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Explicando o que é a indulgência católica
diz monsenhor Martins: "Chama-se
indulgência a distribuição que a Igreja faz dos merecimentos do seu Tesouro aos
católicos, para com esses merecimentos satisfazerem às penas temporais, devidas
aos seus pecados já perdoados, impondo-lhes como uma pequena compensação atos
de religião, caridade, devoção, que não são impostos por preceito algum. Esse
tesouro forma-se dos merecimentos, de que muitos santos, por não precisarem,
não dispuseram para satisfazer às penas temporais; e dos merecimentos da paixão
e morte de Jesus Cristo, que por serem infinitos extraordinariamente excederam
aos que eram necessários para remir os pecados de todo gênero humano."
Para o homem que raciocina, não pode
de certo seduzir semelhante conto.
Para o povo que ainda não tem a razão esclarecida e especialmente para os
criminosos isto é um convite para o crime, pois com a indulgência, por mais
criminoso que seja o individuo, o céu lhe está sempre aberto.
Nenhuma
passagem do Evangelho, entretanto, autoriza semelhante disparate, pelo contrário,
tudo lá demonstra o contrário.
Na
parábola das virgens sensatas e loucas, (Mateus, cap. 25) Jesus ensina que “O
reino dos céus é semelhante a 10 virgens que saíram ao encontro do esposo,
levando cada uma a sua lâmpada. As cinco sensatas encheram-nas de azeite antes
de partir e as cinco loucas não levaram azeite nas suas lâmpadas e, como o
esposo demorou, adormeceram. Quando de repente ouviram gritar que o esposo
vinha, correram a recebe-lo e as loucas pediram às sensatas que lhe dessem do
seu azeite. Mas as sensatas disseram-lhe: para que não aconteça que ele chegue
a faltar a todas, ide e comprai-o. Enquanto as loucas foram compra-lo chegou o
esposo e as que levaram azeite entraram com ele para festejar as bodas e a
porta foi fechada. Quando vieram as outras e chamaram pelo senhor, ele
respondeu-lhes: em verdade vos digo que vos não conheço."
Segundo a interpretação dos espíritos,
Jesus não ensinou o egoísmo e, sim, que este ensino tem em mira prevenir os
homens que não devem ser descuidados e deixar para o último momento a sua
reforma moral, a sua regeneração, porque ninguém sabe a hora que o esposo, o
Senhor, pode vir a proceder a separação dos bons dos maus. Ensinou também que
as virtudes de uns em nada podem aproveitar às maldades dos outros. O azeite,
isto é, o mérito das obras das cinco sensatas só a elas pode aproveitar.
É preciso que cada um encha a sua lâmpada
pelo seu próprio esforço. Aqueles que
confiam nos ensinos da igreja, que descansam sobre os méritos dos santos das
intercessões dos padres, das absolvições, esses encontrarão as portas da sala
do festim fechadas, pois só as obras pessoais podem conseguir que elas se
abram.
Ainda no capitulo 25 de Mateus, Jesus
confirma isso quando diz: Quando vier o Filho do homem na sua majestade, porá
as ovelhas à sua direita e os cabritos à esquerda. Então dirá o rei aos que
estarão à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui o reino que vos está
preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e deste-me de comer;
tive sede, e deste-me de beber; era hóspede, e recolheste-me. Estava nu e cobriste-me;
estava enfermo, e visitaste-me: estava no cárcere, e viestes ver-me.
Então dirá também aos que estarão à
sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, que o não fizestes".
Não é isso monsenhor?
Não demonstram estes versículos que
só as obras praticadas pelo próprio indivíduo são as únicas que têm valor e que
em nada aproveitam as virtudes dos santos aos que não cumpriram os preceitos da
lei e isso mesmo só pelo amor do bem? Como é que se, ensina ao povo que todos
os crimes lhe serão perdoados desde que ele dê esmolas aos santos? Não é uma
heresia?
A própria igreja sem querer
confessa-se no erro ou confessa que as suas missas não passam de uma exploração.
