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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Protestantismo e o Espiritismo - Parte 7



  33      “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                   
CAPITULO VI

... Amanhã tu e teus filhos estareis comigo ...
(I Samuel, XXVIII 19)


            Ainda o caso de Saul.
            Há anos, li num desses folhetos anônimos que costumam publicar para combater o Espiritismo, um comentário da comunicação espírita obtida por Saul em Endor. Entre muitas explicações disparatadas, havia a seguinte:
            Que Saul, praticando grande ofensa a Deus em consultar aos mortos por meio de uma feiticeira, mandou Satanás um dos seus demônios falar com Saul, fingindo-se Samuel e mentindo jeitosamente, a fim de que Saul lhe ficasse pertencendo definitivamente, nem sequer conheceu a fraude e acreditou que o Espírito de Samuel era efetivamente o que se lhe apresentara. Que a prova de não ser Samuel e sim o Demônio, é o fato de ter dito ao Rei de Israel: "Amanhã, tu e teus filhos estareis comigo... "
            E concluía: Que, Saul estando condenado por Deus, ia morrer e no dia seguinte estaria no inferno, junto com os diabos e não iria para o céu, onde residia Samuel. Por conseguinte, não era Samuel: era um diabo que veio em seu nome... etc.
            Ridícula conclusão!
            Hoje, (vinte e tantos anos depois) os próprios protestantes não aceitam essa explicação!
            Quem estuda (1) pela cartilha protestante, somente lendo conclusões dos senhores ministros e não tendo liberdade de examinar o reverso da medalha, procurando explicações fora dos dogmas impostos como artigos de fé, ficará mesmo fanatizado por essa ideia e terá receio, ou terror de assistir a comunicações de Espíritos. E por isso, fica talvez toda a vida terrena com as ideias embutidas nessas errôneas interpretações...

             (1) A Bíblia.

            O protestante teimoso, que não conhece ou finge desconhecer a origem divina do Espiritismo ficará desapontado quando passar desta para outra vida!
            Lá, verá completamente o contrário de tudo quanto pensava, relativamente aos ensinos do Cristo, explicados pelos Espíritos.

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            Estudemos um pouco a fim de sabermos onde estava o Espírito de Samuel e para onde devia ir o Espírito de Saul.

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            Jesus Cristo disse a um dos malfeitores que com Ele estavam crucificados: - "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso" (Lucas, XXIII: 43). São Paulo escreveu, dando conta da existência de um terceiro céu, que ele acreditava ser o paraíso, (II aos Coríntios, XII:2-3-4), lugar para onde teria de ir o criminoso arrependido.
            Nestes dois versículos vemos um fenômeno espírita de desprendimento: Um homem foi arrebatado do seu corpo carnal. O Espírito desse homem foi levado a um ponto do espaço infinito, ao lugar para onde vão os Espíritos dos bons e dos maus.
            A doutrina dos Espíritos ensina que as almas que desencarnam, apenas ficam separadas do corpo, mas não vão para lugar algum distinto ou circunscrito: a única separação que há entre elas é o adiantamento moral e a bondade e perfeição relativa de umas - e o atraso, malevolência e perversidade de outras, - o bom ou mau uso que fizeram, no mundo terrestre, do livre arbítrio que Deus concedeu a cada uma.
            Os que aprenderam do Cristo, os que puseram em prática os preceitos evangélicos; os que exercitaram a caridade e o amor do próximo em todas as suas modalidades - são luzes - são felizes e podem ir rapidamente para qualquer ponto do espaço infinito. São Espíritos leves e não têm paixões quaisquer que os prendam à Terra; se praticaram o bem e foram possuidores de todas as virtudes, continuarão a praticar o bem e as virtudes, inspirando os homens a procurar o bem, desviando-os dos maus caminhos ; continuarão a pregar o Evangelho do Cristo, aos vivos e aos mortos, isto é, aos encarnados e desencarnados que não conheceram a verdade, até que, acabando de cumprir seu tempo no espaço, vão reencarnar em mundos de aperfeiçoamento, em "novos céus onde habita a justiça".
            As almas dos maus, isto é, dos que permaneceram no erro e voluntariamente se conservaram nos maus caminhos; os que se não corrigiram dos seus vícios e não praticaram as virtudes de conformidade com os preceitos evangélicos explicados em espírito e em verdade, ao desencarnarem levam consigo as influências dos seus atos: os maus fluidos que adquiriram pelas suas obras constituem o fardo pesado que os prende à Terra; as paixões a que estão habituados, permanecem com maior intensidade, de forma a cegar lhes o entendimento. Estas almas, presas aos objetos de suas paixões, tendo no corpo astral todas as impressões dos seus sentimentos terrenos, não saem da Terra, e muitas vezes ficam no mesmo lugar onde se deu a desencarnação, de contínuo vendo somente os seus tesouros ou enxergando no teatro de seus crimes as suas vítimas, e a série de infelicidades que se seguiram, como consequências, aos sobreviventes.
            Enquanto os Espíritos felizes voam de um a outro ponto do universo infinito, sem, encontrar obstáculos nem embaraço algum, os Espíritos infelizes estão presos à Terra, devido ao peso dos seus atos injustos e às paixões criminosas, que os impedem de ver o reino da espiritualidade (1).

