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“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO
VIII
...dentro de pouco tempo o nome de Cristo será inteiramente
rejeitado e o espiritismo se colocará no seu verdadeiro terreno, o de uma
oposição radical
ao próprio Cristo e ao Cristianismo.
(Folheto
da Califórnia).
Estas palavras deveriam ser escritas da maneira seguinte:
"Dentro de pouco tempo o Espiritismo terá destruído o trono de Satã
erigido pelos protestantes e terá construído, no coração de cada crente, o
trono onde o Cristo irá ficar para vivificado e dirigi-lo ; e cada crente,
isento de todo o medo e de todas as superstições, ficará em condições
espirituais de bem compreender qual a vontade do seu Mestre e como é que ele
impera como Rei, no seu reino que não é deste mundo; e o protestantismo será
totalmente rejeitado, e o legitimo cristianismo será colocado no seu verdadeiro
terreno".
Duas vezes escreveu o autor do folheto protestante da Califórnia que os
espiritistas provam a sua grande ignorância pelo fato de continuarem a ser
espiritistas, conhecendo os Evangelhos.
O autor do folheto é que prova ignorar que os maiores sábios do mundo se têm
preocupado em estudar o Espiritismo, visando desmascará-lo com argumentos
esmagadores, empregando para isso métodos científicos, como fizeram William Crookes,
Alexandre Aksakof, Dr. Paulo Gibier e outros (1). E todos esses sábios trazem a
público seu testemunho favorável, demonstrando ao mundo a origem divina da
doutrina espírita, que hoje ninguém ousa refutar senão de má fé, por inveja ou
interesses materiais. Hoje, nenhuma pessoa culta se abalança a contradizer seriamente o espiritismo: diante das provas
apresentadas universalmente, só poderão fazê-lo pessoas ignorantes ou que tem
interesses em trapacear, achando que o espiritismo lhes vai perturbar os meios
de facilmente se locupletarem a custa dos semelhantes; porém, a guerra que lhe
movem os adversários não altera nem de leve a sua marcha progressiva em toda a
parte do mundo; pelo contrário, as perseguições auxiliam sobremaneira a sua
divulgação.
(1) Vd. Fatos Espiritas; Um
caso de desmaterialização; Animismo e Espiritismo; O
Trabalho dos mortos, (do Dr. Nogueira de Faria).
35b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Os adversários referem-se também ao caso da moça obsidiada por Espíritos
levianos, que era explorada pelos seus senhores interesseiros, como se vê em
Atos, XVI: 16-18, que seguindo Paulo, Silas e Lucas, dizia: "Estes homens
que nos anunciam o caminho da salvação, são servos de Deus altíssimo".
Tomam esta passagem como argumento irrefutável, dizendo que, mesmo anunciando
uma verdade, Paulo não admitia que aquele Espírito adivinhante continuasse a
dizê-lo.
'"Se Paulo expulsou o Espírito por Jesus Cristo, o espírito não podia ser
de Deus, mas do diabo", porque Cristo não pode lançar fora Cristo, como
Satanás não lança fora Satanás."
E supõe que este argumento é um golpe mortal, infalível, que destrói pela base
a doutrina do Espiritismo.
Também o Sr. Antônio Ernesto chama a atenção para esta passagem, dizendo que
Satanás, para mais facilmente enganar, falava a verdade, dando testemunho ao
povo, dizendo que aqueles homens eram servos de Deus altíssimo e que anunciavam
o caminho da salvação, tentando por essa forma iludir a boa fé dos incautos, e
Paulo desmascarou o astucioso Satã, mandando-o sair da moça...
Fortes argumentos!
E todos os que leem pela mesma cartilha dizem que tamanha
lógica fecha a porta a toda e qualquer argumentação ... é o non plus
ultra. Não há mais que dizer! Cui refragare nemo potest ...
....................
Vejamos se podemos dizer alguma coisa que possa esclarecer esta passagem.
