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Ciência Religião Fanatismo
por Mínimus
(Antônio Wantuil
de Freitas)
Ed. FEB
c.1938
Empunhemos a nossa bandeira -
"Fora da Caridade não há salvação" - hasteemo-la em
todos os corações. Não há maior caridade que essa de implantar, nos refolhos da
alma da
mocidade, o conhecimento das leis de Deus.
Levemos a nossa bandeira de Amor. Os
jovens a aceitarão, porque a mocidade é boa, é
caridosa, possui sentimentos nobilíssimos que a farão distinguir o que lhe
anunciamos do
que lhe pretenderam ensinar.
Então, amigos, veremos as velhas
religiões passarem, como passaram as crenças mitológicas. O diabo será um ser
mitológico, residente num lugar imaginário chamado inferno. As
cerimônias litúrgicas passarão ao rol das coisas esquecidas, estudadas como
velharias, assim
como hoje tomamos conhecimento das cerimônias primitivas de que nos fala a História.
Ensinemos que Deus é o criador dos
trilhões de mundos que giram pelo infinito; que Deus
jamais abandonou esses mundos colossais para se encarnar neste minúsculo
planeta. Ensinemo-la a amar o Cristo, pelo seu grande valor, pela sua pureza,
pela sua perfeição, mas não ofendamos o Criador, confundindo suas criaturas com
Ele próprio.
Lancemos a semente do puro
Cristianismo no âmago da mocidade. Ela germinará viçosa, e frutos dulcíssimos
alimentarão a humanidade futura.
Mostremos que o nosso Deus é muito
diferente do deus colérico e mal que lhe pretenderam fazer crer. Chamemos a sua
atenção para o Deus que adoramos, um Deus que não vinga, não castiga, não
condena e que se apieda igualmente de ateus e de crentes.
E veremos que a mocidade pura e boa,
tornada perigosa pela descrença, procurará estudar
o Espiritismo, ansiosa por encontrar esse Deus de Amor, de quem nunca ouviu
falar. Ansiosa, sim, porque ninguém é completamente ateu; todos têm uma leve
dúvida, todos possuímos o sentimento intuitivo da existência de um Ser Supremo.
Provemos a essa mocidade, que
dirigirá os destinos do mundo de amanhã, que ela tem vivido
enganada. Que o Espiritismo não é o conjunto de loucos e de ignorantes que lhe
disseram ser. Que o Espiritismo foi codificado por um homem de ciência e que ao
nosso lado estão
centenas dos maiores sábios do planeta, muitos dos quais seus conhecidos e por
ela colocados em altares, recebendo o perfume sutil das ânforas da Sabedoria.
Então, um mundo novo surgirá. As
Escolas Superiores, hoje materialistas, terão a sua cadeira
de psiquismo. Estudarão oficialmente os fatos, tirarão conclusões, absurdas em
começo, lutarão para vencer a verdade da causa dos fenômenos supranormais, mas
os laboratórios se encarregarão de demonstrar que suas hipóteses não
satisfazem, como aconteceu a Richet. E do psiquismo passarão os estudantes para
o Espiritismo, catalogando os fatos, estudando-os como produzidos pelos
Espíritos, sem discussões de teorias absurdas e incoerentes, assimilando
finalmente a pureza do Cristianismo, por intermédio do - Livro dos Espíritos.
Assim como do negro carvão surge o
diamante e deste, após lapidações que o ferem, sai
o brilhante com reflexos luminosos, assim também veremos a mocidade de hoje
transformar-se numa mocidade luminosa, cristianizada, enfim.
O homem pode estacionar, pode
continuar na rebeldia da encarnação anterior, mas, um dia,
quando encontrar quem o encaminhe, ele progredirá.
No túmulo de um dos faraós,
sepultado há três mil anos, encontraram-se sementes de trigo.
Três mil anos elas dormiram! Plantaram-nas. Faltava-lhes o meio próprio para
germinar, mas, alguns dias depois de plantadas, brotaram viçosas, como se
tivessem dias de colhidas. Assim somos nós.
Há, em Física, um fenômeno
denominado convecção, que consiste em esquentar-se uma vasilha pelo fundo, para
demonstrar que os líquidos fervem de baixo para cima, formando correntes
contínuas, subindo as quentes e descendo as frias. As frias descem para receber
o calor. A vaporização da humanidade, o seu progresso, também é assim. Desce,
cai, recebe a dor, sofre-a; sobe depois, mas, por pesada e impura, torna a
descer, e assim, em alternativas um dia chega a espiritualizar-se, subindo, tal
como acontece com os vapores da água da experiência física.
O Espiritismo tem, sobre as religiões
antigas, a qualidade de não ser estacionário e de caminhar
ao lado das ciências humanas. Ele se antecipa muitas vezes à ciência com seus enunciados,
e isto naturalmente, porque é ele o gerador do progresso humano, ora permitindo
que Espíritos de sabedoria venham trazer intuições aos sábios estudiosos da Terra,
auxiliando-os em suas descobertas; ora apresentando fenômenos novos que destroem
completamente as teorias sofisticamente criadas para explicar os fatos
anteriores.
Nosso trabalho é, pois, relativamente
pequeno, porque é do Alto, como sempre, que vem
a maior força e os mais fortes argumentos, para obrigar os rebeldes a aceitarem
a Verdade
das Verdades: - O Cristianismo do Cristo.
