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Didaquê
Espírita
compilação e coordenação
Carlos Lomba
Ed.FEB 1948
CAPÍTULO V
d/d
MORAL ESPÍRITA
201. Donde provém, em certas pessoas, o medo da morte?
- Não há motivo para
ter medo da morte, entretanto, isso é uma consequência do temor do inferno que
lhes incutiram desde a infância. Essas pessoas, quando chegam à adolescência,
concluem pela inexistência de tal inferno, e, então, tornam-se ateias ou
materialistas e passam a julgar que fora da vida presente nada existe. Aquele
que for justo, a morte não inspira medo algum, pois a sua fé o induz a ter
certeza no futuro, e a caridade que praticou lhe assegura que no mundo onde vai
entrar não encontrará nenhum ser cuja presença deva temer.
202. Que devemos pensar do homem carnal?
- O homem carnal, mais
apegado à vida corporal que à vida espiritual, só encontra na Terra penas e
prazeres materiais; sua ambição consiste na satisfação fugaz de todos os
desejos. Sua alma, constantemente preocupada e afetada pelas vicissitudes da
vida, permanece numa ansiedade e num tormento perpétuos. A morte o horroriza,
porque duvida do seu futuro e receia deixar na Terra todos os seus prazeres e
esperanças.
203. Donde provém o desgosto da vida que se apodera de certos
indivíduos, sem motivos plausíveis?
- Da falta de fé no
futuro, e muitas vezes, também, é consequência da ociosidade .
204. Que é o materialismo?
- A doutrina
materialista é a sanção do egoísmo, fonte de todos os vícios; é a negação da
CARIDADE - manancial de todas as virtudes; é a justificação do suicídio e é
incompatível com a moral, base da ordem social.
205. Tem o homem direito a dispor de sua vida?
- Não,
peremptoriamente! O suicídio é uma transgressão da Lei de DEUS. O suicídio é a maior
CRUELDADE que o homem pode praticar contra si mesmo.
O SUICÍDIO NASCE DO ERRO,
ALIMENTA-SE NA COVARDIA E CONDUZ AO MAIS HORRÍVEL TORMENTO PRÓPRIO.
O SUICÍDIO CONVERTE AS
ANGÚSTIAS DA MORTE EM HORROROSO SUPLÍCIO QUE NÃO AS EXTINGUE, SENÃO QUE AS
AUMENTA, PAVOROSAMENTE.
COVARDIA, EGOÍSMO,
IGNORÂNCIA, CETICISMO E ORGULHO, EIS AS CAUSAS DO SUICÍDIO; A TORTURA DE SI
PRÓPRIO, O DESESPERO E O OLVIDO ALHEIOS SÃO A SUA CONSEQUÊNCIA.
206. E o suicídio cujo fim é evitar o aparecimento de uma ação má,
torna-se tão condenável quanto o causado pelo desespero?
- O suicídio não
esconde as culpas de ninguém e, pelo contrário, neste caso há duas faltas, em
vez de uma. Quem tiver tido coragem para fazer o mal, é preciso também tê-la
para sofrer as consequências, sem se revelar um infeliz covarde.
207. Que devemos pensar daquele que se suicida para alcançar mais
depressa outra vida melhor?
- Lastimar a sua
profunda ignorância. Só pela prática do bem é que se poderá alcançar outra vida
melhor.
208. Não é meritório o sacrifício da vida quando o fim é salvar a outrem
ou ser útil aos nossos semelhantes?
- Isso é sublime,
conforme for a intenção. O sacrifício da vida não é suicídio quando há
desinteresse e não está manchado pelo egoísmo.
209. Qual o sentimento que, no momento da morte, predomina no maior
número dos homens? a dúvida, o temor ou
a esperança?
- A dúvida, nos
cépticos endurecidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.
210. As penas e os gozos da alma, depois da morte, têm alguma coisa de
material?
- Não podem ser
propriamente materiais porque a alma não é matéria, qual a conhecemos. Essas
penas e gozos são, porém, mil vezes mais sensíveis e dolorosos do que os que se
poderiam experimentar na Terra, pois que no estado espiritual a alma é muito
mais impressionável, visto não estar com as suas sensações embotadas pela
matéria grosseira do corpo carnal.
211. Que se deve pensar do homem que, sem fazer o mal, também não
emprega esforços para alijar-se do jugo da matéria?
- Permanece estacionário,
e assim prolonga os sofrimentos da expiação.
212. O homem perverso, que não reconhece as suas faltas durante a vida
terrestre, reconhece-os depois da morte?
- Indubitavelmente, e
então, sente todo o mal que fez ou de que se tomou causa voluntária.