Todos os que estudam os Evangelhos, sabem perfeitamente que, naqueles tempos,
havia uma epidemia de obsessões. Os Espíritos obsessores atacavam grande número
de pessoas que os atraiam como o imã atrai o ferro, tal como vemos em São
Marcos, V: 1-8; São Mateus, XV: 22; S. Marcos, 1: 23-26; Mateus, XVII: 14-18;
S. Marcos, XVI: 9; S. Lucas, X: .17; Atos, V: 16; S. Lucas, X: 20; Atos, XVI:
16.
Provado está que naquele tempo havia muitas pessoas atacadas da doença que hoje
a ciência médica oficial denomina histerismo, epilepsia, por lhe desconhecer a
causa. Aquelas pessoas eram atacadas por Espíritos turbulentos (1) e entre essas pessoas
obsidiadas havia algumas furiosas, que, arrastadas pelos Espíritos malignos,
residiam nos cemitérios, entre os túmulos, ferindo-se com as pedras,
uivando como animais, que ninguém podia amansar: quando as prendiam com cadeias
de ferro, elas as partiam e se escapavam. Muitas dessas eram curadas por Jesus
e seus discípulos. Aquela moça que tinha um Espírito adivinhante era uma
doente, como são as muitas mulheres e homens epilépticos, que ainda hoje
existem em todas as camadas sociais, Os possessos furiosos são encerrados
nos manicômios: chamam-nos loucos: a maioria deles frequentava as igrejas,
alguns eram incrédulos, outros irreligiosos e todos entregues a vícios
vergonhosos, ou viviam vida irregular... pessoas que não se davam a
frequência sistemática de sessões espiritas!..
(1)
Pessoas que nunca se entregavam à
prática de espiritismo.
35c “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Conta-nos o historiador, que os apóstolos achavam-se em pequena cidade da
Macedônia, chamada Filipos, onde estiveram por alguns dias, e num sábado
dirigiram-se para próximo de um rio, em lugar onde costumavam fazer orações, e
assentados falavam às mulheres que, ali se ajuntaram. Dentre aquelas mulheres,
só uma compreendeu bem o que Paulo dizia; era Lídia a vendedora de púrpura em
Tiatira e só a esta o Senhor lhe abriu o coração para compreender o que
Paulo dizia. (Atos, XVI, 12-14). No meio de tantas, só uma pode
compreender. As outras não!
A mesma
coisa acontece entre os protestantes: do meio dos milhares que estudam a
Escritura, há um ou outro que a compreende! A maioria está com o coração
fechado...
Quando os apóstolos estiveram alguns dias na residência de Lídia, saindo para
orar (em algum outro lugar) u'a moça obsidiada seguia-os dizendo: "Estes
homens que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus
altíssimo". Nos primeiros dias, os apóstolos toleraram que ela dissesse a
verdade, mas, conhecendo que ela era dessas mentecaptas perturbadas por
Espíritos levianos, enfastiaram-se de ouvir da sua boca sempre as mesmas
palavras: Paulo, depois que conheceu que era uma obsidiada, ordenou ao Espírito
se calasse e deixasse a mulher em paz. Assim, em nome de Jesus, ele curou-a. Os
apóstolos se descontentaram da enfadonha repetição das mesmas palavras que por
muitos dias aquela moça lhes dizia!
Ora, isso é muito natural. Quem é que se não aborrece de ouvir todos os dias
sempre as mesmas palavras?!
Ainda que seja uma grande verdade, repetida milhares de vezes, não somente fica
muito barateada, como enfastia os ouvintes de tal maneira que se torna
importunação.
Todos os que nos dedicamos à leitura dos livros santos, sabemos que Jesus
disse: "Eu sou o caminho, a verdade
e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim; Eu sou o bom pastor: Eu sou a
ressurreição e a vida; Eu sou o pão vivo que desceu do céu; Eu sou a porta por
onde entram as ovelhas; Eu, sou a luz do mundo; Eu sou a videira verdadeira e
meu pai é o agricultor; porfiai por entrar pela porta estreita, porque a larga
conduz à perdição; os maus irão para as trevas exteriores, onde há o ranger dos
dentes; para o inferno irão os malditos, para o diabo e seus anjos; os benditos
de meu Pai irão para o reino que lhes está aparelhado desde o princípio do
mundo, etc., etc.”