             (1) S. Mateus XXIV: 51 e XXV: 30.

            A maioria dos Espíritos sofredores está envolta num espesso véu negro, que impede a visão do lugar onde se encontram. Muitas almas nem sabem que já se desprenderam do corpo terrestre, tal a sua perturbação: sofrem por se acharem na obscuridade, "trevas exteriores onde há o ranger de dentes" (2).

            (2)  Idem.

            Mas, não ficam definitivamente nessa condição. O Senhor Jesus não as deixa: Envia os evangelistas desencarnados, (Lucas, XV :4-8 e versículo 10) para lhes dizer que o inferno não é eterno, que os sofrimentos terão um fim: a condição é o arrependimento, a cessação do mal, o desprendimento das paixões terrenas e dos baixos sentimentos que da Terra levaram. A misericórdia do Pai concede-lhes a volta mediante um novo nascimento, (Salmo, LXXVIII: 33-34) e na Terra mesmo se despojarão do fardo de iniquidades que daqui tiverem levado, (Jeremias, XXIV: 6) e assim sucessivamente, até que se tornem leves, alvos e resplandecentes como a luz, também em condições de percorrer o espaço infinito, banhando-se na luz bendita do amor de Jesus, (Isaías, I: 16-18 e LV: 7).
       ...................

             Os Espíritos ignorantes e sofredores, quando abandonam o corpo material não vão para lugar algum circunscrito. Igualmente, os Espíritos felizes: O céu ou o inferno; o gozo ou o sofrimento, trazem-no em sua natureza íntima (1): - o bem ou o mal que levam para a outra vida é que constitui a sua herança. - Samuel, portanto, não veio de um céu á Terra para falar a Saul, nem Saul teria de ir para um inferno separado, distante dos outros Espíritos. A diferença de posição existia entre Saul e Samuel, no aperfeiçoamento e pureza de um e a ignorância, o atraso, a desobediência e a perversidade de outro. Nisto consistia a separação. Um poderia estar ao lado do outro no mesmo lugar; um, feliz, outro, desgraçado, como estão os Espíritos, no mundo extra material.

            (1) "Baghavad Gita"; - "Estudos filosóficos", por Max; - "O Céu e o Inferno”, por Kardec.

            O Juízo que se segue à morte (Hebreus, IX:27) são os quadros do passado na terra: Todos os atos bons ou maus, se desenrolam diante do Espírito que acaba de despertar do outro lado do véu. Ele vê nitidamente as suas obras, que a consciência aprova ou reprova, de modo que ele mesmo se condena ou absolve. Esse é o julgamento final... Não tem que esperar pelo fim do mundo, porque o mundo não se acaba. O mundo velho da ignorância e dos preconceitos; o mundo do fanatismo supersticioso; o mundo do orgulho e da presunção é que se esboroa, pelos efeitos dos raios vivificantes do sol da verdade espírita e do progresso das ciências, que já começam a minar os alicerces do velho edifício construído sobre a areia movediça dos dogmas apodrecidos, que fatalmente vai desmoronar e desaparecer como bolha de sabão! (1)

            (1) Apocalipse, XVIII; 2-3-4 e 21; XIX: 1 a 7; Obras póstumas de Kardec, pags 285-291 (2ª parte).

