quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Fred Fígner




Frederico Fígner
por Ramiro Gama
in Seareiros da Primeira Hora (ed. ECO)

            "Frederico Figner, o intemerato batalhador da causa espírita, desencarnou no Rio de Janeiro, a 19 de janeiro de 1947, com 81 anos de idade. Israelita de origem, nasceu Figner a 2 de dezembro de 1866, em Milevsko, perto de Tabor, na Tcheco-Eslováquia, outrora Boêmia.

            Aos 13 anos, deixou a casa paterna para aprender um ofício, na cidade de Bechim. Aos 16 anos, partiu de sua terra natal, dirigindo-se para Bremerschafen, onde embarcou com destino à América do Norte. Depois de permanecer algum tempo nos Estados Unidos, México e América Central, Fígner rumou para a América do Sul, fixando-se definitivamente no Brasil, onde constituiu família, contraindo matrimônio com a senhora Esther de Freitas Reys.

            Desse consórcio nasceram seis filhos, três dos quais desencarnaram antes dele. Figner teve casa comercial no Rio com filial em São Paulo, e no terreno material foi um grande batalhador pelo progresso, empregando sua incansável atividade em vários ramos do comércio e da indústria, dando o que de si melhor possuía, conquistando, pela sua operosidade e cavalheirismo, grande número de amigos e admiradores.

            Israelita que era, no lar paterno Fígner recebeu orientação religiosa oposta à cristã. Todavia, na realidade, Fígner não professava nenhuma religião. Foi aqui, no Brasil, que ouviu o toque de clarim que o despertou para as verdades eternas, graças à influência do seu amigo Pedro Sayão, o qual lhe falava sempre de coisas do espiritismo.

            O momento decisivo de sua adesão à Doutrina dos Espíritos ocorreu por ocasião de uma cura produzida através do espiritismo, na esposa de um dos seus empregados: Vários outros fatos alicerçaram mais ainda a sua fé e o levaram a estudar o Espiritismo, por maneira que, já em 1903 prestava, como espírita, sua colaboração na Federação Espírita Brasileira.

            Novos rumos abriram-se, então, a esse dedicado servidor do Cristo, que passou a trabalhar com acendrado amor à causa da caridade, praticando largamente atos de assistência e beneficência social. Por ocasião da gripe espanhola, em 1918, Fígner manteve 14 doentes no seu próprio lar, e ele mesmo, sentindo os reflexos da epidemia, passava dias inteiros na Federação atendendo e socorrendo pessoas que ali chegavam em busca de medicamentos e recursos.

            Fígner foi um colaborador assíduo da Casa de Ismael, onde despachava de 150 a 200 receitas por dia e distribuía passes. No terreno da propaganda doutrinária, desenvolveu extraordinária atividade. Colaborou assiduamente no "Correio da Manhã", onde mantinha uma coluna espírita.

            Custeou a publicação de muitos livros; viajou para a Inglaterra, onde visitou o "Circle of Crew” em que o médium Willy Hope obtinha as célebres fotografias de extras; visitou, também Sir Artur Conan Doyle e vários outros vultos destacados do Espiritismo inglês. 

            Trouxe ao Brasil o famoso médium Valentino, realizando sessões em grupos de amigos. Em Belém, capital do Pará, frequentou as notáveis reuniões de D. Ana Prado, conhecida médium de materializações, obtendo ali a materialização do espírito de sua filha Raquel, que com ele conversou horas inteiras, confortando, principalmente, D. Esther, sua mãe, que vivia acabrunhada com a sua partida para a vida espiritual.

            Fígner foi vice-presidente da Federação e depois membro do Conselho Fiscal até a sua desencarnação. Exerceu o cargo de tesoureiro da "Comissão pró Livro Espírita". Presidiu vários grupos na sede da Federação e no seu lar.

            Possuía sólidos conhecimentos da Doutrina e defendia com ardor as obras de Kardec e Roustaing. Era um perfeito poliglota; falava com segurança línguas eslavas, germânicas e latinas. Enfim, Frederico Fígner foi um espírita que, pela sua dedicação à doutrina e às obras de caridade e amor, revelou-se um autêntico missionário, que soube empregar bem os talentos que o Pai lhe confiara.

            Da REVISTA ESPÍRITA DO BRASIL do mês de fevereiro de 1947, extraímos os conceitos abaixo, que, sobremodo, compõem a biografia acima do saudoso e querido Fígner:

            "Há dez anos mais ou menos, lançou a ideia de se fundar uma sociedade para unificar os métodos de trabalhos nas sessões: o "Elo" das sociedades espíritas do Distrito Federal.

            As sessões preparatórias foram presididas por Fígner, na sede da Federação. Formou-se o "Elo", cujo primeiro presidente foi o Dr. Lins de Vasconcelos, mas a entidade teve vida efêmera, não chegando a pôr em prática o seu belo programa.

