quarta-feira, 10 de abril de 2013

15. 'Ciência Religião Fanatismo'


15


Ciência   Religião   Fanatismo

por  MINIMUS  (A. Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938

Palestra 3   b/e


            Da última vez tratamos do Fluido Universal, demonstrando a possibilidade racional e científica da sua existência, transformações e transmissões. Procuraremos hoje ampliar, um pouco mais, o mesmo assunto, dentro do limite dos nossos conhecimentos e do tempo destinado a uma conferência. Desenvolvê-lo, como seria desejável, é impossível; mas esperamos continuar a despertar a atenção dos que nos ouvirem, num estudo extremamente vasto, qual o é o da existência e da transmissão dos Fluidos.

            São inúmeros, e dos mais notáveis, os sábios que principiaram combatendo a Codificação de Allan Kardec e acabaram, após longos anos de estudos, de observações e do desejo de arrasá-la, por se render à evidência dos fatos, por se exporem à cólera das Academias e por se incompatibilizarem com os distribuidores de honrarias oficiais, preferindo ficar com a consciência, com a honra e com a Verdade.

            Lombroso foi um dos gênios que se prejudicaram. Ele o confessa na sua obra - "Hypnotisme et Spiritisme" - onde, não recuando diante da verdade, afirma textualmente: - Depois de ter sido adversário do Espiritismo, negando-lhe todas as experiências e recusando assistir a elas, observei fatos psíquicos estranhos, inexplicáveis pelos atuais recursos científicos."

            Aliás, o que disse Lombroso foi confirmado por Crookes e por uma série de sábios, tendo Lodge classificado o estudo do Espiritismo como pertencente à região intermediária entre a energia e a vida - no sentir do grande sábio uma das mais legítimas esperanças da ciência.

            É desculpável o materialismo dos genros dos séculos XVIII e XIX, em época anterior ao aparecimento da Terceira Revelação, visto como o Cristianismo lhes era exposto deturpado e completamente em desacordo com a ciência. Lendo-se as obras dos sábios daquela época, não se lhes pode negar a coerência das argumentações. Diderot, a quem Rousseau e Voltaire rendiam as maiores homenagens, combateu ritos e religiões, ridicularizou teólogos e padres, procurou demonstrar a superioridade de Satã sobre o Deus do clero, porém, de outro lado, parecia estar-lhe já latente a Verdade, quando recomendava só se aceitassem teorias baseadas em experiências.

            Se o Espiritismo já tivesse sido revelado, Diderot seria seu adepto; e isso asseguramos, porque, em todas as suas obras, sentimos lhe a sinceridade dos gênios e o respeito às ciências experimentais.

            Gustavo Le Bon - o sábio que se admirou de Lombroso afrontar o mundo acadêmico, declarando-se convicto da realidade dos fenômenos - termina o seu livro - "A Evolução das Forças" - com as seguintes palavras: - "Nossa sonda é ainda muito curta para a imensidade de tais abismos".

            Voltaire, Rousseau, Spencer, Büchner e tantos outros também foram sinceros em suas argumentações materialistas, pois as religiões lhes apresentavam um Deus humanizado, vingativo e colérico, cuja realidade tentavam provar com a criação de mistérios e de interpretações cabalísticas dos Evangelhos.

            Desta forma, acastelarem-se os materialistas em Diderot, Büchner e outras muitas genialidades científicas é pretenderem renegar a evolução insofismável das ciências. Eles foram realmente sinceros, mas aos homens da atualidade, que lutam contra fatos tão fartamente documentados, não se lhes pode chamar senão incoerentes e desleais, porquanto se baseiam em argumentos reconhecidamente frágeis e já destruídos, no interesse exclusivo de combater o que não conhecem, não estudaram ou não compreendem.

            As grandes concepções são sempre prejudicadas por esses morcegos, que se escondem da luz e preferem as trevas para transportar, na sucção do sangue das vítimas, o vírus da hidrofobia, o gérmen da descrença. A luz elétrica só iluminou Paris, cem anos depois de Galvani ter demonstrado que as pernas das rãs dançavam. Galvani se queixava sempre de ser atacado por duas correntes opostas: a dos sábios acadêmicos e a dos ignorantes presumidos, ou antes pelos morcegos e as suas vítimas.

            Mesmer, ao anunciar a teoria do magnetismo animal, que eles hoje praticam, foi taxado de charlatão por todas as Academias do mundo.

            Todas as descobertas, todas as concepções e todas as maravilhas, que hoje nos suavizam a vida, custaram lágrimas aos gênios que as trouxeram ao mundo, acarretando-lhes o ódio dos morcegos, desses mesmos notívagos que atualmente procuram lançar a sua baba peçonhenta sobre o Espiritismo.

            Deixemos, entretanto, os morcegos na sua obra destruidora. Façamos a luz que eles não desejam, a luz que os afugentará.

            A transmissão dos Fluidos, de cuja existência só agora o mundo científico vem tomando conhecimento, é produzida por três modos: pelo magnetismo humano, que vem sendo largamente usado pela medicina oficial; pelo magnetismo espiritual, que é exercido pela transmissão direta dos Fluidos do Espírito desencarnado sobre o doente; e pelo magnetismo humano-espiritual, que é a transmissão dos Fluidos do Espírito combinados aos do médium.

            O magnetismo humano, repudiado pelos acadêmicos de ontem e aceito pelos de hoje sob o rótulo de hipnotismo, já goza de lugar de destaque, constituindo uma especialidade, ultimamente muito espalhada - a psiquiatria - termo que, significando medicina da alma, torna a designação imprópria, visto que eles não creem na positividade do que lhes origina o nome da profissão. Apesar de observarem que os indivíduos hipnotizados apresentam muito maior lucidez que no estado normal, e que muitos, mesmo depois de acordados, ainda obedecem cegamente às ordens recebidas durante o sono hipnótico, não querem ligar os fatos e nem sobre eles meditar, preferindo atribuir ao cérebro a faculdade de orientações inteligentes e dar à matéria o poder de reter e dirigir conhecimentos.

            Se o cérebro fosse o órgão do pensamento e a massa cinzenta o seu laboratório, naturalmente os homens de cérebros volumosos deveriam ser mais inteligentes, como já foi apregoado; tal, entretanto, se não verifica, comprovando as estatísticas que a inteligência nenhuma relação tem com o tamanho do cérebro.

            As outras duas variedades de magnetismo, ambas originárias da mesma Fonte Espiritual, são hoje o que o Hipnotismo foi para os acadêmicos de ontem: - charlatanismo, feitiçaria, curandeirismo, exploração.

            E como há charlatães que se dizem espíritas e que anunciam pelos jornais propondo consultas, concluem que todos são da mesma gavela (Feixe, molho (de ervas, de espigas)), como se fosse justo classificar a Medicina de charlatanice, por pulularem clínicos não diplomados, e até diplomados, que aviltam a mais respeitável das profissões humanas.

            E tão nobre concebemos esse sacerdócio que nos dirigimos sempre aos médicos, suplicando-lhes estudar o que enunciamos, no desejo de que a humanidade sofredora seja aliviada em seus padecimentos, e ainda para que essa mediunidade possa melhor ser exercida com a difusão de aparelhos mais apropriados à transmissão dessa dádiva celeste, cujo estudo traria o adiantamento da medicina material, que há séculos morosamente se arrasta.

            É uma injustiça que nos fazem suporem-nos seus concorrentes; e é um engano cuidar que a decadência pecuniária da medicina oficial seja resultante da nossa prática caritativa de dar consultas, remédios e, muitas vezes, o dinheiro necessário à dieta e ao melhor conforto do doente. Nossa clínica é quase toda composta de desamparados sociais ou de desenganados da medicina oficial. Socorrendo aos pobres, desobrigamos os facultativos de doentes que lhes não poderiam pagar. Confortando ou curando os desenganados, tiramos-lhes, aos médicos, a dor moral de quem não pode sequer consolar um infeliz a quem desejava salvar.

            Tanto isso é verdade que contamos em nosso seio milhares de médicos entusiastas pelo estudo dessa medicina fluídica, que foi codificada na França por Kardec, propagada na Inglaterra por Conan Doyle, na Itália por Bozzano, no Brasil por Bezerra de Menezes, todos médicos diplomados, como o são milhares de seus discípulos espalhados pelo globo.

            Afirmamos que o homem tem o corpo visível e o corpo invisível, originários ambos do Fluido Universal; asseveramos que os fluidos espirituais agem sobre o perispírito do enfermo e dele partem para o corpo visível; entretanto, em vez de estudarem o que nos foi revelado e confirmado em milhões de doentes, agarram-se na comodidade de um negativismo impróprio de homens de cultura, tentando explicar os fatos com palavras gregas que nada provam, criando teorias incompreensíveis, incongruentes e mais sobrenaturais que as do demônio dos
clericalistas.

            Verificam a ação dos anestésicos nos doentes; e daí concluem que o medicamento agiu sobre a totalidade da criatura, quando, na realidade, só teve influência na matéria, adormecendo-a e inibindo-a da perfeita união com o espírito; tanto que há doentes com tal domínio sobre a alma que se deixam operar sem necessidade de anestesiantes.

            Assoalham que o homem resulta exclusivamente do espermatozoide, e, com isso supõem comprovar as semelhanças de raças, de caracteres físicos e doenças; mas não esclarecem o motivo por que não transmite ele os dons intelectuais, as virtudes ou os vícios do ascendente. Vemos constantemente pais inteligentes com filhos broncos, e virtuosos com filhos viciados. Corno conciliarem suas teorias, se o gérmen inicial só transmite caracteres carnais?! No entanto, aceitando nós a teoria da transmissão carnal, explicamos as semelhanças e as diferenças de caracteres morais pela doutrina da reencarnação, pela qual se reúnem, numa mesma família, espíritos simpatizantes ou espíritos inimigos de vidas anteriores, conforme a necessidade de progresso de cada um. Preferem os nossos adversários viver na ignorância dessas questões a ter de admitir a alma, cuja existência combatem sem se preocupar com os fatos observados, que eles não sabem explicar.

            O fenômeno da fagocitose (é o englobamento e digestão de partículas sólidas e micro organismos por fagócitos ou células ameboides), que eles aceitam, não os leva à meditação. Como compreendem a inteligência desses defensores do nosso organismo, combatendo os inimigos que nos iriam prejudicar! Como explicam os fenômenos da imunidade sem admitir a existência de uma inteligência extra material!

            Ensina-lhes a Fisiologia que a temperatura do corpo é mantida pela combustão do carbono e do hidrogênio dos nossos tecidos. Como explicam os longos jejuns de anos, observados por médicos, entre os quais poderemos citar o caso da futura "santa" Tereza Neumann (vide http://en.wikipedia.org/wiki/Therese_Neumann), que se acha há alguns anos sob a vigilância de padres e médicos num convento da Baviera!

            A nossa teoria do Fluido Universal, elucidando todas essas questões, não pretende destruir a Fisiologia, antes deseja faze-la sair do estacionamento em que o orgulho humano a retém.

            Como podem explicar, sem a existência de seres espirituais, fatos e mais fatos, como o da filha do juiz Edmonds, ex-Presidente do Senado Americano, a qual, em transe, escrevia, na presença de inúmeras pessoas, mensagens em várias línguas, completamente desconhecidas tanto da médium como de todos os presentes.

            Contradizem ilogicamente todos os fenômenos espirituais e continuam a repetir velhas e destruídas teorias de sábios que negavam "a priori", esquecendo ou fingindo ignorarem que quase todos os sábios, em cujas argumentações se estribam, acabaram desprezando suas próprias teorias para aceitar a que o Espiritismo vem sustentando há oitenta anos, sem alteração de uma vírgula, desde o tempo em que foi apresentada aos homens para progresso da coletividade.

            Confundem-nos com os forjadores de dogmas e de mistérios, sem notarem que o Espiritismo é a única religião científica, a única que convida os homens a examinar, estudar e decidir, sem lhes apresentar mistérios e sem lhes impor crenças absurdas e aberrantes. Enquanto as demais se fundamentam em teólogos suspeitos, o Espiritismo se baseia no raciocínio, na lógica e nos fatos, propagando-se com os livros dos sábios que imparcialmente o examinaram.



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