            As teologias protestantes estão cheias de explicações que nada explicam, explicações que não passam de hipóteses: não dizem mais do que está na Escritura e sempre dependentes de interpretações. Nada fica demonstrado positivamente, sempre fica a dúvida a adejar no pensamento dos senhores teólogos.
            O compêndio de teologia já citado nesta obra, diz na página 141:
            "O estado intermediário dos justos é em alguns lugares denominados paraíso, termo asiático para denotar os parques e jardins dos monarcas do oriente. É usado também na versão grega do Velho Testamento, falando no jardim de Éden (Gen; II: 8), e daí veio a ser usado para designar o céu.
            Pensa-se em geral que ele representa o estado intermediário dos justos entre a morte e a ressurreição, como é a frase - seio de Abraão.
            Ora, aí está: "pensa-se em geral" - palavras que nada afirmam de positivo...

......................

            As palavras do Cristo ao malfeitor arrependido: "Hoje estarás comigo no paraíso", combinam com as palavras de Samuel a Saul: "Amanhã tu e teus filhos estareis comigo". Todos juntos no mundo dos Espíritos, isto é, no espaço infinito, que envolve todos os mundos e se interpenetra em tudo que é material; o que é imaterial está em toda parte: na Terra, noutros planetas, no infinito.

.......................

            Os ministros protestantes que me estiverem lendo têm a liberdade de dizer que escrevi heresias para perverter os leitores; mas, se alguns deles tiverem a prudência de procurar nas obras do Espiritismo a solução desses problemas até então ocultos e não resolvidos pelas teologias contraditórias, estou certo de que mudarão de opinião: acharão que, para eles, dura cousa é recalcitrar contra os aguilhões (1).

            (1) Atos dos Apóstolos, IX: 5.


34   “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                                                                        

CAPITULO VII


            Quando pois algum homem ou mulher em si tiver um espírito adivinho, ou for encantador, certamente morrerão, com pedras se apedrejarão; o seu Sangue é sobre eles.

(Levítico; XX: 27; Deuteronômio, XVIII: 12).
            Citados pelo folheto da Califórnia.


            Os abusos do povo ignorante que buscava nas comunicações de além-túmulo a satisfação de sua curiosidade e ambições materiais é que eram muito prejudiciais naqueles tempos obscuros; por isso, os legisladores decretavam leis severas e até pena de morte aos infratores.
            Antes da era dominical, cerca de 1707 anos, era uso entre o povo fazer adivinhações, (Gênese, XLI: 8; XLIV: 5; Daniel, IV: 6-7) e fazer encantamentos. (Êxodo, IV: 2-4-6; VII: 10-11-12). José adivinhou os sonhos do Faraó e dos seus criados. (Gênese, XL, 12-13 e versículo 22).
             Moisés adivinhou a vinda do Messias (1) Isaias (2),  Malaquias (3),
 Jeremias (4), Ageu (5), todos estes adivinharam o nascimento do Cristo, muitas dezenas de anos antes.

          (1) Deut., XVIII: 15;
            (2) Isaías, VII: 14;
            (3) Malaquias, III: 1;
            (4) Jeremias, XXXI: 22;
            (5) Ageu, II: 6-7; Isaías, IX: 6;
            (6) Daniel, IV: 18; V: ,7 e versículos 15-17 e 25.

