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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Obsessão


Obsessão

Frederico Francisco / (Yvonne A Pereira)
Reformador (FEB) Junho 1978

            - "As imperfeições morais do obsidiado constituem, frequentemente,
um obstáculo à sua libertação." (Allan Kardec - "O Livro dos Médiuns", nº 252)



            Nunca, ao que parece, o estudo desse terrível flagelo - a obsessão -, que infelicita as criaturas afastadas de Deus, a meditação sobre suas ações e consequências e o esforço para combatê-la foram mais necessários do que na atualidade, quando a vemos, de vários matizes, agindo por toda parte. No entanto, poucos são os adeptos do Consolador que se preocupam seriamente com ela e verdadeiramente se dedicam ao sublime trabalho de compreendê-la a fim de, tanto quanto possível, afastar esse mal do infeliz que surge em nosso caminho, necessitado de que o ajudemos com os recursos da Doutrina Espírita e dos nossos valores pessoais e psíquicos, sob a assistência misericordiosa de Deus.

            Muitos militantes do Espiritismo entendem que o trabalho de desobsessão, entre nós, está superado e deve ser abolido das cogitações dos Centros Espíritas. Não concordamos com tal modo de pensar, porquanto, se o Alto nos concedeu a possibilidade de tentar algo a benefício dos irmãos que a sofrem; se nos foi recomendado, desde os tempos de Jesus e do advento da Doutrina Espírita, curássemos os enfermos, expulsássemos os demônios e ressuscitássemos os mortos (e obsessores e obsidiados não serão, porventura, "mortos"?); se amamos nossa Doutrina e desejamos glorificá-la; e se, finalmente, amamos o próximo e desejamos servir ao Bem e progredir, cumpre-nos a habilitação para os serviços supranormais que nos forem apresentados durante o nosso carreiro de espíritas. Concordo, porém, em que, atualmente, escasseia o interesse entre médiuns e dirigentes de sessões por esse melindroso trabalho. A fim de que a ele nos dediquemos, com êxito apreciável, serão necessários uma acentuada renovação em nosso próprio ser, um sentimento de amor ardente pela causa, a "fé que transporta montanhas", as qualidades morais que se possam impor à rebeldia do obsessor, a coragem de assumir responsabilidades com o próprio Mestre e sermos seus intérpretes; médiuns dotados de uma certa experiência e vocação ao difícil ministério assistencial, pois é visível ao observador o comum dos médiuns não possuir condições para tanto; conhecimento pleno das poucas instruções existentes sobre o assunto em nossos livros doutrinários, e ainda ambientes favoráveis a tão importante ação, pois não nos é possível prestar serviços tão sérios e transcendentes em ambientes de Centros profanados por festas, tumultos, compras e vendas e coisas mais que, infelizmente, assistimos contrariando as condições adequadas para o autêntico intercâmbio espiritual.

            A desobsessão é um dos trabalhos mais sagrados da Doutrina Espírita, mas isso não é compreendido por boa parte da comunidade espírita (médiuns e dirigentes inclusive), daí, entre outras, a dificuldade para as curas em nossos núcleos de trabalhos transcendentes. Temos observado que certos médiuns temem orar por obsessores a fim de não atraí-los, quando, em verdade, devemos ama-los e nos compadecer deles, procurando servi-los, e quando a prece é justamente a defesa que contra suas investidas possuímos, a par das boas qualidades morais e mentais. É um erro supor que os obsessores sejam literalmente perversos; ao contrário, são, como nós, filhos de Deus, merecedores do nosso apreço e da nossa consideração, como o é a mais angelical entidade com a qual poderemos confabular, se merecermos tal favor. Eles são, sim, grandes sofredores, padeceram, quando encarnados, injúrias, humilhações; muitos foram vítimas de crimes, mas são também passíveis de nos respeitar e estimar, se soubermos compreendê-los e conquistá-las através do amor, que "tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre", como ensina o venerável apóstolo do Amor, Paulo de Tarso (capítulo XIII da lª Epístola aos Coríntios).

            Entre os amigos espirituais que tenho a honra de possuir conto com alguns obsessores. Estimam-me, respeitam-me, embora obsidiem aqueles que noutros tempos os feriram ou os que os atraem com a prática de erros ou emissão de pensamentos nocivos. São tais como homens que não se negam a ser amigos de alguém, embora se revelem inimigos deste ou daquele cidadão. Depende de nós próprios conservar tais afeições e utilizá-las para convencê-los ao Bem. Procurando aconselhá-los, mesmo através da prece, amorosamente, pacientemente, conseguiremos atraí-los para as coisas de Deus... e mais uma ovelha poderá ser recebida no aprisco daquele amoroso Pastor que afirmou "haver maior júbilo no Céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento" (Lucas, 15:3 a 7). E que alegria será a nossa encaminhando para o aprisco do Senhor um obsessor reintegrado no Bem através de nossas preces, de nossos conselhos inspirados nos ensinamentos do Consolador, a quem nós próprios tanto devemos! Confesso que, em meio século de prática mediúnico espírita, nunca senti maiores alegrias íntimas do que as que experimentei advindas do fato de conseguir consolar e convencer ao Bem um desses pobres irmãos tão incompreendidos pelos homens, que raramente se dispõem ao estudo necessário a fim de ajudar o nosso Mestre a servi-los como Ele próprio, Jesus, nos vem servindo através do tempo! Existem, é verdade, obsessores maldosos, capazes de obsidiar qualquer indivíduo invigilante que se lhes afine, fato que contemplamos hoje no mundo inteiro. Mas, que maldade há que resista à mágica sublime do Amor? E o maior culpado de sermos obsidiados não somos, porventura, nós mesmos? "A obsessão nada mais é do que uma troca de vibrações afins", declara Bezerra de Menezes em seu comovente livro "Dramas da Obsessão", o que confere com os nossos princípios doutrinários.

