20 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO
XVIII
Estudemos ainda um pouco.
Quando sabemos da existência de um inimigo oculto que nos quer fazer mal,
desejamos saber quem é ele, de onde veio, onde mora e quais os meios de que
lança mão para nos trair e prejudicar. Devemos querer saber tudo, a fim de nos
defendermos, frustrando lhe os planos sinistros. É isso o que devemos fazer em
relação a Satanás.
Pois bem, vejamos quem é Satanás.
Jesus Cristo disse a Pedro: "Arreda-te de diante, de mim, satanás que me
serves de escândalo." (Mateus, XVI: 23; Marcos, VIII: 33). O mestre disse
também aos seus discípulos: "Não vos escolhi a vós doze? e um de vós é
diabo. (João, VI: 71). São Lucas diz que satanás entrou em Judas. (Lucas, XXII:
3). São João diz que satanás entrou em Judas, logo após o bocado. (João XIII: 2
e 27).
Nem Pedro nem Judas eram satanás, mas médiuns sujeitos a serem inspirados por
Espíritos atrasados e perturbadores.
Mas, quem, é o diabo e donde veio ele? Deus criou todas as coisas e não foi
criado por ninguém. Ele criou só o bem. Como, então, existe o diabo? Por quem
foi ele criado? Os teólogos do romanismo; como os do protestantismo, são
concordes em afirmar que os diabos eram anjos bons, que se tornaram maus.
E aferrando-se à letra da Escritura, dizem que essa crença tem origem no
Apocalipse, XII: 7.
Raciocinemos um pouco, comparando versículo com versículo: "Vós tendes
por pai ao diabo e quereis fazer a obra de vosso pai; ele foi homicida desde o
princípio e não permaneceu na verdade; quando fala mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. (João, VIII: 44). O
diabo peca desde o princípio (I João, III: 8). Anjos que
pecaram, (11 Pedro, 11: 4) Anjos que não guardaram a sua origem. (Judas, 6).
Porque, na ressurreição nem se casam e nem se dão em casamento, mas serão como
os anjos de Deus no céu. (Mateus, XXII: 30)." Tudo isso parece concordar
com o que dizem os senhores teólogos. É da Bíblia, dizem os protestantes... De
fato, tudo isso está na letra da Bíblia.
Precisamos procurar no símbolo alegórico a realidade aceitável pelo raciocínio.
Na antiga mitologia, Saturno era um
deus que devorava os próprios filhos. Era uma belíssima alegoria, que
representava o tempo, que tudo destrói.
A teologia que citei, no capitulo XV diz o seguinte na página 106, sobre a
definição do diabo:
"A crença geral da igreja tem sido que eles foram anjos apóstatas expulsos
do céu ou de algum lugar de provação, por rebelião contra
Deus. A tradição de sua queda se encontra em todos os países e em todas as
religiões."
Se eles foram anjos apóstatas, houve um tempo em que eram bons e só se tornaram
maus depois da rebelião; antes disso eram anjos bons; anjos de Deus; estavam no
céu... eram felizes, porque estavam sob a proteção paterna da divindade...
depois... houve uma briga: desobedeceram; revoltaram -se... e foi preciso
viesse Miguel chefiando um exército em defesa do céu, cujo domínio estava na
iminência de ser tomado por Satã e seus anjos ...
De modo que, antes de se tornarem diabos, quando ainda eram anjos de Deus, eles
não eram mentirosos, eram verdadeiros, porque, no céu não pode entrar
nada contaminado, ou que cometa abominação e mentira; (Apocalipse,
XXI: 27) - como, pois, foi ele mentiroso desde o princípio? Aí está uma
contradição... Então ele se tornou pai da mentira e homicida depois da
rebelião: Logo, não foi mentiroso e homicida desde o
princípio, porque, no princípio era bom! Pois eram anjos de Deus; pecaram (II
Pedro, 11: 4) e não guardaram a sua origem.. (Judas, 6) na sua origem não eram
mentirosos e homicidas
No princípio, ele (satanás) era anjo criado por Deus. Governava
principados e potestades. Teve um pai que é Deus, visto ter sido criado por
Deus, que cria todas as coisas. O filho revoltou-se contra o pai e este
expulsou-o de casa por meio de seus empregados e foi ele precipitado com seus
companheiros de rebelião, no mundo, onde ficou sendo príncipe, (João, XlI: 1 e
tomou os nomes de Apolion, Abadon, Belial etc., e criou a mentira. Se satanás é
uma entidade pessoal, como dizem os senhores teólogos, eles colocam a
mentira como sendo neta de Deus, em grau de parentesco, na escala descendente.
O pai da mentira pode ter por pai, como criador, Deus, que é o Pai da verdade?
Não, senhores teólogos! Deus que é a verdade, a justiça, a caridade, não pode
ser pai do pai da mentira ou avô!
20b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
O diabo que existe na igreja protestante foi herdado dos sacerdotes romanos, o
mesmo que estes herdaram do sacerdócio hebreu.
