O Bom Caminho
Ismael
Gomes Braga
Os
adversários do Espiritismo levantam muitas objeções teóricas em nome do
Materialismo reinante, procurando demonstrar que todos os fenômenos básicos do
Espiritismo são ilusórios: ou são fraude ou podem ser explicados como fatos
naturais, puramente materiais, que ocorrem sem a intervenção de Espíritos. A
essa corrente de pensamentos negativos se filiam os teólogos católicos, dando
apoio incondicional à ciência oficial materialista, sem refletirem que
esses fenômenos, assim negados, são básicos igualmente do Catolicismo, e que,
se fosse possível destruir o Espiritismo com essas negações, igualmente e ainda
mais rápido o Catolicismo ficaria demolido.
A
aparição de Elias e Moisés a Jesus é fenômeno puramente espírita, sessão
espírita de materializações. O reaparecimento de Jesus em carne e osso aos
discípulos, depois de seu sepultamento, é um caso de materialização
fantasmática hoje bem estudado pelo Espiritismo. A aparição de anjos a Zacarias
e a Maria, anunciando o nascimento de João e de Jesus, é fato puramente
espírita. O aparecimento do anjo a José, em sonho, dando instruções para
salvar-se a vida do Menino, é fenômeno espírita muito comum e já classificado como "sonhos
premonitórios", em nossa técnica.
Não
há um só fenômeno básico da Doutrina Católica que não seja fato espírita,
embora a recíproca não seja exata, porque o Espiritismo estuda ainda outros
fenômenos que não entraram na edificação católica; por exemplo, os fatos que
demonstram a reencarnação, todos eles negados pela Igreja de Roma.
A
campanha católica contra o Espiritismo ataca, portanto, em cheio a própria
Igreja, cujos alicerces ficam negados, e, consequentemente, a sua própria razão
de ser; mas a nossa finalidade neste artiguete é um pouco diferente dessa
polêmica teórica.
Em
"Reformador" de Julho e Setembro de 1946, páginas 149 e 217, (1) aparecem dois artiguetes nossos, referentes a uma aparição de Allan
Kardec, num sonho que tivemos em Junho de 1946, durante o qual o mestre nos
mostrava uma folha de papel datilografado, ou uma prova tipográfica, no fim da
qual havia uma nota escrita à mão, que ele nos mostrava, apontando-a com o dedo
e nos ordenava: "Corrija assim".
(1) Do Blog: Não
dispomos desses exemplares de ‘Reformador’. Se o colega de estudos conseguir, por favor entre em contato conosco.
No
sonho recebemos a folha e respeitosamente prometemos cumprir a ordem, mas ao
despertar não tínhamos mais o documento e iniciamos a procura de alguma coisa a
corrigir no trabalho que então estávamos executando, que era a tradução para o
Esperanto do livro "L'Évangile selon le Spiritisme".
O
sonho era nítido, impressionante; a ordem era imperativa. Confrontamos de novo,
frase por frase, a tradução com o texto original francês da terceira edição do
livro, e nada encontramos a modificar. Não confiando só em nossos olhos, pedimos
a dois amigos cultos, perfeitos conhecedores das duas línguas - francês e Esperanto
- para fazerem por nós o cotejo dos textos. Igualmente eles não encontraram
coisa importante a corrigir e limitaram-se a fazer burilamentos, aliás muito
preciosos para melhorar a nossa tradução.
Estava
tudo certo e, no entanto, tínhamos também certeza de que havia algo de
importância a corrigir, porque o sonho não nos saía da memória, como um encargo
de consciência: havíamos recebido uma ordem e prometido cumpri-la.
Lembrámo-nos
então de que um nosso amigo possuía a primeira edição, hoje muito rara, daquele
livro monumental do Cristianismo, e passamos a confrontar a terceira edição
francesa com a primeira. Foi quando viemos a encontrar duas faltas de texto
indispensável em duas mensagens. Na comunicação de Jorge, Espírito Protetor
(Paris, 1863), à pág. 271 do original, faltavam duas frases, o que tornava
obscuro o texto:
"Inevitável parece a luta entre os dois e
difícil achar-se o segredo de como chegarem a equilíbrio." Veja-se
pág. 241 da tradução portuguesa, de 1948, onde está corrigido com nota ao pé da
página.
Na página 297 do original da 3ª
edição francesa, a mensagem de Erasto, sobre a "Missão dos
espíritas", recebida em 1863, em Paris, estava sem assinatura e faltando
toda a parte que damos a-seguir, realmente indispensável para compreensão do
ensino. Foi devidamente reajustado o texto português na edição de 1948"
págs. 266/7, com nota em pé de página, e, é evidente, no texto em Esperanto,
publicado em 1947.
Eis
o texto que faltava na 3ª edição francesa e nas brasileiras até 1948:
"Ide, pois, e levai a palavra divina: aos
grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque
principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis
fervor e fé. Ide; estes receberão com hinos de gratidão e louvores a Deus a santa
consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-Lhe graças pelas
aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa
falange de decisão e coragem! Mãos à obra! o arado está pronto; a terra espera;
arai!
"Ide e agradecei
a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! entre os chamados
para o Espiritismo muitos se transviaram; reparei, pois, vosso caminho e segui
a verdade.
Pergunta. - Se entre os chamados para o Espiritismo
muitos se transviaram quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se
acham no bom caminho?
Resposta. -
Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e
praticarão. Reconhecê-lo-eis pelo número de aflitos a que levem consolo;
reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo; pela sua abnegação; pelo seu
desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus
princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que seguem sua lei; esses
são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que
falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e
sua ambição. – ERASTO, anjo de guarda do médium. (Paris) 1863.”
Durante
oitenta e três anos este longo trecho esteve omitido nas edições de "O
Evangelho segundo o Espiritismo", e só nestes 11 anos mais recentes foi
reposto no lugar; em português e Esperanto, continuando ainda omitido nas
edições em outras línguas.
No
entanto, quem reflita um pouco sobre estas linhas verá sua atualidade, sua
vital importância, quando se realiza literalmente essa predição: os grandes
desprezam a mensagem dos Espíritos; os eruditos, emproados em seu orgulho,
exigem provas; os pequenos e simples aceitam a Revelação e transformam suas provas
em novas esperanças e alegrias vivas.
O
bom caminho fica mostrado pela Lei de amor universal: tudo mais é teoria
vaidosa e estéril.
O
verdadeiro espírita, aquele que trilha a boa estrada, aquele que devemos ter na
mais elevada consideração e que nos deve merecer respeito e admiração, - está
clara e sinteticamente definido nesta mensagem de Erasto, de tal forma que hoje
e sempre os poderemos facilmente reconhecer.
Talvez
se pergunte: porque Allan Kardec só em 1946 providenciou a reposição do texto
em seu lugar e por um meio tão vago como a mensagem em sonho?
Não
sabemos responder, mas podemos supor que só então se preparava a edição do
livro numa língua de alcance mundial, destinada a levar o ensino a todos os
povos do Ocidente e do Oriente, e só então pareceu ao mestre necessário repor o
ensino em seu lugar.
Foi
um simples sonho, sim, mas de uma nitidez impressionante, que se tornou dever
de consciência e deu meses de trabalho e preocupações até descobrirmos o ponto
a completar.
in
Reformador’ (FEB) Outubro 1958
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