5
Pensando ter demonstrado a divindade
da sua igreja, monsenhor Martins, entrando nas lógicas consequências que daí
advêm, diz:
"Todo aquele que conhece a
religião católica, se não procurar a ela
pertencer, será um criminoso perante Deus e com toda certeza não poderá
salvar-se". (Então estou perdido, mas antes só do que mal acompanhado). E
continua: "Todos os que pertencem à igreja católica devem firmemente
acreditar (se
puderem) em todos os seus
ensinos, mesmo em relação aos mais profundos e impenetráveis mistérios, mesmo
que eles lhes pareçam absurdos, porque se ela em um só ponto ensinasse o erro,
não seria mais divina."
Vejamos esses dois pontos.
O Monsenhor não ignora que cada
criatura pensa como pode e não como quer. Eu, por exemplo, nasci judeu,
criei-me na religião israelita, e como os judeus eram o povo perseguido pelos
católicos no tempo da minha juventude, naturalmente cresci com aversão à igreja
católica, a qual era a instigadora dessas perseguições. Não conhecia a sua
religião, e como o meu espírito nunca achou prazer em assistir a festas
pomposas, não foi atraído pelas procissões carnavalescas da sua igreja nem
pelas festas às nossas senhoras onde
o povo se embriaga, onde se adora o deus
mamon e onde as criaturas vão levar
promessas de bonecos, pernas, braços e velas de cera à igreja, para ela, pelas
costas do freguês, as mandar logo de novo vender.
Naturalmente, ao contato do mundo,
cheguei a conhecer muitos dos atos e dogmas da igreja, e agora pelo seu
livrinho fui esclarecido sobre aquilo que ainda ignorava. E, com toda franqueza
lhe digo: prefiro ficar um criminoso
perante Deus, a mentir à minha
consciência.
No entanto, um milagre operou-se em
mim, produzido por esse mesmo Jesus a quem neguei e a quem a igreja invoca sem
nele crer. Por causa de um diagnóstico e um prognostico sobre uma senhora
doente em S. Paulo, a quem o médium daqui não podia conhecer e a qual foi por
ele curada, li as obras de Allan Kardec e tornei-me um sincero adepto do
Espiritismo, um crente e venerador do Cristo e da Virgem, porém dos espíritos e
não das imagens que a igreja explora em proveito dos seus sacerdotes.
Quanto ao segundo ponto, já pela
boca de Moisés o Senhor proibiu a adoração das imagens. E a igreja diz que
baseia a sua divindade no Velho e Novo Testamento! Moisés recebeu o mandamento:
Não vos virareis para os ídolos, nem fareis para vós deuses de fundição: Eu sou
o Senhor vosso Deus". (Lev. cap.19, v. 4) e, "Não fareis para vós
ídolos, nem vos levantareis imagens de escultura, nem estátua, nem poreis pedra
figurada na vossa terra para inclinar-vos a ela: porque Eu sou o Senhor vosso
Deus". (Lev. cap. 26, v. 1). Nos Salmos diz David: "Confundidos sejam
todos os que servem imagens de escultura, que se gloriam de ídolos" (Salmos
97, v. 7). No Evangelho ensina Jesus: "Deus é espírito e importa que os
que o adoram o adorem em espirito e verdade" (João, cap. 4, v. 23, 24).
Logo, as imagens são proibidas tanto
por Moisés, David e outros profetas - como pelo Cristo, e para cúmulo de
desfaçatez; a igreja pinta um velho barbado sobre o altar-mor, representando
Deus! E assim segue os preceitos sagrados!
Depois vêm as indulgências. O Monsenhor
por acaso pode mostrar-me nas escrituras uma só passagem sobre as quais elas se
possam basear?
Jesus claramente disse: "A cada
um será dado segundo as suas obras". "Quem com ferro fere com ferro
será ferido". "Não sairás do cárcere sem pagar o último centil."
