Existe
Vida
depois
da Morte?
O
testemunho daqueles
que
“voltaram”
Geoffrey Bocca
Reformador
(FEB) Outubro 1958
Existe
vida depois da morte? Para esta pergunta existe uma só resposta precisa: SIM.
No
ano passado um médico americano de 65 anos de idade caiu morto na rua. Teve a sorte de morrer perto de um hospital e de receber
ajuda médica. Meia hora depois de um tratamento elétrico e de massagens
vigorosas, ele foi restituído à vida. O caso foi relatado pelo Dr. Claude Beck,
eminente cirurgião do “Journal of the American Medical Association”.
Abstrato e incoerente
Todo
ano há pessoas que são restituídas à vida depois de morrerem quase sempre de
ataques cardíacos. O caso mais recente sucedeu em Atenas, em Maio deste ano,
quando uma jovem de 22 anos, chamada Eleni Kargiani, foi revivida pelo Dr.
Karagiorgis, depois de ter estado morta durante cinquenta e sete minutos. Na
Inglaterra já se fundou até um clube de pessoas que morreram e foram
ressuscitadas.
A
morte pode durar um par de minutos ou pode durar até uma hora. O problema que
nos interessa é o de saber o que acontece nos minutos que se entremeiam entre a
morte e a ressurreição, quando o Espírito se separa do corpo.
A
maior parte das declarações a respeito é incoerente e abstrata. Alguns não se
lembram de nada, como Rose Gale, de Filadélfia; que foi restituída à vida
depois de ter estado morta durante cinquenta minutos. Lembra-se, apenas, de que
“aconteceu alguma coisa de maravilhoso, mas que ela não pode dizer o que foi”.
Um médico escocês, que morreu em 1954, disse que se sentiu conscientemente
acordado e que teve uma sensação de calor e de bem-estar.
A experiência de dois médicos
Algumas
pessoas, porém, voltaram dos momentos de morte contando detalhadamente o que
tinha acontecido. Os dois casos mais interessantes e mais divulgados foram de
dois médicos: o primeiro é do Dr. Wiltse, no fim do século passado, e o segundo
o de um médico anônimo, mas cujo caso foi relatado à Royal Medical Society de
Edinburgh pelo falecido Lord Geddes, pouco antes da guerra. Ambos estes médicos expiraram na presença de testemunhas e ambos
retomaram à vida excitados e afoitos para narrar aos presentes as aventuras que
tinham “vivido”.
O
Dr. Wiltse estava rodeado de parentes chorosos quando morreu. Toda a aldeia
tomou conhecimento de sua morte pelos sinos que repicavam fora do quarto. Todos
ficaram muito chocados, exceto - é não é motivo de surpresa o próprio Dr.
Wiltse.
-
Vi que ainda estava dentro do meu corpo - disse ele depois de revivido -;
porém, meu corpo e eu nada mais tinham em comum um com o outro, comigo, com o
meu “eu” real, que começou a sentir-se bloqueado como se estivesse dentro de
uma sepultura de barro.
Levantando-se como bolha de sabão
Pouco
a pouco, Wiltse teve a sensação de que se estava levantando; saindo de dentro
do corpo. Durante um minuto ele ficou espantado, tremendo como uma “bolha de
sabão na ponta de uma varinha”, até que se sentiu libertado e subiu de repente
para o teto do quarto, uma sensação de loucura, mas, sobretudo, muito
agradável. Sentia que atingira a estatura de um homem comum, mas que era
translúcido e que estava envolvido numa coloração azulada.
-
Voltei-me e encarei as pessoas presentes - disse Wiltse -; elas, porém, não me
perceberam. Então vi meu corpo morto. Estava ali, os pés juntos e as mãos
cruzadas em cima do peito. Fiquei surpreendido com a palidez do meu rosto.
Percebi que havia várias pessoas em pé, em volta da cama, e que elas estavam
chorando. Não pude reconhecê-las. Só pude distinguir os homens das mulheres,
nada mais.
