domingo, 14 de abril de 2013

19. Ciência Religião Fanatismo



19


Ciência   Religião   Fanatismo

por  MINIMUS  (A. Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938

Palestra 4   a/c

RELIGIÃO E FANATISMO
           

            Boníssimos amigos:

            Eis-nos novamente diante de vós, desejosos de prosseguir na série de considerações que vos vimos apresentando ao raciocínio. Eis-nos de novo a sacrificar-vos com a nossa palavra sem brilho, abusando da bondade com que nos tendes acompanhado. Que Deus vos leve em conta a tolerância, a paciência e a caridade que demonstrais.

            Na palestra anterior frisamos bem que o Espiritismo se nos apresenta sob três aspectos, cada qual mais importante para a felicidade humana. Mostramos que o Espiritismo é a ciência que investiga além da matéria visível e tangível; que é a filosofia que cogita da finalidade do nascimento do homem, e que é, sobretudo, a religião que ensina como a criatura apressar sua volta ao seio do Criador, sem necessidade de ídolos, de cultos e de cerimônias ridículas.

            E agora, que já falamos de Deus, do Espírito, da matéria e dos fluidos, procuraremos sucintamente demonstrar aos apegados à letra, cientistas ou não, a confirmação da nossa Doutrina pelos próprios livros que eles apregoam seguir e consideram sagrados. Não iremos argumentar com os livros do Budismo ou do Islamismo, e, sim, com a Bíblia, pedra sobre a qual assenta o Catolicismo e o Protestantismo, únicas religiões semi oficializadas do mundo ocidental.

            Antes de entrarmos diretamente no assunto, cumpre-nos cientificar-vos que não consideramos o Velho Testamento senão como um livro tradicional, escrito por homens de épocas incultas, cheio, por isso, de incoerências e de verdadeiras aberrações, quando comparado à Doutrina de Amor pregada por N. S. Jesus Cristo; aliás, é S. Paulo que nos comunica, em uma de suas Epístolas, que o Velho Testamento fora abolido pelo Cristo de Deus.

            O clero sabe muito bem que o Velho Testamento é apenas um livro que prestou benefícios em outras eras e que está completamente abolido diante da grandiosidade do Novo Testamento. Servem-se dele, somente quando lhes convém, com a intenção de derrubar os ensinamentos do Espiritismo, usando da má fé habitual dos chicaneiros.

            Assim o Velho Testamento, como Paulo em suas Epístolas, proibiram que os bispos e diáconos fossem solteiros; aquele apóstolo previu, também, o aparecimento da doutrina do demônio, que, mais tarde, desrespeitaria aquela inibição. Moisés proibiu aos sacerdotes vestirem saia e rasparem a cabeça; o clero não ouviu, todavia, as recomendações do Profeta. Entretanto, ao necessitarem combater as comunicações dos Espíritos, citam sempre a autoridade de Moisés, alterando lhe, porém, as palavras e deturpando lhe o pensamento. Moisés jamais negou as comunicações, mesmo porque ele se nos apresentou como médium. Suas palavras foram outras e muito diferentes dessa capciosa interpretação com que nos pretendem atingir. Moisés proclamou a possibilidade das comunicações; só se mostrou contrário, como nós outros, a que as praticassem para adivinhações, encantamentos e feitiçarias, tanto assim que se não referiu aos médiuns, chamados naquela época profetas, mas tão somente aos feiticeiros e adivinhadores.

            Se Moisés houvesse realmente reprochado as comunicações mediúnicas, elas não continuariam a ser exercidas pelos seus discípulos e nem teriam chegado à época atual, em que tanto beneficiam à humanidade.

            No Velho Testamento encontraremos Tobias e Jó, médiuns videntes; Ezequiel e Daniel, audientes, Samuel predizendo a morte de Saul e Joel profetizando a época atual do cultivo da mediunidade.      

            No Novo Testamento, além das muitas passagens que tratam da mediunidade, encontramos Estevão, médium falante, Pedro e outros como curadores, e João com todas as mediunidades. Paulo confirma a mediunidade das quatro filhas de Felipe, e é esse mesmo apóstolo quem nos diz haver curado, de febres e disenteria, o pai de Públio, apenas com a imposição das mãos, ou seja com "passes". E o próprio Jesus advertiu que muitas coisas não poderiam ser ditas por Ele, porque os homens de seu tempo não estavam preparados para recebê-las. Prometeu, porém, que mais tarde viria o Espírito da Verdade, que nos explicaria todas as verdades.

