Não é uma materialização!
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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1942
2º Caso.
Este
ocorreu com um médium de nossa maior intimidade.
À
tarde de um domingo, repousando no lar, das fadigas de sua faina comercial,
entra-lhe a porta, acompanhado de confrade amigo, um homem de qualificação social,
o Major B., cujo filho gravemente enfermo, deveria operar-se no dia imediato,
de um suposto abcesso no fígado.
Ao
expor o fim daquela visita, o confrade apenas queria, crente e como tal, poder
proporcionar lenitivo ao coração paterno do amigo e recorrente. Assim se
justificando, quereria, a mais, dar-lhe prova da realidade dos Espíritos, com a
obtenção de um diagnóstico e prognóstico.
E,
para que a prova lhe fora mais convincente, não deixaria, claro, transparecer
algo do que sabia e se premeditava - a operação cirúrgica.
Depois
de exordiar sobre a falibilidade dos médiuns e a relativíssima capacidade do
recurso, como elemento de convicção - máxime nos casos de contradita à ciência
oficial - apenas precedendo o seu gesto de uma prece a Jesus, o nosso médium tomou
do lápis e prescreveu dois medicamentos homeopáticos, seguidos desta só
promessa: Amanhã direi sobre a operação.
Os
visitantes entreolharam-se surpresos e o pai do enfermo, comovido, perguntou:
-
Como sabe o senhor tratar-se de uma operação?
-
Porque o senhor agora m’o diz, a confirmar o que aí escrevi, inspirado pelo
Espírito assistente.
-
Que Espírito?
-
O que me assiste neste ministério de pura caridade, de que foi ele, como
médico, . aqui na Terra, um verdadeiro apóstolo - o Dr. Bezerra de Menezes.
Nesta
altura, o inculcador do recurso interveio:
-
Aí tens, amigo B., uma prova da misericórdia divina: por que, pois,
recalcitrar? Fala, dize tudo...
E
o pai aflito e comovido relatou, então, que tinha um filho de quatro anos, o
pequeno Gentil, a ser operado no dia imediato, mas, que o cirurgião, aliás íntimo
da família, de antemão prognosticara a fatalidade do tentame, dada a fraqueza
do enfermo, que, aliás, se o não realizasse, sucumbiria pela infecção.
Agora
espicaçada, assim, a curiosidade do consulente, pretendia ele algo adiantar ao prognóstico
oficial, forçando a opinião do Espírito. Mas o médium, irredutível, para logo
lhe disse não transgredir preceitos tão categóricos, uma vez que, em casos
tais, a fé sempre fora o melhor e maior elemento de êxito.
-
Mas, a sua opinião pessoal? - insistiu o aflito pai.
- Eu não a tenho, meu caro senhor, não posso tê-la,
nem mesmo devo tê-la, tão certo é presumir-me apenas um instrumento dos Espíritos.
-
Afinal, instante veementemente solicitado, sempre aventou: De duas, uma: ou seu filho morrerá de hoje para amanhã e, neste caso,
prescindirá de operação, ou o médico do além espera com estes dois medicamentos
modificar o estado patológico para decidir da operação.
-
Mas o senhor, que assim me fala com tanta segurança, é pai também... Poderia
aceder em visitar o pequenino enfermo?
Por
mais que o médium lhe falasse da inocuidade de sua presença, uma vez que era um pobre leigo na arte de curar, não houve como se
furtar a essa visita de mera cortesia e, digamo-lo também - de caridade,
realizando-a à tarde.
Desesperador
o ambiente familiar, havia em cada pupila o traço de uma lágrima furtiva.
Conduzido
à alcova, na qual pairava o significativo silêncio que soe anteceder as grandes agonias, entre olhares de angústia e olhares de
dúvida, verificou o médium, como leigo, a gravidade aparente do mal.
O
doentinho ardia em febre alta de 40º, respiração estentórica, olhar vítreo,
prostração absoluta. Tinha o ventre volumoso, duro, insensível; não se alimentava
nem já defecava havia quatro dias, a despeito dos mais enérgicos drásticos
ministrados.
Em
o tomando ao colo, massa inerte, o médium deu-lhe passes, ele mesmo - o médium sob a impressão do maior pessimismo.
A
sua atitude, adivinhava-o, produzia a curiosidade irônica, embora respeitosa,
de familiares e fâmulos (criados, empregados), todos a compita interessados no
caso, mas descrentes do "milagre".