Agarrando-se á letra dos Evangelhos, o protestantismo não pode compreender o
verdadeiro sentido das palavras de Jesus, que dizia não ser o seu reino deste
mundo. Nas poucas vezes que Jesus falou de Satanás, foi para se referir aos
erros e maldades dos homens e de uma baixa condição espiritual, e não para designar
um ser, determinado anjo de luz, como diz a igreja criado puro e perfeito e
tornando-se impuro e imperfeito, logrando assim os atributos divinos que ficam
destruídos e inutilizados com as decisões sinodais das igrejas e seitas
confusas.
Os próprios Revs. teólogos Amos, Binney e Daniel Stelle, dizem:
"Alguns supõem que pelo demônio se deseja significar um princípio de mal
personificado; outros, as más inclinações dos homens; outros tudo que é
contrário ao bem" (obra citada).
Vejamos a origem e significação dessas palavras que tanto lucro tem dado aos
sacerdotes de Roma e tanto terror tem causado aos protestantes:
Diabo vem
da palavra latina diabolus e originou-se do grego, que significa acusador,
caluniador.
Demônio vem
do grego, e antes do catolicismo lhe dar a significação de anjo mau, anjo
decaído, já a palavra significava demônio, gênio, (daimon).
Satanás é
palavra hebraica que passou para o grego e significa adversário, inimigo.
Belzebú quer
dizer ídolo das moscas, (1) assim se chamava o ídolo que os Acaronitas (2) adoravam e o invocavam contra a
praga das moscas. Os hebreus que tinham por sacerdotes os escribas e os
fariseus, viram-se obrigados a crer no diabo inventado por eles, assim como os
protestantes creem no diabo herdado dos sacerdotes do catolicismo romano, que
por sua vez o receberam por herança dos seus antecessores hebreus.
(1) Deus mosca, deus enxota-moscas, Vd. D. e Enciclopédia Internacional, VoI.
III pag. 1352. (Uma das divindades dos filisteus).
(2) Acaronitas - Habitantes de Acaron ou Ekron, (hoje Akir),
antiga cidade do pais dos filisteus.
Belzebú não é uma invenção de Jesus e sim dos sacerdotes que o crucificaram.
Lê-se em São Lucas: "Porém alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios
por Belzebú, príncipe dos demônios. (Lucas, XI: 15; Pois dizeis que eu expulso
os demônios por Belzebú. (Lucas, XI: 18)."
20c “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
A Escritura nos diz quem é o diabo, o príncipe ou deus deste mundo;
claro, claríssimo para quem estuda e raciocina, repelindo os absurdos e as
incongruências:
"As
obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, imundície,
dissolução, idolatria, feitiçaria, inimizade, porfias, emulações, iras,
pelejas, dissenções, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonerias e
coisas semelhantes a estas, vos declaro acerca das quais, que os que comentem
tais coisas não herdarão o reino de Deus." (Gálatas, V: 19).
Paulo diz a mesma coisa em I Coríntios, VI:10, que é o a que se pode chamar
diabo: adultério, fornicação, mentira, sodomia, avareza, embriagues,
maledicência, ciúme, desconfiança, malquerenças, juízos temerários. Concorda
com Efésios, V: 5; I Timóteo, I: 9-10; Apocalipse, XXI: 8 e XXXII: 15.
O satanás que põe alguém para fora da graça de Deus, (reino de Deus) , é um
nome que personifica tudo isso que disse o apóstolo Paulo. Quem tiver
inteligência, que compreenda, se quiser compreender!
Todo aquele que comete estas coisas, pratica desobediência à lei de Jesus
Cristo e, sofre as consequências. Ao deixar este mundo, a sua alma leva para o
mundo invisível as suas iniquidades. (As suas obras o seguem. Apocalipse, XV:
13). Assim como todo aquele que obedece à lei de Jesus Cristo e põe em prática
os conselhos do Evangelho, também leva as suas obras: Os primeiros são diabos, os
segundos são anjos. (Mateus XXII: 30 e XXV: 34). Anjos bons são
as almas dos que praticam a lei de Jesus Cristo. Diabos são as almas dos que
lhe desobedecem. As almas dos bons nos defendem contra as tentações das almas
dos maus. Estas, enquanto permanecem na maldade, continuam a sofrer as
consequências. Mas Deus não lhes nega o arrependimento. (Lucas, XV: 20).
Quando os Espíritos dos maus se cansam de sofrer, se cansam de lidar com os
porcos, (versículo 16) voltam-se para Deus, arrependidos, tornam-se bons.
Compreende-se que os demônios, diabos tentadores, são os
Espíritos dos que eram maus na Terra: os ladrões, os bêbedos, os homicidas, os
mentirosos, os fornicadores, os adúlteros, os ciumentos, os invejosos, os
maldizentes, feiticeiros, avarentos, caluniadores, traidores, astuciosos e
enganadores. Esses, continuam nessas condições, e no estado invisível estão em
toda a parte, aos milhares e são atraídos pelos pensamentos das pessoas que têm
iguais sentimentos e são por eles tentados.
As más inclinações dos habitantes da terra refletem-se no invisível e
esses tais, seguindo os exemplos, continuam no mal.