E que os apóstolos disseram: “O sangue de
Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado; em nenhum outro há salvação, porque
do céu abaixo nenhum outro nome foi dado, senão o de Jesus; único mediador
entre Deus e os homens; crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa; a
fé sem as obras está morta; a caridade cobrirá multidão de pecados; ninguém
pode pôr outro fundamento senão, o que já foi posto; hoje se ouvirdes a sua
voz, não endureçais os vossos corações; porque a palavra de Deus é viva e
eficaz e mais penetrante do que a espada de dois gumes: porque todos devemos
comparecer ante o Tribunal do Cristo, para que, cada um receba a recompensa do que
tiver feito no corpo, de bem ou mal, etc., etc.”
Ora, ninguém nega essas palavras; lá estão nos livros do Novo Testamento.
Ninguém as contesta (1).
(1)
Bhagavad Gita; Parte VIII: 11-12.
Há perto de quinhentos anos, os protestantes
vêm repetindo, repisando, remoendo e barateando as mesmas palavras; vêm citando
e recitando, todos esses versículos; batendo na mesma tecla todos os dias,
todos os meses, todos os anos, todos os séculos: É aquela cantiga de carro, com
a qual os carreiros não se incomodam; sempre o velho gramofone fazendo girar o
mesmo disco, já todo riscado e roído pelo uso, e cuja agulha com a ponta gasta
pelas infinitas repetições dá um som fanhoso que enfastia os que estão
sempre ,e continuamente ouvindo-o...
Por fim, acabam por não lhe prestar mais atenção.
O protestantismo com essas repetições está fazendo o mesmo que fazia a moça que
seguia Paulo, Lucas e Silas, em Filipos de Macedônia (1) que Paulo mandou calar, porque,
o que dizia já se tornava um escândalo que os descontentava.
(1) Macedônia - País da Europa antiga, ao norte da
Grécia, que compreendia essencialmente, nas bordas orientais do Pindo, entre os
maciços do Olimpo ao S., e do Ródopo ao N. E., as bacias do Haliacmon, do
Axios, do Strimon e dos Nestos, cercados pelos montes Orbelos, Scomios e Hemos.
Existem narrativas antigas da Macedônia, em linguagem multo defeituosa,
.escritas por Tucídides de Heródoto.
Por que não procuram a verdade comparando as coisas espirituais com as
espirituais? (1 Coríntios, II: 13-14-15). Por que não tiram da letra que mata o
espirito que vivifica? (Hebreus, VI: 1; Filipenses, III: 14). Sobre este caso
da moça doente, o que acima está escrito basta para que os leitores vejam a
razão do nosso lado.
36 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO
IX
Os protestantes têm um prazer imenso em acusar de ignorantes os espiritas que
se entregam às práticas de religião demoníaca. Abrem a Bíblia e
andam a cata de versículos que possam servir para lhes justificar a acusação.
Esses versículos são citados sem a menor análise, sem o menor estudo, sem a
menor verificação. Se fazem isso por engano, por ignorância ou por má fé, não o
sei; não posso ser juiz da consciência de outrem: Não os acusarei. Os que
tiverem bom senso, julguem conforme a inspiração que lhes faz vibrar os
sentimentos de justiça.
Por exemplo; eis o que diz o folheto:
"Em I a Timóteo, IV: 1,' o apóstolo escreve que o Espírito manifestamente diz
que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a
Espíritos enganadores e a doutrina de demônios"; não nos deve surpreender
nada do que se passa em redor de nós; os espiritistas dão ouvidos a Espíritos
enganadores e a doutrina de demônios" . Com prevenção, o autor copiou
somente o versículo 1 e não prosseguiu copiando os versículos seguintes ao
primeiro, que anunciam os característicos da doutrina de demônios! Os
versículos que se seguem, dizem que os Espíritos enganadores prescreviam
doutrinas proibindo o casamento e o uso da carne. Ora, os protestantes sabem
muito bem que não são os espiritistas que decretaram leis proibindo o casamento
e o uso da carne às sextas-feiras. Os espiritistas não são ignorantes que não
saibam distinguir a verdade da impostura. Seguem o que diz São João na sua
primeira epístola, (IV: 1), não creem em todos os Espíritos mas discernem, analisam
as comunicações: eles têm o dom de discernir os Espíritos (I Coríntios,
XII:10;. XIV: 29). Não aceitam doutrinas que não estejam de acordo com o
conjunto da doutrina verdadeira (Isaías, VIII: 20). Os Espíritos que ensinarem
doutrinas discordantes da verdadeira, dão mostras de estarem ainda nas trevas
da ignorância, são enganadores. Nas sessões se apresentam muitos destes que,
caem em contradição e se deixam conhecer pela incoerência das próprias ideias.