E a prova disso é que o padre
confessa um moribundo, absolve-o, sacramenta-o e por causa das dúvidas e para
arranjar uns cobrinhos para a padroeira da igreja, que tem grandes despesas com
o aluguel ela casa, etc., encomenda-lhe o corpo aos vermes. Portanto, a alma do
freguês partiu com todas as garantias e se não encontrar algum aeroplano no caminho
deve ter chegado ilesa às portas do céu. Não é isso que a igreja promete? Pois bem!!!
No 7º dia o mesmo padre que absolveu, sacramentou e encomendou o freguês, diz a
missa que o deve tirar do purgatório; no 30º dia, repete a mesma e tantas mais,
quantas os parentes mandarem dizer para o mesmo fim.
Ora, claro está que se o freguês
foi, de fato, absolvido e foi para o céu, segundo diz a igreja, a missa não tem
razão de ser, ou então a igreja confessa que a promessa do céu é um conto do
vigário. Não é assim rev. Martins?
11
Haveria ainda muitos pontos a rebater do
livrinho do monsenhor Martins, mas acho que não vale a pena esmiuçá-los.
Também há nele ensinos bons e
salutares; mas estes últimos infelizmente estão envenenados pela peçonha dos
ensinos inventados pela igreja para seus fins egoístas.
Ao monsenhor Martins peço desculpa
por ter como que falado diretamente com ele nesta despretensiosa análise que
fiz, mas este é o meu modo ele escrever.
Afirmo-lhe que no meu coração há uma
lacuna que só será preenchida no dia em que mutuamente nos abraçarmos com
verdadeiro sentimento fraternal, e eu da minha parte peço a Deus que no este
dia não esteja longe.
Não me admira que a igreja pregue a
morte ao espiritismo e às outras crenças, que com ela não comungam, o que me
admira, porém, é que homens inteligentes, homens eruditos, como os há entre o
clero, não vejam os sinais dos tempos e ainda se conservem presos a essa igreja,
que (com tanta desfaçatez) adulterou os ensinos de Jesus.
Admira-me que não vejam, nesta
tremenda guerra, a luta entre o bem e o mal, e não compreendam que, fatalmente,
o bem há de vencer, porque o tempo da escravatura já passou para este planeta,
e o domínio pela espada há de afundar-se neste mar de sangue que o corre nos
campos da velha Europa (1), como já passou também o tempo do domínio das consciências,
pois, se o homem não tivesse o direito de raciocinar, não teria a
responsabilidade dos seus atos. Responsabilidade que Jesus ainda ensinou quando
disse a Pedro: Mete a espada na bainha, porque, quem com ferro fere, com ferro
será ferido", justiça que aparentemente na Terra não se observa, mas que a
despeito disso na Terra se executa.
(1) Não esquecer que esta resposta foi
escrita em 1917.
E executa-se pelas reencarnações nas
quais o homem ignora o seu passado, para deste modo terem mérito as suas obras
Porque mérito nenhum teria o homem se fizesse bem ao seu próximo sabendo que em
uma vida anterior o tinha prejudicado e que o bem, que agora lhe fazia, não era
nem o juro daquilo em que o prejudicou. Mérito não teria o homem do desvelo que
revela pelas suas filhas, se soubesse que em vida anterior foi ele a causa da
sua perdição. No entanto, todos os atos bons que o homem pratica, ignorando o
seu passado, dizem os espíritos e di-lo Paulo, são-lhe levados em conta de
jornal e não em conta de dívida.
E a justiça divina?
Se não existisse a pluralidade de existências,
porque toda essa variedade de dores e sofrimentos físicos e morais da
humanidade?
Teria a dor nascido dos seios
impolutos de uma virgem?
De certo que não, mas é certo, sim,
que ela é a consequência dos desvarios das criaturas, que não quiseram agasalhar
o Evangelho que o Cristo veio não só ensinar mas exemplificar, para que os que
o imitassem se salvassem. E a despeito desta tremenda tragédia do Gólgota, o
homem até hoje só quer viver para os gozos deste mundo, sem cogitar do Cristo
nem dos seus ensinos. Nem vê nesta terrível hecatombe da guerra, sem
precedentes na história, que algo de extraordinário está a suceder, e que os fatos
espíritas, que, como nunca, se avolumam são uma advertência que Deus mais uma
vez, como no tempo de Jonas, manda, chamando a atenção do homem para se emendar
enquanto é tempo.
