Três de Outubro
A Redação
Reformador (FEB) Outubro 1923
A
medida que os anos se vão sumindo no passado, menos e menos significativas se
tornam as palavras, já de si mesmas inexpressivas, para assinalarem, na data de
hoje, o advento da Revelação Espírita, personificada naquele que foi o
escolhido para veiculá-la entre os homens - o grande missionário Alan Kardec. É
que, de ano para ano, que dizemos? De dia para dia, de hora em hora, cresce,
intensifica-se e amplia-se o brilho dessa luz que lhe coube, obediente aos
altos Espíritos do Senhor, acender quando, pelas sombras densas de dilatado crepúsculo, se anunciava o
tétrico negror da noite que ia envolver a humanidade terrena, emergindo do
recesso dos corações, onde quase de todo se apagara a última claridade dos
ensinos do Cristo, Senhor do mundo.
Abriram-se
então os túmulos, falaram os “mortos” luminosos, bradando alerta!
aos “vivos” que se debatiam na
escuridão, dentro do sepulcro de carne. E ao elevado Espírito que já noutra
existência se dera em holocausto à verdade proscrita pelo orgulho e pelas
ambições humanas, coube recolher os ecos desses brados do Além, para fazê-los
repercutir em todas as almas, com o timbre da voz do Salvador, de novo chamando
suas ovelhas ao aprisco.
E
os espíritos, aos punhados, às multidões, na terra e no espaço, acordam e, ainda, que a cair com frequência,
porque mal despertas do sono dos vícios, do torpor das paixões, vão buscando a
porta da ressurreição, que se lhes abre para vida do Espirito nos esplendores
da comunhão universal. E aos olhos de cada um, à proporção que melhor se
orientam e esclarecem com o fulgor da verdade a luzir nos ensinos espíritas,
mais avulta a figura inconfundível daquele que, espalhando os em corpo de
doutrina, restituiu, na sua primitiva pureza, as almas débeis e combalidas, o
alimento de vida eterna, o pão do céu que as vivifica para a conquista das bem aventuranças
prometidas no sermão do monte -pão e alimento que são as lições do Mestre
divino.
Nem
só, porém, mais refulgente se faz aos olhos de cada um dos que assim vão
tendo saciadas a sua fome e a sua sede de
verdade, de paz e de amor, a personalidade excelsa que o mundo conheceu no
missionário da Terceira Revelação. Ganha-as, de par com a veneração que lhes
inspira a sua superioridade espiritual, a gratidão, o reconhecimento pelo muito
que lhe devem, devendo-lhe, com a certeza indestrutível de que esse é o destino
que os aguarda, o sentirem-se fortalecidos para a escalada dos altos cumes da
perfeição espiritual, onde entrarão na posse do “reino que lhes está preparado”, da herança de glória eterna em comunhão
com o Pai, pela identificação com o Cristo. Essa gratidão, esse reconhecimento,
fazem que do íntimo de cada coração conquistado para o amor e para a
fraternidade, se elevem um cântico de graças, um entoar de hosanas, que se confundem, nas sublimadas regiões
da luz, com os hinos dos eleitos, dos redimidos, celebrando a glória dos que
triunfam com o Cristo, alargando-lhe o império sobre as almas, concorrendo para
a vitória do seu amor sobre o mundo que lhe pertence.
Sendo
dos que hão beneficiado da formosa obra do abnegado missionário, cumprimos o
dever de juntar as vozes apagadas de nossa alma ao coro dos que o
glorificam. Porém, sendo também dos mais
carecentes de expressões para fazê-lo de forma condigna dos seus peregrinos
méritos e contemplando, de dentro da nossa extrema pequenez, a maravilhosa
fortaleza de que ele foi o maior obreiro humano, fortaleza de encontro a cujos
muros se quebram todas as forças que objetivam destruí-la - a da fé cristã
renovada, sintetizamos o nosso modesto preito de amor e de cada vez maior
admiração, ao relembrarmos a data augusta da mais recente encarnação de seu Espírito,
dizendo tão somente: Salve, Allan Kardec!
Esta
saudação, embora singelíssima, ele, estamos certos, a acolherá benigno, onde
quer que se ache, e nela encontrará tudo quanto lhe podem com sinceridade
exprimir os humildes discípulos que lh'a enviam, sob o influxo de anelo único:
o de lhe seguirem as pegadas de Mestre, para se aproximarem do seu Mestre, do
Mestre dos Mestres - Jesus.
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