217. A duração dos sofrimentos será arbitrária ou está sujeita a alguma
lei?
- DEUS nunca obra por
capricho; tudo no Universo está submetido a leis em que se revela a justiça, a
bondade e a sabedoria divinas.
218. O inferno e o paraíso existem tais como o homem os representa?
- Não existe uma
determinação absoluta dos lugares de punição e de recompensa, a não ser na
imaginação de certos homens. As almas estão disseminadas por todo o Universo e
o inferno e o paraíso localizados em cada consciência.
213. O arrependimento sincero, durante a vida, basta para apagar nossas
faltas e para que DEUS nos perdoe?
- O arrependimento
favorece o melhoramento do Espírito, mas é preciso expiar e reparar as faltas
cometidas.
214. As faltas podem ser redimidas?
- Sim, pela reparação.
Não se redimem, porém, com algumas privações pueris, nem com donativos para
depois da morte e quando já não mais se necessita deles. A perda de um dedo no
trabalho resgata mais faltas do que o cilício de anos inteiros, sem outro fim
que o da própria conveniência, visto a ninguém beneficiar. Só com o bem é que
se repara o mal.
219. Em que sentido se deve entender a palavra Céu?
- Deve considerar-se
como Céu o espaço universal, os planetas, as estrelas e todos os mundos
superiores, onde os Espíritos elevados desfrutam a felicidade, sem sentirem as
tribulações da vida material ou as angústias inerentes à inferioridade. A Terra é um dos mundos de expiação, e os
Espíritos ou almas que a habitam precisam de lutar contra a perversidade de si
mesmos e contra a inclemência da Natureza, trabalho esse muito penoso, mas que
serve ao mesmo tempo para desenvolver as qualidades do coração e as faculdades
da inteligência. Por esse modo faz DEUS que a dor se transforme em
benefício do progresso do próprio Espírito.
220. Que se deve entender por purgatório?
- É a expiação. A Terra
é, para muitos, um verdadeiro purgatório, onde a LEI das leis os faz expiar as
Suas faltas.
221. Que se deve entender como
alma penada?
- Todo Espírito errante
que sofre, incerto do seu futuro, é uma alma penada.
222. A bênção ou a maldição podem atrair o bem ou o mal sobre quem elas
são proferidas?
- A Providência jamais
deixou de ser justiceira; a bênção pode alcançar aquele que se tornou digno
dela; a maldição também não produz efeito senão sobre aquele que se tornou
malvado.
223. Porque Jesus expulsou do Templo os mercadores?
- Jesus expulsou-os
porque condenava o tráfico das coisas santas, sob qualquer forma que fosse. DEUS
não vende e jamais autorizou a venda da sua bênção, nem do seu perdão; assim,
de modo algum se poderá vender a “entrada no reino dos céus”. O homem,
portanto, não tem direito em se fazer pagar pelas orações
que celebra.
224. No estado espiritual, que consequências produz o arrependimento?
- O desejo de uma nova
encarnação, para reparar as faltas.
225. Que se deve pensar do dogma: "Fora da Igreja não há salvação?
Esse dogma é
exclusivista e absoluto; em vez de unir os homens, os divide; em vez de excitar
o amor entre irmãos, mantém e sanciona a irritação entre os sectários dos
diferentes cultos, que se passam a considerar reciprocamente como malditos na
eternidade, embora sejam parentes ou amigos neste mundo. A máxima: "SEM
CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO", é a consagração da igualdade ante DEUS,
e da liberdade de consciência.
226. Pode considerar-se a paternidade como missão?
- Sem dúvida que é uma
missão e ao mesmo tempo uma responsabilidade muito grande que se toma para o
futuro, pois os filhos são colocados sob a tutela dos pais para que estes os
guiem no caminho do bem.
227. Que se deve entender pelas palavras de Jesus: "Honra teu pai e
tua mãe?
- Esse mandamento é uma
consequência da lei de caridade e de amor ao próximo, pois não se pode amar a
este sem amar os pais. O amor obriga-nos ao respeito, à submissão e às considerações
que devemos ter para com os nossos pais. Honrar seu pai e sua mãe não é só
respeitá-los; também implica o dever de assisti-los em suas necessidades, proporcionando
lhes o descanso na velhice, rodeando-os de solicitude, assim como eles nos fizeram
em nossa infância. Esse dever também se entende para com aquelas pessoas que
fizeram as vezes dos pais, e que por isso mesmo têm mérito, visto sua abnegação
não ser tão obrigatória como a destes. Toda violação a este mandamento
constitui grave falta, que se expiará com grandes sofrimentos.
228. Porque é que 08 homens mais inteligentes são às vezes os mais
radicalmente viciosos?
