sábado, 27 de abril de 2013

9. 'Didaquê Espírita'



9
Didaquê Espírita

compilação e coordenação
  Carlos Lomba
Ed.FEB 1948

CAPÍTULO V       d/d


MORAL ESPÍRITA


201. Donde provém, em certas pessoas, o medo da morte?

            - Não há motivo para ter medo da morte, entretanto, isso é uma consequência do temor do inferno que lhes incutiram desde a infância. Essas pessoas, quando chegam à adolescência, concluem pela inexistência de tal inferno, e, então, tornam-se ateias ou materialistas e passam a julgar que fora da vida presente nada existe. Aquele que for justo, a morte não inspira medo algum, pois a sua fé o induz a ter certeza no futuro, e a caridade que praticou lhe assegura que no mundo onde vai entrar não encontrará nenhum ser cuja presença deva temer.

202. Que devemos pensar do homem carnal?

            - O homem carnal, mais apegado à vida corporal que à vida espiritual, só encontra na Terra penas e prazeres materiais; sua ambição consiste na satisfação fugaz de todos os desejos. Sua alma, constantemente preocupada e afetada pelas vicissitudes da vida, permanece numa ansiedade e num tormento perpétuos. A morte o horroriza, porque duvida do seu futuro e receia deixar na Terra todos os seus prazeres e esperanças.

203. Donde provém o desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos, sem motivos plausíveis?

            - Da falta de fé no futuro, e muitas vezes, também, é consequência da ociosidade .
           
204.     Que é o materialismo?

            - A doutrina materialista é a sanção do egoísmo, fonte de todos os vícios; é a negação da CARIDADE - manancial de todas as virtudes; é a justificação do suicídio e é incompatível com a moral, base da ordem social.

205. Tem o homem direito a dispor de sua vida?

            - Não, peremptoriamente! O suicídio é uma transgressão da Lei de DEUS. O suicídio é a maior CRUELDADE que o homem pode praticar contra si mesmo.

            O SUICÍDIO NASCE DO ERRO, ALIMENTA-SE NA COVARDIA E CONDUZ AO MAIS HORRÍVEL TORMENTO PRÓPRIO.

            O SUICÍDIO CONVERTE AS ANGÚSTIAS DA MORTE EM HORROROSO SUPLÍCIO QUE NÃO AS EXTINGUE, SENÃO QUE AS AUMENTA, PAVOROSAMENTE.

            COVARDIA, EGOÍSMO, IGNORÂNCIA, CETICISMO E ORGULHO, EIS AS CAUSAS DO SUICÍDIO; A TORTURA DE SI PRÓPRIO, O DESESPERO E O OLVIDO ALHEIOS SÃO A SUA CONSEQUÊNCIA.

206. E o suicídio cujo fim é evitar o aparecimento de uma ação má, torna-se tão condenável quanto o causado pelo desespero?

            - O suicídio não esconde as culpas de ninguém e, pelo contrário, neste caso há duas faltas, em vez de uma. Quem tiver tido coragem para fazer o mal, é preciso também tê-la para sofrer as consequências, sem se revelar um infeliz covarde.

207. Que devemos pensar daquele que se suicida para alcançar mais depressa outra vida melhor?

            - Lastimar a sua profunda ignorância. Só pela prática do bem é que se poderá alcançar outra vida melhor.

208. Não é meritório o sacrifício da vida quando o fim é salvar a outrem ou ser útil aos nossos semelhantes?

            - Isso é sublime, conforme for a intenção. O sacrifício da vida não é suicídio quando há desinteresse e não está manchado pelo egoísmo.

209. Qual o sentimento que, no momento da morte, predomina no maior número dos homens?  a dúvida, o temor ou a esperança?

            - A dúvida, nos cépticos endurecidos; o temor, nos culpados; a esperança, nos homens de bem.

210. As penas e os gozos da alma, depois da morte, têm alguma coisa de material?

            - Não podem ser propriamente materiais porque a alma não é matéria, qual a conhecemos. Essas penas e gozos são, porém, mil vezes mais sensíveis e dolorosos do que os que se poderiam experimentar na Terra, pois que no estado espiritual a alma é muito mais impressionável, visto não estar com as suas sensações embotadas pela matéria grosseira do corpo carnal.

211. Que se deve pensar do homem que, sem fazer o mal, também não emprega esforços para alijar-se do jugo da matéria?

            - Permanece estacionário, e assim prolonga os sofrimentos da expiação.

212. O homem perverso, que não reconhece as suas faltas durante a vida terrestre, reconhece-os depois da morte?

            - Indubitavelmente, e então, sente todo o mal que fez ou de que se tomou causa voluntária.