E Jesus, predizendo as grandes
tribulações pelas quais a humanidade teria de passar, disse: "Na verdade vos digo que não passará esta
geração sem que se cumpram todas estas coisas". (S. Matheus, cap. 24).
Gerações têm sucedido a gerações e
só agora é que surgem as dores preditas por Jesus; e no entanto as palavras
dele não podem deixar de ser a expressão da verdade. E esta verdade vem sendo
explicada pelo Espiritismo.
A geração à qual Jesus falou veio
reencarnando e desencarnando sucessivamente, progrediu nas artes, nas ciências,
em tudo menos na moral que ele exemplificou.
Bem sabia Jesus que as dores seriam
necessárias para que a sua moral pudesse florir na terra.
À mesma geração, antes de virem as
dores, foi enviado o Espiritismo para lhe provar que a verdadeira vida não era
a deste mundo, e sim a vida do além, e que esta da Terra era um meio de a
alcançar definitivamente pela prática da lei divina.
O mundo, porém, não lhe deu ouvidos.
Infelizmente a dor é mesmo necessária.
12
Raios de Sol... Em Eclipse
Recebi um folheto sob o titulo “Raios
de Sol", cuja impressão foi autorizada pelo rev. arcebispo coadjutor.
O autor começa por dizer que o “Espiritismo
é um conjunto de doutrinas errôneas e de práticas misteriosas e más", sem,
no entanto, explicar em que consistem as maldades, a não ser que maldade seja
estragar o negócio dos padres.
Entretanto, nem o ver. coadjutor
parece ignorar a doutrina espírita, nem o autor do folheto, pois este escreve:
"Quanto à doutrina, o
Espiritismo afirma:
1º - "Que há espíritos e almas, e neste ponto estamos
de acordo (graças a Deus);
2º - que estes espíritos, nossas almas existiram
antes do nosso nascimento, talvez desde a eternidade, ou pelo menos algum tempo
antes de nascermos;
3º- que estes espíritos ou almas transmigram de um corpo
para outro e de um para outro astro, purificando-se mais e mais, sendo estas
reencarnações castigos de pecados de que se vão limpando sucessivamente, tornando-se
o seu corpo sempre mais espiritual, até que, a altura tantas só fica o perispírito,
um corpinho tênue com o qual vivem as almas:
4º - as almas ou espíritos podem comunicar
com os habitantes deste mundo sublunar:
5º - (aqui é que o carro pega), que não
há inferno; o inferno ou as penas do pecado são as reencarnações;
6º - tudo que
é graça, sacramentos e religião católica não aproveita nem muito nem pouco,
nada."
E a igreja já provou em tempo algum
o contrário? Quando e onde?
Sendo s. rev, o Sr. coadjutor tão
erudito e conhecedor profundo do Evangelho, peço-lhe que cite um só versículo
do Evangelho, onde Jesus tenha instituído algum dos rituais ou cerimoniais
praticados pela sua igreja.
Não somos só nós que afirmamos que o
ritual, os atos impostos e a maioria dos sacramentos da igreja nada aproveitam
a não ser ao padre. A mesma opinião externou frei Elias Sigismundo de Ias Paderas,
que, renunciando o seu ministério, publicou uma carta, cujo conteúdo produziu
um grande abalo na sociedade portenha e um grande escândalo nas fileiras
clericais argentinas .
Eis a famosa carta do frei Elias,
publicada em vários jornais e revistas de Buenos Aires:
"Convencido do erro em que vivi durante os melhores anos de uma vida inutilizada
pelas práticas de um ministério, que hoje a minha consciência de homem livre
repugna, resolvi retirar-me definitivamente do sacerdócio.
Ao
deixar de ser, por minha própria vontade, ministro da igreja, julgo cumprir um
sagrado dever, tornando públicos os motivos que tive para adotar uma resolução
que é irrevogável.
