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sábado, 2 de abril de 2011

39/50 'Crônicas Espíritas'


39CM

        Explicando o que é a indulgência católica, diz monsenhor Martins: “Chama-se indulgência a distribuição que a Igreja faz dos merecimentos do seu Tesouro aos católicos, para esses merecimentos satisfazerem às penas temporais, devidas aos seus pecados já perdoados, impondo-lhes como uma pequena compensação atos de religião, caridade, devoção, que não são impostos por preceito algum. Esse tesouro formam-se dos merecimentos, de que muitos santos, por não precisarem, não dispuseram para satisfazer às penas temporais; e dos merecimentos da paixão e morte de Jesus Cristo, que por serem infinitos, extraordinariamente excederam aos que eram necessários para remir os pecados de todo o gênero humano”.
            Para o homem que raciocina, não pode decerto seduzir semelhante conto. Para o povo que ainda não tem a razão esclarecida, e especialmente para os criminosos, isto é um convite para o crime, pois com a indulgência, por mais criminoso que seja o indivíduo, o céu lhe estaria sempre aberto.
            Nenhuma passagem do Evangelho, entretanto, autoriza semelhante disparate, antes, tudo lá demonstra o contrário.   
            Na parábola das virgens sensatas e loucas (Mateus, cap. 25) Jesus ensina que “O reino dos céus é semelhante a dez virgens que saíram ao encontro do esposo, levando cada uma a sua lâmpada. As cinco sensatas encheram-nas de azeite nas suas lâmpadas e, como o esposo demorou, adormeceram. Quando de repente ouviram gritar que o esposo vinha, correram a recebê-lo e as loucas pediram às sensatas que lhes dessem do seu azeite. Mas as sensatas disseram-lhes: para que não aconteça que ele chegue a faltar a todas, ide e comprai-o. Enquanto as loucas foram comprá-lo, chegou o esposo e as que levaram azeite entraram com ela para festejar as bodas e a porta foi fechada. Quando vieram as outras e chamaram pelo senhor, ele lhes respondeu: em verdade vos digo que vos não conheço”.
            Segundo a interpretação dos Espíritos, Jesus não ensinou o egoísmo e, sim, que este ensino tem em mira prevenir os homens de que não devem ser descuidados e deixar para o último momento a sua reforma moral, a sua regeneração, porque ninguém sabe a hora que o esposo, o Senhor, pode vir a proceder à separação dos bons e dos maus. Ensinou também que as virtudes de uns em nada podem aproveitar às maldades dos outros. O azeite, isto é, o mérito das obras das cinco sensatas só a elas pode aproveitar.
            É preciso que cada um encha a sua lâmpada pelo seu próprio esforço. Aqueles que confiam nos ensinos da Igreja, que descansam sobre os méritos dos santos, das intercessões dos padres, das absolvições, esses encontrarão as portas da sala do festim fechadas, pois só as obras pessoais podem conseguir que elas se abram.
            Ainda no capítulo 25 de S. Mateus, Jesus confirma isso quando diz: “Quando vier o Filho do homem na sua majestade, porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à esquerda. Então dirá o rei aos que estarão à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era hóspede, e recolhestes-me; estava enfermo e visitastes-me; estava no cárcere e viestes ver-me.
            “Então dirá também aos que estarão à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, que não o fizestes.”
            Não é isso, monsenhor?
            Não demonstram estes versículos que só as obras praticadas pelo próprio indivíduo são as únicas que têm valor e que em nada aproveitam as virtudes dos santos aos que não cumpriram os preceitos da lei, e isso mesmo só pelo amor dos bens? Como é que se ensina ao povo que todos os crimes lhe serão perdoados desde que ele dê esmolas aos santos? Não é uma heresia?
            A própria Igreja, sem querer, confessa-se ao erro ou confessa que as suas missas não passam de uma exploração.
            E a prova disso é que o padre confessa um moribundo, absolve-o, sacramenta-o e, por causa das dúvidas e para arranjar uns cobrinhos para a padroeira da igreja, que tem grandes despesas com o aluguel da casa, etc., encomenda-lhe o corpo aos vermes. Portanto, a alma do freguês partiu com todas as garantias e, se não encontrar algum aeroplano no caminho, deve ter chegado ilesa às portas do céu. Não é isso que a Igreja promete? Pois bem!!! No 7º dia, o mesmo padre que absolveu sacramentos e encomendou o freguês, diz a missa que deve tirar do purgatório; no 30º dia, repete a mesma e tantas mais, quantas os parentes mandarem dizer e tantas mais, quantas os parentes mandarem dizer, para o mesmo fim, sem jamais fornecerem recibo de saldo. Ora, claro está que se o freguês foi, de fato, absolvido e foi para o céu, segundo diz a Igreja, a missa não tem razão de ser, ou então a Igreja confessa que a promessa do céu é um conto do vigário. Não é assim ver. Martins?


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