Ponha-se em prática o Evangelho de Jesus; desapareça todo o mal da face da
terra e os demônios se tornarão cristãos; só assim a Terra
será a Nova Jerusalém, será o Éden, jardim de delícias, paraíso, o
que terá de ser ainda para o futuro (1).
(1) Lede o capitulo XIX, a seguir.
O arrependimento e a salvação por Cristo não é só enquanto estamos na terra.
Depois desta vida terrena, na outra do além-túmulo, também as almas se
arrependem e o Cristo as salva.
Esta é a doutrina espírita, com a qual o apóstolo Paulo concorda e concordam
também Lucas, Mateus e outros escritores dos livros da Bíblia. Leia-se
atentamente: I aos Coríntios, XV: 19; Atos, III: 21; Mateus, XVII: 11. São
Paulo diz abertamente: "Se esperarmos em Cristo só nesta vida,
somos os mais miseráveis de todos os homens". (I Corint., XV: 19).
Os protestantes negam orações a Deus em favor dos falecidos e faltam com a
caridade. S. Pedro não é dessa opinião; pois ele diz que o Evangelho é também
pregado aos Mortos. I Ped. III: 19 e IV: 6). Pedro concorda com o Mestre que
disse: "Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá".
(João, XI: 25)." E em outro lugar: "Os mortos ouvirão as
palavras do filho do homem e os que as ouvirem, viverão". (S.
João, V: 25 e versículo 28).
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“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO XIX
Falemos agora da expulsão dos anjos e vejamos o que são o inferno e o céu da
Escritura. Antes de entrar no assunto, leiamos um pouco os Evangelhos e
comparemos versículos com versículos:
"Na casa de meu Pai há muitas moradas, se não, eu vo-lo teria dito; vou
preparar-vos o lugar". (João, XIV: 2.)
"Esperamos pois, novos céus e nova terra, onde habita a justiça, segundo a
promessa" (II Pedro, li: 13.)
Porque, eis que eu crio novos céus e nova Terra, e não haverá mais lembrança
das coisas passadas ." Isaías, LXV: 17.
"Conheço um homem que... foi arrebatado até ao terceiro céu"
(II Coríntios, XII: 2.)
"Ainda tenho outras ovelhas que não são deste curral, também me convém
trazer estas". (S. João, X: 16.)
"Aquele que é menor no reino dos céus, é maior do que João Batista".
(Mateus, XI: 11.)
"Será chamado grande no reino do céu... Será chamado o menor no reino do
céu". (S. Mateus, V: 19.)
Versículos como estes, existem aos milhares nas Escrituras, concordantes com a
doutrina dos Espíritos quanto à pluralidade dos mundos.
Para
bem podermos compreender a queda dos anjos, saibamos que a Escritura nos revela
a existência de muitos mundos, muitos planetas: Uns muito atrasados, outros
mais adiantados. Todos esses planetas se transformarão com o tempo, pelo
progresso de seus habitantes. A terra mesma tem progredido extraordinariamente
nos últimos séculos, especialmente neste século XX. Há planetas inferiores
que passaram ao grau de superioridade pelo adiantamento moral e intelectual de
seus habitantes. Essas moradas da casa do Pai, são céus diferentes uns dos
outros. Os estudiosos, obedientes e progressistas, avançam e evolvem; os
estacionários, refratários ao bem e ao progresso voltam, pela reencarnação, a
planetas inferiores (1).
(1) "Depois da morte" de L. Denis - Parte II, capítulo XI.
Muitos milhares de anos antes de Moisés escrever o Pentateuco, uma raça rebelde
veio reencarnar-se no mundo. Um planeta que evoluiu e passou ao grau de
paraíso; que deixou de ser mundo de expiação para o ser de aperfeiçoamento, não
comportava mais os rebeldes, os refratários ao bem e ao progresso. Esses habitantes
estacionários, rotineiros e teimosos, morreram nesse planeta e lá não puderam
mais reencarnar nem ficar ao redor dele, tentando os seus habitantes
aperfeiçoados: Houve para eles o dia do juízo; Deus os obrigou
a voltar para a terra, planeta inferior, mundo de expiação - inferno de
provações.
Esses Espíritos que desceram à Terra e nela se reencarnaram, são os anjos
expulsos do céu. Deram o nome de Adão (1).
(1) "A Gênese" de Kardec, XII: 16 e versículo 23, parágrafo 3º -
"Estudos filosóficos, de Max "Ev. Rama Krichna".
Para Adão, ou para essa plêiade de Espíritos que veio em coletividade, a Terra
era o inferno, (mundo inferior). Era o inferno, porque o planeta evolvido de
onde foram obrigados a sair, era como o céu em relação ao planeta terra.
Houve lá também a pregação da verdade; eles, porém, não quiseram aceitá-la:
permaneceram rebeldes, fanáticos, incrédulos; não acompanharam o progresso
desse mundo feliz, rejeitaram a verdade.
Nessa ocasião, (por um tempo que durou séculos) houve essa batalha - batalha da
pregação da verdade contra as errôneas doutrinas que lá havia. - Os que
fecharam os olhos e taparam os ouvidos foram vencidos e precipitados na...