Reconheço
que há um Deus, porém, entre a divindade e o homem, interpõe-se o padre com o
fim de ridicularizar o primeiro e explorar o segundo.
O
Evangelho, tal qual o predicaram os discípulos de Cristo, é uma obra admirável;
porém, a teologia encerra uma doutrina diametralmente oposta ao Evangelho e
seus absurdos dogmas são interpretados por sacerdotes que, conhecendo as máximas
do Filho de Deus, entregam-se a um luxo indigno da humildade de Cristo.
A
moral eclesiástica tem por base a hipocrisia, a liturgia é uma infame comédia.
A
dominação da sociedade civil pelo Syllabus, que é a negação de toda a liberdade
individual, e pela confissão, que é a farsa mais iníqua, a arma mais temível e
que torna o padre depositário da honra das famílias - é uma dominação que
precisa ser abolida em beneficio da dignidade humana.
Tudo
em vós, ó padres, é mentira e hipocrisia; explorais, em proveito próprio, a credibilidade
das multidões; acumulais os bens deste mundo, oferecendo aos incautos a
felicidade no outro.
Só
vejo em vós, ó sinistros filhos do erro, a avareza, o luxo indecente e nos
conventos, uma imoralidade sem limites que revolta as consciências.
Em vista do exposto, renuncio ao meu ministério,
e, ao abjurar os meus erros, quero dedicar-me ao trabalho honrado e recuperar,
pelo exemplo, o tempo que perdi ocupando-me de uma religião que é a negação mais
audaz e funesta da liberdade humana."
Nunca tive coragem de dizer as
verdades com a energia com que as diz o valoroso frei Elias: Que Jesus o
ampare.
Continuando a leitura dos "Raios
de Sol", a que me referi no artigo anterior, deparei com o seguinte período,
que naturalmente também foi lido por s. ver. visto que o folheto tem o seu “imprimatur”
(Publique-se) .
Diz o folheto: Além disso, o
afirmar-se que as nossas almas têm além do corpo carnal um invólucro sutil a
que chamam perispírito, com o qual se nos apresentam e aparecem é uma ridicularia
sem sombra de fundamentos". É boa, Sr. coadjutor.
Então as almas ou espíritos são incorpóreos?
Se são incorpóreos e vão, como v. rev. faz constar, para o inferno, que é que aí
se queima? Que classe de fogo é este que queima almas incorpóreas'? Certamente v.
rev. está gracejando, pois ignorará o que as sumidades
da primitiva igreja
escreveram sobre o corpo fluídico, etéreo, dos espíritos?
Com licença. Vou refrescar lhe a memória.
Tertuliano,
padre da igreja, em 196, declara que a corporatura da alma é afirmada pelos
Evangelhos: "Corporalitas animae in
ipso Evangelio relucescit", porque - acrescenta ele - se a alma não
tivesse um corpo, "a imagem da alma não teria a imagem do corpo"
(Tratado De Anima, caps. 7-9, edição 1657, pag. 8).
São Basilio, no seu Liber de Spiritu
Sancto, cap, 16, edic. benedict. de 1730, t. 3, pag. 32, fala do corpo
espiritual da mesma forma que Tertuliano.
São Gregório, São Cirilo de
Alexandria e São Ambrósio também aceitavam e ensinavam a mesma doutrina. Assim
São Ambrósio ensina:
"Não se suponha que ser algum
seja isento de matéria em sua composição, excetuando unicamente a substância da
adorável Trindade"'-' (Abraham, liv. 2, parágrafo 58, edic. nenedic.1686,
t. I, col. 338).
São Cirilo de Jerusalém diz: "O
nome espírito é um nome genérico e comum: tudo o que não possui um corpo pesado
e denso é de um modo geral denominado espírito ". (Catechese, cap. 16,
edic. 1720, pags. 251-252) .
Em outras passagens attribui São Cirilo,
quer aos anjos, quer às almas dos mortos, corpos mais sutis que o corpo
terrestre. (Veja cap. 12, parag. 14, cap. 18, parag. 19, obra citada).