            Dois dos companheiros que constituíram a diretoria do "Elo" já desencarnaram: João Pinto de Souza e Lamounier Foreis. Outro companheiro que também fez parte do "Elo" foi o Dr. J. C. Moreira Guimarães. Outro campo de atividade doutrinária em que Fígner se destacou foi a imprensa, notadamente pelas colunas do "Correio da Manhã", cuja crônica espírita prestou muito serviço à doutrina. Sustentou polêmicas com médicos e sacerdotes, tomou atitudes corajosas em defesa do Espiritismo, apesar de não ter vocação tribunícia. Não era orador; doutrinador, sim, e dos mais pacientes e amáveis. Eis, em traços muito simples e abreviados, quem foi Figner o valoroso espírita que há pouco deixou o mundo terreno".

            P. S. - Fígner travou notável polêmica com o padre Dubois, de Belém do Pará, polêmica essa que Fígner enfeixou num livro intitulado "Frutos da pastoral", largamente distribuído pela Federação Espírita Brasileira.

O bom rico

            O Jornalista Emiliano Mendonça contou-nos:

            Trabalhava nos Serviços de Pesca, como Representante dos Pescadores sindicalizados, em Vitória, no Espírito Santo. Era também o Presidente do Centro Espírita local.

            Em 1930, com a ditadura Vargas, teve de licenciar-se e veio para o Rio, trazendo dos SERVIÇOS um vale, para ser pago aqui, na Matriz, de dois meses de seus vencimentos.

            Tomou um Hotel e dias depois, compareceu à Repartição indicada para receber seu vale.

            Informara-lhe que somente daí a um mês poderia recebê-lo. Coisas comuns na época...

            Ficou apreensivo e dizendo de si para consigo: e como poderei saldar minha dívida no Hotel e fazer outras despesas, tanto mais que estou com alguns níqueis no bolso...

            E assim dialogando consigo mesmo, vagou pelas ruas do Rio, à procura de uma saída.

            Não conhecia ninguém. Era um estranho numa cidade que visitava pela primeira vez.

            Andou, parou aqui e ali, já se mostrava desanimado, quando se viu diante da CASA EDISON, de propriedade de Frederico Fígner.

            E refletiu: Fígner era Espírita e certamente lhe resolveria a situação.

            Entrou. Fez-se anunciar e, logo em seguida, viu-se diante do conhecido e estimado Seareiro, que, sereno, refletindo simpatia e boa vontade, fê-lo sentar, e, indagando, amável e bondosamente, da razão de sua visita.

            Entre acanhado e surpreso, Emiliano contou-lhe sua situação, mostrou-lhe o vale e lhe pedia se não era possível comprá-lo ou, pelo menos, ficar com ele e emprestar-lhe, por conta, algum dinheiro.

            Fígner tomou-lhe o vale, leu-lhe a quantia e, depois, devolveu-o ao Emiliano. Tirou da gaveta o dinheiro que o vale representava e o entregou ao querido companheiro.

            - Mas, Sr. Fígner, exclamou o Emiliano, o Sr. entrega-me o dinheiro e fica sem nenhum documento?

            - Não faz mal. Você resolverá sua vida. E, quando receber seus dois meses de vencimentos, vem aqui e conversaremos.

            Tempos depois, Emiliano recebeu o dinheiro da sua Repartição e compareceu à presença de Fígner para lhe pagar.

            - Não, disse-lhe o BOM RICO-ESPÍRITA, não me deve nada. Ajudei-o apenas. Tenho aqui na gaveta um fundo de reserva para estas situações. Aceite minha ajuda e eu lha dou com boa vontade, de irmão para irmão.

            Emiliano abraçou-o, sensibilizado. Partiu. Nunca mais o viu. Mas guardou-lhe o gesto, que lhe refletia o título de verdadeiro SEAREIRO DA PRIMEIRA HORA. BOM RICO E ESPÍRITA, que sabia ajudar na hora exata e sem humilhar ninguém.

            Que Jesus ilumine cada vez mais o seu espírito, são os votos que formulamos, ao recordarmos a sua passagem por este mundo de provas redentoras.

O livro "Voltei" resolve uma aposta

            A prezada irmã Celeste Mata, depois de uma conferência num determinado Centro da Guanabara, contou ao Jornalista Emiliano Mendonça o seguinte sobre o nosso querido Fígner:

            Apostara ele com um seu íntimo amigo como o primeiro que desencarnasse viria dar ao que ficou uma prova da sua imortalidade.

            Fígner desencarnou primeiro e o amigo ficou esperando pela resposta da aposta feita.

            Dois anos se passaram.

            Uma noite, sonha com o Irmão Fígner que lhe aponta um livro com o nome VOLTEI.

            Acorda e vai à Livraria da Federação procurar esse livro e o encontra. Lê mas nada compreende, pois é de autoria do Irmão Jacó.

            Dias depois, indaga de um amigo espírita para que o esclarecesse e o amigo, inteirado da aposta e do sonho, lhe explica:

            - Está tudo certo. O livro VOLTEI é de autoria do Irmão Fígner, recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier. Fígner desejou apenas se esconder num pseudônimo. Respondeu a aposta, pois veio lhe mostrar que está mais vivo do que nunca e tanto que voltou, mostrando aos que ficaram o que lhe sucedeu no Mundo Maior e como que apelando para todos nós, que ainda vivemos no casulo da carne densa, para persistirmos servindo e servindo, dando algo de nós, pois somente a caridade assim nos salvará, dando-nos mérito para gozarmos da Paz do Dever cumprido no mundo da verdade.


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