São Paulo escreveu a Timóteo, IV: 1: "O Espírito manifestamente diz".
Logo, São Paulo era espírita: conversava com os Espíritos. Ele repelia os
Espíritos levianos, Ignorantes e maus, (combatia contra as bestas), (1) e só aceitava conselhos dos
Espíritos sábios, somente fazia o que estes lhe ordenavam. (Atos, XXI: 4; XVI:
7; XVII: 23; XVIII: 5). São Pedro também era espírita, porque também recebia
ordens dos Espíritos; (Atos, X: 19 e versículos 31-32; XI: 12). Filipe também
era espírita, porque ouvia e executava as ordens dos Espíritos. (Atos, VIII:
26-29); O centurião Cornélio era espírita, porque atendeu às ordens de um
espírito que lhe dirigiu palavras de paz e de esperança, enchendo de alegria o
seu coração de crente sincero. (Atos, X: 4-7-8).
(1) Combatia contra as bestas em Éfeso (I Coríntios, XV: 32), - discutia e
doutrinava os Espíritos turbulentos.
Pedro, Paulo, Filipe, apóstolos de Jesus eram espíritas, assim como também o
eram os demais apóstolos e discípulos, como provado ficou acima. Jesus Cristo
era e é o chefe do Espiritismo. Ele efetuou uma sessão espirita num lugar
particular, num alto monte, com três médiuns e recebeu comunicação de dois
espíritos Santos. (São Mateus, XVII: 1-8).
.........................
Os espíritas, pois, não se deixam enganar pelos Espíritos mentirosos que se
lhes apresentam; sabem discerni-lo. Não são idiotas, como supõem os
protestantes.
Aos Espíritos ignorantes e maus, que não conheceram o Evangelho, o presidente
diretor da sessão ensina-lhes e faz pacientemente uma pregação anunciando-lhes
o Evangelho; explicando-lhes o que não tiveram oportunidade de aprender quando
encarnados. Os espíritas não andam perdendo tempo com futilidades. Um trabalho
bem dirigido, com médiuns bem comportados, é trabalho muito proveitoso
para os Espíritos dos que faleceram sem conhecer a verdade. A sessão
espirita é um meio utilizado por Jesus, a fim de pregarmos o Evangelho também
aos mortos, isto é, anunciar a verdade à imensa maioria que desencarna
diariamente sem conhecimento das verdades divinas, e ao mesmo tempo, útil e
proveitosa para o estudo do Evangelho explicado pelos Espíritos dos justos
aperfeiçoados, (Hebreus, XII: 23), que esclarecem tudo, à medida do
adiantamento e grau de compreensão intelectual dos assistentes.
Os versículos bíblicos citados em desabono do Espiritismo, em vez de o
destruírem servem para confirmá-lo, e os protestantes veem derrubados todos os
seus argumentos pelos próprios efeitos das suas referências às Escrituras. É o
mesmo que esforçar-se alguém por apagar um incêndio esguichando lhe
querosene...
.......................
Se bem haja ainda muita coisa a dizer, para demonstrar aos protestantes os
erros de suas afirmações, todavia, não prosseguimos, porque alguma coisa já se
tem escrito e isso basta para esclarecer quem não procede de má fé.
O capítulo seguinte é a conclusão deste apêndice, ou segunda parte da
"Carta aberta" em resposta aos falhos argumentos dos nossos irmãos
adversos.
37
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO X
Si in
bac vita tantum in Christo
sperante
sumus, miserabiliores sumus omnibus hominibus.
(I Coríntios,
XV:19).