Dizemos do Cristo, do Ungido, porque o
Cristianismo que afirmam existir, que anunciam espalhado por 800 milhões de
homens de várias
religiões chamadas cristãs, não é o Cristianismo puríssimo do Enviado divino, e
não o é porque só existe nos lábios, quando seu lugar é na pureza evangélica da
fé, é no coração, é na alma, e, por isso, só se manifesta nas obras dos seus
iniciados.
Como vos dissemos, estamos muito
acima das velhas crenças misteriosas que tanto se distanciaram
da ciência, quando deveriam, se ambas se originam do mesmo foco - que é Deus,
caminhar de mãos dadas, na mesma direção, tal como o Espiritismo, que não
proíbe que
se lhe examinem os fatos, que os discutam, mas, antes, convida a todos para
estudá-los, pesquisando
a verdade da existência da alma e de sua imortalidade, e não só em
investigações meticulosas, onde médiuns e Espíritos se prestam a experiências
físicas e químicas, senão ainda, em gabinetes, apresentando os fenômenos
classificados como oriundos de uma força
inteligente, que eles denominam de desconhecida, para não confessar que é dos Espíritos.
Falemos, agora, meus amigos, mais
diretamente de nós, da necessidade da nossa cooperação para que a filosofia
espírita se difunda o mais celeremente possível, para patentearmos ao Cristo a
nossa alegria em conhecê-lo, a nossa gratidão pelo bem que nos fez e sobretudo
para demonstrarmos, a nós mesmos, a nossa consciência, que assimilamos os
ensinamentos evangélicos de amor ao próximo, espalhando a consolação, o conforto,
a resignação e a fé.
Não é só aos que nos procuram que
deveremos socorrer com a nossa palavra de amor. A
estes é bem fácil encaminhar, mas é principalmente aos que nos desprezam e
mesmo aos que
nos odeiam, que devemos e temos a obrigação de tirar do lamaçal da descrença ou
da dúvida
em que se acham, infelizmente, chafurdados.
Aos que nos odeiam, mostremos que
não somos ruins e que os amamos, aproveitemos todas as oportunidades que se nos
depararem, para patentear-lhes que o nosso desejo é vê-los felizes, tirando-os
da dúvida em que se debatem.
Aos descrentes, aos que se riem de
todos nós que acreditamos na existência da alma, falemos
da nossa felicidade, da nossa fé, da certeza no Além, na justiça da dor e de
sua purificação;
porque, eles, meus amigos, rirão ainda, mas por fim se convencerão, como nós nos
convencemos, de que só se pode encontrar a felicidade, palmilhando a estrada
luminosa dos
Evangelhos de N. S. Jesus Cristo.
Sejamos trabalhadores, conquistando,
para o rebanho do Senhor, as ovelhas desnorteadas que se encontram
estacionárias e as que têm o Cristo nos lábios, mas não o compreendem,
temendo-o, em vez de amá-lo.
Um dos meios, que julgamos muito
eficientes para propagação da doutrina, consiste em
provocarmos que a acusem. Quantos e quantos abraçam o Espiritismo, depois de
atacá-lo, Combatiam-no porque o não conheciam. Discutiam sem base, sem
alicerce, sem conhecimento. Mas, depois de serem vencidos por argumentos de
amigos, no desejo de se tornarem invencíveis, procuraram ler as obras de Kardec
e a luz se lhes abriu, aclarando-se lhes a razão.
Conhecemos uma senhorita, interna de
um dos maiores e mais afamados colégios do Rio, que, a conselho nosso,
aproveitava todas as oportunidades, quer com diretores e professores, quer com
suas colegas, para dizer-se adepta do Espiritismo.
Disse-nos essa moça que, a
princípio, todos se admiraram de ela abraçar uma doutrina que faz loucos, que
conversa com demônios e outras infantilidades, e acrescentou que as colegas
mais íntimas passaram a fazer chacotas com a sua crença.
Tolerante e boa, essa moça argumentava
com tanta fé e humildade, que suas verdadeiras lições de Espiritismo acabaram
por destruir essa zombaria, transformando-a em respeito, bem como animaram
outras colegas a se declarar espíritas, e hoje, em tal colégio, todas
as alunas estão preparadas para receber a Doutrina, porquanto já sabem que o
Espiritismo é a síntese de todas as religiões, é a síntese das verdades
esparsas, encontradas em todas as seitas, mas que por elas foram deturpadas no
correr dos séculos.
*
Finalizemos, senhores, porque o
assunto é vasto e por demais complexo para ser tratado no correr de uma
palestra.
Concluamos, mas saiamos daqui
impregnados de fé, com o desejo de cooperarmos para
o progresso da humanidade, fazendo que todos compartilhem desse banquete de felicidade,
que a bondade de Deus nos permitiu usufruir.
Chama-se em ciência - equilíbrio
térmico - ao fato de um corpo quente, colocado junto a um outro corpo frio,
comunicar-lhe o calor, ficando ambos, dentro de algum tempo, em
temperaturas iguais.
Nós, amigos, que já recebemos de
Deus o calor espiritual dos Evangelhos do Cristo, saiamos daqui decididos a
produzir na humanidade o equilíbrio espiritual, de que ela precisa, para
que a Terra se torne em harmonia com o Infinito.
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