Religião,
Ciência
e Filosofia
por Percival Antunes (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Julho 1957
Foi
a falsa concepção religiosa que separou o cientista do homem que crê na existência
de uma Suprema Inteligência. De tal sorte os detentores da "verdade
religiosa" entulharam o cérebro humano de dogmas estreitos e superstições
estapafúrdias, que o homem de maior desenvolvimento intelectual, zelando pela
própria dignidade da espécie, interpretou esses erros como expressão mítica de
um grupo que desejava predominar à custa da ignorância maciça do povo. Os
movimentos de rebeldia tomaram corpo, ao mesmo tempo que a reação feroz do
ultramontanismo irritado procurou por todos os meios contê-los. Tudo se fez, a
ferro e fogo, mas foi debalde. O "homem de ideias" crescia na
convicção de que o "homem de dogmas", como ainda hoje sucede,
explorava a crendice popular, contando histórias absurdas, criando milagres
espantosos, tentando desesperadamente reconquistar o terreno que, desde então,
começara a fugir-lhe.
Os
que aceitavam a ideia de Deus, mas não comungavam com decretos e decisões
conciliares irracionais, esses eram perseguidos e eliminados como hereges. O
sangue dos mártires não tardaria, porém, a se transformar num rio caudaloso, no
qual se afogariam os algozes e seus dogmas retrógrados. Os gemidos, lançados do
fundo de infetas e frígidas salas de suplício, ou dentre as labaredas das
fogueiras inquisitoriais, ecoaram através dos anos, como que anunciando uma
alvorada de luz e de compreensão! E essa alvorada começou com o lançamento de
"O Livro dos Espíritos". Seus reflexos já iluminam a Humanidade e
alcançarão os anos porvindouros, numa obra que lentamente irá minando o
carcomido arcabouço de um sistema religioso obsoleto e irrisório, porque
fundamentado em dogmas estéreis e em promessas inócuas.
No
século XIX, verificou-se a maior explosão das ideias que lutavam com o
obscurantismo religioso, Vieram os Enciclopedistas e, como é natural, em face
dos antecedentes, a reação foi violenta. Indevidamente apresentado como
Cristianismo, o poder religioso que se vestira com a túnica do Cristo, sem lhe
agasalhar os ensinamentos, suscitou o revide do pensamento que se libertava.
Atacado era o Cristianismo, embora não lhe coubesse culpa pelos desmandos dos
que não souberam conservar o legado dos primeiros discípulos do Cristo. A
Ciência, tantas vezes negada e atacada pela ignorância clerical, reagia também,
negando um deus que lhe era apresentado como mágico, autor de proezas que
feriam a lógica dos fatos, assim como era patrono de
atos de terrorismo que, nos dias atuais, parecem absolutamente fantásticos. Daí
o antagonismo entre Ciência e Religião. Os cientistas, em virtude também de
preconceitos e dogmas nascidos do afã de repelir o obscurantismo clerical, não
souberam ainda distinguir esse deus pequenino, medíocre, vingativo, do
verdadeiro Deus, que é todo amor, todo luz, todo esperança e felicidade. Um
Deus que não condena, mas que ampara a criatura humana. Um Deus que não
destina, à criatura falida as dores de um inferno sem fim, mas que lhe acena
com a possibilidade do reerguimento pela regeneração em vidas sucessivas. Um
Deus que perdoa e encoraja, não aquele deus, em nome do qual se queimavam, vivos,
infelizes seres humanos.
Que
é Religião, senão o caminho da glorificação humana pelo Bem? Que é Ciência
senão outro caminho da glorificação humana pela
Inteligência? Uma avança pelo culto das virtudes éticas, burilando o sentimento do homem, para que
ele se espiritualize progressivamente. A outra, adianta-se pelo culto da inteligência, que
é um dom divino, Ciência e Religião não são forças divergentes, mas forças irmãs. Dia a dia
mais se aproximam, conforme se pode inferir de conclusões decorrentes das
últimas conquistas da Ciência, através de Einstein e outros sábios da mesma
alta envergadura. Chegará o momento em que a Ciência não poderá encontrar outra
interpretação para seus problemas investigatórios senão na existência de um
Princípio Inteligente Superior, que permanece acima, muito acima de cálculos
matemáticos e especulações filosóficas. Já no interessante livro de Hernani
Guimarães Andrade - "A Teoria Corpuscular do Espírito", algo de
esclarecedor se pode encontrar a esse respeito. Depois de ler atentamente essa
obra, mais nos capacitamos de que o Espiritismo não é exclusivamente Ciência,
nem somente Filosofia, nem apenas Religião, porque é, simultaneamente,
Religião, Ciência e Filosofia.
Podem
insistir na negativa os que se apegam à aparência, sem aprofundarem,
imparcialmente, o verdadeiro caráter da nova Revelação. Se Allan Kardec não
houvesse sentido o Espiritismo no seu tríplice aspecto, certamente não teria
sancionado com o seu ilustre nome estas cinco principais obras da Codificação:
"O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O
Evangelho segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno" e "A
Gênese", nas quais o espírito científico-filosófico-religioso se patenteia
a cada página.
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