Terra: O chefe e seus subalternos. E Adão e seus companheiros se reencarnaram -
os anjos caíram do céu por seu orgulho, sua teima e rebelião contra a verdade.
É a mesma expulsão do Paraiso que nos descreve o Gênesis, (III: 23). É um
símbolo que representa uma verdade.
A batalha que houve nesse mundo evoluído, de onde Adão e seus companheiros
foram expulsos, é a mesma que está havendo aqui na Terra; é a pregação da
verdade rejeitada pelos fanáticos e rebeldes que não querem ver nem ouvir.
Adão, (os espíritos reencarnados) trouxe para a Terra, há milhares de anos, a
ciência, os conhecimentos adquiridos em suas sucessivas existências. Os homens
da Terra foram surpreendidos quando viram em seus filhos, conhecimentos
profundos e ideias elevadas, inteligências desenvolvidas que assombravam o povo
atrasado e ignorante, a ponto de dizerem que eles eram filhos de Deus,
diferentes dos filhos dos homens (1). A Bíblia concorda e ensina esta verdade no Gênesis,
Cap. VI: 2:
(1) Nós admiramos um Sócrates, um PIatão, um Newton, um
Copérnico, um Galileu, um Lavoisier, um Roetgen, um Edison, um Benjamin
Franklin, um Santos Dumont, um William Harvey, um Camille FIammarion e um
Guilherme Marconi, etc.
"E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra
e lhes nasceram filhos, viram os filhos de Deus que as filhas dos
homens eram formosas e tomaram para si mulheres de todas as que
escolheram." (Gênesis, VI: 2.)
Os "filhos de Deus" eram os Espíritos adiantados em ciências e artes,
que lhes ensinavam muitas coisas; que lhes faziam muitas descobertas. Eram os
rebeldes que vieram para a prisão - para o inferno; - para a Terra, mundo
inferior, muito atrasado naquele tempo.
Se assim não é, como se pode compreender?
Quem eram então aqueles filhos de Deus, que se casavam com as filhas dos
homens?
21b
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Continuemos a comparar versículos com versículos e meditemos:
"Pergunta pois às gerações passadas e examina com cuidado a memória de
nossos pais: porque somos de ontem e o ignoramos, porquanto nossos
dias passam sobre a terra como uma sombra". (Jó, VIII. 8-9).
Jó, com essas palavras proclama a justiça de Deus: Se não te recordas de teres
na presente vida corporal cometido faltas - que te façam merecedor de
sofrimentos que torturam o teu corpo e laceram o teu coração, pergunta às
gerações passadas; procura investigar se é possível teres delinquido em
existências precedentes, pois somos de ontem, já vivemos noutros tempos,
ainda que o tenhamos esquecido, por nos impedir a matéria, qual espessa sombra,
a representação do quadro das anteriores existências.
"Crês, por ventura, que um homem morto possa viver? Todos os dias da
presente vida estou esperando que chegue a minha mudança". (Jó. XIV. 14).
Jó eleva o seu coração ao Senhor e a pergunta que lhe dirige é a
expressão de esperança que acalenta no fundo de sua alma. Crê, ou antes
pressente a reencarnação, e esse pressentimento dá-lhe força para suportar,
resignado, os trabalhos da sua presente vida, esperando a sua mudança para uma
vida mais feliz, onde espera gozar, em consequência da expiação presente.
"Quantas tribulações penosas me tens feito provar, e voltando a mim, me
tens dado vida, e do abismo da terra me tens tirado. Tens multiplicado a tua
magnanimidade, e voltando a mim me tens consolado". (Salmos, LXX. 20-21).
Davi, num momento de inspiração superior fala das suas passadas existências e,
recordando as tribulações sofridas, entoa hinos de louvor ao Senhor, por tê-lo
feito voltar à vida, tirando-o dos abismos da terra.
"E passaram os seus anos em coisas vãs e os seus dias com grande fadiga.
Quando (o Senhor) os fazia morrer, eles o buscavam, voltavam e se
convertiam". (Salmos, LXXVII. 33-34).
Os maus, os pecadores endurecidos, viviam na vaidade, a sua vida era apressada
e curta. Só se lembravam do Senhor depois da morte. Então, buscavam-no, e a
misericórdia do Pai lhes concedia voltar à vida para que o reconhecessem e
adorassem.
"Porque a tua misericórdia sobre mim é grande e tiraste a minha
alma do inferno inferior." (Salmos, LXXXV: 13).
Eu morava, diz Davi, em outro mundo inferior a este, onde os sofrimentos
humanos são maiores; a tua misericórdia porém, é grande sobre mim, e
compadecido das minhas misérias tiraste dali a minha alma e me permitiste vir
descansar aqui, melhorando a sorte do meu Espírito.
"Ai de vós, homens ímpios! que abandonastes a lei do Senhor Altíssimo, se
nascerdes, nascereis em maldição, se morrerdes, a maldição será a vossa
herança". (Eclesiastes, XLI, 11-12).
Ai de vós que andais na abominação e no pecado, porque, se sois mortos,
nascereis trazendo convosco a maldição das vossas obras; e se vivos, morrereis
e a vossa memória será amaldiçoada.