No entanto Roma vendia bulas a
todos, e de acordo com as posses do freguês! Agora, não; mas em quanto tinha
debaixo de seu guante os monarcas da idade média, um assassino, foragido da sua
aldeia com medo das autoridades, ia ao primeiro convento que encontrava e
comprava uma indulgência, a qual além de lhe servir de salvo-conduto, o
absolvia do crime e ainda lhe dava o direito ao reino dos céus. Não é isso,
monsenhor? Semelhantes traficantes podem estar com Jesus? Não foram as bulas
que deram lugar à cisão na igreja e deram nascimento ao Calvinismo e ao
Luteranismo?
Não são já dois pontos e não somente
um, em que está demonstrado que a igreja está ensinando o erro? Confesse
monsenhor que os dias da besta do Apocalipse estão contados!
6
Prosseguindo, diz monsenhor Martins no
seu livrinho: Na nova lei que é o complemento da “antiga" Jesus Cristo
elevou o preceito antigo sobre a confissão a categoria de sacramento.
Peço licença para o contradizer
ainda nesta sua asserção, pois em nenhum versículo do Evangelho dos referentes
às palavras pronunciadas por Jesus se encontra uma só palavra que trate da confissão. Portanto, mais uma vez
monsenhor deturpou a verdade. Não acha?
Mais adiante, monsenhor diz:
"Jesus deu aos sacerdotes o direito e o poder de, em seu nome e pela sua autorização,
conceder ou negar o perdão, Essa importantíssima verdade acha-se claramente
exarada no Evangelho. Depois da sua gloriosa ressurreição Jesus Cristo aparecendo
aos seus apóstolos, disse-lhes: Recebei o Espírito Santo; e aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e aqueles a quem não perdoardes,
não lhes serão perdoados.”
Estas foram de fato as palavras de
Jesus aos apóstolos. Mas, quem eram os apóstolos? Espíritos da escol celeste
que baixaram com Jesus, para o acompanhar na sua missão. Espíritos que resistiram
a todas as tentações do mundo que davam de graça as misericórdias que por seu
intermédio o Senhor distribuía; que nunca se deixaram seduzir pelos bens
terrenos; que de acordo com os preceitos de Jesus, praticaram todas as maravilhosas
curas que Jesus praticou. Inspirados pelo Espírito Santo (os espíritos
superiores) eles estavam aptos para conhecer o íntimo das criaturas que os
procuravam. Não é isso o que o Evangelho diz, monsenhor?
Não
é uma história edificante a dos Atos dos Apóstolos? Como eles se indignaram,
rasgando as túnicas, quando o povo os quis adorar! Quais os atos do clero
romano para merecer a assistência desse Espírito Santo que assistia e inspirava
os apóstolos? Será o de deixar os crentes ajoelharem diante deles e beijar-lhes
as mãos? Serão as presumidas graças negociadas pela igreja? Qual é a sua obra?
Com licença do monsenhor, vou
mostrar-lhe uma delas. A igreja prega e monsenhor mesmo ensina que: "Com a
confissão feita ao sacerdote basta a contrição imperfeita para conseguir o
perdão dos pecados mortais." "O simples fato, de depois outra vez
cometer o pecado, não prova falta de sinceridade, nem na contrição, nem no propósito."
Ganham cada vez 300 dias, e recitando-a diariamente durante um mês uma indulgência
plenária os que recitarem a seguinte oração: Eternamente e além seja louvado, etc.
etc."
Nada mais barato!
Ouvindo o povo desde criança estes
ensinos hipócritas, naturalmente chega à conclusão que são eles verdade. E quais
os resultados? Os dirigentes dos povos, estando uns criados na religião católica,
e outros na protestante que ensina "Crê em Jesus e serás salvo", desencadearam
esta tremenda guerra sobre mundo, certos de que, dizendo que creem em Jesus uns, e, confessando-se mesmo
com uma contrição imperfeitíssima outros,
perdoados lhes seriam os seus pecados.