Evodio, bispo de Uzala, escrevendo a
S. Agostinho, em 414, indagando a respeito da natureza e a causa das aparições
de que lhe dá muitos exemplos, diz:
"Quando
a alma abandona este corpo grosseiro e terrestre não permanece a substância incorpórea
unida a algum outro corpo, não composto dos quatro elementos como este, porém,
mais sutil, e que participa da natureza do ar e do éter?” E termina a sua carta da seguinte forma: "Acredito, portanto, que a alma não poderia
existir sem corpo algum". (Obras São Agostinho, edic. benedict. de
1679, t. 2, carta 158).
E S. Bernardo, que talvez não tenha
atingido ao saber do nobre coadjutor, diz: Atribuiremos, pois, com toda a
segurança unicamente a Deus a verdadeira incorporeidade, assim como a
verdadeira imortalidade, porque, único entre os espíritos, ultrapassa toda a
natureza corporal, o suficiente para não ter necessidade do concurso de corpo
algum para qualquer trabalho pois que só a sua vontade espiritual, quando a
exerce, tudo lhe permite fazer". (Sermo VI in Cantica, edic. Mabillon,
t.I, col. 1277).
S.
João de Tessalônica resume nestes termos a questão, em sua declaração ao
segundo concilio de Niceia (787), o qual adotou aí suas opiniões.
"Sobre os anjos, os arcanjos e
as potências, - acrescentarei também - sobre
as almas, a Igreja decide que esses seres são na verdade espirituais, mas
não completamente privados de corpo, ao contrário, dotados de um corpo "tênue
aéreo ou ígneo". Sabemos que assim tem entendido muitos santos padres,
entre os quais Basílio, cognominado o grande, o bem aventurado Atánasio e Metódio
e os que ao lado deles são colocados. Não há senão Deus, unicamente, que seja
incorpóreo e sem forma. Quanto às criaturas espirituais, não são de modo algum
incorpóreas". História Universa! da
Igreja Católica, pelo abade Rohrbacher, doutor em teologia, tomo XI, págs. 209
e 210) .
Se, pois, o conhecimento do corpo
fluídico, do períspirito não fosse uma lei da natureza já muito conhecida dos
antigos, era o caso de dizer que ele é uma descoberta dos primitivos santos
padres, dos verdadeiros sucessores dos apóstolos. Aliás, Paulo foi o primeiro
dos apóstolos que escreveu sobre os corpos celestes e corpos terrestres.
Como teria podido Santo Antônio
defender o seu pai em Pádua, quando, ao mesmo tempo, pregava na Espanha, se não
tivesse um perispírito que se pudesse materializar?
E, s. rev, o Sr. coadjutor ignoraria
mesmo o que era moeda corrente com os primeiros padres da igreja? Ou será
porque o Espiritismo vem de reafirmar esta verdade que ela nega? Aqui esperamos a sua explicação.
Prosseguindo na leitura do folheto
"Raios do Sol" que o Sr. arcebispo coadjutor mandou publicar, topei
com o seguinte período que parece ser caçoada de s. rev., pois é incrível que s.
rev. ignore os ensinos evangélicos do Cristo, dizendo:
"Isto
da preexistência das nossas almas, da reencarnação e das transmigrações de um para
outro planeta é tudo imaginação, devaneio de cérebros desequilibrados,
destituídos de todo fundamento...
Mas
então o Sr. coadjutor ignora que Jesus ensinou a Nicodemos sem que este o
interrogasse: "Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o reino de
Deus, senão aquele que renascer de novo ", Ao que Nicodemos respondeu:
"Como pode um homem nascer sendo velho? Por ventura pode tornar a entrar
no ventre de sua mãe e nascer outra vez?" Jesus deixando persistir a ideia
da reencarnação na mente de Nicodemos disse: "Não te maravilhes de eu te
dizer: Importa-vos nascer outra vez". Ao ouvir esta declaração formal dos lábios
do Mestre, perguntou Nicodemos: "Como se pode isto dar? Jesus lhe
respondeu: Tu, és mestre em Israel e ignoras estas coisas?" (João, Cap.3).