Na Escritura, em vários lugares, há muitos versículos que concordam e explicam
o versículo acima, da vulgata; são aqueles já citados nesta obra:
- “Quem crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá - Chega a hora em que os mortos ouvirão a voz do filho
do homem e os que a ouvirem viverão;
Porque, para isso foi pregado o Evangelho também aos mortos, para que na verdade fossem julgados segundo os
homens na carne, porém, vivessem segundo Deus em Espírito", etc.
Ora, estes versículos e muitos outros iguais, disseminados em o Novo
Testamento, são suficientes para confirmar a doutrina dos Espíritos, que ensina
a pregação do Evangelho aos mortos que não tiveram a ventura de o ouvir nesta
vida terrena e podem ouvi-lo mesmo depois de sua partida deste mundo.
Deus nunca fecha a porta ao arrependimento, e todos os mortos que se
arrependerem, em virtude da pregação que ouvirem, serão salvos por Cristo,
também na outra vida.
A parábola do filho pródigo é um exemplo frisante desta verdade ensinada pelo
próprio Cristo: O filho perdido que estava afastado do Pai, arrependeu-se e voltou
para a casa paterna; o Pai o recebeu e abraçou; pôs lhe um anel no dedo e
organizou um festim de regozijo pela sua volta. Isto compreendido, analisado e
provado, não dá lugar a dúvidas no pensamento do crente, porque a justiça e a
misericórdia do Pai se estendem a vivos e mortos.
No mundo dos Espíritos estão todos os entes que viveram na terra; lá, porém,
eles estão de certo modo, em melhores condições de aceitar o Evangelho, quando
doutrinados com paciência e amor, demonstrando se lhes o itinerário errado que
percorreram nesta vida e que em consequência desses mesmos erros é que ainda
continuam sofrendo na vida do espaço. Suas obras os seguiram e colocaram na
situação em que se encontram.
A maioria da humanidade não se importa com o que há de ser, quando o Senhor
chamá-la a contas. Há os embaraços materiais, a necessidade de procurar os
meios de vida; a luta contra os obstáculos que se antepõem às conquistas da
liberdade e da independência, que todos procuram sem cessar, e por isso, a
maioria é que busca algo relativo à existência futura. Assim que, o espaço
está povoado dessa imensa multidão que morre todos os dias, em toda a parte do
mundo, às vezes em massa, em guerras e calamitosas epidemias sempre ocorrentes.
Todas essas almas desencarnadas, desembaraçadas das dificuldades da vida
material, são torcidas que fumegam; (1) não serão apagadas. Basta haver alguém que as sopre, a
fumaça que delas se desprende se transformará em viva chama, e terão
oportunidade de ouvir a verdade: as palavras do Cristo, as quais se chegarão
como à fonte de água viva, com a qual se desalterarão da sede que as devora.
Na outra vida, não tendo mais necessidade de adquirir
alimento e vestes para um corpo já inexistente, as almas ou Espíritos só terão
necessidade de aliviar a sua carga, e esta só pode ser alijada de seus ombros
na ocasião em que o véu lhes for tirado, em virtude do Evangelho que poderão
ouvir e compreender o que aqui não sentiam necessidade de procurar, por lho
impedirem as preocupações materiais.
Infelizmente, os sacerdotes e ministros das religiões supondo que o Espiritismo
é coisa muito má, o combatem e perseguem sem saber que estão cavando um abismo
que os atrai infalivelmente. Quando passarem desta a outra vida, terão caído no
abismo que eles mesmos cavaram, e lá sentirão necessidade das orações dos
espíritas. Somente os espíritas poderão, em nome de Jesus, dar-lhe alívio e
tira-los da situação penosa em que se acharem.
Sim! Somente os espíritas, porque os protestantes negam as orações pelos
mortos; os padres católicos dizem missa pelas almas, mas essas missas são
vendidas por dinheiro, e as rezas pagas não servem de refrigério aos Espíritos
sofredores. (1) Isaías
XLII: 3.
Jesus Cristo, o Mestre que presidiu à formação deste sistema planetário; que é
o seu diretor e protetor, o Chefe supremo de todos os povos da terra e do
espaço, está atualmente multiplicando o número dos centros espiritas em toda
parte, e até nos insignificantes recantos do globo.