- O Espírito pode ter
adiantado num sentido, e não em outro; todavia, todos deverão progredir moral e
intelectualmente, e isso equilibrará, com o tempo, a vida normal do homem.
229. Porque são materialistas tantos homens de ciência?
- Porque julgam saber
tudo e não admitem que coisa alguma seja superior ao seu entendimento. A
própria Ciência os torna presunçosos e julgam que nada lhes é oculto na
Natureza; esquecem que os homens da Ciência ridicularizaram em outro tempo a
Newton, a Franklin, a Janner e Pasteur e que, no presente século, também repeliram o Hipnotismo. Se eles têm feito coisas análogas em
todas as épocas, que motivo há para estranhar neguem hoje a existência de DEUS
e da alma?
230 . Que é misericórdia?
- A misericórdia é a
virtude que consiste na compaixão e na piedade pelos sofrimentos alheios, e que
resulta do esquecimento e do perdão das ofensas. O esquecimento e o perdão das
ofensas são qualidades das almas elevadas, que estão fora do alcance do mal.
Com que direito solicitaremos o perdão das nossas faltas se
não tivermos antes perdoado às dos outros?
231. Que é Caridade?
- A Caridade é a virtude,
por excelência, que deve conduzir todos os povos à felicidade ampla e geral.
232. Que é fé?
- É a confiança que
depositamos em DEUS. Alcançá-la
sublimemente - é trabalho do homem que estuda e medita, que observa e
raciocina. Comparemos o trabalho de cultivá-la ao trabalho com que procuramos
fortalecer os nossos músculos, com que iluminamos a nossa inteligência nos
diferentes setores de suas atividades, ao trabalho, em suma, com que fazemos
florir os nossos jardins. Ela é conquista do nosso trabalho espiritual. Não
desce do Céu para o coração do homem, mas deve subir do coração do homem para o
Céu.
233. Que é esperança?
- É a irmã trigêmea da
caridade e da fé. Aquela lhe prepara o mérito, esta lhe confere o prêmio.
234. Que é virtude?
- A virtude, em sua
mais elevada acepção, é o conjunto de todas as qualidades essenciais ao homem
de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio e modesto, são as qualidades do
homem virtuoso.
235. Que é paciência?
- A paciência é a
resignação e a submissão a todos os nossos sofrimentos, tanto físicos como
morais, pois o a que chamamos mal quase sempre reverte em nosso benefício.
236. Que
é probidade?
- A probidade faz parte
da justiça. O homem probo deve ser reto, honrado, bondoso, e ter pureza e integridade
de alma em todos os seus atos; amará a justiça e a equidade, e jamais se
apropriará dos bens de outrem.
237. Que é a indulgência?
- A indulgência é um
sentimento doce e fraternal que faz- esquecer as faltas e os defeitos do nosso
próximo. A indulgência é conciliadora e boa conselheira.
238. Que devemos pensar do perdão?
- Quando perdoamos ao
nosso próximo, não devemos contentar-nos em correr o véu do esquecimento sobre
as suas faltas, mas também procurarmos fazer tudo quanto pudermos em seu
benefício.
239. Quais os principais males do homem?
- A cólera, o orgulho,
o egoísmo, a avareza e a inveja são os mais fatais inimigos do homem e piores,
para ele, do que o frio, a fome e a sede. A cólera arrasta-o à desobediência,
compromete a sua saúde, e, às vezes, a própria vida. O egoísmo é o maior
obstáculo à felicidade dos povos, pois dele se originam todas as misérias: é a
negação da caridade. A avareza exclui o exercício de grande número de virtudes,
porque prende a alma aos bens terrestres. A inveja produz o pesar e o desgosto,
em face da felicidade alheia, e é um sentimento vil e indigno. O orgulho é a
causa das grandes ambições e das dissidências entre os povos.
240 . Que devemos julgar do uso do fumo?
- O uso do fumo é mau,
porque estraga a saúde que nos cumpre cultivar zelosamente, para bem podermos
cumprir nossa missão, na Terra.
241. Que devemos julgar da bebida?
- É útil quando se toma
a estritamente necessário à manutenção das forças do organismo, mas, desde que
tomada em excesso, torna-se um vício repugnante, condenável e que deve ser
prontamente corrigido.
242. E do jogo?
- O jogo é uma paixão
funesta que pode arrastar o homem ao suicídio e fazer que ele se converta num
dos seres mais egoístas da Terra. O jogador é um parasita social que esquece
todos os sentimentos nobres, e, às vezes, sua sede insaciável de ouro leva-o a
ponto de sacrificar a própria família, e seus semelhantes, abrindo-lhe a estrada larga de todos os crimes e delinquências.
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