Ideias antigas e novas
A Redação
Reformador (FEB) Outubro 1923
Reformador (FEB) Outubro 1923
Temos
nos referido, em artigos desta seção, ao ensino dogmático das igrejas sobre os
supostos sacrifícios expiatórios e propiciatórios, a reversibilidade da culpa,
a substituição de responsabilidades, pondo-o em confronto com a luminosa
doutrina dos espíritos, contrária às ideias dos teólogos ortodoxos,
Voltamos
ao assunto, porque julgamo-lo de grande importância e oportuno, quando as
seitas confessionais investem contra o Espiritismo, unguibus et rostro (garras e bico)...
“A
antiga e bárbara concepção religiosa - do resgate pelo sangue, da salvação de
indivíduos e de grupos sociais pelos sacrifícios sangrentos - passou para o
catolicismo e para as seitas protestantes que aceitaram, nesta parte, o dogma
da igreja romana.
“A
própria generalidade da abominável usança serviu de motivo para que a
considerassem de origem divina.” (1)
(1)
Reformador de 1º de Fevereiro de 1915.
O
leitor estudioso, a quem for difícil o manuseio de pesados volumes especiais de
teologia dogmática, encontrará a exposição da teoria sobre os sacrifícios no
pequeno tratado de J. DE MAISTRE. (1), ultramontano à
outrance. (excessivo)
Os
tradicionalistas vão procurar a origem da execrável instituição, geralmente admitida
pelos antigos habitantes do planeta, no suposto sacrifício praticado por Abel,
pastor de ovelhas, que ofereceu ao Senhor as primícias (os primeiros animais) dos seus rebanhos e das suas gorduras, ao passo que Caim,
lavrador, lhe havia oferecido os dons da terra.
O
Senhor prestou atenção ao primeiro, que imolou vítimas, e não olhou para a
obIata (recurso para as despesas do culto ou
como remuneração de alguns serviços do sacerdote) do segundo.
Este,
enciumado e enfurecido, matou o irmão. (Gênesis, IV, 2 a 5 e 8.)
(1) Eclaircissements sur les sacrifices, em anexo às
Soirées de Saint-Pétersbourg, t. 2.° (ed. Garnier, s, d.)
Desde
logo ficou estabelecido, segundo os comentadores, o sacrifício de sangue para
agradar a Divindade torna-la propicia, demonstrar-lhe obediência e vassalagem.
Noé,
ao sair da arca, depois do dilúvio, “edificou um altar ao Senhor e, tomando de
todas as rezes e de todas as aves limpas, ofereceu-lhe as em holocausto sobre o
altar”. (Gênesis VIlI, 20.)
Este
sacrifício produziu grande efeito, como demonstram as promessas do Senhor,
transcritas nos dois seguintes versetos do citado Capítulo.
A
minuciosa regulamentação do culto religioso dos judeus é tida como revelada ou de
origem divina.
Nela
predominam, ocupando o primeiro plano do ritualismo, os sacrifícios sanguinolentos,
como entre os povos bárbaros da antiguidade.
Quando
os homens, posto à margem o ensino do Evangelho, elaboraram os dogmas do
catolicismo, foi aceita a aludida concepção hebraica.
Foram
proclamadas as virtudes purificadoras, reparadoras e redentoras da efusão do
sangue. Considerando porém, insuficientes os antigos holocaustos para
satisfazer o Deus de Adão, decretaram o dogma do sacrifício propiciatório do
Cristo deificado, vítima imolada ao Pai.
No
artigo do Reformador, citado em começo, havíamos reproduzido esta súmula do
dogma:
“Deus
exige a morte de Deus e imola-se a Deus para dar satisfação a Deus pela suposta
culpa do primeiro homem, transmitida à sua posteridade.”
Perguntávamos
então:
“Nos
Evangelhos encontra-se fundamento para essa fórmula?”
Como
a humanidade tenha evolvido no decurso dos séculos, ela não pode mais aceitar
esse dogma fundamental da mitologia católico-romana e das seitas do
protestantismo.
Inútil,
senão contraproducente, é o esforço dos seus sectários.
Não
descambamos para a incredulidade que os nossos adversários, unidos contra o
Espiritismo vitorioso, vão semeando.
Nesta
pugna pela verdade, nós nos sentimos bem.
Volvemos
ao Evangelho, ao Cristo redivivo.
A
reforma religiosa, que surgiu no planeta com a Nova Revelação, graças à misericórdia
divina - apraz-nos repetir, porque sabemos render homenagem e culto espiritual
ao Senhor do Universo - é mais séria, mais larga, mais profunda, de muito
maior significação e alcance, do que a
reforma do século XVI, quando foi cindida a famosa unidade de que se orgulhava
a religião de Roma.
Consoante
à palavra do Senhor, a verdade nos libertará.
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