva deixar uma criatura à mingua de auxílio, para que não
se presuma cobri-la de humilhação por lhe dar uma esmola! Esclarecer quem está
desorientado; acalmar quem se encontra aflito; guiar quem se encontra perdido;
amparar quem esteja caindo; levantar quem esteja tombado; aconselhar
quem esteja em rumo incerto ou errado; abrir os
olhos de quem se mostra cego à realidade, tudo isso é amor, tudo isso é
caridade.
Compreender
e interpretar a caridade como uma demonstração sincera de solidariedade humana,
será, pois, agir em função do progresso espiritual. O Espiritismo está realizando sua
grande obra fraterna, “incutindo nos homens o espírito de caridade e de
fraternidade”, diz “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário