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Didaquê
Espírita
compilação e coordenação
Carlos Lomba
Ed.FEB 1948
CAPÍTULO V
c/d
MORAL ESPÍRITA
178. Tem o homem o direito de coagir a liberdade de consciência?
- Jamais, como também
não tem o direito de estorvar as manifestações do pensamento.
179. Toda e qualquer crença, embora reconhecidamente falsa, é
respeitável?
- Sim, quando é sincera
e conduz à prática do bem. As crenças censuráveis são as que conduzem ao mal.
180. Somos repreensíveis por
escandalizar as crenças daqueles que não pensam como n6s?
- Sem dúvida, pois que
se falta à caridade e atenta-se contra a liberdade de pensar.
181. Deve-se, pelo respeito à liberdade de consciência, deixar que se
propaguem doutrinas perniciosas, ou, então, sem atentar-se contra essa
liberdade, pode-se procurar atrair ao caminho da virtude aqueles que dele se
acham afastados por falsos princípios?
- Certamente que sim;
isso, porém, deve ser somente de acordo com o exemplo de Jesus, isto é, por
meio da doçura e da persuasão, e nunca pela força, pois este último meio seria
pior que a crença daquele a quem se procura convencer. Se é permitido impor
alguma coisa, é o bem e a fraternidade, mas isto deve ser feito pela convicção
e nunca pela violência.
182. Visto todas as doutrinas terem a pretensão de ser, cada qual, a
expressão da verdade, como se pode distinguir a que tem o direito de se
apresentar como tal?
- A melhor doutrina é a
que faz mais homens de bem e menos hipócritas, isto é, a que pratica a lei do
amor e da caridade em sua maior extensão e em sua mais elevada aplicação. Toda
doutrina que produzir, em suas consequências, a desunião e estabelecer uma
demarcação, entre os homens, não pode deixar de ser falsa e perniciosa.
183. Qual a base da justiça fundada na lei natural?
- Cristo o disse:
"Desejai para os outros o que
desejardes para vós mesmos".
184. A necessidade que o homem tem de viver em sociedade impõe
obrigações particulares?
- Sem dúvida. A
primeira de todas, e rigorosamente, é respeitar os direitos de seus
semelhantes. Quem respeitar esses direitos será sempre justo.
185. Qual é o primeiro de todos os direitos naturais do homem?
- O direito da vida.
186. É natural o direito de possuir bens de fortuna?
- Sim; porém, quando
isso é exclusivamente para si, ou para sua única satisfação pessoal, torna-se
então egoísmo.
187. Qual é o caráter da propriedade legítima?
- Somente é legítima a
propriedade que se adquire por meio do trabalho e sem prejuízo de outrem.
188. Como se deve considerar a esmola?
- O homem de bem, que
compreender o que é caridade, vai ao encontro da desgraça sem esperar que lhe
estendam a mão, ou sem olvidar que disse Jesus: “Que a mão esquerda ignore o que dá a direita", pois deste modo
ensinará a não desvirtuar a caridade com o orgulho.
189. Qual é a verdadeira acepção da palavra caridade, tal como a
entendia Jesus?
- Benevolência para com
todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas, eis a
caridade como a ensinava Jesus. O amor e a caridade são o complemento da lei de
justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível. Tal é o sentido
das palavras de Jesus: "Amai-vos uns
aos outros como irmãos".
190. Qual é a mais meritória de todas as virtudes?
- Todas têm o seu
mérito, porém a melhor é a que estiver fundada na caridade mais desinteressada,
tal como o sacrifício voluntário do interesse pessoal ao bem do próximo.
191. A parte certos defeitos e vícios, qual é o sinal mais
característico da imperfeição?
- O interesse pessoal e
o apego às coisas materiais, tal é o sinal notório da inferioridade no homem.
192. Quem faz o bem desinteressadamente, só pelo prazer de ser agradável
a DEUS
e ao próximo, encontra-se já em certo grau de adiantamento?
- Sim, muito mais do
que aquele que faz o bem com reflexão e não por impulso natural do coração.
193. Há culpabilidade em "estudar" os defeitos alheios?
- Se isso se faz para
critica-los ou divulgá-los, há muita culpabilidade; mas, se esse estudo é feito
para evitar cair nos mesmos defeitos, ele pode ser útil, às vezes. É preciso,
porém, não olvidar que a indulgência com os defeitos dos outros é uma parte
importante da caridade.
194. O homem pode, pelos seus esforços, vencer sempre suas más
inclinações?
- Sem dúvida, e às
vezes com pequenos esforços; mas o que lhe falta é vontade.
195. Entre os defeitos e as imperfeições da alma qual é a que pode ser
considerada como principal?
É do egoísmo que provêm
todos os males. Estudando-se as imperfeições em geral, vemos que no fundo de
todas elas reside o egoísmo; ele é incompatível com a justiça, com o amor e a
caridade.
196. Qual é o meio para se destruir o egoísmo?
- O egoísmo diminuirá
com o predomínio da vida moral sobre a material, e ainda mais se desvanecerá
com o conhecimento que o Espiritismo nos dá do nosso futuro, um futuro real e
não desnaturado por ficções alegóricas. Desde que seja bem compreendido e com
ele nos identifiquemos, o Espiritismo transformará os hábitos, os usos e as
relações sociais, pois faz vê-las de tão alto que, até certo ponto, o
sentimento da personalidade desaparece ante a grandeza do conjunto.
197. Quais são os verdadeiros distintivos do homem de bem?
- O verdadeiro homem de
bem é o que pratica a lei da justiça, do amor e da caridade em sua maior
pureza. O verdadeiro homem de bem é aquele que, interrogando sua consciência,
encontra-a livre das más ações, tais como a de ter violado a Lei de DEUS,
ter procedido mal, ter deixado de fazer todo o bem que pode, ter deixado a
alguém motivo de se queixar dele, e, enfim, ter deixado de fazer a outrem tudo
o que quereria que lhe fizessem.
198. Pode o homem, na Terra, gozar a perfeita felicidade?
- Não, mas depende do homem
o dulcificar os seus males e ser tão feliz quanto possível, num mundo de
expiação como a Terra. O mais das vezes o homem é causador da sua própria
desgraça, mas, praticando o bem, evitam-se muitos males e proporciona-se a
maior ventura que é possível nesta grosseira existência. Se queres ser feliz,
sê bom; eis a regra geral para todos. Se sofremos, apesar de cumprirmos com os
nossos deveres, devemo-nos resignar, confiar e esperar, pois DEUS
premiará nossas virtudes e compensará nossos sofrimentos.
199. Existe uma medida comum da felicidade para todos os homens?
- Sem dúvida; na vida
material é a posse do necessário; na vida moral é a consciência limpa e a nossa
fé no futuro.
200. Porque, na sociedade, as classes que sofrem são mais numerosas que as
felizes?
- Ninguém é
completamente feliz: o que se chama felicidade encobre quase sempre grandes
pesares, pois o sofrimento é condição da Terra, visto ela ser um lugar de
expiação de Espíritos atrasados.
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