Obsessão
Frederico
Francisco / (Yvonne A Pereira)
Reformador
(FEB) Junho 1978
- "As imperfeições
morais do obsidiado constituem, frequentemente,
um obstáculo à sua
libertação." (Allan Kardec -
"O Livro dos Médiuns", nº 252)
Nunca,
ao que parece, o estudo desse terrível flagelo - a obsessão -, que infelicita
as criaturas afastadas de Deus, a meditação sobre suas ações e consequências e
o esforço para combatê-la foram mais necessários do que na atualidade, quando a
vemos, de vários matizes, agindo por toda parte. No entanto, poucos são os
adeptos do Consolador que se preocupam seriamente com ela e verdadeiramente se
dedicam ao sublime trabalho de compreendê-la a fim de, tanto quanto possível,
afastar esse mal do infeliz que surge em nosso caminho, necessitado de que o ajudemos com
os recursos da Doutrina Espírita e dos nossos valores pessoais e psíquicos, sob
a assistência misericordiosa de Deus.
Muitos
militantes do Espiritismo entendem que o trabalho de desobsessão, entre nós,
está superado e deve ser abolido das cogitações dos Centros Espíritas. Não
concordamos com tal modo de pensar, porquanto, se o Alto nos concedeu a possibilidade
de tentar algo a benefício dos irmãos que a sofrem; se nos foi recomendado,
desde os tempos de Jesus e do advento da Doutrina
Espírita, curássemos os enfermos, expulsássemos os demônios e ressuscitássemos
os mortos (e obsessores e obsidiados não serão, porventura,
"mortos"?); se amamos nossa Doutrina e desejamos glorificá-la; e se,
finalmente, amamos o próximo e desejamos servir ao Bem e progredir, cumpre-nos
a habilitação para os serviços supranormais que nos forem apresentados durante
o nosso carreiro de espíritas. Concordo, porém, em que, atualmente, escasseia o
interesse entre médiuns e dirigentes de sessões por esse melindroso trabalho. A
fim de que a ele nos dediquemos, com êxito apreciável, serão necessários uma
acentuada renovação em nosso próprio ser, um sentimento de amor ardente pela
causa, a "fé que transporta montanhas", as qualidades morais que se
possam impor à rebeldia do obsessor, a coragem de assumir responsabilidades com
o próprio Mestre e sermos seus intérpretes; médiuns dotados de uma certa
experiência e vocação ao difícil ministério assistencial, pois é visível ao
observador o comum dos médiuns não possuir condições para tanto; conhecimento
pleno das poucas instruções existentes sobre o assunto em nossos livros
doutrinários, e ainda ambientes favoráveis a tão importante ação, pois não nos
é possível prestar serviços tão sérios e transcendentes em ambientes de Centros
profanados por festas, tumultos, compras e vendas e coisas mais que,
infelizmente, assistimos contrariando as condições adequadas para o autêntico
intercâmbio espiritual.
A
desobsessão é um dos trabalhos mais sagrados da Doutrina Espírita, mas isso não
é compreendido por boa parte da comunidade espírita (médiuns e dirigentes
inclusive), daí, entre outras, a dificuldade para as curas em nossos núcleos de
trabalhos transcendentes. Temos observado que certos médiuns temem orar por
obsessores a fim de não atraí-los, quando, em verdade, devemos ama-los e nos
compadecer deles, procurando servi-los, e quando a prece é justamente a defesa
que contra suas investidas possuímos, a par das boas qualidades morais e mentais. É um erro supor
que os obsessores sejam literalmente perversos; ao contrário, são, como nós,
filhos de Deus, merecedores do nosso apreço e da nossa consideração, como o é a
mais angelical entidade com a qual poderemos confabular, se merecermos tal
favor. Eles são, sim, grandes sofredores, padeceram, quando encarnados,
injúrias, humilhações; muitos foram vítimas de crimes, mas são também passíveis
de nos respeitar e estimar, se soubermos compreendê-los e conquistá-las através
do amor, que "tudo suporta, tudo
crê, tudo espera, tudo sofre", como ensina o venerável apóstolo do
Amor, Paulo de Tarso (capítulo XIII da lª Epístola aos Coríntios).
Entre
os amigos espirituais que tenho a honra de possuir conto com alguns obsessores.
Estimam-me, respeitam-me, embora obsidiem aqueles que noutros tempos os feriram
ou os que os atraem com a prática de erros ou emissão de pensamentos nocivos.
São tais como homens que não se negam a ser amigos de alguém, embora se revelem
inimigos deste ou daquele cidadão. Depende de nós próprios conservar tais
afeições e utilizá-las para convencê-los ao Bem. Procurando
aconselhá-los, mesmo através da prece, amorosamente, pacientemente, conseguiremos
atraí-los para as coisas de Deus... e mais uma ovelha poderá ser recebida no
aprisco daquele amoroso Pastor que afirmou "haver maior júbilo no Céu por um pecador que se arrepende do que por
noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento" (Lucas,
15:3 a 7). E que alegria será a nossa encaminhando para o aprisco do Senhor um
obsessor reintegrado no Bem através de nossas preces, de nossos conselhos
inspirados nos ensinamentos do Consolador,
a quem nós próprios tanto devemos! Confesso que, em meio século de prática mediúnico
espírita, nunca senti maiores alegrias íntimas do que as que experimentei
advindas do fato de conseguir consolar e convencer ao Bem um desses pobres
irmãos tão incompreendidos pelos homens, que raramente se dispõem ao estudo
necessário a fim de ajudar o nosso Mestre a servi-los como Ele próprio, Jesus,
nos vem servindo através do tempo! Existem, é verdade, obsessores maldosos,
capazes de obsidiar qualquer indivíduo invigilante que se lhes afine, fato que
contemplamos hoje no mundo inteiro. Mas, que maldade há que resista à mágica
sublime do Amor? E o maior culpado de sermos obsidiados não somos, porventura, nós mesmos? "A obsessão nada mais é do que uma troca de
vibrações afins", declara Bezerra de Menezes em seu comovente livro
"Dramas da Obsessão", o que confere com os nossos princípios
doutrinários.