21c “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Nesses versículos analisados à luz da razão, achamos a confirmação de tudo
quanto temos escrito claramente sobre a doutrina da reencarnação, negada
sistematicamente pelos senhores protestantes.
O versículo de Isaias que acima citei confirma claramente a pluralidade dos
mundos, e é repetido pelo mesmo profeta com as seguintes palavras:
"Porque eis aqui, eu crio novos céus e nova terra: não persistirão na
memória as primeiras calamidades, nem elas subirão ao coração. (Isaias, LXI. 17
(1).
(1) ...porque as primeiras coisas são passadas. (Apocalipse, XXI: 4).
A atividade divina não cessa jamais, e continua a tirar do caos, céus novos e
terras novas para morada da grande família humana.
.......................................
Voltemos a tratar dos anjos decaídos.
Jesus já está no mundo, espiritualmente. Ele já veio acompanhado dos seus
anjos. A trombeta do juízo final está sendo tocada nos quatro cantos da
terra; pelos seus Espíritos administradores. (Hebreus. I. 14).
O Mestre está fazendo a separação entre os bodes e as ovelhas. Muitos não
querem ouvir o som da trombeta.
Tapam os ouvidos.
O planeta Terra está passando por uma transformação. O mundo vai atingir um
grau elevado na hierarquia dos mundos.
Os rebeldes encarnados e desencarnados, serão dele excluídos (1). Os que estiverem sob o
estandarte do Espírito da Verdade, nele continuarão, porque não haverá mais
provações. (Não haverá mais dor, nem lamentos). Apocalipse, XXI: 4.
(1) Bhagavad Gita, Parte IX: 21.
Deus está renovando o mundo... (Eis que faça novas todas as coisas).
Apocalipse, XXI. 5. Os rebeldes serão expulsos do mundo transformado em jardim
de Éden. Novos Adãos e Evas expulsos do Paraíso; novos anjos expulsos do céu.
Miguel e seus anjos estão batalhando contra o Dragão e seus anjos!
O Espírito da Verdade, (João, XVI. 13 - como chefe dos espíritos ministradores,
(Hebreus, I. 14) estão na peleja contra o dragão dos erros, da ignorância, do
fanatismo, da superstição e da incredulidade; e este dragão com seus
defensores, serão vencidos e precipitados num planeta inferior: e lá, o novo
Adão com seus companheiros de rebelião irão expiar e sofrer as consequências da
sua incredulidade e obstinação e chorarão o seu paraíso perdido, e Deus,
na sua misericórdia não deixa que fiquem sempre nessa existência tormentosa;
dali sairão um dia (1), quando
houverem pago até o último centil a sua dívida. (S. Mateus V: 26; Jeremias XXXI.
9 e 28 e XXXIII. 7-10-11 e 26).
(1) Dominus mortificat e vivificat, deducit ad inferos et reducit, (I Regum ou
Samuelis, cap. II v. 6).
Veja nota final no fim desta 1ª parte.
Quando a humanidade compreender esta doutrina, realizar-se-á o que está
escrito: "Tragada foi a morte na vitória".
Sermo qui scriptus est: Absorpta est
mors in victoria. (I Aos Coríntios. XV: 54).
Satanás será
destronado e enviado para mundos inferiores, (nem mais o seu lugar se achou no
céu). Apocalipse, XII: 8-9.
Concordam ainda com esta doutrina os versículos seguintes:
"Na verdade vos digo que não passará esta geração até que todas estas
coisas aconteçam". (Mateus, XXIV: 33-34). A mesma geração que
escutou estas palavras do Cristo, assistiu a realização da profecia que teve o
seu cumprimento nas calamidades produzidas pela conflagração mundial, em 1914 -
1919, causadas pelo Kaiser, que representa o cavaleiro do Apocalipse (VI: 4). Aqueles
mesmos espíritos reencarnados não passaram deste a outro planeta enquanto não
se cumpriram as palavras do Mestre, e agora vai chegar o fim. A caridade de
muitos se esfriou e a abominação da desolação entrou em todos os templos.
(Mateus XXIV: 12 e 15).
Estamos no tempo do princípio das dores!
"Vós sois os filhos dos profetas", disse São Pedro, em Atos, III: 25.
Nós mesmos somos os filhos dos profetas; somos os mesmos da geração do tempo de
Jesus, que deste globo terrestre não sairíamos enquanto não cumprissem as suas
palavras... Somos os mesmos espíritos que voltamos de geração em geração. Deus
nos dá tempo para nos desenvolvermos e atingir o grau necessário de
adiantamento em existências sucessivas, até a restauração de todas as coisas;
até vermos Jesus face a face: o que nos parece enigma em um espelho, veremos em
realidade. (I Aos Coríntios, cap. XIII vs. 12).
21d
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Deixo de comentar a tal ressurreição da carne, porque todas as
pessoas cultas não aceitam essa doutrina; absolutamente não podem acreditar
mais, porque é absurda, anticientífica e insubsistente; porque sabem que as
substâncias químicas que se desagregam vão formar novos corpos no grande
laboratório da natureza.