E os trabalhos desses centros são dirigidos por ele mesmo, a fim de que o seu
Evangelho de salvação seja pregado em Espírito e em Verdade para salvação de
vivos e mortos, porque já chegou a ocasião predita por Ele: "Chegará a
hora em que os mortos ouvirão a voz do filho do homem" e não é como pensam
os protestantes: "evangelho de condenação para os que morreram sem
arrependimento", porque a este versículo se segue outro: “e os que a
ouvirem, viverão”.
“O arrependimento só é permitido por Deus, nesta vida, antes de morrer; depois,
porém, será tarde. O indivíduo que não aceitou o Evangelho, estará
irremediavelmente perdido e não haverá remissão depois da morte.”
Estas palavras me foram ditas pelo Revmo. Costa, o pastor que, de tempos em
tempos desembarca nesta estação e anda de casa em casa convidando gente para
ouvir-lhe os sermões. Em discussão que entabulamos, ele me disse essa e outras
conclusões que o protestantismo tira da Escritura e com as quais fanatiza os fracos
de imposições.
Um homem, protestante fervoroso, tem um filho a quem muito ama, porém, que não
é protestante e não professa nenhuma religião; não tem incentivo para crer e
não sente nenhuma necessidade de arrependimento. Sucede que morre o pai e vai
para o céu, visto que era protestante, (os protestantes vão todos para o céu).
Depois, morre também o filho e a alma deste vai para o inferno. O pai, vendo o
filho no inferno, pede a Deus que se compadeça da alma daquele seu filho; que
lhe faculte um meio de reparação das suas faltas, para que ele possa sair do
sofrimento. Deus, porém, nega-lhe e diz que a, condenação do filho é
irrevogável e que aquela alma terá de ficar nas mesmas condições pelo tempo
infinito; que não há esperança nem rogos, nem orações de vivos e de mortos que
possam remove-lo daquele tormento.
Que desengano! Que tristeza daquele pai por ver o filho naquele miserável
estado e não poder nada fazer em seu benefício! Ele vê continuamente o filho
amado no tanque de fogo! De que, pois, lhe serve o gozo do céu? Como pode ele
sentir-se feliz nesse céu dos protestantes, se permanece continuamente
preocupado com a situação desgraçada do filho que se contorce em dores
infinitas, sem ter quem o socorra?
O céu desse pai não é um lugar de gozo, quando o filho não pode gozar com ele;
ele, sim, é que sofre moralmente com o filho, as dores do inferno! ...
E Deus, vingativo e carrancudo, não tem misericórdia nem do pai nem do
filho... Será possível que os protestantes julguem que Deus é pior que os
homens e que os homens amam aos seus filhos mais que Deus às suas
criaturas?
"Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos
os homens", disse Paulo aos habitantes de Corinto (1). (I Coríntios, XV: 19).
(1) Corinto - Cidade da Grécia, no istmo e ao fundo da baía do
mesmo nome, perto do golfo de Lapanto. 4525 habitantes.
Aquele pai a quem me referi, vendo o filho em sofrimento, lembrar-se-á das
palavras de Paulo aos Coríntios: - Para seu filho ainda há esperança em Cristo,
na outra vida; seu filho não ficará miserável infinitamente, e o gozo daquele
pai será completo, porque, ele mesmo como o "Espirito de um justo
aperfeiçoado", (Hebreus, XII: 23) irá ministrar-lhe o Evangelho, levando-o
a uma sessão espírita deste mundo, ou mesmo do espaço, (2) em assembleia geral dos
Espíritos evangelistas, de maneira que, tanto aqui como lá, a alma do filho
poderá sair dos sofrimentos morais pelo arrependimento e mudança completa
que se opera em sua natureza íntima, pelas preces ou orações da fé, em
nome de Jesus (1).
(2) Assembleia Geral dos Espíritos, ver
"Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, por Humberto de
Campos".
(1) Vd. "Céu e Inferno", de Kardec - Com. de Espíritos sofredores.
O pastor, Rvmo. Costa, não quis mais ouvir-me, deu-lhe pressa de se retirar, e
contrariadíssimo disse-me que ele, quando morrer, irá diretamente para Júpiter!