Risonho e exuberante
Tentei,
então, chamar a atenção deles, confortá-los, e também assegurá-los de que eram
imortais. Fiz uma curva diante deles, alegremente, e saudei-os... Aquela
situação me parecia tão engraçada que comecei a rir. Eles, na certa - pensei eu
-, deviam ter ouvido quando ri, porém ninguém se mexeu. Continuaram todos
olhando fixo para meu corpo. Então eu disse para mim mesmo: - Eles só podem ver
com os olhos do corpo. Estão observando o que pensam que seja eu; porém estão
muito enganados. Aquilo ali não sou eu. Eu sou este aqui e nunca estive tão
vivo quanto agora. A alma do Dr. Wiltse saiu pela porta, livre e feliz como um
passarinho, para a rua e para o céu.
-
Como me sinto bem, gritou ele. Nunca mais morrerei.
Olhando
para trás, percebeu uma coisa inesperada, um cordão fino e leve como uma teia
de aranha que saía de um de seus ombros e o prendia ao corpo morto.
Olhei
para cima e distingui o céu e as nuvens à distância em que eu estava acostumado
a vê-los. Lá em baixo, via as copas verdes das árvores. Estavam a uma distância
de mim igual à distância em que eu via as nuvens.
A
sensação mais extraordinária, porém, era a de que ele sentia que alguém o
estava acompanhando e explicando-lhe todas as coisas. Logicamente, este alguém
deveria falar em inglês, embora ele não estivesse em condições de garantir tal
detalhe.
Estava
a um passo do céu, segundo o que lhe fora dado entender, quando houve uma
confusão.
-
Uma pequena nuvem densa e negra apareceu diante de mim e me envolveu o rosto.
Eu sabia que fora obrigado a parar. Senti que o poder de me mover me tinha
abandonado. Minhas mãos ficaram inertes ao meu lado, minha cabeça tombou para
frente e não sei mais o que houve.
Devo morrer de novo?
De
repente, os olhos do corpo inerte sobre o leito estreito se abriram para a
felicidade e alegria dos que o pranteavam em volta da cama. O Dr. Wiltse estava
vivo de novo. Porém, a alma de novo alojada dentro do corpo doentio era bem
diferente daquela alma alegre que havia circulado pela eternidade, momentos
antes.
-
Que foi que aconteceu comigo? - perguntou o Dr. Wiltse pesada e descontentem
ente.
-
Será que devo morrer de novo?
A
referência que Wiltse fez ao cordão leve é muito interessante. O “cordão de
prata” é o símbolo tradicional que significa um vínculo excessivamente forte ao
útero. É, também, um símbolo para o misticismo e para a teologia, sobretudo, no
Oriente. (1)
(1) o
"cordão de prata", referido até pelo autor de Eclesiastes (cap. XII,
v. 6), estudado por Max Heindel, Geoffroy Hodson, Lindsay-Johnson, Sylvan
Muldoon, Hewat Mackenzie, William Reid, Montandon e outros autores, - por AlIan
Kardec foi chamado cordão ou laço fluídico, muitas vezes visível por médiuns
videntes nos fenômenos de bicorporeidade, em certas sessões mediúnicas, em
pessoas dormindo e no momento da desencarnação.
É este cordão
perispiritual, espécie de cordão umbilical, que liga o Espírito ao corpo físico
quando se acham afastados um do outro. A morte definitiva só se dá com o
rompimento deste laço.
Não sendo brusca, no
momento da morte, a separação do Espírito, pois o perispírito só pouco a pouco
se desprende, o cordão fluídico ainda permanece por algum tempo ligando o
Espírito ao corpo, resultando daí a possibilidade, dentro de certas
circunstâncias, de se operar uma aparente ressurreição, tal como as que a
Medicina tem registado, principalmente nos últimos tempos. (Nota de
"Reformador".)
A
experiência de Wiltse tem vários pontos de contato com a relatada por Lord
Geddes, antigo embaixador da Inglaterra nos Estados Unidos. O fato se passara
com um amigo do ex-embaixador, um médico anônimo a que ele chamava, no livro, Robinson.
Este médico, certa noite, sentiu que ia morrer de gastrenterite. Tentou chamar
alguém e não conseguiu; então, placidamente, se dispôs a morrer.
Da
mesma maneira que o Dr. Wiltse, sentiu que sua consciência se separava de outra consciência que pertencia ao corpo.