217. A duração dos sofrimentos será arbitrária ou está sujeita a alguma lei?

            - DEUS nunca obra por capricho; tudo no Universo está submetido a leis em que se revela a justiça, a bondade e a sabedoria divinas.

218. O inferno e o paraíso existem tais como o homem os representa?

            - Não existe uma determinação absoluta dos lugares de punição e de recompensa, a não ser na imaginação de certos homens. As almas estão disseminadas por todo o Universo e o inferno e o paraíso localizados em cada consciência.

213. O arrependimento sincero, durante a vida, basta para apagar nossas faltas e para que DEUS nos perdoe?

            - O arrependimento favorece o melhoramento do Espírito, mas é preciso expiar e reparar as faltas cometidas.

214. As faltas podem ser redimidas?

            - Sim, pela reparação. Não se redimem, porém, com algumas privações pueris, nem com donativos para depois da morte e quando já não mais se necessita deles. A perda de um dedo no trabalho resgata mais faltas do que o cilício de anos inteiros, sem outro fim que o da própria conveniência, visto a ninguém beneficiar. Só com o bem é que se repara o mal.

219. Em que sentido se deve entender a palavra Céu?

            - Deve considerar-se como Céu o espaço universal, os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores, onde os Espíritos elevados desfrutam a felicidade, sem sentirem as tribulações da vida material ou as angústias inerentes à inferioridade.  A Terra é um dos mundos de expiação, e os Espíritos ou almas que a habitam precisam de lutar contra a perversidade de si mesmos e contra a inclemência da Natureza, trabalho esse muito penoso, mas que serve ao mesmo tempo para desenvolver as qualidades do coração e as faculdades da inteligência. Por esse modo faz DEUS que a dor se transforme em benefício do progresso do próprio Espírito.

220. Que se deve entender por purgatório?

            - É a expiação. A Terra é, para muitos, um verdadeiro purgatório, onde a LEI das leis os faz expiar as Suas faltas.

221.  Que se deve entender como alma penada?

            - Todo Espírito errante que sofre, incerto do seu futuro, é uma alma penada.

222. A bênção ou a maldição podem atrair o bem ou o mal sobre quem elas são proferidas?

            - A Providência jamais deixou de ser justiceira; a bênção pode alcançar aquele que se tornou digno dela; a maldição também não produz efeito senão sobre aquele que se tornou malvado.

223. Porque Jesus expulsou do Templo os mercadores?

            - Jesus expulsou-os porque condenava o tráfico das coisas santas, sob qualquer forma que fosse. DEUS não vende e jamais autorizou a venda da sua bênção, nem do seu perdão; assim, de modo algum se poderá vender a “entrada no reino dos céus”. O homem, portanto, não tem direito em se fazer pagar pelas orações
que celebra.

224. No estado espiritual, que consequências produz o arrependimento?

            - O desejo de uma nova encarnação, para reparar as faltas.

225. Que se deve pensar do dogma: "Fora da Igreja não há salvação?

            Esse dogma é exclusivista e absoluto; em vez de unir os homens, os divide; em vez de excitar o amor entre irmãos, mantém e sanciona a irritação entre os sectários dos diferentes cultos, que se passam a considerar reciprocamente como malditos na eternidade, embora sejam parentes ou amigos neste mundo. A máxima: "SEM CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO", é a consagração da igualdade ante DEUS, e da liberdade de consciência.

226. Pode considerar-se a paternidade como missão?

            - Sem dúvida que é uma missão e ao mesmo tempo uma responsabilidade muito grande que se toma para o futuro, pois os filhos são colocados sob a tutela dos pais para que estes os guiem no caminho do bem.

227. Que se deve entender pelas palavras de Jesus: "Honra teu pai e tua mãe?

            - Esse mandamento é uma consequência da lei de caridade e de amor ao próximo, pois não se pode amar a este sem amar os pais. O amor obriga-nos ao respeito, à submissão e às considerações que devemos ter para com os nossos pais. Honrar seu pai e sua mãe não é só respeitá-los; também implica o dever de assisti-los em suas necessidades, proporcionando lhes o descanso na velhice, rodeando-os de solicitude, assim como eles nos fizeram em nossa infância. Esse dever também se entende para com aquelas pessoas que fizeram as vezes dos pais, e que por isso mesmo têm mérito, visto sua abnegação não ser tão obrigatória como a destes. Toda violação a este mandamento constitui grave falta, que se expiará com grandes sofrimentos.

