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Ciência Religião Fanatismo
por MINIMUS (A.
Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Palestra 3 b/e
Da última vez tratamos do Fluido
Universal, demonstrando a possibilidade racional e científica da sua
existência, transformações e transmissões. Procuraremos hoje ampliar, um pouco
mais, o mesmo assunto, dentro do limite dos nossos conhecimentos e do tempo
destinado a uma conferência. Desenvolvê-lo, como seria desejável, é impossível;
mas esperamos continuar a despertar a atenção dos que nos ouvirem, num estudo
extremamente vasto, qual o é o da existência e da transmissão dos Fluidos.
São inúmeros, e dos mais notáveis,
os sábios que principiaram combatendo a Codificação de Allan Kardec e acabaram,
após longos anos de estudos, de observações e do desejo de arrasá-la, por se
render à evidência dos fatos, por se exporem à cólera das Academias e por se
incompatibilizarem com os distribuidores de honrarias oficiais, preferindo
ficar com a consciência, com a honra e com a Verdade.
Lombroso foi um dos gênios que se
prejudicaram. Ele o confessa na sua obra - "Hypnotisme et Spiritisme"
- onde, não recuando diante da verdade, afirma textualmente: - “Depois de ter sido adversário do
Espiritismo, negando-lhe todas as experiências e recusando assistir a elas,
observei fatos psíquicos estranhos, inexplicáveis pelos atuais recursos
científicos."
Aliás, o que disse Lombroso foi
confirmado por Crookes e por uma série de sábios, tendo Lodge classificado o
estudo do Espiritismo como pertencente à região intermediária entre a energia e
a vida - no sentir do grande sábio uma das mais legítimas esperanças da
ciência.
É desculpável o materialismo dos
genros dos séculos XVIII e XIX, em época anterior ao
aparecimento da Terceira Revelação, visto como o Cristianismo lhes era exposto
deturpado e completamente em desacordo com a ciência. Lendo-se as obras dos
sábios daquela época, não
se lhes pode negar a coerência das argumentações. Diderot, a quem Rousseau e
Voltaire rendiam as maiores homenagens, combateu ritos e religiões,
ridicularizou teólogos e padres, procurou demonstrar a superioridade de Satã sobre
o Deus do clero, porém, de outro lado, parecia estar-lhe já latente a Verdade,
quando recomendava só se aceitassem teorias baseadas em experiências.
Se o Espiritismo já tivesse sido
revelado, Diderot seria seu adepto; e isso asseguramos, porque,
em todas as suas obras, sentimos lhe a sinceridade dos gênios e o respeito às
ciências experimentais.
Gustavo Le Bon - o sábio que se
admirou de Lombroso afrontar o mundo acadêmico, declarando-se convicto da
realidade dos fenômenos - termina o seu livro - "A Evolução das Forças"
- com as seguintes palavras: - "Nossa
sonda é ainda muito curta para a imensidade de tais abismos".
Voltaire, Rousseau, Spencer, Büchner
e tantos outros também foram sinceros em suas argumentações
materialistas, pois as religiões lhes apresentavam um Deus humanizado,
vingativo e colérico, cuja realidade tentavam provar com a criação de mistérios
e de interpretações cabalísticas dos Evangelhos.
Desta forma, acastelarem-se os
materialistas em Diderot, Büchner e outras muitas genialidades científicas é
pretenderem renegar a evolução insofismável das ciências. Eles foram realmente
sinceros, mas aos homens da atualidade, que lutam contra fatos tão fartamente
documentados, não se lhes pode chamar senão incoerentes e desleais, porquanto
se baseiam em argumentos reconhecidamente frágeis e já destruídos, no interesse
exclusivo de combater o que não conhecem, não estudaram ou não compreendem.
As grandes concepções são sempre
prejudicadas por esses morcegos, que se escondem da
luz e preferem as trevas para transportar, na sucção do sangue das vítimas, o vírus
da hidrofobia, o gérmen da descrença. A luz elétrica só iluminou Paris, cem anos
depois de Galvani ter demonstrado que as pernas das rãs dançavam. Galvani se
queixava sempre de ser atacado por duas correntes opostas: a dos sábios
acadêmicos e a dos ignorantes presumidos, ou antes pelos morcegos e as suas
vítimas.
