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Ciência Religião Fanatismo
por Mínimus
(Antônio Wantuil
de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
A fenomenologia espírita
não é hoje atrativo das conversões. A atração do Espiritismo é a pureza, a
sublimidade dos seus ensinamentos, a uniformidade perfeita que existe entre ele
e os Evangelhos.
Ser espírita é ter a alma voltada
para a luz, procurando-a. É resignar-se na dor, confortar os que sofrem,
perdoar aos que nos afrontam e pedir pelos que nos ferem: é, enfim, amar ao próximo,
como exemplificou Jesus.
Nesse caso, direis: - Não somos
espíritas! Sereis sinceros se assim o fizerdes, mas esqueceis
que a Terra é um planeta de reparação: - é, portanto, espírita todo aquele que
se esforça no combate às suas próprias imperfeições.
Ao se nos deparar um infeliz, amemo-lo,
importando-nos pouco que pertença a um credo religioso que nos deseja ver
perseguidos e atirados às prisões. Respeitemos-lhe a crença e
só lhe falemos da nossa, se ele não sentir consolação com a que lhe ensinaram,
ou o obrigaram a seguir.
O Espiritismo prega a evolução da
humanidade com a preparação do homem.
*
A data de hoje, em que se comemora a
proclamação da República no Brasil, assinala a
evolução do nosso País, acabando com as distinções sociais, oriundas de títulos
nobiliárquicos, que nem sempre recomendavam, aos olhos do povo, os seus
possuidores.
A República Brasileira não nasceu do
ódio ao seu monarca, aquele bom que, durante meio
século, governou a Pátria que tanto amava. Não foi proclamada contra o
soberano, porque
este era o maior dos republicanos, o mais justo e o mais caridoso dos homens do
seu País. Ela foi proclamada, porque ele não a procurava evitar e o povo estava
farto dos homens que formavam os ministérios, e temia que, desaparecendo Pedro
de Alcântara, os políticos se apoderassem do governo.
É de notar, senhores, que essas
evoluções se passam em todos os países com derramamento de sangue, enquanto
aqui ela se efetuou sem vítimas, nem atos extremos, a não ser o comovente banimento,
aliás inevitável, sofrido pelo Imperador.
A Rússia, a Espanha e vários países
da velha Europa passam no momento por transições dolorosas, geradas do
materialismo ocasionado pelos mistérios, pelos dogmas e pela pressão do clero,
aliado sempre de todos os governos. Na Rússia, a pressão sobre as classes proletárias
era absoluta. Fácil foi a um grupo de exaltados inverter a ordem das coisas: em vez
de governarem os de sangue azul, governariam os mais destemidos, sob a capa de
proletários.
Na Espanha, berço da Inquisição e
dos autos de fé, o materialismo das massas campeia e se espalha.
E tanto isso é verdade que essas
explosões populares não são apenas a expressão de doutrinas socialistas, mas a
revolta contra a escravidão mental em que os mantiveram durante largo tempo os
seus pseudo guias espirituais - os padres. Daí a iconoclastia contra templos
suntuosos, basílicas tradicionais, cuja destruição lamentam todos quantos
admiram e
veneram a arte e o passado.
Não podemos apoiar esses atos
monstruosos e vandálicos, apesar de reconhecermos neles a lei do efeito.
Condenemo-los e esforcemo-nos para
que o Brasil não seja presa desse materialismo grosseiro
que destrói lares e ocasiona desgraças e, para isso, levemos a nossa palavra
aos meios
onde os Evangelhos são ridicularizados, porque lh'os ensinaram pela letra e
ainda os deturparam
com interpretações capciosas.
Parece-nos que essas organizações
políticas, que pretendem governar pela força, não entrarão
jamais no Brasil, onde vimos ensinando os Evangelhos ao povo, na sua
simplicidade divina, sem intolerância e sem deturpações. Podemos, ainda,
afirmar que elas não encontrarão
aqui o ambiente propício, porque, no Brasil, não obstante as reiteradas
tentativas de pressão exercida por fanáticos, existe ainda - mercê de Deus - a
liberdade espiritual.
Levemos a nossa palavra a todos os
cantos da Pátria, preguemos a verdade evangélica na
sua doçura e mostremos ao povo que ele sempre foi enganado com subterfúgios que
os opressores
procuraram para justificar cruzadas, inquisições e autos de fé.
A Ilha de Vera Cruz precisa ser
cristianizada. Só a difusão dos Evangelhos poderá proteger
a Terra de Santa Cruz dessa avalanche de ódios concentrados durante séculos e séculos.
E então veremos o Brasil, como modelo
dos velhos países, servir de padrão aos estadistas que surgirem das cinzas das
velhas nações.
Preparemos o povo para resistir a
essa hecatombe, ensinemo-lo a amar o seu semelhante, mesmo porque um crime não
justifica outro.
Todas essas transformações estão
previstas nos livros espíritas, e Léon Denis, no seu livro
- O Problema do Ser, do Destino e da Dor,
parece escrever para a época atual. Leiamos esse livro, sigamos os conselhos do
mestre, que nos ensina que "a
evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da natureza e da vida.
Insurgir-se contra essa lei seria tão insensato como querer parar o movimento
da Terra. As transformações violentas, sem a preparação do povo, deslocam os
apetites, as ambições, os sofrimentos e substituem as opressões do passado por
um despotismo novo, mais intolerável ainda".
Propagando o Espiritismo, ensinando
aos nossos filhos a verdade da lei da reencarnação, um grande passo teremos
dado, porque das crianças de hoje sairão os estadistas de amanhã. E, quando os
Países forem dirigidos por homens que saibam que, além do seu poder, existe um
outro mais forte, que os fará voltar à Terra para reparar males que
disseminaram, veremos, então, que o planeta evoluiu, progrediu
assustadoramente, reinando entre o povo a felicidade há tantos séculos
procurada pelas baionetas ,e pelos canhões.
Ainda há pouco, D. Pedro II
enviou-nos uma longa mensagem através do aparelho de Zilda
Gama, mensagem essa publicada pelo "Diário de Notícias", desta
Capital.
O sábio Imperador, habituado e
experimentado a governar, fala-nos exatamente na necessidade
da educação das crianças.
Ele, melhor do que todos nós, já
pela experiência, já pelo seu maior poder de visão, prevê
que das crianças de hoje depende o futuro do nosso Brasil.
Espalhemos as leis espíritas,
mostremos à humanidade que os infelizes de hoje foram os
poderosos de ontem e que os desumanos de hoje serão sem dúvida os desgraçados
de amanhã.
Conhecendo a justiça da dor e como
evitá-la no futuro, o homem compreenderá a necessidade de ser bom.
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