Pois
"sô dotô" não dissera que só mesmo um "milagre"?
Havia,
porém, no meio hostil e refratário, um elemento precioso, de cuja salutar eficiência
não é lícito duvidar - um coração de
mãe.
Foi
para esse coração que o chefe da família ali reunida em conselho, exposta a
consulta, apelou, dizendo:
- De ti, minha mulher, mãe que és, depende
agora a nossa resolução.
E ela - Se o nosso filho ha de sucumbir
retalhado, sangrado, martirizado, mutuado, que sucumba íntegro, em meus braços,
ao calor dos meus beijos. Vamos dar-lhe as "aguinhas" e amanhã será o
que Deus quiser.
Este
- o que Deus quiser - vale bem uma outra tese.
Ao
retirar-se daquela câmara fúnebre, o médium levava consigo uma alma de chumbo e
monologava: É um caso perdido, não há
Bezerra que o salve; amanhã está enterrado.
Qual
não foi porém, a sua surpresa quando, antecipado de ordens, depois de uma
súplica ardente, recebeu esta comunicação:
" - Nada é perdido. O doente não tem
tumor no fígado e muito menos no bordo interno do fígado (1). O que ele tem e uma infecção intestinal generalizada. Vamos medicá-lo com a "graça de
Deus" e, não um, mas muitos tumores
lhe rebentarão em benefício da cura. A operação, qualquer operação, será fatal.
(1) Este
pormenor não era conhecido do médium.
Na
manhã seguinte, alviçareira, esta comunicação foi recebida com mais confiança pela
família, tendo-se verificado melhoras no enfermo durante a noite. A febre
declinara, o enfermo pedira alimento.
Posta
de lado a ideia de operação, com ironia e despeito do médico assistente, entrou
o paciente em franco regime homeopático, auxiliado de passes magnéticos e, após
a formação e supuração de um, dois, três, quatro volumosos abcessos no abdome,
restabeleceu-se completamente. É hoje um dos rebentos mais sadios daquela
família. Ela, a família, converteu-se em peso à doutrina e, porque o fato haja
ocorrido há mais de quinze anos, essa conversão se desdobrou por muitos lares,
onde se aceita e pratica hoje o Espiritismo.
Nesta
altura, a título de ensinamento, convém relatar um episodio interessante, de
molde a demonstrar que o comércio com os invisíveis não pode ser praticado
arbitrariamente, ou seja sem tal ou qual critério, que se não improvisa, antes
se adquire com esforço, abnegação e sacrifício.
É
o que justifica o preceito do Deuteronômio, tão do agrado dos nossos adversários,
ortodoxos fechados.
O
caso é que, diante da cura do pequeno Gentil, toda a família B. passou a fazer
observações e a obter provas as mais insólitas e convincentes.
A
princípio, eram segredos e revelações de família desvendados com minúcia e
precisão edificantes; parentes há muito desencarnados, a darem testemunhos
inequívocos da sobrevivência; depois, sermões religiosos e defesas jurídicas,
ou teses filosóficas produzidas de improviso, altiloquentes e ilustradas de
citações latinas, de textos eruditos, por moças de instrução vulgar, sem
cultura literária nem conhecimentos científicos.
Mas,
a breve trecho, essas manifestações derivaram para o campo da mais nua
pornografia e das violências inauditas, tentando os pobres e despercebidos
médiuns ao público escândalo, ou procurando impeli-los mesmo ao suicídio.
Foi
quando, pelo mesmo médium que ali levara a primeira semente da Fé, foi recebida
a seguinte mensagem:
"Amigo, a esmola foi grande demais para
aquele meio. A verdade, como a luz, não graduada, em demasia, cega. Diga àquela
gente que lhes proíbo ler e mesmo falar de Espiritismo, até que o possam
compreender e sentir, como convém.
Separem-se os médiuns,
distraiam-se os médiuns, dissolva-se a colmeia.”
Assim
se fez, dispersou-se a colmeia. e a normalidade voltou ao seio dessa família,
que é hoje, repetimos, toda ela adepta do Espiritismo.
Relatemos
agora outro caso bizarro, a desafiar suspeitas quanto à eficácia de qualquer
ação medicamentosa, em dadas circunstancias, ao menos com o valor absoluto que
comumente se lhe atribui.
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