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sábado, 16 de março de 2013

5. Ciência Fanatismo Religião


5

Ciência    Religião   Fanatismo

por  Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938



                        A fenomenologia espírita não é hoje atrativo das conversões. A atração do Espiritismo é a pureza, a sublimidade dos seus ensinamentos, a uniformidade perfeita que existe entre ele e os Evangelhos.

            Ser espírita é ter a alma voltada para a luz, procurando-a. É resignar-se na dor, confortar os que sofrem, perdoar aos que nos afrontam e pedir pelos que nos ferem: é, enfim, amar ao próximo, como exemplificou Jesus.

            Nesse caso, direis: - Não somos espíritas! Sereis sinceros se assim o fizerdes, mas esqueceis que a Terra é um planeta de reparação: - é, portanto, espírita todo aquele que se esforça no combate às suas próprias imperfeições.

            Ao se nos deparar um infeliz, amemo-lo, importando-nos pouco que pertença a um credo religioso que nos deseja ver perseguidos e atirados às prisões. Respeitemos-lhe a crença e só lhe falemos da nossa, se ele não sentir consolação com a que lhe ensinaram, ou o obrigaram a seguir.

            O Espiritismo prega a evolução da humanidade com a preparação do homem.

*

            A data de hoje, em que se comemora a proclamação da República no Brasil, assinala a evolução do nosso País, acabando com as distinções sociais, oriundas de títulos nobiliárquicos, que nem sempre recomendavam, aos olhos do povo, os seus possuidores.

            A República Brasileira não nasceu do ódio ao seu monarca, aquele bom que, durante meio século, governou a Pátria que tanto amava. Não foi proclamada contra o soberano, porque este era o maior dos republicanos, o mais justo e o mais caridoso dos homens do seu País. Ela foi proclamada, porque ele não a procurava evitar e o povo estava farto dos homens que formavam os ministérios, e temia que, desaparecendo Pedro de Alcântara, os políticos se apoderassem do governo.

            É de notar, senhores, que essas evoluções se passam em todos os países com derramamento de sangue, enquanto aqui ela se efetuou sem vítimas, nem atos extremos, a não ser o comovente banimento, aliás inevitável, sofrido pelo Imperador.

            A Rússia, a Espanha e vários países da velha Europa passam no momento por transições dolorosas, geradas do materialismo ocasionado pelos mistérios, pelos dogmas e pela pressão do clero, aliado sempre de todos os governos. Na Rússia, a pressão sobre as classes proletárias era absoluta. Fácil foi a um grupo de exaltados inverter a ordem das coisas: em vez de governarem os de sangue azul, governariam os mais destemidos, sob a capa de proletários.

            Na Espanha, berço da Inquisição e dos autos de fé, o materialismo das massas campeia e se espalha.

            E tanto isso é verdade que essas explosões populares não são apenas a expressão de doutrinas socialistas, mas a revolta contra a escravidão mental em que os mantiveram durante largo tempo os seus pseudo guias espirituais - os padres. Daí a iconoclastia contra templos suntuosos, basílicas tradicionais, cuja destruição lamentam todos quantos admiram e veneram a arte e o passado.

            Não podemos apoiar esses atos monstruosos e vandálicos, apesar de reconhecermos neles a lei do efeito.

            Condenemo-los e esforcemo-nos para que o Brasil não seja presa desse materialismo grosseiro que destrói lares e ocasiona desgraças e, para isso, levemos a nossa palavra aos meios onde os Evangelhos são ridicularizados, porque lh'os ensinaram pela letra e ainda os deturparam com interpretações capciosas.

            Parece-nos que essas organizações políticas, que pretendem governar pela força, não entrarão jamais no Brasil, onde vimos ensinando os Evangelhos ao povo, na sua simplicidade divina, sem intolerância e sem deturpações. Podemos, ainda, afirmar que elas não encontrarão aqui o ambiente propício, porque, no Brasil, não obstante as reiteradas tentativas de pressão exercida por fanáticos, existe ainda - mercê de Deus - a liberdade espiritual.

            Levemos a nossa palavra a todos os cantos da Pátria, preguemos a verdade evangélica na sua doçura e mostremos ao povo que ele sempre foi enganado com subterfúgios que os opressores procuraram para justificar cruzadas, inquisições e autos de fé.

            A Ilha de Vera Cruz precisa ser cristianizada. Só a difusão dos Evangelhos poderá proteger a Terra de Santa Cruz dessa avalanche de ódios concentrados durante séculos e séculos.

            E então veremos o Brasil, como modelo dos velhos países, servir de padrão aos estadistas que surgirem das cinzas das velhas nações.

            Preparemos o povo para resistir a essa hecatombe, ensinemo-lo a amar o seu semelhante, mesmo porque um crime não justifica outro.

            Todas essas transformações estão previstas nos livros espíritas, e Léon Denis, no seu livro - O Problema do Ser, do Destino e da Dor, parece escrever para a época atual. Leiamos esse livro, sigamos os conselhos do mestre, que nos ensina que "a evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da natureza e da vida. Insurgir-se contra essa lei seria tão insensato como querer parar o movimento da Terra. As transformações violentas, sem a preparação do povo, deslocam os apetites, as ambições, os sofrimentos e substituem as opressões do passado por um despotismo novo, mais intolerável ainda".

            Propagando o Espiritismo, ensinando aos nossos filhos a verdade da lei da reencarnação, um grande passo teremos dado, porque das crianças de hoje sairão os estadistas de amanhã. E, quando os Países forem dirigidos por homens que saibam que, além do seu poder, existe um outro mais forte, que os fará voltar à Terra para reparar males que disseminaram, veremos, então, que o planeta evoluiu, progrediu assustadoramente, reinando entre o povo a felicidade há tantos séculos procurada pelas baionetas ,e pelos canhões.

            Ainda há pouco, D. Pedro II enviou-nos uma longa mensagem através do aparelho de Zilda Gama, mensagem essa publicada pelo "Diário de Notícias", desta Capital.

            O sábio Imperador, habituado e experimentado a governar, fala-nos exatamente na necessidade da educação das crianças.

            Ele, melhor do que todos nós, já pela experiência, já pelo seu maior poder de visão, prevê que das crianças de hoje depende o futuro do nosso Brasil.

            Espalhemos as leis espíritas, mostremos à humanidade que os infelizes de hoje foram os poderosos de ontem e que os desumanos de hoje serão sem dúvida os desgraçados de amanhã.

            Conhecendo a justiça da dor e como evitá-la no futuro, o homem compreenderá a necessidade de ser bom. 


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