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Ciência Religião Fanatismo
por MINIMUS (A.
Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Palestra 4 a/c
RELIGIÃO E
FANATISMO
Boníssimos amigos:
Eis-nos novamente diante de vós,
desejosos de prosseguir na série de considerações que vos vimos apresentando ao
raciocínio. Eis-nos de novo a sacrificar-vos com a nossa palavra sem brilho,
abusando da bondade com que nos tendes acompanhado. Que Deus vos leve em conta
a tolerância, a paciência e a caridade que demonstrais.
Na palestra anterior frisamos bem
que o Espiritismo se nos apresenta sob três aspectos, cada
qual mais importante para a felicidade humana. Mostramos que o Espiritismo é a
ciência que investiga além da matéria visível e tangível; que é a filosofia que
cogita da finalidade do nascimento do homem, e que é, sobretudo, a religião que
ensina como a criatura apressar sua volta ao seio do Criador, sem necessidade
de ídolos, de cultos e de cerimônias ridículas.
E agora, que já falamos de Deus, do
Espírito, da matéria e dos fluidos, procuraremos sucintamente
demonstrar aos apegados à letra, cientistas ou não, a confirmação da nossa
Doutrina pelos próprios livros que eles apregoam seguir e consideram sagrados.
Não iremos argumentar
com os livros do Budismo ou do Islamismo, e, sim, com a Bíblia, pedra sobre a
qual assenta
o Catolicismo e o Protestantismo, únicas religiões semi oficializadas do mundo
ocidental.
Antes de entrarmos diretamente no
assunto, cumpre-nos cientificar-vos que não consideramos o Velho Testamento
senão como um livro tradicional, escrito por homens de épocas incultas, cheio,
por isso, de incoerências e de verdadeiras aberrações, quando comparado à
Doutrina de Amor pregada por N. S. Jesus Cristo; aliás, é S. Paulo que nos
comunica, em uma de suas Epístolas, que o Velho Testamento fora abolido pelo
Cristo de Deus.
O clero sabe muito bem que o Velho
Testamento é apenas um livro que prestou benefícios em outras eras e que está
completamente abolido diante da grandiosidade do Novo Testamento. Servem-se dele,
somente quando lhes convém, com a intenção de derrubar os ensinamentos do
Espiritismo, usando da má fé habitual dos chicaneiros.
Assim o Velho Testamento, como Paulo
em suas Epístolas, proibiram que os bispos e diáconos fossem solteiros; aquele
apóstolo previu, também, o aparecimento da doutrina do demônio, que, mais tarde,
desrespeitaria aquela inibição. Moisés proibiu aos sacerdotes vestirem saia e
rasparem a cabeça; o clero não ouviu, todavia, as recomendações do Profeta.
Entretanto, ao necessitarem combater as comunicações dos Espíritos, citam
sempre a autoridade de Moisés, alterando lhe, porém, as palavras e deturpando lhe
o pensamento. Moisés jamais negou as comunicações, mesmo porque ele se nos
apresentou como médium. Suas palavras foram outras e muito diferentes dessa
capciosa interpretação com que nos pretendem atingir. Moisés proclamou a
possibilidade das comunicações; só se mostrou contrário, como nós outros, a que
as praticassem para adivinhações, encantamentos e feitiçarias, tanto assim que se
não referiu aos médiuns, chamados naquela época profetas, mas tão somente aos feiticeiros
e adivinhadores.
Se Moisés houvesse realmente
reprochado as comunicações mediúnicas, elas não continuariam a ser exercidas
pelos seus discípulos e nem teriam chegado à época atual, em que tanto
beneficiam à humanidade.
No Velho Testamento encontraremos
Tobias e Jó, médiuns videntes; Ezequiel e Daniel, audientes, Samuel predizendo
a morte de Saul e Joel profetizando a época atual do cultivo da mediunidade.
No Novo Testamento, além das muitas
passagens que tratam da mediunidade, encontramos Estevão, médium falante, Pedro
e outros como curadores, e João com todas as mediunidades. Paulo confirma a
mediunidade das quatro filhas de Felipe, e é esse mesmo apóstolo
quem nos diz haver curado, de febres e disenteria, o pai de Públio, apenas com
a imposição das mãos, ou seja com "passes". E o próprio Jesus
advertiu que muitas coisas não poderiam
ser ditas por Ele, porque os homens de seu tempo não estavam preparados para
recebê-las. Prometeu, porém, que mais tarde viria o Espírito da Verdade, que
nos explicaria todas
as verdades.
