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sábado, 2 de abril de 2011

40/50 'Crônicas Espíritas'


40CM

XI


            Haveria ainda muitos pontos a rebater no livrinho do monsenhor Martins; mas acho que não vale a pena esmiuçá-los.
            Também há nele ensinos bons e salutares; mas estes últimos, infelizmente, estão envenenados pela peçonha dos ensinos inventados pela Igreja, para fins egoístas.
            Ao monsenhor Martins peço desculpa por ter como que falado diretamente com ele nesta despretensiosa análise que fiz, mas este é o meu modo de escrever.
            Afirmo-lhe que no meu coração há uma lacuna que só será preenchida no dia em que mutuamente nos abraçarmos com verdadeiro sentimento fraternal. E eu, da minha parte, peço a Deus que este dia não esteja longe.
            Não me admira que a Igreja pregue a morte ao Espiritismo e às outras crenças, que com ela não comungam; o que me admira, porém, é que os homens inteligentes, homens eruditos, como os há entre o clero, não vejam os sinais dos tempos e ainda se conservem presos a essa Igreja, que (com tanta desfaçatez) adulterou os ensinos de Jesus.
            Admira-me que não vejam, nesta tremenda guerra, a luta entre o bem e o mel, e não compreendam que, fatalmente, o bem há de vencer, porque o tempo da escravatura já passou, e o domínio pela espada há de afundar-se neste mar de sangue que corre nos campos da velha Europa (1), como já passou também o tempo do domínio das consciências; pois, se o homem não tivesse o direito de raciocinar, não teria a responsabilidade dos seus atos. Responsabilidade que Jesus ainda ensinou quando disse a Pedro: “Mete a espada na bainha, porque, quem com ferro fere, com ferro será ferido”, justiça que aparentemente na Terra não se observa, mas que a despeito disso na Terra se executa.
            E executa-se pelas reencarnações nas quais o homem ignora o seu passado, para deste modo terem mérito as sua obras. Porque mérito nenhum teria o homem se fizesse o bem ao seu próximo sabendo que em uma vida anterior o tinha prejudicado e que o bem, que agora lhe fazia, não era nem o juro daquilo em que o prejudicou. Mérito não teria o homem do desvelo que revela pelas suas filhas, se soubesse que em vida anterior foi ele a causa da sua perdição. No entanto, todos os atos bons que o homem pratica, ignorando o seu passado, dizem os Espíritos e diz Paulo, são-lhe levados em conta de jornal e não em conta de dívida.
            E a justiça divina?
            Se não existisse a pluralidade de existências, por que toda essa variedade de dores e sofrimentos físicos e morais da Humanidade?
            Teria a dor nascido pelos seios impolutos de uma virgem?
            Decerto que não, mas é certo, sim, que ela é a conseqüência dos desvarios das criaturas, que não quiseram agasalhar o Evangelho que o Cristo veio não só ensinar, mas exemplificar, para que os que o imitassem se salvassem. E a despeito desta tremenda tragédia do Gólgota, o homem até hoje só quer viver para os gozos deste mundo, sem cogitar do Cristo nem dos seus ensinos. Nem vê nesta terrível hecatombe da guerra, sem precedentes na História, que algo de extraordinário está a suceder, e que os fatos espíritas, que, como nunca, se avolumam, são uma advertência que Deus, mais uma vez, como no tempo de Jonas, manda, chamando a atenção do homem para se emendar enquanto é tempo.
E Jesus, predizendo todas as tribulações pelas quais a Humanidade teria de passar, disse: ‘Na verdade vos digo que não passará esta geração sem que se cumpram todas essas coisas’ (S. Mateus cap. 24)   
Gerações têm sucedido a gerações e só agora é que surgem as dores preditas por Jesus; e no entanto as palavras dele não podem deixar de ser a expressão da verdade. E esta verdade vem sendo explicada pelo Espiritismo.
A geração, à qual Jesus falou, veio reencarnando e desencarnando sucessivamente, progrediu nas artes, nas ciências, em tudo, menos na moral que ele exemplificou.
Bem sabia Jesus que as dores seriam necessárias para que a sua moral pudesse florir na Terra.
À mesma geração, antes de virem as dores, foi enviado o Espiritismo para lhe provar que a verdadeira vida não era a deste mundo, e sim a vida do Além, e que esta da Terra era um meio de a alcançar definitivamente pela prática da lei divina.
O mundo, porém, não lhe deu ouvidos. Infelizmente a dor é mesmo necessária.  

(1) Não esquecer que esta resposta foi escrita em 1917.




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