Mesmer, ao anunciar a teoria do
magnetismo animal, que eles hoje praticam, foi taxado de charlatão por todas as
Academias do mundo.
Todas as descobertas, todas as
concepções e todas as maravilhas, que hoje nos suavizam a vida, custaram
lágrimas aos gênios que as trouxeram ao mundo, acarretando-lhes o ódio dos
morcegos, desses mesmos notívagos que atualmente procuram lançar a sua baba
peçonhenta sobre o Espiritismo.
Deixemos, entretanto, os morcegos na
sua obra destruidora. Façamos a luz que eles não desejam,
a luz que os afugentará.
A transmissão dos Fluidos, de cuja
existência só agora o mundo científico vem tomando conhecimento, é produzida
por três modos: pelo magnetismo humano, que vem sendo largamente usado pela
medicina oficial; pelo magnetismo espiritual, que é exercido pela transmissão
direta dos Fluidos do Espírito desencarnado sobre o doente; e pelo magnetismo
humano-espiritual, que é a transmissão dos Fluidos do Espírito combinados aos
do médium.
O magnetismo humano, repudiado pelos
acadêmicos de ontem e aceito pelos de hoje sob o rótulo de hipnotismo, já goza
de lugar de destaque, constituindo uma especialidade, ultimamente muito
espalhada - a psiquiatria - termo que, significando medicina da alma, torna a
designação imprópria, visto que eles não creem na positividade do que lhes
origina o nome da profissão. Apesar de observarem que os indivíduos
hipnotizados apresentam muito maior lucidez que no estado normal, e que muitos,
mesmo depois de acordados, ainda obedecem cegamente às ordens recebidas durante
o sono hipnótico, não querem ligar os fatos e nem sobre eles meditar,
preferindo atribuir ao cérebro a faculdade de orientações inteligentes e dar à
matéria o poder de reter e dirigir conhecimentos.
Se o cérebro fosse o órgão do
pensamento e a massa cinzenta o seu laboratório, naturalmente os homens de
cérebros volumosos deveriam ser mais inteligentes, como já foi apregoado; tal,
entretanto, se não verifica, comprovando as estatísticas que a inteligência
nenhuma relação tem com o tamanho do cérebro.
As outras duas variedades de
magnetismo, ambas originárias da mesma Fonte Espiritual, são hoje o que o
Hipnotismo foi para os acadêmicos de ontem: - charlatanismo, feitiçaria,
curandeirismo, exploração.
E como há charlatães que se dizem
espíritas e que anunciam pelos jornais propondo consultas,
concluem que todos são da mesma gavela (Feixe, molho (de ervas, de espigas)), como se fosse
justo classificar a Medicina de charlatanice, por pulularem clínicos não
diplomados, e até diplomados, que aviltam a mais respeitável das profissões
humanas.
E tão nobre concebemos esse
sacerdócio que nos dirigimos sempre aos médicos, suplicando-lhes estudar o que
enunciamos, no desejo de que a humanidade sofredora seja aliviada em seus
padecimentos, e ainda para que essa mediunidade possa melhor ser exercida com a
difusão de aparelhos mais apropriados à transmissão dessa dádiva celeste, cujo
estudo traria o adiantamento da medicina material, que há séculos morosamente
se arrasta.
É uma injustiça que nos fazem suporem-nos
seus concorrentes; e é um engano cuidar que
a decadência pecuniária da medicina oficial seja resultante da nossa prática
caritativa de dar
consultas, remédios e, muitas vezes, o dinheiro necessário à dieta e ao melhor conforto do
doente. Nossa clínica é quase toda composta de desamparados sociais ou de
desenganados da medicina oficial. Socorrendo aos pobres, desobrigamos os
facultativos de doentes que lhes não poderiam pagar. Confortando ou curando os
desenganados, tiramos-lhes, aos médicos, a dor moral de quem não pode sequer
consolar um infeliz a quem desejava salvar.
Tanto isso é verdade que contamos em
nosso seio milhares de médicos entusiastas pelo estudo
dessa medicina fluídica, que foi codificada na França por Kardec, propagada na
Inglaterra por Conan Doyle, na Itália por Bozzano, no Brasil por Bezerra de
Menezes, todos médicos
diplomados, como o são milhares de seus discípulos espalhados pelo globo.