E eu pergunto: O Sr. arcebispo
coadjutor também ignora estas coisas sendo mestre em teologia católica, apostólica,
romana? Não sabe que a Cabala judaica afirma que as almas combinam, antes de
encarnar, de se encontrarem aqui para juntas, unidas em matrimônio, progredirem,
sendo esta a razão porque Jesus censurou Nicodemos, que considerando-se mestre
ignorava este ensino?
Ignorará que Jesus falando de João
Baptista disse: “É este o Elias que havia de vir" (Mt., 11 :14)
referindo-se ao penúltimo versículo do Antigo Testamento, no qual está anunciada
a volta do profeta Elias, aliás, esperado pelos judeus?
Leia o Sr. coadjutor o que disse
monsenhor L. Passavalli, arcebispo vigário da basílica de S. Pedro em Roma: “Do
meu espírito desapareceram para sempre as dificuldades que me perturbavam
quando Estanislau, "de santa memória" (monsenhor Estanislau
Pialowsky, morto em Cracóvia a 18 de janeiro de 1885), a cujo espírito atribuo
em grande parte esta nova luz que me ilumina, me anunciava, pela primeira vez,
- a doutrina da pluralidade das vidas do homem, Sinto-me feliz por haver podido
verificar o efeito salutar dessa verdade sobre a alma de meu irmão",
Ignorará também que "no século
XV o cardeal Nicolau de Cusa sustentou em pleno Vaticano, a teoria da
pluralidade das existências da alma e dos mundos habitados, não só com assentimento,
mas com os aplausos sucessivos de dois papas, Eugenio IV e Nicolau V? (ver Meditações sobre a lei do progresso; a Estatística
moral e a verdade religiosa, pelo
coronel Dusaert - Paris, Didier
1892), E agora?
Não seria melhor que o meu irmão d.
Sebastião Leme estudasse e proclamasse estas verdades, para que os ensinos do Cristo
penetrassem nos corações do povo do que perder o seu tempo em querer erigir a
estátua ao Cristo Redentor só para satisfazer uma vaidade humana e talvez a sua
nomeação, já de si certa, para cardeal?
Os mil e quinhentos contos que s.
rev. calcula custará a estátua, não seriam mais bem aplicados dando instrução às
crianças desamparadas? Não seria isto mais agradável a Jesus? Será a doutrina
Salvadora do Cristo mais respeitada pelos que hoje pugnam em lhe erigir esse
monumento? Eis as perguntas que nos vem à
mente.
O único fim dessa empreitada é fazer
o povo imaginar que os seus taumaturgos são cristãos quando a verdade é justamente
o contrário.
Explora-se a vaidade, prometendo d.
Sebastião "que o nome de todo doador de quantia superior a 9$900 será
publicada, o seu nome constará no livro de ouro e as fórmulas e papéis em que
os contribuintes subscreveram a sua quota e assinatura serão guardados "in
perpetum" dentro da capela do monumento " E os menos aquinhoado dos
bens terrenos cuja espórtula por força das circunstâncias é pequena, estes nada
merecem. E no fim, o clero terá mais uma
capela onde possa ridicularizar Deus e explorar os homens, como disse o Jesuíta
Frei Elias Sigismundo de Ias Praderas, ao publicar em "La Nacion' de
Buenos Aires a sua renúncia.
O Cristo, lavando os pés sujos do pó
da estrada dos apóstolos, ensinou que a maior das virtudes é a humildade e a igreja
estimula o orgulho e a vaidade para continuar dominando as consciências.
E
nós, que por graça de Jesus, procuramos seguir outro rumo, que aceitamos os
ensinos dos espíritos e os publicamos com o único fim de ser úteis ao nosso próximo,
somos os hereges, os confabuladores com o demônio.
E
d. Sebastião não se lembra que um dia terá de prestar contas quando transpuser
o limiar do infinito?
13 CRÔNICA ESPIRITA
Escrevem-me vários confrades, enviando
artigos em que o clero católico procura provar a seus fieis que a transmissão do
pensamento e o espiritismo são obra do pobre demônio, e pedem-me para responde-los
pelas colunas do "Correio".
