Frederico Fígner
por Ramiro Gama
in Seareiros da Primeira Hora (ed. ECO)
"Frederico Figner, o intemerato
batalhador da causa espírita, desencarnou no Rio de Janeiro, a 19 de janeiro de
1947, com 81 anos de idade. Israelita de origem, nasceu Figner a
2 de dezembro de 1866, em Milevsko, perto de Tabor, na Tcheco-Eslováquia,
outrora Boêmia.
Aos 13 anos, deixou a casa paterna
para aprender um ofício, na cidade de Bechim. Aos 16 anos, partiu de sua terra
natal, dirigindo-se para Bremerschafen, onde embarcou com destino à América do
Norte. Depois de permanecer algum tempo nos Estados Unidos, México e América
Central, Fígner rumou para a América do Sul, fixando-se definitivamente no
Brasil, onde constituiu família, contraindo matrimônio com a senhora Esther de
Freitas Reys.
Desse consórcio nasceram seis
filhos, três dos quais desencarnaram antes dele. Figner teve casa comercial no
Rio com filial em São Paulo, e no terreno material foi um grande batalhador
pelo progresso, empregando sua incansável atividade em vários ramos do comércio
e da indústria, dando o que de si melhor possuía, conquistando, pela sua
operosidade e cavalheirismo, grande número de amigos e admiradores.
Israelita que era, no lar paterno Fígner
recebeu orientação religiosa oposta à cristã. Todavia, na realidade, Fígner não
professava nenhuma religião. Foi aqui, no Brasil, que ouviu o toque de clarim
que o despertou para as verdades eternas, graças à influência do seu amigo
Pedro Sayão, o qual lhe falava sempre de coisas do espiritismo.
O momento decisivo de sua adesão à
Doutrina dos Espíritos ocorreu por ocasião de uma cura produzida através do
espiritismo, na esposa de um dos seus empregados: Vários outros fatos
alicerçaram mais ainda a sua fé e o levaram a estudar o Espiritismo, por maneira
que, já em 1903 prestava, como espírita, sua colaboração na Federação Espírita
Brasileira.
Novos rumos abriram-se, então, a esse
dedicado servidor do Cristo, que passou a trabalhar com acendrado amor à causa
da caridade, praticando largamente atos de assistência e beneficência social.
Por ocasião da gripe espanhola, em 1918, Fígner manteve 14 doentes no seu
próprio lar, e ele mesmo, sentindo os reflexos da epidemia, passava dias inteiros
na Federação atendendo e socorrendo pessoas que ali chegavam em busca de
medicamentos e recursos.
Fígner foi um colaborador assíduo da
Casa de Ismael, onde despachava de 150 a 200 receitas por dia e distribuía
passes. No terreno da propaganda doutrinária, desenvolveu extraordinária
atividade. Colaborou assiduamente no "Correio da Manhã", onde
mantinha uma coluna espírita.
Custeou a publicação de muitos
livros; viajou para a Inglaterra, onde visitou o "Circle of Crew” em que o
médium Willy Hope obtinha as célebres fotografias de extras; visitou, também
Sir Artur Conan Doyle e vários outros vultos destacados do Espiritismo inglês.
Trouxe ao Brasil o famoso médium
Valentino, realizando sessões em grupos de amigos. Em Belém, capital do Pará,
frequentou as notáveis reuniões de D. Ana Prado, conhecida médium de materializações,
obtendo ali a materialização do espírito de sua filha Raquel, que com ele
conversou horas inteiras, confortando, principalmente, D. Esther, sua mãe, que
vivia acabrunhada com a sua partida para a vida espiritual.
Fígner foi vice-presidente da
Federação e depois membro do Conselho Fiscal até a sua desencarnação. Exerceu o
cargo de tesoureiro da "Comissão pró Livro Espírita". Presidiu vários
grupos na sede da Federação e no seu lar.
Possuía sólidos conhecimentos da
Doutrina e defendia com ardor as obras de Kardec e Roustaing. Era um perfeito
poliglota; falava com segurança línguas eslavas, germânicas e latinas.
Enfim, Frederico Fígner foi um espírita que, pela sua dedicação à doutrina e às
obras de caridade e amor, revelou-se um autêntico missionário, que soube
empregar bem os talentos que o Pai lhe confiara.
Da REVISTA ESPÍRITA DO BRASIL do mês
de fevereiro de 1947, extraímos os conceitos abaixo, que, sobremodo, compõem a
biografia acima do saudoso e querido Fígner:
"Há dez anos mais ou menos,
lançou a ideia de se fundar uma sociedade para unificar os métodos de trabalhos
nas sessões: o "Elo" das sociedades espíritas do Distrito Federal.
As sessões preparatórias foram
presididas por Fígner, na sede da Federação. Formou-se o "Elo", cujo
primeiro presidente foi o Dr. Lins de Vasconcelos, mas a entidade teve vida
efêmera, não chegando a pôr em prática o seu belo programa.
Dois dos companheiros que constituíram
a diretoria do "Elo" já desencarnaram: João Pinto de Souza e Lamounier
Foreis. Outro companheiro que também fez parte do "Elo" foi o Dr. J.