A verdadeira doutrina está na 1ª aos Coríntios, XV: 35-44, para quem
sinceramente estuda o Espiritismo.
O versículo 44 concorda em ser o homem constituído de três substâncias:
1º) A alma ou Espírito, princípio inteligente, no qual reside o
senso moral.
2º) O corpo, invólucro grosseiro, material, de que está
temporariamente revestido para realizar certos objetivos providenciais.
3º) O perispírito, envoltório fluídico, semi-material, que é o
traço de união entre a alma e o corpo" (1).
(1) "O Espiritismo" de Gabriel Delanne, cap. III.
O perispírito é, pois, o corpo espiritual de que fala o apóstolo Paulo, e no
qual se opera a ressurreição. Não é uma ressurreição carnal, mas uma
ressurreição em corpo espiritual, conforme a linguagem do apóstolo.
O corpo carnal descendo à sepultura, a alma fica no espaço revestida do corpo
espiritual e nunca mais irá reunir-se a um cadáver ou a um corpo inexistente,
que existiu e foi destruído pela decomposição de suas moléculas.
A única ressurreição da carne, que existe, é a reencarnação da alma para uma
nova existência corporal.
Ainda que assim alguns não creiam, nem por isso deixa de ser verdade.
A doutrina do Espiritismo não é religião que se imponha às consciências e não
quer ter prosélitos inconscientes, nem precisa que alguém creia nela.
Não tem pregadores que ganhem ordenado em troca de suas pregações; aqueles que
se lhe dedicam dão de graça o que de graça recebem, porque não vivem do
Espiritismo.
Tem profissões que lhes asseguram a manutenção da vida. Somente o charlatanismo
explorador é que poderá abusar desse nome para enganar aos idiotas e
ignorantes.
O Espiritismo não teme aos seus contraditores: ele quer ser estudado e
meditado. Malgrado aos que o maldizem, ele vai-se tornando conhecido, crido o e
professado por milhões de criaturas em todo o mundo, num progredir crescente e
incessante, porque é a verdade e nela está, pouco importa que
alguém creia ou deixe de crer. Ele marcha de acordo com as ciências, interpreta
a Bíblia e desfaz os absurdos dogmáticos. Derrubará a Babilônia dos erros,
filhos da ignorância (1).
(1) De 1923 a 1938, no transcurso de tempo que medeia essas duas datas, muitos
pregadores protestantes se fizeram espíritas, muitos padres católico-romanos
romperam com suas Igrejas, despiram a indumentária sacerdotal e abraçaram a
verdade. No decurso de 16 anos, quantos milhões de espíritas
se acrescentaram e quantos milhões de volumes de novos tratados vieram
enriquecer a literatura espirita!
22 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPITULO XX
. ,. qui et idoneos non littera sed spiritus
littera emim occidit, spiritu
autem viviticat.
(Pauli
ad Corinth. II cap. III, vers 6).
Que estarão fazendo os espíritos dos apóstolos e ministros do Evangelho que
passaram desta para outra vida? Não estarão continuando a desempenhar sua
missão apostólica?
Os pastores protestantes já pensaram no que hão de fazer quando se lhes
fecharem os olhos carnais e se lhes abrirem os espirituais, lá do outro lado da
vida? Não irão continuar no desempenho da sua missão evangélica?
E se Jesus os incumbisse de pregar o Evangelho para esclarecimento e salvação,
tanto de encarnados como de desencarnados, rejeitariam eles essa missão e
discutiriam com o Cristo, dizendo ser isso impossível?
Se assim não tiver de ser, que é então o que eles vão fazer, quando seus
Espíritos deixarem a Terra o que a ela pertence? Irão ficar no céu, numa
contemplação beatífica, tão inútil quão enfadonha, por toda a eternidade?
......................
As seitas religiosas que interpretam a Escritura ao pé da letra, representam a
criança que se alimenta de leite e não se desenvolve nunca; nunca se torna
grande para alimentar-se de substancias mais fortes e nutritivas... ficam sendo
sempre crianças; aprendendo sempre sem nunca chegar ao conhecimento da verdade,
como dissera o apóstolo dos gentios!
O
Espiritismo é o que vivifica, a carne para nada aproveita. As palavras que eu
vos digo, são espírito e vida, disse Jesus, em João, VI: 63.
A
letra mata e o espírito vivifica, disse Paulo, em II aos Coríntios, (III:
6).
A letra matou o espírito dos interpretadores da Escritura e é por isso mesmo
que ainda hoje, muitos estão confusos e nada sabem a respeito da vida de
além-túmulo, e as teorias contraditórias das teologias, fazem as igrejas
girarem num círculo vicioso; e por isso, inventando e multiplicando as
hipóteses, subdividiram aos milhares as seitas protestantes que se contradizem.
Um reino que se divide contra si mesmo não pode subsistir, disse Jesus Cristo.
As seitas todas, guerreando-se mutuamente, acabarão por se destruírem e
desaparecerem.
Só a doutrina de Jesus, ensinada na Escritura e interpretada pelo Espirito da
Verdade, permanecerá, tão pura como no-la legou o Mestre; firme como a
rocha, et porta inferi non prevalebunt adversus eam.