            Ora, toda essa meditação foi provocada por uma gentil adepta do Espiritismo, que nos deu a honra de sua visita um dia desses. Confessando-se, embora, dirigente de um núcleo espírita, mostrou ignorar os mais primários conhecimentos sobre o assunto, ao perguntar:

            - O obsessor entra no corpo do obsidiado? Como agir com ele?

            - Não, minha irmã, o obsessor não entra no corpo do obsidiado, a não que se trate de um médium sonambúlico, que caridosamente lhe empresta o seu aparelho mediúnico, para a manifestação, dele afastando-se durante alguns minutos. Mas esses médiuns são muito raros e os únicos, a rigor, inconscientes. O comum dos obsessores envolve o obsidiado em vibrações nocivas, dominando-lhe a mente com sugestões perniciosas, maléficas mesmo; perturba-o, constrange-o a atos que não desejaria praticar, presenciando, no entanto, o que faz, mas sem forças para resistir, indo, às vezes, até ao suicídio, se a tempo não for socorrido pela ação caridosa das entidades protetoras ou pelas nossas preces e o próprio desejo de reagir, voltando-se para Deus e orando. Uma das mais graves obsessões é aquela provocada pela hipnose, ou sugestão do obsessor sobre o indivíduo, durante o sono da noite. Despertando, esse homem poderá realizar os piores desatinos, cumprindo as ordens recebidas do obsessor. E ninguém desconfiará que ele se encontra sob jugo obsessivo. Daí a necessidade da oração diária a favor de obsessores, o que, ademais, é uma expressão de genuína caridade.

            E quem se deixa assim obsidiar é cúmplice do próprio obsessor, visto ser invigilante, portador de baixa moral, afastado de Deus.

            Belos e instrutivos livros de Léon Denis, de Gabriel Delanne e outros mestres que desvendaram, com suas pesquisas e devotados estudos, esses mistérios dos seres - ou mistérios da Natureza - para nossa instrução, existem na rica bibliografia espírita à nossa disposição. Por que não estudá-los, se tanto necessitamos aprender para realizar os serviços que o Senhor nos confiou? Só os não conhecem aqueles que sentem aversão ao estudo mais profundo da Doutrina Espírita. Mas os espíritas, mormente médiuns e diretores de trabalhos experimentais, têm necessidade de saber tudo sobre isso, se realmente desejam realizar esses trabalhos edificantes para si próprios e para a sociedade, o que constituirá a mais eficiente propaganda da celeste Doutrina, que tudo nos dará se a soubermos amar e valorizar.

            No capítulo XXIII, de "O Livro dos Médiuns", existe preciosa explanação sobre obsessões, e convém seja estudada e bem compreendida, em particular pelos médiuns, a quem é destinada, e pelos dirigentes de sessões, para quem é indispensável, pois em verdade conheço alguns que nunca leram "O Livro dos Médiuns", e outros que o leram sem entendê-lo, o que é lamentável. Outrossim, em "O Livro dos Espíritos", muitos ensinamentos de grande valor poderão guiar aqueles que, como a nossa prezada visitante, desejam instruir-se nesse delicado campo do conhecimento e prática espíritas, que é a obsessão. No capítulo IX, por exemplo, além de outras questões importantíssimas, existe a de nº 473, a propósito de Possessos, a qual justamente responderia às dúvidas da nossa visitante, se ela se desse ao trabalho de consultá-lo:

            P - "Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?

            R - O Espírito não entra em um corpo como entra numa casa. Identifica-se com um espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material."

            Seria de bom aviso a consulta constante a tão preciosos e indispensáveis mananciais de instrução doutrinária, quaisquer que sejam as nossas dúvidas. No próprio Novo Testamento encontraremos excelentes instruções sobre a obsessão, assim como em Atos dos Apóstolos, considerado o primeiro tratado de mediunidade.

            Como vemos, possuímos muitos recursos para combater a obsessão, inclusive procurando corrigir os nossos próprios defeitos, a imperfeição da nossa mente e a dureza do nosso coração, e ajudando o próximo a combater os seus, através da exposição destas lições que os códigos espíritas nos oferecem. A vivência com obsessores e obsidiados, a observação em torno dos variados dos casos que se nos apresentam são de suma importância para nossa instrução, assim como a dedicação e o amor a esses pobres irmãos tão temidos e caluniados, nunca nos esquecendo de que se eles nos obsidiam é porque os atraímos com as nossas más qualidades, que a eles nos igualam.


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