Alguém lhe explica
Róbinson
se apegou a esta nova consciência e com grande alegria viu que podia distinguir
não apenas seu corpo morto, mas, também, toda a casa em que morava e mais o
jardim. Quis ver outras coisas e percebeu Londres e a Escócia e passou a ver
tudo o que sua imaginação fixava. Foi então que percebeu, como o Dr. Wiltse,
que estava sendo dirigido.
-
Alguém estava explicando os fenômenos para mim, disse Robinson. Não sei quem
era, mas lembro-me de que eu mesmo me referia a ele como um mentor. Ele me fez
compreender que eu estava livre dentro de uma dimensão temporal do espaço onde
o “agora” equivalia ao “aqui” nas três dimensões comuns do espaço da vida de
cada dia.
Nesta
altura, o Dr. Robinson não soube mais como descrever adequadamente o que vira e
teve de se valer das seguintes palavras para continuar:
-
Na realidade não há palavras que possam descrever. Embora não tivesse corpo
tinha o que se pode chamar a visão perfeita de dois olhos, e tinha, também, a
impressão de ser visível e iridescente.
Uma nuvem que parecia azul
Meu
mentor continuava explicando todas as coisas para mim e me pareceu que eu era
uma espécie de condensação que na linguagem comum poderíamos comparar a uma
nuvem; a impressão visual que eu tinha de mim mesmo era de estar azul.
Paulatinamente, comecei a reconhecer que havia pessoas em volta de mim e que
todos tinham a mesma condensação física igual à minha. Quando senti que ia
compreender alguma coisa, vi alguém que entrava no meu quarto de dormir.
Percebi que esta pessoa levou um choque terrível ao me ver e que saiu correndo
na direção do telefone. Vi meu médico que estava em outro lugar, longe de minha
casa, deixar seus pacientes e dirigir-se para onde eu estava, a toda pressa.
Robinson
descobriu naquele momento que sua aventura de homem morto começava a acabar.
Ouviu que o médico falava com ele, mas não podia responder. O médico tomou de
uma seringa e injetou no corpo morto alguma coisa que Robinson mais tarde soube
que era cânfora.
-
Quando meu coração começou a bater mais forte, fui puxado para trás com grande descontentamento da minha parte, pois estava muito
interessado e começava a entender onde eu estava e o que estava vendo. Voltei
para meu corpo bastante contrariado de ter sido puxado para trás, pois toda
aquela capacidade de compreensão das coisas e de tudo desapareceram; e fiquei
reduzido a um fio de consciência misturado com a dor.
A
experiência por que passei não tende a se desvanecer como acontece com os
sonhos, nem a racionalizar-se. Desde que as injeções me trouxeram de novo para
a vida, a experiência não mais se repetiu, não tive mais aquela clareza de
compreensão que gozei quando estava livre do meu corpo.
Às portas da Eternidade
A
narrativa de Sir Auckland Geddes termina com estas palavras:
-
Que devemos pensar de tudo isso? - 'pergunta ele aos leitores. - De uma coisa,
pelo menos, devemos estar certos. Não se trata de um
caso de mistificação. Se eu não estivesse certo disto, não teria narrado o caso para vocês.
Pois
bem, que devemos pensar de tudo isto? É provável que tanto o Dr. Wiltse quanto
o Dr. Robinson não estivessem “tão” mortos como os outros que voltaram à vida
sem se lembrarem de coisa alguma. Esta circunstância, porém, não diminui o
valor da experiência que ambos tiveram. Eles não sonharam. Os dois estiveram às
portas da Eternidade.
Por
enquanto é tudo o que podemos dizer a respeito. Revelamos o a que o Dr. MartinRuber chama “a avidez da raça humana para desvendar
o segredo da morte”.
Exultante
O
relance de eternidade que foi dado aos Drs. Wiltse e Robinson entrever foram
tão maravilhosos que a linguagem com que os descreveram, às vezes, pareceu
ridícula. Qualquer um, porém, pode perceber, através desta barreira formada
pelas palavras inadequadas, o - sentimento que encheu a experiência que ambos
fizeram, o sentimento da alma que compreende tudo e que goza de um estado de
exultação que deve ser o prêmio das orações que os homens de todas as fés
proferiram desde o princípio dos tempos.
(Ext. do “Correio da Manhã", de 22-3-58.)
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