Houve um tempo em que as igrejas protestantes encheram-se de prosélitos batizados
e de há vinte anos para cá se tem arrefecido esse entusiasmo, porque, milhares
dos que conheceram o Evangelho começaram a estudar e aprofundar as Escrituras
e, meditando em silencio, sem seguirem as tortuosidades das falsas
interpretações, não se satisfazendo com pregações repetidas, batidas
sempre no mesmo terreno, como as ondas do mar na mesma rocha, sem nunca a
modificarem, pediram explicações aos ministros que sempre respondem com
evasivas às objeções apresentadas e assim, esses desertaram, achando na
doutrina do espiritismo científico as chaves com que lhes foram abertas as
portas das inúmeras questões que as seitas não podiam resolver, recebendo por
essa doutrina, ensinamentos claros, com razões inconfundíveis, sem
absurdos, cientificamente de acordo com a justiça, misericórdia, bondade e
sabedoria infinitas do Criador.
Eis a razão da deserção.
Nem todos se conservam na teoria protestante. Muitos se enfastiam e procuram
satisfazer a sede que os devora, em fontes verdadeiras.
Igrejas antigas, onde têm sido recebidos, no decurso de muitos anos, em
comunhão, milhares de adeptos, nelas hoje se vê, em dias e noites de culto, um
punhado muito limitado de crentes!
Onde está a maioria?
Desertou!
Se formos procurar a causa e onde estão esses crentes, esses desertores, iremos
encontrá-los entre os espíritas, pelo motivo de haverem achado no Espiritismo a
doutrina das Escrituras, de acordo com a justiça de Deus. Deixaram de ser
protestantes para serem cristãos, sem seitas e sem dogmas.
O dogma é uma corrente de ferro que prende o homem, cerceia lhe a liberdade e
impede lhe o desenvolvimento para a espiritualidade.
O Rev. Pastor, autor do folheto contra a doutrina espírita, porventura já
estudou as obras fundamentais e todos os tratados e comentários que têm feito
em torno delas os sábios que não sejam os seus inimigos católicos e
protestantes? Procurou ele as razões e aprofundou todos os seus pormenores,
pesquisando paciente e desapaixonadamente os fenômenos psíquicos e
magnéticos que lhes são correlatos?
Enquanto estiver imitando e repetindo tudo o que encontra nos tratados
protestantes, e o juízo que estes já têm formulado contra a doutrina e tão
somente no seio do protestantismo, e não fora dele, o Rev. Pastor nunca terá
palavras retas e ajuizadas para julgar uma doutrina que só conhece
superficialmente.
O protestantismo tem, prestado grande serviço à humanidade. Isso é inegável.
Foi ao protestantismo que, em tempo próprio, Deus confiou a missão de traduzir
e espalhar Bíblias em todas as línguas. O protestantismo foi o precursor do
espiritismo, como São João Batista o foi do Cristo (1).
(1) Foi por ouvir pregações protestantes que há 40 anos eu
deixei o catolicismo romano.
Por meio do protestantismo muitos acertam com a vereda. Cada coisa em seu tempo
próprio: Os frades também tiveram a sua época e fizeram muita catequese; foram
os primeiros que prepararam o caminho em tempo próprio.
A Cesar o que é de Cesar.
Por meio do protestantismo, muitos acham a pérola de grande preço, porque, os
que estudam as Escrituras sem ideias preconcebidas estão mais perto da verdade
do que os indiferentes. Respeito os protestantes, como servos de Deus e irmãos
em Jesus, e oxalá que eles compreendessem os tesouros, as maravilhas que o
Senhor tem reservado para os seus servos fiéis e verdadeiros.
Digo, porém, que não viram e nem ouviram ainda o que muitos profetas e reis
desejaram ver e não viram, e ouvir e não ouviram, no dizer do Mestre.
* * *
Enquanto os protestantes continuarem a dizer que o espiritismo é a doutrina dos
demônios, continuam imitando os fariseus, que acusavam a Jesus classificando-o
como endemoninhado: A Jesus, diziam eles: "Tem demônio"! Aos
espíritas, dizem os protestantes: “Tem demônio"! E nós os espíritas
dizemos: "Perdoai-lhes, Pai, porque eles não sabem o que dizem".
E assim procuramos o reino de Deus e a sua justiça. (Mateus, V: 48 e VI: 33).
23 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
NOTA DA PÁGINA 135 DO CAPITULO XIX
Tradução da Vulgata latina:
"O Senhor é que tira a vida e a torna dar, introduz no inferno e de lá
torna a tirar, ou: O Senhor é que mata e faz viver, leva ao inferno e de lá
tira". I Reis ou Samuel, II: 6. (1)
(1) Nascer, viver, morrer renascer ainda e progredir sem cessar,
tal é a lei - A. Kardec.
Porém, como os teólogos não podiam harmonizar a doutrina da eternidade das
penas no inferno, com este e outros versículos da Bíblia, que dizem que as almas saem
do inferno, puseram este e os versículos idênticos como sendo a afirmação
da ressurreição da carne!