228. Porque é que 08 homens mais inteligentes são às vezes os mais radicalmente viciosos?

            - O Espírito pode ter adiantado num sentido, e não em outro; todavia, todos deverão progredir moral e intelectualmente, e isso equilibrará, com o tempo, a vida normal do homem.

229. Porque são materialistas tantos homens de ciência?

            - Porque julgam saber tudo e não admitem que coisa alguma seja superior ao seu entendimento. A própria Ciência os torna presunçosos e julgam que nada lhes é oculto na Natureza; esquecem que os homens da Ciência ridicularizaram em outro tempo a Newton, a Franklin, a Janner e Pasteur e que, no presente século, também repeliram o Hipnotismo. Se eles têm feito coisas análogas em todas as épocas, que motivo há para estranhar neguem hoje a existência de DEUS e da alma?

230 . Que é misericórdia?

            - A misericórdia é a virtude que consiste na compaixão e na piedade pelos sofrimentos alheios, e que resulta do esquecimento e do perdão das ofensas. O esquecimento e o perdão das ofensas são qualidades das almas elevadas, que estão fora do alcance do mal. Com que direito solicitaremos o perdão das nossas faltas se
não tivermos antes perdoado às dos outros?

 231. Que é Caridade?

            - A Caridade é a virtude, por excelência, que deve conduzir todos os povos à felicidade ampla e geral.

232. Que é ?

            - É a confiança que depositamos em DEUS. Alcançá-la sublimemente - é trabalho do homem que estuda e medita, que observa e raciocina. Comparemos o trabalho de cultivá-la ao trabalho com que procuramos fortalecer os nossos músculos, com que iluminamos a nossa inteligência nos diferentes setores de suas atividades, ao trabalho, em suma, com que fazemos florir os nossos jardins. Ela é conquista do nosso trabalho espiritual. Não desce do Céu para o coração do homem, mas deve subir do coração do homem para o Céu.

233. Que é esperança?

            - É a irmã trigêmea da caridade e da fé. Aquela lhe prepara o mérito, esta lhe confere o prêmio.

234. Que é virtude?

            - A virtude, em sua mais elevada acepção, é o conjunto de todas as qualidades essenciais ao homem de bem. Ser bom, caritativo, laborioso, sóbrio e modesto, são as qualidades do homem virtuoso.

235. Que é paciência?

            - A paciência é a resignação e a submissão a todos os nossos sofrimentos, tanto físicos como morais, pois o a que chamamos mal quase sempre reverte em nosso benefício.

 236. Que é probidade?

            - A probidade faz parte da justiça. O homem probo deve ser reto, honrado, bondoso, e ter pureza e integridade de alma em todos os seus atos; amará a justiça e a equidade, e jamais se apropriará dos bens de outrem.

237. Que é a indulgência?

            - A indulgência é um sentimento doce e fraternal que faz- esquecer as faltas e os defeitos do nosso próximo. A indulgência é conciliadora e boa conselheira.

238. Que devemos pensar do perdão?

            - Quando perdoamos ao nosso próximo, não devemos contentar-nos em correr o véu do esquecimento sobre as suas faltas, mas também procurarmos fazer tudo quanto pudermos em seu benefício. 

239. Quais os principais males do homem?

            - A cólera, o orgulho, o egoísmo, a avareza e a inveja são os mais fatais inimigos do homem e piores, para ele, do que o frio, a fome e a sede. A cólera arrasta-o à desobediência, compromete a sua saúde, e, às vezes, a própria vida. O egoísmo é o maior obstáculo à felicidade dos povos, pois dele se originam todas as misérias: é a negação da caridade. A avareza exclui o exercício de grande número de virtudes, porque prende a alma aos bens terrestres. A inveja produz o pesar e o desgosto, em face da felicidade alheia, e é um sentimento vil e indigno. O orgulho é a causa das grandes ambições e das dissidências entre os povos.

240 . Que devemos julgar do uso do fumo?

            - O uso do fumo é mau, porque estraga a saúde que nos cumpre cultivar zelosamente, para bem podermos cumprir nossa missão, na Terra.

241. Que devemos julgar da bebida?

            - É útil quando se toma a estritamente necessário à manutenção das forças do organismo, mas, desde que tomada em excesso, torna-se um vício repugnante, condenável e que deve ser prontamente corrigido.

242. E do jogo?

            - O jogo é uma paixão funesta que pode arrastar o homem ao suicídio e fazer que ele se converta num dos seres mais egoístas da Terra. O jogador é um parasita social que esquece todos os sentimentos nobres, e, às vezes, sua sede insaciável de ouro leva-o a ponto de sacrificar a própria família, e seus semelhantes, abrindo-lhe a estrada larga de todos os crimes e delinquências.



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