Eis a obra das igrejas!!!
Mas, Deus, que vela pelas suas criaturas,
e que "não quer a perda de nenhum dos seus filhos, e sim que eles se
convertam", permite, devido à maldade deles, que o fogo desça sobre eles
para os purificar. Mas "ai daquele por quem vier o escândalo", disse
Jesus. Para a igreja está prestes a descer a profecia do Apocalipse exarada no
Cap. 17 e 18. Com a queda das dinastias,
que com a besta (Cap. 13) se conspurcavam está a suceder-lhe o que o Senhor diz
a João, no sonho apocalíptico: “Porque os seus pecados já se acumularam até ao céu,
e Deus se lembrou das iniquidades dela. Tornai-lhe como ela vos tem dado, e
duplicai lhe em dobro conforme as suas obras: No cálice que ela vos deu de
beber, dai a ela o dobro".
A besta tem o numero 666. (Apocalipse,
cap. 13).
Os títulos que o papa usa são os
seguintes: Dux Cleri, Vicarius Filii Dei e Vicarius Generalis Dei in Terris.
Ora veja monsenhor Martins o
resultado, tirando-se as letras sem valor numérico e somando-se os números.
Dux Cleri: D-500, U-5, X-10, C-100,
L-50, I-1, total 666.
Vicarius Filii Dei: V-5, I-1, C-l00,
I-1, U-5, I-1, L-50, I-1, I-1, D-500, I-1, total 666.
Vicarius Generalis dei in Terris:
V-5, I-1, C-100, I-1, U-5, L-50, I-1, D-500, I-1, I-1, I-1,
total 666.
Serão estes números também a prova
da santidade da igreja?
Imaginem-se apenas os crimes da
inquisição, fora os que praticaram aqueles que foram mal aconselhados pela igreja
e pelos quais ela também é responsável; como não será amargo o cálice que a igreja
terá a sorver.
Que o Senhor tenha misericórdia da igreja!
7
Diz ainda o monsenhor Martins:
“A igreja proíbe de ler livros,
jornais, revistas que contém doutrina, exemplos, comentários adversos à sua
doutrina. "
Isto apenas demonstra o medo que a igreja
tem de serem os seus adeptos esclarecidos sobre os erros que ela ensina e assim
deixem de encher continuamente as suas arcas com o produto das promessas,
promessas estas que não passam de suborno da misericórdia divina. E poderá
alguém que raciocine admitir que a Virgem, ou Jesus possam ser subornados ou
comprados?
E continua: "A igreja proíbe de
se ter intimidade, amizade com os que são casados só civilmente".
Não parece isto uns ares de vingança
por não ter freguês pago ao padre os honorários do casamento religioso?
Felizmente, esta proibição os católicos não a cumprem, compreendendo que o amor
ao próximo abrange a todas as criaturas ainda que a sua igreja assim o não
queira compreender.
E mais: "A igreja manda-nos
amar o nosso próximo, principalmente a
sua alma".
Este mandamento parece ter sido
formulado por um diplomata à la Luxemburgo e como os seus famosos telegramas
explica-se logo adiante no livrinho que comento onde "manda dar esmola aos
verdadeiros pobres", e se o doador não tiver tempo para indagar quais são
os verdadeiros, amará só a alma do infeliz que lhe estende a mão. Que
velhacaria!
Diz ainda: "A igreja manda
concorrer cada um na medida das suas posses com o óbulo para as despesas com o
culto" ... (as imagens) para que o pároco possa construir alguns prédios
para renda e bem estar da sua prole. Pelo menos é o que se observa.
E finaliza. "Eis a chave de
ouro com que quero e devo fechar esta parte, referente à divindade da igreja católica
apostólica romana. O grande S. Cipriano (que isca!) dizia: Quem não tiver a igreja
como Mãe não terá Jesus Cristo como Pai".
É pena que S. Cipriano não esteja
encarnado agora, pois serviria admiravelmente para diplomata da Santa Sé quando
ela se vir excluída do próximo congresso da paz.
Com que então Jesus é Pai? E o
monsenhor tem a coragem de repetir semelhante heresia? Admira o desplante com
que se mente aos fieis que não têm meios de procurar a verdade! Jesus ensinou:
"A ninguém chameis pai vosso sobre a terra; porque um só é vosso Pai que
está nos céus, nem vos intituleis mestres; porque um só é vosso mestre, o
Cristo" (Mateus 23:9 e '10). Estes ensinos, Jesus pronunciou para deixar
demonstrada a diferença entre ele e o Pai, sabendo de antemão que a igreja católica
ia deifica-lo.
Quanto à igreja ser mãe, ninguém ignora
que ela de fato o é, mas tão somente do clero e dos sacristãos.
Do resto ao povo, porém, é madrasta
que explora os seus enteados em proveito dos filhos com promessas, que ela sabe
não podem ser cumpridas.
E por dizermos a verdade, monsenhor Martins;
como voz da igreja proíbe "que os
católicos tenham intimidade e amizade com os inimigos da sua religião",
S. rev., porém, cita o provérbio - “quem avisa amigo é”, e falando eu com esta
franqueza, não é isto uma prova de que o meu coração transborda de amizade por
todos e especialmente pelo clero, não trepidando diante da ira de alguns para
salvar a todos do abismo a cuja beira se acham, desejando a felicidade de todos
na vida espiritual, pois que a atual não é mais do que a consequência dos
desmandos da humanidade de todos os tempos que é sempre a mesma, reencarnando e
desencarnando, vida de expiação, reparação e provação?
O purgatório que a igreja prega sem
saber explicar o seu paradeiro é este mundo. É o que os espíritos explicam e
mais: que a presente época é a última ocasião que a humanidade terrena terá
para modificar a sua moral e resgatar as suas faltas, pois que chegou o tempo
predito por Jesus, e os recalcitrantes serão repelidos para planetas muito mais
atrasados que o nosso onde terão de viver e progredir, planetas onde haverá
choro e ranger de dentes para aqueles que já estavam acostumados às comodidades
deste mundo.
Não é o caso de se meditar
seriamente sobre os ensinos do Cristo, orar
e vigiar constantemente e fazer o
maior esforço possível para andar de acordo com o Evangelho de Jesus de preferência
a aceitar os erros que a igreja católica apostólica romana ensina?
8
Na sexta prova de santidade da igreja, diz monsenhor Martins: “Alguém
já conheceu um verdadeiro santo, na genuína expressão da palavra, no protestantismo,
no espiritismo, no positivismo?
Não no espiritismo, porque nós não
temos a instituição que os fabrica, e consideramos que ser bom não é mais do
que cumprir cada um o seu dever, e feliz daquele que o sabe cumprir.
Mas, se no meio do clero romano
desceram espíritos ilustres e bondosos, foi porque Deus, infinitamente bom e misericordioso
quis salvar o clero católico do precipício em que se atirava. Entretanto, a
despeito dos exemplos dos Francisco de Assis, dos Antônio de Pádua, dos Vicente
de Paula e de tantos outros, o clero persistiu em deixar-se seduzir pelos bens
terrenos, pelos gozos da materialidade; pela concupiscência, e, dando estes
exemplos, desviou o povo da verdadeira moral do Cristo. Isto é histórico.
A igreja perseguia os seus chamados
santos, aos quais hoje enaltece para ver se podem reforçar os alicerces do seu
carcomido edifício, já minado e prestes a ruir.
Poderá ela
citar um único santo, cujas palavras ela tivesse acatado enquanto ele fora vivo,
a não ser os santos inquisidores?