(Sempre a carne: matéria e não espirito, produto da crença mesquinha da unidade
da existência!)
Eis as traduções católico-romana e protestante:
"O Senhor é o que tira a vida e a dá, leva à sepultura e
tira dela. (Padre Antonio Pereira de Figueiredo).
"O Senhor é o que tira a vida e a dá, faz descer à sepultura e
tira dela" (Padre João Ferreira de Almeida).
"Jeová é o que tira a vida e a dá, faz descer ao Scheol e faz
subir". (American
Bible Society - New-York).
..................
Fizeram a tradução acomodando a Bíblia às suas próprias ideias e dessa forma
imprimiram na cabeça da humanidade do passado, de há muitos séculos, esses
erros que ainda hoje pretendem impor às consciências esclarecidas.
O importante dicionário latino, de Manoel Bernardes Branco, na página 536,
diz: Inferno s. m. lugar onde penam os maus depois da
morte. - Inferi, inferni; orum m. pl. Inferna, orum, n. pl. Os poetas
dizem Orcus, Erebus, i. m. Tartara, orum, n , pl. Gehenna e, Tenebrae, arum,
Infernus, i, Avernus, Barathrum - O lugar dos condenados Aeternus
damnatorum carcer. Ir para o inferno. "Ad inferos" detrahi, detrudi,
devolvi, dejici, praecipatari".
Onde está aí traduzido inferno por sepultura?
Sepultura s
, f. sepulcro, enterro, ação de enterrar.
Sepulturoe f. umacio, onis (inumar, exumar cadáver), dar sepultura
a alguém. (Sepultar ou tirar da sepultura) - Ser privado das honras
da sepultura, honore sepulturre carrere. Pertencente a sepultura.
Sepulchralis, Epitaphios - gravados nos monumentos Sepulchrorum
monumenta.
Onde está aí traduzido Sepultura por inferno?
...................
O dicionário latino de Francisco Antônio de Souza, edição de 1916, diz a mesma
coisa, tanto da palavra inferno como da palavra sepultura.
Inferno não é sepultura, sepultura não é inferno, ainda que os senhores
teólogos queiram que o seja...
Sepultura é cova no chão onde se enterram corpos mortos.
Inferno é mundo inferior, onde se reencarnam as almas dos rebeldes para
expiação de suas culpas; prisão, cárcere, onde vão pagar suas dívidas, como já
foi discutido na mesma página 139 deste volume, cap. XIX.
Quando os sacerdotes católicos e protestantes estarão resolvidos a traduzir a
Bíblia em sentido espiritual e deixarão de traduzi-la em sentido material?
As citações feitas neste opúsculo estão baseadas na vulgata latina, de S.
Jerônimo, visto ser fonte que merece toda a confiança.
Contrariem-se; embora, os meus irmãos católicos e protestantes... Contra fatos
não há argumentos.
SEGUNDA PARTE
24
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
PREFACIO
Pois
eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo
no ar, antes subjugo o meu corpo e o reduzo a servidão, para que, pregando
aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.
I
Coríntios, IX: 26-27
O homem pode crer e filiar-se à religião que lhe pareça a verdadeira, segundo a
sua consciência. Ninguém tem o direito de impor crença a outrem, visto que,
crença imposta, só pode fazer hipócritas.
"Hipócritas serão também aqueles que, conhecendo as falsidades dogmáticas
e descrendo dos seus artigos de fé, se conservem calados enterrando o talento
sabendo onde está a verdade; todavia, escondem a luz debaixo do alqueire
amordaçando a consciência, sufocando a voz do coração, a fim de serem
agradáveis aos crentes e permanecerem fiéis aos seus ministros... obedecendo
antes aos homens do que a Deus! (1)
(1) Atos, IV, I9-V, 29.
Eu nunca tive a pretensão de impor a outrem as minhas crenças progressivas,
porque também nunca aceitei imposições: Em assuntos de religião sempre ouvi e
li com muita atenção, analisando tudo...
Se para mim foi bom este modo de proceder, também o quero para os outros
- ampla liberdade de crença - cada
qual respondendo perante o Pai pelos seus pensamentos, palavras e atos.
Não foi com a intenção visada de impor esta ou aquela crença que eu escrevi
este apêndice. Não fiz outra coisa senão usar do meu livre arbítrio. Com a
mesma autoridade com que os protestantes escrevem combatendo o Espiritismo,
também escrevo defendendo-o e demonstrando a errônea interpretação dos textos
bíblicos em que se estribam para acusa-lo.
De modo algum desejo tome alguém por ofensa os meus escritos, assim como também
me não ofendo com as injúrias assacadas à doutrina que convictamente creio ser
a verdade, sem que até hoje achasse quem me convencesse do contrário.
Baseado na Escritura e só na Escritura, provei que o Espiritismo está nela e
ela mesma é o resultado do Espiritismo, e que foi por meio do Espiritismo que a
Bíblia foi escrita.
Ai fica, pois, confiado a este volume tudo quanto desejo saibam os meus
semelhantes, que ainda o desconhecem.
Sejam os leitores os meus juízes.
Deem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Mombuca,
Janeiro de 1923.
B. A. Fonseca
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