Como sabeis, falam repetida e
claramente nesse dom, a que hoje chamamos mediúnico, não
somente a Bíblia das religiões ocidentais, mas ainda os livros sagrados das
crenças do Oriente.
E o próprio Paulo nos diz ser esse dom distribuído equitativamente: a uns a fé,
a outros o dom de curar e a quais a sabedoria; mediunidades que João,
reconhecendo-as existentes, recomenda sejam recebidas com a precaução, porém,
de examinarmos se o Espírito se origina de Deus, ou melhor, de Espírito que
pregue a verdadeira Doutrina de Amor ao Próximo - a Caridade.
Não aceitamos a criação do mundo em
seis dias; tão pouco admitimos que o Criador se sentisse
extenuado, obrigando-se, Ele, o Espírito Supremo, às contingências humanas:
descansar no sétimo dia, sujeitando-se assim às leis da matéria.
Admitimos, todavia, que, em
obediência às próprias leis de Deus, a Terra foi formada, como
constantemente novos mundos aparecem; em seguida, confiada à sábia direção de
Jesus que, nessa época, já era Espírito digno da sua confiança.
Não temos o velho Adão como o
primeiro e único habitante do Planeta, porém como chefe de uma das colônias que
se salvaram de algum cataclismo, e muito menos supomos que Deus
precisasse da ideia e da solicitação de Adão para criar a mulher.
Se Adão e Eva, com seus filhos,
fossem os únicos habitantes da Terra, com quem constituiu família o fratricida
Caim? Responde-nos o Velho Testamento asseverando que Caim fora protegido por
Deus com um sinal para que o não matassem, casando-se naturalmente em outra
colônia. Quem nos diz não terem sido seus descendentes os inquisidores da Idade Média?
Não aceitamos a anticientífica e
inadmissível lenda do fruto proibido, tal como no-la ensinam
os vigários, e nem o rendoso dogma do pecado original, que não nos esclarece se o
pecado passa de carne a carne ou se de Espírito a Espírito. Pela carne seria um
absurdo religioso,
pelo Espírito não o é menor, visto que, se pregam os teólogos que Deus cria o
Espírito no momento do seu nascimento, a alma do homem não pode, por
conseguinte, ser responsabilizada por culpa de um indivíduo que não é seu pai
espiritual, nem foi seu criador.
A Doutrina, que pregamos e provamos
experimentalmente com fatos, ensina que a reencarnação tem o fim de fazer a
criatura aperfeiçoar-se pelo seu próprio esforço: é a porta para
o arrependimento e consequente salvação, não se perdendo, assim, uma única das
ovelhas do Pai.
No Velho Testamento encontraremos Jó
falando várias vezes, claramente, nas vidas sucessivas. David nos seus Salmos,
o Eclesiastes, Ezequiel, Malaquias, todos falam na reencarnação; e, no Novo
Testamento, apesar de não ser ainda chegada a época precisa para tal
ensinamento, Jesus, em várias oportunidades, anunciou-a veladamente e nunca a
combateu, embora a soubesse acreditada pelos Hebreus, tanto assim que o povo e
o próprio Herodes chegaram a supor Jesus o Espírito de João Batista reencarnado.
A reencarnação, que já é aceita pela
maioria das religiões orientais, será muito breve incorporada às ocidentais, e
o será porque os fatos continuarão; o povo, que já na sua quase totalidade nela
crê, obrigará os apegados à letra a modificarem seus dogmas e suas crenças,
como já procederam quanto às interpretações da formação da Terra, ao seu
movimento, à localização do inferno e a tantas outras evoluções religiosas.
Modificarão, ainda, para aceitá-la, pois que, somente por ela, se pode explicar
a causa das desigualdades sociais.
Compreenderão que pregar a
singularidade da existência é ensinar que Deus é injusto, visto
que uns nascem com o entendimento que faz discernir o bem do mal, enquanto
outros não
sabem distingui-los. Mais nefando ainda apresentam o Criador, quando ensinam
que Ele deixa as suas inexperientes criaturas, indefesas, entregues à astúcia e
à inteligência de um inimigo armipotente e forte como Satanás, cuja vida conta
milênios.
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