            As adivinhações dos acontecimentos futuros encontram-se desde o Gênese até o Apocalipse, e escusado é fazer intermináveis citações bíblicas para provar que todos os homens santos adivinharam, tais são: Moisés, Isaías, Jeremias, Ageu, Zacarias, Joel, Davi, Malaquias, Daniel (6), José, filho de Jacó.
            Os documentos bíblicos destes versículos citados, nos cientificam da existência de adivinhos, encantadores e sábios astrólogos, que estavam às ordens dos reis Faraó, Nabucodonosor e Baltazar. (Gênese, XLI: 8) e dos encantadores. (Êxodo, VII: 10-11-12) Moisés não sabia fazer encantamentos e o próprio Espírito de Deus o ensinou; (Êxodo, IV: 2-3-4, 6) e lhe deu um Espírito adivinhante. (Êxodo, IV: 12). Samuel tinha um Espírito adivinhante que lhe falava aos ouvidos. (I Samuel ou Reis, IX: 15-17). Agabo adivinhou por Espírito que havia de haver uma grande fome, o que aconteceu no tempo de Claudio (Atos, XI: 27-28).
            Quase todos os santos adivinhadores, (nos quais havia espírito adivinhante) foram perseguidos, a quase todos eles os potentados procuravam matar, segundo o testemunho bíblico. O sangue de todos aqueles, em quem havia Espírito adivinhante, era derramado e muitos caíam vítimas dos punhais dos assassinos legais, (S. Mateus, XXIII: 34-37) como o de Zacarias, filho de Baraquias.
            Todos os que prediziam o futuro, adivinhando por Espírito, eram perseguidos de cidade em cidade, açoitados e desprezados, viviam aflitos e maltratados (Mateus, XXIII: 34; Hebreus, XI:36-37-38).
            O Cristo e os seus apóstolos (em quem havia Espírito adivinhante) foram perseguidos, assassinados uns, maltratados outros, alguns lapidados; haja vista ao exemplo de Estevão, que tinha um Espírito que falava por ele. (Atos dos Apóstolos 108, VI: 10).
            Quererão os senhores protestantes seguir o exemplo dos assassinos? Desejarão ser seus imitadores?
            Não posso crer que eles queiram ver os espíritas apedrejados, aflitos e maltratados ou mortos a fio de espada...
            Querendo e não podendo destruir o Espiritismo, chamam a atenção para leis decretadas em tempos de supina ignorância, há 3630 anos! 
             Essas leis carunchadas já foram revogadas há muitos séculos! Elas foram substituídas por outras mais claras. As nossas leis brasileiras proíbem os abusos, mas não decretam pena de morte aos infratores. A inteligência humana desenvolveu-se. Não estamos mais no tempo dos Faraós. Nossos legisladores são homens sensatos e estão sempre aperfeiçoando as leis, de acordo com o progresso e compreensão do povo, de século em século.
            A obscuridade da ignorância já foi espancada pelas luzes da civilização. Estamos no século das luzes.
            Não queiramos retrogradar, recuar três mil seiscentos e trinta anos atrás e basear-mo-nos em leis revogadas para fazer proibições impossíveis neste século de progresso, simplesmente para satisfazer ambições protestantescas.
            As crianças do passado são os adultos de hoje: deixaram as faixas da primeira infância... As igrejas, como velhas rabugentas, caducas e raivosas, correm em perseguição dos filhos barbados, tentando enfaixa-los de novo e querendo forçá-los a chupar nos murchos seios esgotados...
            Inútil tentativa!

34b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                                                                                     
             Pensemos por um momento que estamos vivendo os tempos em que foram decretadas aquelas leis do Levítico, Êxodo e Deuteronômio, cerca de 1707 anos antes da era cristã. Olhemos aqueles terrenos cobertos de matas virgens, aquelas montanhas e vales! Aquelas cidades antigas, distantes milhares de léguas umas das outras: Não veremos as possantes locomotivas arrastando vagões comboiados, repletos de passageiros, atravessando por cima e por baixo de pontes colossais, furando montanhas de um a outro lado, subindo ou descendo com a máxima segurança as serras íngremes (1) e devorando centenares de quilômetros, encurtando as distâncias. Não veremos os aeroplanos atravessarem de um a outro continente, vencendo com a rapidez do pássaro as distâncias siderais, (2) nem estradas lisas ligando longínquos municípios, nem o roncar de automóveis cruzando em todas as direções; também não veremos palácios flutuantes sulcando mares, levando em seus dois ou três andares milhares de mortais que viajam de uma a outra extremidade do mundo, gastando o mínimo de tempo, em virtude da força do vapor dirigido pelo saber humano, nem veremos nesses gigantes dos mares os aparelhos Marconi recebendo e transmitindo notícias de interesse público e particular; não teremos luz elétrica nem telefone para falarmos de viva voz de uma a outra cidade, nem submarinos, nem telégrafos que são os nervos do mundo ou as artérias metálicas por meio das quais se pode tomar o pulso de toda a humanidade que habita em toda a parte, nos confins da terra, de polo a polo! (3)

                (1) A serra de Santos e outras.
                (2) Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
                (3) O rádio é descoberta posterior à 1ª edição desta obra.

            Não veremos grupos escolares, escolas normais, de direito, de medicina, de engenharia, de farmácia e da odontologia; não veremos colégios, ginásios e seminários; não veremos institutos de ciências psicológicas; não veremos laboratórios de análises químicas nem observatórios astronômicos, nem sismógrafos, aparelhos fotográficos, raios X, microscópios; telescópios; não veremos academias de letras, bibliotecas, tipografias, maquinas datilográficas, livros impressos, encadernados ou brochados...
            Tempos em que se viajava de trenó, ou montado em camelos e elefantes!