Ora,
toda essa meditação foi provocada por uma gentil adepta do Espiritismo, que nos
deu a honra de sua visita um dia desses. Confessando-se, embora, dirigente de
um núcleo espírita, mostrou ignorar os mais primários conhecimentos sobre o
assunto, ao perguntar:
-
O obsessor entra no corpo do obsidiado? Como agir com ele?
-
Não, minha irmã, o obsessor não entra no corpo do obsidiado, a não que se trate
de um médium sonambúlico, que caridosamente lhe empresta o seu aparelho
mediúnico, para a manifestação, dele afastando-se durante alguns minutos. Mas
esses médiuns são muito raros e os únicos, a rigor, inconscientes. O comum dos
obsessores envolve o obsidiado em vibrações nocivas, dominando-lhe a mente com
sugestões perniciosas, maléficas mesmo; perturba-o, constrange-o a atos que não
desejaria praticar, presenciando, no entanto, o que faz, mas sem forças para
resistir, indo, às vezes, até ao suicídio, se a tempo não for socorrido pela
ação caridosa das entidades protetoras ou pelas nossas preces e o próprio
desejo de reagir, voltando-se para Deus e orando. Uma das mais graves obsessões
é aquela provocada pela hipnose, ou sugestão do obsessor sobre o indivíduo,
durante o sono da noite. Despertando, esse homem poderá realizar os piores
desatinos, cumprindo as ordens recebidas do obsessor. E ninguém desconfiará que
ele se encontra sob jugo obsessivo. Daí a necessidade da oração diária a favor
de obsessores, o que, ademais, é uma expressão de genuína caridade.
E
quem se deixa assim obsidiar é cúmplice do próprio obsessor, visto ser
invigilante, portador de baixa moral, afastado de Deus.
Belos
e instrutivos livros de Léon Denis, de Gabriel Delanne e outros mestres que desvendaram,
com suas pesquisas e devotados estudos, esses mistérios dos seres - ou
mistérios da Natureza - para nossa instrução, existem na rica bibliografia
espírita à nossa disposição. Por que não estudá-los, se tanto necessitamos
aprender para realizar os serviços que o Senhor nos confiou? Só os não conhecem
aqueles que sentem aversão ao estudo mais profundo da Doutrina Espírita. Mas os
espíritas, mormente médiuns e diretores de trabalhos experimentais, têm
necessidade de saber tudo sobre isso, se realmente desejam realizar esses
trabalhos edificantes para si próprios e para a sociedade, o que constituirá a
mais eficiente propaganda da celeste Doutrina, que tudo nos dará se a soubermos
amar e valorizar.
No
capítulo XXIII, de "O Livro dos Médiuns", existe preciosa explanação
sobre obsessões, e convém seja estudada e bem compreendida, em particular pelos
médiuns, a quem é destinada, e pelos dirigentes de sessões, para quem é
indispensável, pois em verdade conheço alguns que nunca leram "O Livro dos
Médiuns", e outros que o leram sem entendê-lo, o que é lamentável. Outrossim, em
"O Livro dos Espíritos", muitos ensinamentos de grande valor poderão
guiar aqueles que, como a nossa prezada visitante, desejam instruir-se nesse
delicado campo do conhecimento e prática espíritas, que é a obsessão. No
capítulo IX, por exemplo, além de outras questões importantíssimas, existe a de
nº 473, a propósito de Possessos, a
qual justamente responderia às dúvidas da nossa visitante, se ela se desse ao
trabalho de consultá-lo:
P
- "Pode um Espírito tomar
temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se
num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?
R
- O Espírito não entra em um corpo como
entra numa casa. Identifica-se com um espírito encarnado, cujos defeitos e
qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele.
Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se
acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por
isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material."
Seria
de bom aviso a consulta constante a tão preciosos e indispensáveis mananciais
de instrução doutrinária, quaisquer que sejam as nossas dúvidas. No próprio
Novo Testamento encontraremos excelentes instruções sobre a obsessão, assim
como em Atos dos Apóstolos, considerado o primeiro tratado de mediunidade.
Como
vemos, possuímos muitos recursos para combater a obsessão, inclusive procurando
corrigir os nossos próprios defeitos, a imperfeição da nossa mente e a dureza
do nosso coração, e ajudando o próximo a combater os seus, através da exposição
destas lições que os códigos espíritas nos oferecem. A vivência com obsessores
e obsidiados, a observação em torno dos variados dos casos que se nos
apresentam são de suma importância para nossa instrução, assim como a dedicação
e o amor a esses pobres irmãos tão temidos e caluniados, nunca nos esquecendo
de que se eles nos obsidiam é porque os atraímos com as nossas más qualidades,
que a eles nos igualam.
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