            Como sabeis, falam repetida e claramente nesse dom, a que hoje chamamos mediúnico, não somente a Bíblia das religiões ocidentais, mas ainda os livros sagrados das crenças do Oriente. E o próprio Paulo nos diz ser esse dom distribuído equitativamente: a uns a fé, a outros o dom de curar e a quais a sabedoria; mediunidades que João, reconhecendo-as existentes, recomenda sejam recebidas com a precaução, porém, de examinarmos se o Espírito se origina de Deus, ou melhor, de Espírito que pregue a verdadeira Doutrina de Amor ao Próximo - a Caridade.

            Não aceitamos a criação do mundo em seis dias; tão pouco admitimos que o Criador se sentisse extenuado, obrigando-se, Ele, o Espírito Supremo, às contingências humanas: descansar no sétimo dia, sujeitando-se assim às leis da matéria.

            Admitimos, todavia, que, em obediência às próprias leis de Deus, a Terra foi formada, como constantemente novos mundos aparecem; em seguida, confiada à sábia direção de Jesus que, nessa época, já era Espírito digno da sua confiança.

            Não temos o velho Adão como o primeiro e único habitante do Planeta, porém como chefe de uma das colônias que se salvaram de algum cataclismo, e muito menos supomos que Deus precisasse da ideia e da solicitação de Adão para criar a mulher.

            Se Adão e Eva, com seus filhos, fossem os únicos habitantes da Terra, com quem constituiu família o fratricida Caim? Responde-nos o Velho Testamento asseverando que Caim fora protegido por Deus com um sinal para que o não matassem, casando-se naturalmente em outra colônia. Quem nos diz não terem sido seus descendentes os inquisidores da Idade Média?

            Não aceitamos a anticientífica e inadmissível lenda do fruto proibido, tal como no-la ensinam os vigários, e nem o rendoso dogma do pecado original, que não nos esclarece se o pecado passa de carne a carne ou se de Espírito a Espírito. Pela carne seria um absurdo religioso, pelo Espírito não o é menor, visto que, se pregam os teólogos que Deus cria o Espírito no momento do seu nascimento, a alma do homem não pode, por conseguinte, ser responsabilizada por culpa de um indivíduo que não é seu pai espiritual, nem foi seu criador.

            A Doutrina, que pregamos e provamos experimentalmente com fatos, ensina que a reencarnação tem o fim de fazer a criatura aperfeiçoar-se pelo seu próprio esforço: é a porta para o arrependimento e consequente salvação, não se perdendo, assim, uma única das ovelhas do Pai.

            No Velho Testamento encontraremos Jó falando várias vezes, claramente, nas vidas sucessivas. David nos seus Salmos, o Eclesiastes, Ezequiel, Malaquias, todos falam na reencarnação; e, no Novo Testamento, apesar de não ser ainda chegada a época precisa para tal ensinamento, Jesus, em várias oportunidades, anunciou-a veladamente e nunca a combateu, embora a soubesse acreditada pelos Hebreus, tanto assim que o povo e o próprio Herodes chegaram a supor Jesus o Espírito de João Batista reencarnado.

            A reencarnação, que já é aceita pela maioria das religiões orientais, será muito breve incorporada às ocidentais, e o será porque os fatos continuarão; o povo, que já na sua quase totalidade nela crê, obrigará os apegados à letra a modificarem seus dogmas e suas crenças, como já procederam quanto às interpretações da formação da Terra, ao seu movimento, à localização do inferno e a tantas outras evoluções religiosas. Modificarão, ainda, para aceitá-la, pois que, somente por ela, se pode explicar a causa das desigualdades sociais.

            Compreenderão que pregar a singularidade da existência é ensinar que Deus é injusto, visto que uns nascem com o entendimento que faz discernir o bem do mal, enquanto outros não sabem distingui-los. Mais nefando ainda apresentam o Criador, quando ensinam que Ele deixa as suas inexperientes criaturas, indefesas, entregues à astúcia e à inteligência de um inimigo armipotente e forte como Satanás, cuja vida conta milênios.



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