Supõem que eu seja uma espécie de malho e que com
os meus insulsos artigos devo dar cabo da igreja católica e colocar o
espiritismo à altura de um princípio.
Não é este o fim dos meus escritos.
Se escrevi contra os ensinos católicos foi tão somente por ter sido a isso
provocado.
A nós, espíritas, cabe um papel
diferente do que muitos pensam.
Se
nos foi concedida a esmola da luz, que irradia na Nova Revelação, cabe-nos o
dever de, em primeiro lugar, antes de querer converter os outros, dar batalha
às nossas próprias imperfeições de modo que que os nossos atos sejam uma prova
da grandeza e proficuidade da nossa doutrina.
Ao espírita cabe ser apontado como o
cumpridor do seu dever em todas as circunstâncias em que agir na vida terrena.
Cumpre-nos
o estudo assíduo do Evangelho e a prática do Evangelho dos ensinos de Jesus,
pois é no Evangelho que vamos buscar as forças e a coragem necessárias para
podermos ser dignos convivas do banquete divino a que por misericórdia fomos
convidados.
Para converter a quem quer que seja,
Jesus não precisa de nós, porque assim como nos convertemos, quando chegar a
sua hora se converterão os que estiverem maduros para isso. O que se exige de
nós é a nossa própria conversão do modo que nenhum de nós possa ser apontado como
indigno da doutrina que esposamos.
Poder tem Deus para das pedras dar
filhos a Abraão, e assim também quando ela for desnecessária ela desaparecerá
porque nada é inútil neste mundo. Ela deu o seu fruto e este não foi maior por
não ter o clero sabido aproveitar as graças que sobre ele tem baixado.
Não
nos cabe o papel de demolidores de crenças de ninguém pois estas já foram demolidas
pela própria igreja e pelas escolas materialistas. É nos destroços, no meio dos
descrentes, que devemos procurar o material necessário para a reconstrução da
verdadeira igreja do Cristo.
Na "La Revue Spirite" de agosto
(1) encontra-se uma carta de Allan Kardec, da qual transcrevo uns períodos que
mostram ser este o ponto de vista do mestre.
(1) 1911
"O espiritismo não tem que se preocupar
do poder temporal; se este sucumbir será por causas que em si encerra e que o
minam desde muito tempo, mas não pelos feitos do espiritismo, ao qual a
existência ou não existência deste poder muito pouco importa. Ele vem preencher as lacunas deixadas entre as
crenças pela religião e não sobrepor-se à religião. Marchando sobre o terreno
que a religião deixa livre, o espiritismo não tem maior interesse em combater
ou defender o poder temporal.
Encarando
a questão religiosa dum ponto de vista geral, o espiritismo emite os seus princípios,
dentro dos quais cada qual está livre de tirar as consequências que lhe convém,
sem que tenha necessidade de se imiscuir na consciência de quem quer que seja.
Seu fim é dar a fé àqueles que a não possuem, e não tira-la daqueles que a têm.
Daí não ter desviado dele qualquer religião os seus adeptos; os que vêm a ele,
vem livre e voluntariamente, unicamente porque encontram nele aquilo que não
encontraram alhures.
Que os adversários do espiritismo deem
tanto ou melhor do que ele, e eles nada terão a temer."
Sigamos pois os conselhos do mestre;
não procuremos convencer a ninguém, e se formos procurados, mostremos então a
satisfação que as nossas convicções nos proporcionam e deixemos ao livre
arbítrio deles a escolha da religião que lhes convenha, certos de que, se ela há
de ser a nossa, eles estudarão os livros de Kardec, Roustaing, Bezerra e
outros, que lhes mostrarão o caminho. E os fatos se encarregarão de lhes dar a
prova provada da verdade.
14
No intuito de esclarecer o público
sensato sobre o valor das sessões espiritas, orientadas no verdadeiro critério
doutrinário, aqui transcrevo mais uma mensagem recebida na Federação Espírita
Brasileira e que nos parece ser de plena atualidade.