Santo Agostinho, por ventura, não
repeliu o batismo das crianças, considerando-o uma farsa?
Sim, varões ilustres procuraram
encaminhar o clero católico na senda do Evangelho. O clero, porém, não lhes deu
ouvidos, nem imitou os seus exemplos, e daí a sua grande responsabilidade.
Jesus mesmo ensinava ao povo aquilo que de há muito
se tornou um provérbio popular. "Fazei o que os padres dizem, mas não o
que eles fazem" (Mateus cap. 23, v. 3) referindo-se aos escribas e fariseus.
E disse mais: "Eles serão precedidos no reino dos céus pelas prostitutas e
pelos publicanos" (Mateus 21 :31).
Jesus constituiu a sua igreja sobre
a fé robusta de Pedro, fé em que Pedro proclama ser - Jesus "o Filho de
Deus vivo". Sobre esta rocha que é o próprio Cristo, foi edificada a igreja.
Nem Pedro, nem nenhum dos outros apóstolos construíram igrejas de pedra e sim
templos nos corações dos crentes onde as virtudes que Jesus exemplificou encontrassem
um altar. E estes tais é que eram um em Jesus como Jesus é um no Pai.
Agora, imagine o monsenhor se a igreja
tivesse seguido os ensinos de Jesus, se em todos os tempos tivesse exemplificado
as suas virtudes, em que altura não pairaria a moral da humanidade de hoje? O
mundo não seria uma morada feliz em vez de ser o inferno que hoje se observa?
"Santos",
homens desprendidos houve em todos os tempos, em todas as partes do mundo e em
todas as seitas; mas, como o mau clero estava em maioria, o povo preferiu
seguir os exemplos do clero nos gozos do mundo a ouvir os "santos" e
esperar os prometidos gozos do céu.
Prometendo Jesus, o Consolador,
enviou o seu servo Allan Kardec (que na precedente encarnação fora João Huss, queimado
pela igreja), para codificar o Espiritismo. Os mortos falam, os sinais, os
fatos em todo o mundo se produzem, os espíritos dão os mais salutares ensinos,
as revelações sucedem-se às revelações em nome do Cristo. Os pequeninos, os anônimos
agasalham os ensinos que assim baixam; só o clero não os quer ouvir e brada
como os escribas no tempo de Jesus: é o demônio!
Mas que demônio é esse que só ensina
a moral de Jesus, que cura os enfermos, que consola os aflitos? O demônio por
certo regenerou-se pois faz mais bem do que aqueles que se dizem sucessores de
Pedro. Não há livro espírita que contenha um só ensino que não esteja de acordo
com o Evangelho. Onde está o demônio?
Monsenhor não estará enganado quando
ensina que "em cada uma das partículas da hóstia consagrada acham-se
realmente presentes o corpo, o sangue e toda a divindade de Jesus Cristo? Jesus ensina: "Tudo o que entra pela boca
desce pelo ventre e é lançado a um lugar escuso."
Teria
o concílio de Trento, o criador da hóstia, mil quatrocentos e tantos anos
depois da ascensão de Jesus, mais poder do que Ele, forçando-o a descer da sua
celeste morada para se incorporar nas hóstias e ser engolido em beneficio da igreja?
Ensinando semelhantes absurdos,
queixa-se a igreja dos espíritas e os considera seus inimigos, quando o que
desejamos é que ela ensine as verdades evangélicas, tal
qual Jesus as
ensinou, e quando isso fizer terá os nossos aplausos e comungaremos com ela.