Afirmamos que o homem tem o corpo
visível e o corpo invisível, originários ambos do Fluido
Universal; asseveramos que os fluidos espirituais agem sobre o perispírito do
enfermo e
dele partem para o corpo visível; entretanto, em vez de estudarem o que nos foi
revelado e confirmado
em milhões de doentes, agarram-se na comodidade de um negativismo impróprio de
homens de cultura, tentando explicar os fatos com palavras gregas que nada
provam, criando teorias incompreensíveis, incongruentes e mais sobrenaturais
que as do demônio dos
clericalistas.
Verificam a ação dos anestésicos nos
doentes; e daí concluem que o medicamento agiu sobre
a totalidade da criatura, quando, na realidade, só teve influência na matéria,
adormecendo-a e inibindo-a da perfeita união com o espírito; tanto que há
doentes com tal domínio sobre a alma que se deixam operar sem necessidade de
anestesiantes.
Assoalham que o homem resulta
exclusivamente do espermatozoide, e, com isso supõem comprovar as semelhanças
de raças, de caracteres físicos e doenças; mas não esclarecem o motivo por que
não transmite ele os dons intelectuais, as virtudes ou os vícios do ascendente.
Vemos constantemente pais inteligentes com filhos broncos, e virtuosos com
filhos viciados. Corno conciliarem suas teorias, se o gérmen inicial só
transmite caracteres carnais?! No entanto, aceitando nós a teoria da
transmissão carnal, explicamos as semelhanças e as diferenças de caracteres
morais pela doutrina da reencarnação, pela qual se reúnem, numa mesma família,
espíritos simpatizantes ou espíritos inimigos de vidas anteriores, conforme a
necessidade de progresso de cada um. Preferem os nossos adversários viver na
ignorância dessas questões a ter de admitir a alma, cuja existência combatem
sem se preocupar com os fatos observados, que eles não sabem explicar.
O fenômeno da fagocitose (é o englobamento e
digestão de partículas sólidas e micro organismos por fagócitos ou células
ameboides),
que eles aceitam, não os leva à meditação. Como compreendem a inteligência desses
defensores do nosso organismo, combatendo os inimigos que nos iriam prejudicar!
Como explicam os fenômenos da imunidade sem admitir a existência de uma
inteligência extra material!
Ensina-lhes a Fisiologia que a
temperatura do corpo é mantida pela combustão do carbono e do hidrogênio dos
nossos tecidos. Como explicam os longos jejuns de anos, observados por médicos,
entre os quais poderemos citar o caso da futura "santa" Tereza
Neumann (vide
http://en.wikipedia.org/wiki/Therese_Neumann), que se acha há
alguns anos sob a vigilância de padres e médicos num convento da Baviera!
A nossa teoria do Fluido Universal,
elucidando todas essas questões, não pretende destruir a Fisiologia, antes
deseja faze-la sair do estacionamento em que o orgulho humano a retém.
Como podem explicar, sem a
existência de seres espirituais, fatos e mais fatos, como o da filha do juiz
Edmonds, ex-Presidente do Senado Americano, a qual, em transe, escrevia, na presença
de inúmeras pessoas, mensagens em várias línguas, completamente desconhecidas tanto
da médium como de todos os presentes.
Contradizem ilogicamente todos os
fenômenos espirituais e continuam a repetir velhas e
destruídas teorias de sábios que negavam "a priori", esquecendo ou
fingindo ignorarem que quase
todos os sábios, em cujas argumentações se estribam, acabaram desprezando suas
próprias teorias para aceitar a que o Espiritismo vem sustentando há oitenta
anos, sem alteração de uma vírgula, desde o tempo em que foi apresentada aos
homens para progresso da coletividade.
Confundem-nos com os forjadores de
dogmas e de mistérios, sem notarem que o Espiritismo é a única religião
científica, a única que convida os homens a examinar, estudar e decidir,
sem lhes apresentar mistérios e sem lhes impor crenças absurdas e aberrantes.
Enquanto as demais se fundamentam em teólogos suspeitos, o Espiritismo se
baseia no raciocínio, na lógica e nos fatos, propagando-se com os livros dos
sábios que imparcialmente o examinaram.
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