"Vem a propósito e com todo o cabimento o estudo de hoje - a parábola
das virgens loucas.
Ele
vale, certamente, por uma advertência salutar a quantos se propuseram a empunhar
o facho da Verdade, dessa Verdade que tem de ser dita nas praças públicas e do
cimo dos telhados.
Como,
entretanto, poderão abrir a boca para proferi-la, aqueles que não houverem
agasalhado no seio todos os sentimentos que os tornem capazes ele o fazer?
Já
se tem dito que o momento não é de palavras mas de fatos, e fatos que atestem a
envergadura do crente, que provém ser ele o portador de uma Verdade nova, que há
de fazer, fatalmente, a felicidade do homem não só aí, na Terra, como aqui, na
espiritualidade.
O
estado anárquico, revolucionário, no qual vive subvertida a humanidade do
presente, em que todos os princípios de direito e de justiça foram esmagados
pela brutalidade do homem, a ponto de não trepidar no sacrifício de seus
irmãos, fazendo jorrar caudais de sangue - esse estado não pode perdurar e o
momento se aproxima da derrocada geral desse carcomido edifício a que se acolhem
as hodiernas sociedades, para dar lugar ao ressurgir da nova era de luz que projete
sobre a humanidade novos conhecimentos e lhe faça compreender que um só caminho
se lhe abre para Deus - o respeito absoluto a Ele, de par com o cultivo do amor
ao próximo.
Não
há negar que, empenhados na continuação dessa anomalia, grande número de espíritos
está agindo de concerto com os homens, que em seu coração não quiseram ou não
souberam dar guarida aos sentimentos de amor e caridade:
Ai
deles, porém, aí desses tais, que estão procurando alimentar o fogo no intuito
de satisfazerem integralmente desejos de ambição e vaidade!
Dia
virá em que terão de fugir zurzidos pelo remorso, tendo estereotipada antes os
olhos pávidos, a hediondez da própria obra.
Deus
na sua infinita misericórdia espalha sentinelas por toda parte. Elas, desveladamente,
assistem o evolver dos acontecimentos e com relação a esse torrão que se chama
Brasil, ou antes, bem denominada Terra de Santa Cruz, sobre a qual o anjo Ismael
exerce amorosa, contínua vigilância – parece poder-se dizer que a caudal de
sangue que tinge de sangue os campos da velha Europa, dificilmente chegará.
Não
obstante é mister, é imprescindível mesmo, que vós espíritas deis a todo
momento a prova da Fé, fazendo brotar de vossos corações não as fezes que
porventura ainda contenham, mas todos os sentimentos ele piedade, carinho,
humildade e perdão.
Nas
grandes assembleias dos inimigos da luz, daqueles que sistematicamente supõem guerrear
o Cristo e votaram guerra de morte ao seu Evangelho, trama-se contra o vosso
sossego. O ódio desses tais não tem limites; tudo para eles é pretexto para a execução
de planos diabólicos.
E
a verdade é que, infelizmente, uma grande parte da humanidade terrena está afim
com aqueles sentimentos. Certo, as sentinelas velam, mas é necessário que cada
um de vós por si vele também. Qualquer desfalecimento poderá dar lugar a
consequências graves; e assim importa que a fé predomine em vosso espírito.
Essa
fé vós já sabeis a maneira de adquiri-la. Importa terdes firmeza nas vossas
convicções, já que tendes de ser duramente experimentados.
Esteja
a vossa consciência de acordo com a moral do Cristo e eu vos asseguro que a
assistência dos vossos guias será constante. Com o Evangelho na mão, procurando
a todo o instante exemplificar os ensinamentos nele contidos, eis, caros
amigos, o maior de todos os deveres a cumprir no momento difícil e perigoso que
a humanidade atravessa.
Tende
cuidado com as provocações que vos hão de surgir pela frente; não vos
intimideis, antes conservas toda a serenidade de espirito para serdes
inconfundíveis. Toda a calma, toda a prudência é pouca, neste momento. Jesus,
do alto da sua morada baixará sobre os discípulos diligentes a sua luz
repassada de amor e caridade.
(assinado) Bittencourt
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