9
Referindo-se ao sacramento da Eucaristia,
diz monsenhor Martins no seu livrinho, “Este sacramento consiste em Jesus Cristo
achar-se realmente presente na hóstia consagrada, a fim de viver entre nós, e
de servir de alimento espiritual da nossa alma. Este divino sacramento, com todos
os outros seis, (não) foi instituído por Jesus Cristo. Na véspera da sua
dolorosa paixão, reunido com os doze apóstolos no cenáculo, ele tomou o pão nas
suas sagradas mãos, e benzendo-o e partindo-o, foi distribuindo aos seus apóstolos
e dizendo: Tomai e comei, isto é o meu corpo, que será entregue por vós. Jesus
é Deus e as palavras de um Deus, tem uma força e eficácia onipotente que
realizam tudo quanto enunciam. E dizendo ele depois aos seus apóstolos: fazei
isto em minha lembrança, deu com toda certeza aos apóstolos (pelo menos é o que
conviria à igreja) e em sua pessoa aos sacerdotes (se fossem) seus legítimos
sucessores, o portentoso poder de, (ganhar
dinheiro para construir palácios) converter o pão em seu verdadeiro corpo."
Presunção e água benta... Mas o que
monsenhor ensina não é a expressão da verdade e a prova disto e que muito antes
da ceia, como se lê no capitulo 6º de João, Jesus falou do seu corpo e do seu
sangue no mesmo sentido usado na ocasião da ceia, dizendo: "Eu sou o pão
vivo que desceu do céu, se alguém, comer este pão viverá para sempre e o pão
que eu der é a minha carne, a qual eu darei pela vida do mundo". "Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei
no último dia". "- Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele". "O
espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita; as minhas palavras são
espírito e vida", em esforço, depreende-se daí que Jesus não fala
senão figuradamente em ser a sua carne comida, e que as suas palavras tinham um
sentido todo espiritual. O seu corpo não pode representar outra coisa senão o
corpo de doutrina que Ele trouxe ao mundo, a doutrina de amor e perdão que Ele pregou e exemplificou.
Também na ocasião da ceia, Jesus
disse muito mais do que cita monsenhor, mas à igreja não convém que o povo
conheça o resto, pois lançaria logo a dúvida,
mesmo nas inteligências menos esclarecidas, e isso é perigoso aos seus
interesses.
Eis aí porque o Evangelho é trancado
e ao povo só se serve a dose que é útil à igreja. Senão, vejamos: Diz o
Evangelho: "E quando comiam, Jesus tomou o pão, e, abençoando-o partiu, e
o deu aos discípulos e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice,
e dando graças deu-lhe o dizendo: bebei dele, todos, porque isto é o meu
sangue, o sangue do Novo Testamento
que é derramado por muitos, para remissão dos pecados". (Mateus 26:26-28).
E em João 15 :15: Já vos não chamarei servos; porque o servo não sabe o que faz
seu Senhor. Mas chamei-vos amigos; porque vos descobri tudo quanto ouvi do meu
Pai "para ser a vida do mundo."
Já vê monsenhor que Jesus ainda aqui
se referia, não à transformação do seu corpo em pão, e sim ao seu Novo Testamento, que seria espalhado por
muitos e a salvação daqueles que o aceitassem de coração.
Referia-se à fraternidade que Ele com os seus irmãos
menores festejavam antes da sua paixão e recomendava-lhes fossem fraternos e comemorassem
esta ceia. E tanto assim é que Ele os chamou de amigos e continuando, lhes
disse: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros".
O ensino do Velho Testamento
"dente por dente e olho por olho”, foi no Novo revogado por: "Amai os
vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem
e caluniam."
É esta a transubstanciação que Jesus
pregou, - não aquela eucaristia que o concilio de Trento decretou como dogma em
1545, com o fim de iludir o povo, e para gáudio e lucro do clero romano.
Jesus disse: "As minhas
palavras são espírito e vida", "tirai o espírito da letra", e é
isso que cumpria, não a nós, espíritas fazer, e sim de todos os tempos ao clero
que deveria ensinar exemplificando. Se a igreja assim tivesse procedido, quanto
sofrimento teria sido evitado tanto aos encarnados como aos desencarnados e
especialmente ao próprio clero no Além? Só Deus o sabe!
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