C. Moreira Guimarães. Outro campo de atividade doutrinária em que Fígner se
destacou foi a imprensa, notadamente pelas colunas do "Correio da
Manhã", cuja crônica espírita prestou muito serviço à doutrina. Sustentou
polêmicas com médicos e sacerdotes, tomou atitudes corajosas em defesa do
Espiritismo, apesar de não ter vocação tribunícia. Não era orador; doutrinador,
sim, e dos mais pacientes e amáveis. Eis, em traços muito simples e abreviados,
quem foi Figner o valoroso espírita que há pouco deixou o mundo terreno".
P. S. - Fígner travou notável
polêmica com o padre Dubois, de Belém do Pará, polêmica essa que Fígner
enfeixou num livro intitulado "Frutos da pastoral", largamente distribuído
pela Federação Espírita Brasileira.
O bom
rico
O Jornalista Emiliano Mendonça
contou-nos:
Trabalhava nos Serviços de Pesca,
como Representante dos Pescadores sindicalizados, em Vitória, no Espírito
Santo. Era também o Presidente do Centro Espírita local.
Em 1930, com a ditadura Vargas, teve
de licenciar-se e veio para o Rio, trazendo dos SERVIÇOS um vale, para ser pago
aqui, na Matriz, de dois meses de seus vencimentos.
Tomou um Hotel e dias depois,
compareceu à Repartição indicada para receber seu vale.
Informara-lhe que somente daí a um
mês poderia recebê-lo. Coisas comuns na época...
Ficou apreensivo e dizendo de si
para consigo: e como poderei saldar minha dívida no Hotel e fazer outras
despesas, tanto mais que estou com alguns níqueis no bolso...
E assim dialogando consigo mesmo,
vagou pelas ruas do Rio, à procura de uma saída.
Não conhecia ninguém. Era um
estranho numa cidade que visitava pela primeira vez.
Andou, parou aqui e ali, já se
mostrava desanimado, quando se viu diante da CASA EDISON, de propriedade de
Frederico Fígner.
E refletiu: Fígner era Espírita e
certamente lhe resolveria a situação.
Entrou. Fez-se anunciar e, logo em
seguida, viu-se diante do conhecido e estimado Seareiro, que, sereno,
refletindo simpatia e boa vontade, fê-lo sentar, e, indagando, amável e
bondosamente, da razão de sua visita.
Entre acanhado e surpreso, Emiliano
contou-lhe sua situação, mostrou-lhe o vale e lhe pedia se não era possível
comprá-lo ou, pelo menos, ficar com ele e emprestar-lhe, por conta,
algum dinheiro.
Fígner tomou-lhe o vale, leu-lhe a
quantia e, depois, devolveu-o ao Emiliano. Tirou da gaveta o dinheiro que o
vale representava e o entregou ao querido companheiro.
- Mas, Sr. Fígner, exclamou o
Emiliano, o Sr. entrega-me o dinheiro e fica sem nenhum documento?
- Não faz mal. Você resolverá sua
vida. E, quando receber seus dois meses de vencimentos, vem aqui e
conversaremos.
Tempos depois, Emiliano recebeu o
dinheiro da sua Repartição e compareceu à presença de Fígner para lhe pagar.
- Não, disse-lhe o BOM RICO-ESPÍRITA,
não me deve nada. Ajudei-o apenas. Tenho aqui na gaveta um fundo de reserva
para estas situações. Aceite minha ajuda e eu lha dou
com boa vontade, de irmão para irmão.
Emiliano abraçou-o, sensibilizado.
Partiu. Nunca mais o viu. Mas guardou-lhe o gesto, que lhe refletia o título de
verdadeiro SEAREIRO DA PRIMEIRA HORA. BOM RICO E ESPÍRITA, que sabia ajudar na
hora exata e sem humilhar ninguém.
Que Jesus ilumine cada vez mais o
seu espírito, são os votos que formulamos, ao recordarmos a sua passagem por este
mundo de provas redentoras.
O
livro "Voltei" resolve uma aposta
A prezada irmã Celeste Mata, depois
de uma conferência num determinado Centro da Guanabara, contou ao Jornalista
Emiliano Mendonça o seguinte sobre o nosso querido Fígner:
Apostara ele com um seu íntimo amigo
como o primeiro que desencarnasse viria dar ao que ficou uma prova da sua
imortalidade.
Fígner desencarnou primeiro e o
amigo ficou esperando pela resposta da aposta feita.
Dois anos se passaram.
Uma noite, sonha com o Irmão Fígner
que lhe aponta um livro com o nome VOLTEI.
Acorda e vai à Livraria da Federação
procurar esse livro e o encontra. Lê mas nada compreende, pois é de autoria do
Irmão Jacó.
Dias depois, indaga de um amigo
espírita para que o esclarecesse e o amigo, inteirado da aposta e do sonho, lhe
explica:
- Está tudo certo. O livro VOLTEI é
de autoria do Irmão Fígner, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier. Fígner
desejou apenas se esconder num pseudônimo. Respondeu a aposta, pois veio lhe
mostrar que está mais vivo do que nunca e tanto que voltou, mostrando aos que
ficaram o que lhe sucedeu no Mundo Maior e como que apelando para
todos nós, que ainda vivemos no casulo da carne densa, para persistirmos
servindo e servindo, dando algo de nós, pois somente a caridade assim nos
salvará, dando-nos mérito para gozarmos da Paz do Dever cumprido no mundo da
verdade.
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