34c  “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                                                                


            O progresso do globo terráqueo é um fato inegável, as ciências e a civilização triunfaram dos prejuízos da ignorância e obscurantismo dos tempos primordiais da infância da humanidade. Quem terá a corajosa audácia de contradizer esta verdade?
            Mas, ainda assim, os protestantes que se dizem progressistas e liberais, voltam atrás, quase três mil e setecentos anos e vão agarrar-se a uma lei decretada nos tempos em que Matusalém de calça curta ia brincar de cabra cega com a criançada da sua idade. "E isto só e unicamente para perseguir uma ciência positiva, que explica a religião cristã por uma filosofia contrária aos seus interesses materiais!
            Ninguém mais dá ouvidos a essas leis revogadas; ninguém tem medo desse espantalho que atemorizava a geração da idade média; ninguém teme essa fantasmagoria criada pela imaginação dos ignorantes, batizada com o nome de Satanás, crismada e entronizada pelos protestantes.
... Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha... 
 Deuteronômio, XVIII: 10.

           A História antiga nos dá notícia da existência da crença idólatra em muitos deuses maus, que, irados por causa dos crimes estúpidos cometidos pelo povo, castigavam cruelmente esse povo.
            Entre esses deuses, havia Moloch indignado e terrível (1): Quando um vulcão deitava pela cratera fogo e lavas incandescentes, aquele povo imbecil acreditava ser o castigo de Moloch furibundo! Quando um raio destruía uma habitação ou carbonizava alguns homens, ou gados, era o castigo de Moloch! Inundação que houvesse, era ainda Moloch indignado e vingativo que queria destruir o povo asfixiado por submersão!

            (1) Moloch. A tradução do hebraico dá Chium, deus do fogo, que significa o Sol. (II Crônicas ou Paralipomenos, XXXIV: 4).

            Os cartagineses, os moabitas e os amonitas fundiam grandes estátuas ocas e, dentro delas, acendiam fogo em fornalha e lhe sacrificavam vítimas humanas. Quando Moloch estava furibundo, deitavam pela boca da estátua incandescente as inocentes crianças, filhos ou filhas dos fanáticos idólatras, a fim de acalmar a raiva de Moloch, que somente satisfazia a sua vingança devorando e digerindo no ventre de fogo crianças indefesas!
            Daí a proibição do Deuteronômio, XVIII: 10.
            Manassés construiu a estátua de Moloch ou Molek, que também tinha o nome de Baal, Baalin e Remfan, (Amós, V: 26; Atos, VII: 43; II Reis ou IV Reis, XXI: 3-6 e II Crônicas ou Paralipomenos, XXXIII: 3-6).
            O filho de Ezequias era um idólatra, agoureiro e feiticeiro; sacrificou os filhos, fazendo-os passar pelo fogo; adivinhava pelas nuvens (1) (versículos citados).

                (1) Manassés era ainda uma criança quando começou a reinar, tinha 12 anos somente; não tinha o juízo de homem e deixou-se sugestionar pelos charlatães e idólatras e seguiu os exemplos deles. (ll ou IV Reis, XXI)

            Era tão grande o número de crianças carbonizadas no ventre do ídolo pela superstição e fanatismo estúpido e brutal daquele povo, que Moisés, o legislador dos Israelitas proibiu, na congregação escolhida, o uso dessas abominações. Quais mestres, desde Moisés, os profetas, trabalhavam pela palavra e pela escrita e esforçavam-se para instruir o povo sem ciência nem educação, que queria expiar os seus crimes praticando crimes ainda maiores... julgando acalmar a ira de Moloch, mais agravava a sua situação espiritual.
            Estes fatos, porém, são tão antigos que deles só se lembram os que compulsam a História ou os livros do Velho Testamento. Hoje não há povo que, por mais ignorante, pratique esses ridículos atos de desumanidade e estupidez. Não há mais Molochs incandescentes, nem pais desumanos e bestializados que deem a comer a famigeradas estátuas – fornalhas, seus tenros filhos.
            Julgarão os protestantes que os espíritas fazem passar seus filhos pelo fogo?
            Que relação existe entre a ignorância e superstição de Manassés e Amon, e a ciência doutrinal ensinada pelos Espíritos da Verdade, prometidos pelo Cristo, em S. João, XVI: 12-13? Que analogia há entre a doutrina espírita e os costumes bárbaros, existentes alguns milhares de anos antes da era dominical?
            Há tanta analogia como entre um ovo e uma espada! 
            Protestantes! Até quando persistireis subjugados voluntariamente ao império da letra que mata?

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