E eu lhe respondi: "Desde já avalio o seu desapontamento quando os olhos
de sua matéria se fecharem neste mundo e o seu Espirito despertar do outro
lado! Que desilusão a sua quando lá encontrar tudo completamente diverso
do que supunha e afirmava sem convicção".
Nervosamente pôs a mão no bolso e tirou um folheto com 17 páginas, medindo 10
centímetros de altura e três polegadas de largura, com os seguintes dizeres por
título:
"O
Espiritismo julgado pela Palavra de Deus”
Grant
publíshíng House
2827 Hians St., Los Angeles
Califórnia"
E concluiu: "Está aqui minha resposta. Aí o senhor lerá o que é o
Espiritismo. Analise este folheto e depois me responda.
Eu sou metodista e preciso estar na hora certa, onde tenho de pregar a Palavra
de Deus. O senhor quer ir ouvi-la?"
Aceitei o folheto e muito agradecido, respondi que não ia ouvi-lo porque também
tinha um culto a celebrar com minha família, em minha casa. Depois que se
retirou o reverendo, pensei comigo:
- Este homem quer ensinar-me a palavra de Deus e nem ele mesmo sabe o que é
essa palavra...
Desejo muito aprender o que ainda não sei e não desejo ouvir o que já milhões
de vezes tenho ouvido, a saber: Teorias contestadas por absurdas e anti
cientificas, refutadas já há muito tempo e rejeitadas pela razão e bom senso.
*
Meus leitores julguem se preciso ouvir os sermões do Revmo. Costa, para poder
ficar sabendo a doutrina cristã...
*
Para responder o folhetinho da Califórnia, tem o leitor este apêndice diante
dos olhos.
***
NOTA FINAL
Urim e Thummim – Uriel – Oráculo (1)
Muitas destas respostas foram conservadas, quer pelos autores, quer pelos
mármores. A série mais curiosa foi revelada pelas escavações do Epidauro.
Plutarco escreveu em forma de diálogo uma obra intitulada: O FIM DOS ORACULOS.
O autor, muito ligado aos velhos cultos, via com pena a decadência dos
oráculos (1). Explica
a sua cessação pelo papel que neles desempenhavam os gênios ou demônios, seres
intermediários entre Deus e os homens, ora, benéficos, ora maléficos,
manifestando-se a presença dos demônios pelo desenvolvimento da faculdade
adivinhadora ou inspiração. É a inspiração que faz falta às gerações
contemporâneas de Plutarco.
A argumentação de Plutarco perde-se as vezes em anedotas e narrativas
maravilhosas. O diálogo pinta bem o estado dos espíritos cultivados no século
II da nossa era, a miscelânea de curiosidades e de credulidade, o amor ao
sobrenatural e a falta de crítica.
(1)
No romance de F. P. Escrich "O Mártir do Gólgota", diz: "Quando
nasceu Jesus, os oráculos emudeceram."
(2)
Et respondi ad me angelus qui missus est ad me, cui nomem Uriel. (IV Esdras, IV: 1).
(2) O
Livro ex canônico de Esdras, (IV livro, Capítulo IV: 1 e V: 20) personifica
Uriel como sendo um anjo que trazia a Esdras as palavras e as revelações de
Deus.
Em
hebraico, a palavra Uriel significa luz
de Deus, Urim, segundo outros autores é o mesmo oráculo a que davam o nome
de Uriél, nome frequentemente usado pelos litúrgicos orientais. Os judeus, os
rabinos e os poetas, fazem dele uma das personagens de suas lendas e ficções.
FIM DA SEGUNDA E ÚLTIMA PARTE
(1) Et ego jejunavi diebus septem
ululans et piorans, sicut mihi mandavit Uriel, angelus. (IV Esdras, V: 20)
(1) Livros canonizados de Esdras só existem dois: o primeiro com o nome de Livro de Esdras, o segundo com o nome de
Neemias. O terceiro e o quarto estão
fora do cânon. Mesmo na vulgata latina, aprovada pelo papa Clemente VIII, estão
colocados depois do Apocalipse de São João.
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